Os recentes e seguidos cortes na taxa de juros no Brasil podem estar sinalizando uma mudança nas prioridades do governo e a perda de independência do Banco Central, segundo a revista britânica The Economist.
Na edição que chegou às bancas nesta sexta-feira, a revista ressalta o
papel que o Banco Central vinha tendo no combate à inflação no país, que
"em boa parte do século passado era tão importante na vida dos
brasileiros como o futebol".
A revista conta que o país conseguiu controlar a inflação a partir do
Plano Real em 1994 e quando, em 1999, o Banco Central "ganhou
independência operacional para fixar taxas de juros de acordo com a meta
da inflação".
Mas os recentes cortes na taxa Selic (agora em 12%), que contrariam o
curso normalmente adotado pelo banco, de manter as taxas altas para
conter a inflação, causaram surpresa e lavaram a revista a questionar se
o banco teria perdido sua independência e mudado de meta, trocando o
combate à inflação pelo estímulo ao crescimento. "Estaria o governo da presidente Dilma Rousseff, no poder desde janeiro,
dando prioridade a outras metas, como sustentar o crescimento e
prevenir a sobrevalorização da moeda, em vez de manter a inflação
baixa?", diz a revista.
A Economist cita os argumentos do banco justificando o último
corte nos juros, de que o salto da inflação é resultado do crescimento
acelerado do último ano e da alta das tarifas de ônibus e do etanol. Menciona também a versão do governo de que a desaceleração da economia
mundial e a provável queda no preço das commodities deverá puxar a
inflação para baixo, abrindo espaço para a queda nos juros.
"Os críticos do governo, porém, argumentam que ao começar a cortar (os
juros) tão cedo e de forma tão agressiva, enquanto a inflação ainda está
três pontos acima da meta, o banco mina sua credibilidade duramente
conquistada. Como resultado, as expectativas de inflação para os anos
seguintes têm aumentado".
A revista lembra que outros bancos centrais, como o Fed americano, têm
mandato com o objetivo duplo de combater a inflação e também promover o
crescimento. "Mas quando o assunto é inflação, o Brasil ainda é como um 'alcoólatra
em recuperação', que depende da ajuda do Banco Central para se manter na
linha".
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