quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Origens do mecenato e do mercado da arte

O exemplar deste mês de outubro da Revista da Cultura, que é publicada e distribuída pela excelente Livraria Cultura -- que, finalmente, já tem uma loja no Rio (no Fashion Mall) e deverá abrir em breve uma mega outra na Senador Dantas -- publicou um curto mas interessante artigo com o título desta postagem, inserido no artigo Novos Mecenas.

O termo mecenato foi atribuído em alusão ao romano Caio Mecenas (68 a.C - 8 a.C), conselheiro do imperador Otávio Augusto (herdeiro adotivo de Júlio César), que protegeu e sustentou um círculo de intelectuais e poetas, incluindo Horácio e Virgílio, e transformou-se em modelo para vários governos.

A prática se popularizou no período renascentista, que vivenciava um momento de pujança econômica com o surgimento da burguesia. Michelangelo, Rafael, Caravaggio, Bernini, Rembrandt, entre outros artistas, beneficiaram-se do sistema de mecenato. Nesse período, a arte visual era utilizada para o ensino dos fiéis -- que eram, em grande parcela, analfabetos. Por outro lado, a burguesia -- como grupo menos tradicional -- buscou a promoção social através da arte e forneceu apoio financeiro aos artistas e pensadores. Entre os mecenas estavam papas, bispos, políticos e colecionadores de arte.

De acordo com o crítico Simon Schama, autor de O Poder da Arte (2010), uma das questões mais importantes abordadas pelo Concílio de Trento, em sua parte final em 1561-1563, foi o papel da pintura sacra como inspiração para os fiéis adorarem, venerarem e obedecerem. "Instintiva e intelectualmente, os padres da Igreja sabiam que, como a vasta maioria dos europeus era analfabeta, as imagens constituíam a maneira mais poderosa de instruir as massas e preservar sua lealdade".

Ao banir as imagens das igrejas, por julgar que infringiam o segundo mandamento, a Reforma protestante operara uma revolução no mundo das artes. O tradicional patrocínio dos príncipes e nobres cedia lugar ao primeiro mercado de arte popular. E foi Rembrandt que aproveitou o bom momento, apresentando-se na história como um empresário e investidor, além de pintor. [Isto contradiz o início do artigo, que diz que ele foi um dos beneficiários do mecenato].

De acordo com a historiadora Svetlana Alpers, autora de O Projeto Rembrandt - o ateliê e o mercado (2010, o pintor constituiu a si mesmo como uma marca distinta, capaz de ser negociada como mercadoria. "Na condição de mestre do seu ateliê, afirmou sua liberdade individual e soube livrar-se da dependência de mecenas e patrocinadores. Rembrandt não foi apenas um homem de ateliê, também foi um homem de mercado. O valor é uma construção social ou humana, produzida num sistema num sistema de relações ativado pelos desejos humanos", disse ela.

A noção de valor na arte -- seja atribuída pelos mecenas, seja pelo mercado -- tem uma longa e complexa história. Mas, para isso, basta lembrar de uma frase do pintor italiano Gian Lorenzo Bernini (1598-1680): "Quem nunca ousa quebrar as regras, nunca as supera".

Rembrandt, autorretrato (Foto: Google). Ele soube livrar-se da dependência de mecenas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário