A revista Time Magazine que está nas bancas traz um longo e interessante artigo sobre as dificuldades praticamente intransponíveis que os EUA enfrentam no Afeganistão.
Em um centro de treinamento militar de Kabul, construído pelos EUA, o coronel Fazl Karim faz sua habitual palestra de estímulo a um grupo novo de recrutas, duas semanas antes que sejam formalmente incorporados ao Exército Nacional afegão. Ali próximo, equipes de construção constroem um novo acampamento -- 100 mil novos recrutas são esperados por esse centro nos próximos três anos; se tudo ocorrer como planejado, cerca de 320.000 homens estarão prontos para defender seu país no dia em que a grande parte dos soldados americanos estará deixando o país.
Mesmo os oficiais americanos que supervisionam todo o treinamento estão céticos. A infiltração talibã, o uso de droga, e as deserções são o lugar-comum entre os homens que aqui chegam. A qualidade da tropa é ruim -- os recrutadores não podem ser muito seletivos, pois têm grandes quotas para preencher. Para o capitão do exército americano Jason Reed, membro da missão de treinamento, é apenas uma questão de tempo -- mas de um longo tempo. Segundo ele, serão necessárias gerações até que o Afeganistão tenha um exército profissional.
Mas, o governo do Afeganistão e seus financiadores e apoiadores americanos não dispõem de tanto prazo para fazer o país funcionar. Espera-se que os afegãos assumam a responsabilidade por sua própria segurança em 31/12/2014, a daqui 38 meses. Mas, 10 anos depois que os EUA invadiram esse país e então se organizaram para uma longa ocupação, o Afeganistão não se encontra perto de nada em termos de ser capaz de se manter sozinho -- militarmente, economicamente, ou mesmo politicamente. Para muitos, trata-se de um infortúnio caro. Enquanto isso, os EUA continuam anunciando sua intenção de sair do país, não tanto se retirando mas recuando de um problema que aparentemente não mais têm a vontade ou a capacidade de resolver.
A perspectiva é assustadora: o Afeganistão tem hoje o potencial de ser ainda mais desestabilizador para a região e o mundo do que era sob o regime talibã. A falta de lei tornou-se a regra, de tal maneira que muitos afegãos tornaram-se saudosos das frias mas eficazes decisões ou máximas da teocracia do mullah [líder religioso] Mohammed Omar.
A paciência americana para um cenário alternativo está prestes a se esgotar. Ao longo de 10 anos, os EUA perderam no Afeganistão 1.786 militares e 763 empreiteiros privados; 14.342 militares foram feridos. Os americanos estabeleceram mais de 180 bases operacionais em todo o país, utilizaram mais de 9.000 veículos resistentes a minas, e gastaram um total de 444 bilhões de dólares na década passada para dar segurança e reconstruir o país -- e dar atendimento às sequelas da guerra em seus soldados que retornaram às suas casas nos EUA. O melhor dos EUA em termos de estrategistas, de cérebros militares, de construtores e engenheiros foi recrutado e posto para atuar em um dos maiores esforços de construção de um país desde o Plano Marshall. E tudo isso simplesmente não deu resultado.
Mesmo agora, 10 anos depois da invasão de 2001, a segurança registra um de seus piores índices. A embaixada americana em Kabul sofreu um prolongado cerco no mês passado. Figuras de destaque do governo e das forças de segurança foram assassinadas, incluindo um ex-presidente do país encarregado de avançadas negociações de paz com a liderança talibã. Mesmo com as estatísticas da OTAN apontando para uma redução de 2% nos ataques inimigos, a ONU sustém que 2011 está a caminho de ser o ano mais violento para os civis afegãos desde a invasão americana.
Autoridades americanas, primeiro na era de George W. Bush e agora no governo Obama, sustêm confiantemente que as condições econômicas e de segurança do país estão melhorando, pouco a pouco. Mas, a evidência disso é escassa e a data limite para a retirada americana fica cada dia mais próxima. Na realidade, em muitos aspectos, essa retirada já se iniciou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário