"A água se tornou o maior entrave à expansão da produção (de comida), especialmente em algumas áreas como a região andina, na América do Sul, e os países da África Subsaariana", diz à BBC Brasil Graziano, atualmente diretor da FAO para a América Latina e ex-ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando foi o responsável pela implementação do Programa Fome Zero. Graziano diz que, apesar da pressão sobre os recursos naturais, é possível pôr fim à fome no mundo por meio de quatro ações principais: a aplicação de tecnologias modernas na lavoura (muitas já disponíveis), a criação de uma rede de proteção social para populações mais vulneráveis, a recuperação de produtos locais e mudanças nos padrões de consumo em países ricos. "Se pudéssemos mudar o padrão de consumo em países desenvolvidos, haveria comida para todos", diz ele. "Nós desperdiçamos muita comida hoje, não só na produção, mas também no transporte e no consumo".
Segundo Graziano, enquanto a comida é mal aproveitada em nações ricas, cerca de 1 bilhão de pessoas passam fome em países emergentes. "Precisamos assegurar que esse bilhão de pessoas sejam alimentados, que tenham bons empregos, bons salários e, se não pudermos dar-lhes empregos, encontrar uma forma de proteção social para eles".
Graziano afirma que programas de transferência de renda, como o Bolsa Família no Brasil, hoje atendem cerca de 120 milhões de pessoas na América Latina, ajudando a combater os índices de fome na região. Ele defende ampliar essas ações para outros países afetados pela falta de alimentos, especialmente na África. Outra ação que Graziano advoga é recuperar produtos agrícolas típicos de cada região. Segundo ele, por não serem commodities, esses produtos não são afetados por variações bruscas de preços, o que favorece consumidores e produtores. Além disso, geram um ciclo de produção e consumo local, barateando a comida.
"O que é caro nos alimentos é o transporte, a produção de alimentos é muito barata. Se conseguirmos diversificar, fazer uma regionalização e melhor distribuição de alimentos e consumo, os preços serão muito mais baixos", diz ele.
Na entrevista à BBC Brasil, Graziano também aborda outros dois temas que têm permeado discussões recentes sobre a produção de alimentos: a suposta competição entre a produção de comida e a de bicombustíveis, e os riscos que o aumento da produção agrícola impõem à preservação ambiental. Ele afirma que, em duas das três maiores regiões produtoras de biocombustíveis do globo (Estados Unidos e Europa), houve incremento em alguns preços de alimentos por causa da competição com biocombustíveis. No Brasil, porém, ele afirma que a produção de etanol a partir da cana de açúcar não teve qualquer impacto nos alimentos, já que a produção cresceu principalmente em terras improdutivas e por meio da modernização de técnicas agrícolas. [Graziano, pelo visto, mantém o estilo lulo-petista de dizer meias-verdades ou mentiras inteiras -- é sabido e notório que, no Brasil, o etanol e o açúcar disputam mercados coincidentes aqui e lá fora, e já temos registrado queda na produção de açúcar quando o preço do etanol fica mais favorável. Vejam minha postagem anterior sobre isso -- "Etanol brasileiro: um pepino, um abacaxi, ou ambos?"].
Graziano também diz não ver conflitos em conciliar a preservação ambiental à necessidade de ampliar a produção agrícola. "A intensificação da produção com modernas tecnologias, menor uso de fertilizantes e defensivos pode beneficiar muito o meio ambiente", diz. "O avanço da tecnologia nessa direção permiria terminar com essa falsa dicotonomia entre ecologistas e agricultores".
Graziano foi eleito diretor-geral da FAO, órgão da ONU responsável por políticas de alimentação (Foto: AP).
A terrível, injustificável e inaceitável crise de alimentação que castiga principalmente as crianças africanas (Foto: Google).
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