Apesar da polêmica sobretaxação dos automóveis importados já começar a
causar constrangimentos internacionais ao Brasil, membros da equipe
econômica não responderam aos questionamentos feitos por diversos países
na Organização Mundial do Comércio (OMC). Cientes das reclamações, os ministérios responsáveis pela medida preferiram empurrar o problema para o Itamaraty, que terá que lidar com a insatisfação de importantes sócios econômicos do País.
No dia 15 do mês passado, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e
Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior)
anunciaram a elevação em 30 pontos porcentuais das alíquotas do Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos que não tenham ao
menos 65% de seus componentes fabricados no País. Carros importados da
Argentina e do México escaparam da medida, bem como os produzidos no
Uruguai. Mas diante do pedido de informações feito ontem pelo Japão no Comitê de
Acesso a Mercados da OMC, nenhum ministro se posicionou para defender a
medida. À reclamação japonesa, seguiram-se manifestações no mesmo
sentido da Coreia, Estados Unidos, Austrália e União Europeia.
Para representantes do Desenvolvimento, porém, como a medida adotada foi
de ordem tributária, apenas a Fazenda poderia dar mais explicações. Nos
bastidores, contudo, comenta-se que a pasta que também é responsável
pela indústria e pelo comércio exterior não quer ser chamada a se
explicar sobre os eventuais efeitos colaterais de uma medida que foi
desenhada por completo em outro prédio da Esplanada, idealizada pelo
ministro Mantega e seus assessores diretos.
Como na Fazenda o silêncio também foi a resposta adotada, sobrou para o
Itamaraty a incumbência de elaborar uma defesa para o mecanismo. Já
esperando que o assunto fosse mencionado na reunião mesmo estando fora
da pauta, os representantes brasileiros na OMC responderam às demais
delegações que a medida tem prazo determinado (até 31 de dezembro de
2012) e não teria, até agora, reduzido o comércio de veículos importados
no País. Os diplomatas estrangeiros também foram informados que o Brasil estaria
disponível para prestar esclarecimentos bilateralmente, mas que não
poderia, naquele momento, apresentar mais dados por causa do pouco tempo
que havia tido antes da reunião.
O governo brasileiro se recusa a admitir que a medida de aumento do IPI
em 30 pontos percentuais seja protecionista. Na visão do Itamaraty, a
decisão foi tomada para "sanar desequilíbrios no comércio
internacional", e não proteger as montadoras de automóveis instaladas no
Brasil.
Em 16 de setembro passado fiz uma postagem em que abordava exatamente a possibilidade de que esse aumento do IPI poderia ser questionado na OMC, e teci comentários sobre a nítida noção que se tem de que essa iniciativa do governo atendeu efetivamente aos interesses e ao lobby das montadoras já instaladas no Brasil.
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