Infelizmente, como sempre, é preciso acontecer uma tragédia para que casos escabrosos e mazelas comecem a aparecer, em cascata. No caso da usina nuclear de Fukushima Daiichi, em que quatro reatores explodiram e o desastre resultante já é considerado o segundo pior da história das usinas nucleares, só perdendo para o de Chernobyl, mais que indícios há denúncias sérias de sonegação de informações relevantes, falhas de projetos e procedimentos, etc, fazendo com que surjam evidências de que o Japão não é exatamente a maravilha de segurança e tecnologia que se pensava. E nesse imbróglio é péssima a imagem que surge da TEPCO - Tokyo Electric Power, uma das maiores empresas do ramo no mundo e responsável por Fukushima Daiichi e outras usinas nucleares japonesas. -- Ao se analisar o quadro de geração de energia elétrica por via nuclear no Japão, é preciso ter em mente que o país tem 77% de sua energia gerados dessa maneira, através de 56 reatores. Ver postagem anterior, com comentários.
Artigo do The New York Times de ontem (de que tive conhecimento graças a um dileto amigo, a quem agradeço) aponta os sérios problemas de projeto dos reatores de Fukushima Daiichi, de responsabilidade da GE, que desenvolveu esse projeto (o "Mark 1") nos anos 1960 -- e o impressionante é que os repetidos e sérios alertas sobre a vulnerabilidade desse projeto remontam a 1972! Já nessa época se afirmava enfaticamente que, se em algum momento falhasse o sistema de resfriamento do Mark 1, o primeiro recipiente em volta do reator provavelmente explodiria com o superaquecimento das varetas, e haveria liberação de radioatividade no ambiente. Em 1972, Stephen H. Hanauer, então um funcionário de segurança da Comissão de Energia Atômica dos EUA recomendou que o sistema do Mark 1 fosse interrompido, descontinuado, porque apresentava riscos de segurança inaceitáveis. Com o que está acontecendo em Fukushima Daiichi, essa fragilidade ou fraqueza do projeto da GE pode estar contribuindo para a catástrofe que ali vem acontecendo.
Outro bom texto sobre o que está ocorrendo com as usinas nucleares no Japão, com um resumo histórico sobre esse setor no mundo, está disponível em artigo publicado hoje no The Independent.
As mentiras e subterfúgios da TEPCO para esconder problemas com a mesmíssima usina Fukushima Daiichi desde o ano 2000 estão resumidos no jornal português Público de hoje.
Já no Brasil, o governo afirma que adotará todas as medidas que forem anunciadas pela comunidade internacional para reforçar a segurança das usinas nucleares, após o ocorrido no Japão. Leia mais.
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