quarta-feira, 23 de março de 2011

Para onde caminha Portugal?

O Primeiro-Ministro português José Sócrates acaba de ser derrotado no Parlamento, que rechaçou seu PEC - Plano de Estabilidade de Crescimento e criou um vazio político exatamente à véspera da reunião de cume da União Européia, que será levada a cabo amanhã e depois em Bruxelas. A derrubada do PEC acarretou a renúncia de Sócrates, que pediu a convocação de novas eleições, o que foi aceito pelo presidente do país, o conservador Aníbal Cavaco Silva, que abrirá reuniões com os partidos políticos na próxima sexta-feira. Neste ínterim, permanece Sócrates no cargo mas com poderes limitadíssimos, nos termos da legislação portuguesa.

Vista à distância, a situação de Portugal se afigura confusa e, até certo ponto, contraditória. O objetivo precípuo do PEC era tentar resolver internamente a crise financeira portuguesa, evitando o recurso ao Fundo de Estabilização (ou de Resgate, não importa o nome) da União Européia e ao FMI - Fundo Monetário Internacional, partindo da premissa de que os sacrifícios e restrições demandados por essas duas instituições seriam necessariamente piores do que aqueles determinados pelo PEC -- além de o recurso a elas interferir, na visão de Sócrates, na soberania do país. A posição de José Sócrates neste particular me parece um tanto eufemística e questionável, pois seu governo vinha pagando taxas exorbitantes para conseguir dinheiro no mercado internacional, o que a meu ver também implicar arranhar a soberania nacional.

A oposição resolveu pagar p'ra ver, e votou maciçamente (direita e esquerda) contra o programa do governo, mas em momento algum apresentou sequer um esboço de programa alternativo ao PEC, o que torna lícito acreditar na acusação de Sócrates que o que o PSD na realidade quer é assumir o poder a qualquer preço.

Amanhã e depois em Bruxelas veremos o preço que Portugal pagará por ali chegar com um Primeiro-Ministro demissionário, e sem qualquer programa de controle de suas finanças -- se a situação do país antes da crise já era frágil na União Européia, onde enfrentava uma forte oposição da Alemanha à continuidade de uma política de contemporização com a indefinição portuguesa no manejo de sua crise financeira, imagine-se agora. Quem, além de Portugal, deve estar preocupada com esse andar da carruagem é a Espanha, considerada a bola da vez depois de seu vizinho.

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