Como o artigo diz, a história é "sórdida" e começa em 2003 no tradicional Travellers Club em Londres, que desde o século 19 tem sido um lugar favorito para encontro de cavalheiros das intrigas e maquinações internacionais. Foi lá, em dezembro de 2003, que o mestre da espionagem líbia, Musa Kusa, encontrou-se com representantes dos serviços de inteligência ingleses e americanos, com o objetivo de elaborar um acordo que tirasse o patrão de Musa, Muammar Kadafi, de uma situação de indiferença e congelamento e o colocasse novamente em cena.
Musa, hoje ministro das Relações Exteriores da Líbia, tem mestrado pela Universidade do Estado de Michigan nos anos 1970 e seus dois filhos nasceram nos EUA e são cidadãos americanos. Foi o domínio que tem dos modos e maneiras ocidentais que o tornou tão eficiente em seu papel básico de viabilizador de Kadafi, ajudando e estimulando o comportamento patológico do líder líbio. Musa inventa desculpas, evita e bloqueia consequências, gera acordos e acomodações, e assim tem conseguido manter seu patrão no poder não importa os crimes que ele tenha cometido contra seu próprio país ou contra o mundo. Mas o que é realmente perturbador é a lista de líderes mundiais que conseguiu juntar nessa atividade: Tony Blair, Nicolas Sarkozy, Silvio Berlusconi, Gordon Brown e até mesmo George W. Bush. Como eles acabaram colaborando com alguém que já havia sido e voltaria a ser um pária?
George Tenet, ex-diretor da CIA, chamou as negociações com Musa "ilustrativas do mundo surreal em que temos que operar". Segundo Tenet, muitos na CIA na realidade suspeitavam que Musa havia arquitetado a explosão, em 1988, do vôo 103 da Panam sobre Lockerbie, Escócia, matando 270 pessoas. Mas em 2003 os serviços de inteligência ocidentais sentiam-se tão confortáveis com as propostas de Musa como nas poltronas de couro do Travellers Club -- e ajudaram os líderes ocidentais a se sentirem da mesma maneira. Eram um acordo ao qual ninguém poderia resistir: os campos de petróleo da Líbia seriam completamente abertos para o Ocidente, e os bancos americanos e europeus poderiam voltar a drenar as receitas do país. E Kadafi renunciaria publicamente ao seu supostamente verdadeiro programa nuclear (grande parte do qual nunca tinha sido sequer desencaixotada). Tendo invadido o Iraque em busca de armas de destruição em massa inexistentes, o governo Bush poderia alegar que pelo menos na Líbia os esforços estavam dando frutos. O plano parecia beneciar todo mundo exceto, como finalmente se viu, o povo líbio.
A campanha de Musa para a reabilitação de Kadafi escorava-se fortemente no forte interesse do Ocidente pelo petróleo e pelo dinheiro da Líbia, mas ele usou outros instrumentos também, como por exemplo a queda de alguns líderes democráticos por tiranos úteis. Leia mais. Ver também postagem recente sobre a atual intervenção militar na Líbia.
Ilustração por Sean Mc Cabe
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