Na postagem de ontem sobre esse assunto limitei-me a resumir a notícia publicada no The Washington Post a respeito, mas hoje gostaria de emitir minha opinião pessoal sobre o que se passa na Líbia, que, por sinal, é consequência da onda de revolta que se iniciou na Tunísia e que está varrendo vários países árabes, e que parece longe de se esgotar.
Nada do que ocorre em um país produtor estratégico de petróleo é, a meu ver, de natureza exclusivamente interna -- se não se manifestarem desde o início dos acontecimentos, os interesses externos (principalmente americanos e europeus, somados aos de Israel direta ou indiretamente) marcarão presença tão logo se sintam ameaçados, e na Líbia a situação não é diferente.
Com seu Kadafi, que a dominou 40 anos com o beneplácito disfarçado ou explícito de todos os que hoje o condenam (EUA, Europa e Liga Árabe), a Líbia é mais um exemplo gritante da hipocrisia que domina as relações do mundo ocidental com ditadores, árabes ou não, assim como é mais uma demonstração inequívoca da incompetência da política americana no norte da África, no Oriente Médio e na Ásia. O imbróglio líbio, somado aos da Tunísia, Egito, Iêmen, Bahrain e aos ainda incipientes movimentos de rebeldia na Argélia e na Arábia Saudita, mostra também, mais uma vez, a fragilidade política do mundo árabe e a debilidade de sua coordenação interna, uma das explicações (não a única, evidentemente) porque 22 países não conseguem se impor diante de um inimigo comum que é Israel.
É fácil imaginar a enorme pressão feita pelo Ocidente sobre a Liga Árabe para que ela emitisse o pedido de imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, dando assim a americanos e europeus a desculpa de que necessitam para, via OTAN, intervir militarmente na Líbia -- é óbvio que nenhuma zona de exclusão aérea se imporá apenas com discursos e resoluções, principalmente numa região com o nível de conflagração já existente hoje na Líbia.
Kadafi já avisou que reagirá com todos os meios à sua disposição contra os que querem derrubá-lo, e o primeiro a receber uma ameaça específica dele foi Satkozy -- o ditador líbio afirmou que, se pressionado, liberará segredos "mortais" contra o presidente francês. Esse bangue-bangue ainda promete muitas emoções.
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