[Mais um passo errado no novo tango argentino.]
A União Europeia (UE) abriu processo nesta sexta-feira contra a Argentina na OMC (Organização Mundial do Comércio) pelas restrições do
país latinoamericano às importações do bloco.
Embora o anúncio seja um dos desdobramentos mais recentes da crise aberta pela Argentina desde que o país decidiu nacionalizar a petrolífera YPF, cuja maior parte era de propriedade da empresa
espanhola Repsol, Bruxelas diz que as principais queixas são as novas
restrições de Buenos Aires aos produtos europeus.
Membros do alto escalão do bloco denunciaram crescentes dificuldades
para obter licenças de exportação e criticaram novas regras que exigem
que as companhias europeias importem da Argentina o mesmo valor que
exportam para o país latinoamericano. "As restrições de importação da Argentina violam as regras do comércio
internacional e devem ser removidas", diz Karel De Gucht, comissário de
comércio da UE.
Atualmente o bloco exporta 8,3 bilhões de euros anuais à Argentina e
importa cerca de 10,7 bilhões de euros em produtos e serviços do país
latinoamericano. "Aparentemente a Argentina passou a emitir licenças de importação
não-automáticas de uma forma arbitrária com procedimentos exaustivos,
longas esperas de até seis meses e sob condições inaceitáveis e
não-transparentes", diz um comunicado do bloco europeu. "O clima para comércio e investimentos na Argentina está claramente piorando", acrescentou De Gucht.
Repsol e YPF
O processo aberto por Bruxelas na OMC aguarda ainda que o governo argentino
apresente a oferta pelas ações da Repsol, o que ainda não aconteceu.
Na semana passada, a companhia espanhola e a americana Texas Yale
Capital Corp abriram outro processo contra Buenos Aires exigindo que se
esclareça quanto a Argentina vai pagar pela parte espanhola da YPF.
Em primeira instância, a UE está exigindo que se dê início a
conversações diretas entre o bloco e a Argentina. Caso não haja acordo
dentro de 60 dias, a OMC deve passar a arbitrar a disputa.
Instabilidade
O Congresso argentino votou a favor da nacionalização da YPF no dia 3 de
maio, aprovando o anúncio feito pela presidente Cristina Kirchner ainda
em abril. A medida foi criticada por muitos países e gerou um clima de
incertezas de investidores internacionais quanto ao clima de negócios na
Argentina.
Analistas, diplomatas e políticos recentemente ouvidos reportagem da BBC
Brasil em Buenos Aires indicam que as inconsistências na condução da
política econômica da Argentina prejudica o desenvolvimento do país no
longo prazo.
''A Argentina é um país ciclotímico, um país com zigue-zague que não
aprende com o passado. Repete os mesmos erros em outros contextos'',
disse o ex-embaixador do Brasil na Argentina, Marcos de Azambuja. Para ele, a alma do país vizinho é ''complexa'' e entre uma decisão
''sensata'' e outra ''abrupta'', os argentinos preferem sempre a
''abrupta e traumática''. Na sua opinião, a forma como foi realizada, no
mês passado, a estatização da petroleira YPF de capitais espanhóis e
argentinos, confirma esse perfil.
O ex-embaixador da Argentina no Brasil, Alieto Guadagni, também entende
que a raiz das incertezas sobre o futuro econômico da Argentina está na
''mania de não se pensar no longo prazo''. Para ele, o ''imediatismo'' e
a "imprevisibilidade'' são responsabilidade dos ''políticos'' que
governam o país. ''Cada novo governo entende que é hora de recomeçar tudo de novo, e não
há continuidade das medidas. Esse é um problema que afeta o
desenvolvimento do país e afasta os Investimentos Estrangeiros Diretos
(IED)'', disse Guadagni.
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