[Acho uma maldade, p'ra não dizer covardia, comparar qualquer mortal com Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata (NPA) em matéria de produzir e difundir mentiras -- neste quesito o NPA é imbatível, PhD, hors concours. Mas, o quentíssimo imbróglio do encontro do NPA com o ministro do STF Gilmar Mendes no ninho comercial de Nelson Jobim, ex-ministro do STF, do NPA e de Dilma Rousseff está propiciando essa comparação desigual. Tirando o NPA, medalha de ouro eterna em inverdades, dou a medalha de prata p'ro Jobim e o bronze p'ra Gilmar. Nessa história não tem santinho, nem anjinho, mas Jobim, o primeiro juiz togado brasileiro a vestir uniforme de campanha do Exército sem ser militar (e, olha que estamos em tempos de paz ...), mentiu pelo menos duas vezes em menos de 24 h -- primeiro disse que não havia presenciado a conversa, depois disse que dela participou o tempo todo e, eufemisticamente, chamou Gilmar de mentiroso. E Gilmar, por enquanto, só se desdisse (em relação ao que teria dito à Veja) quando falou na televisão que não havia recebido solicitação "específica" do NPA para adiar o julgamento do mensalão no STF. É patente que este ministro espalhou a conversa com o NPA para se proteger da peçonha do interlocutor. Agora, o NPA se diz "indignado" com a "invenção" da Veja, mas em momento algum teve peito de dizer que processará a revista. Se o NPA for se "indignar" toda vez que mentir e for chamado de mentiroso, viverá em estado de permanente apoplexia.
Um dos melhores textos que li até agora sobre esse fuxico é o de Merval Pereira hoje no Globo e em seu blogue -- reproduzo-o na íntegra, a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Fatos e versões
(Blog do Merval Pereira - 29/5/12)
Não são apenas as versões do encontro do ex-presidente Lula com o
ministro do Supremo Gilmar Mendes, no escritório do ex-ministro do
Supremo e do governo Lula Nelson Jobim que estão desencontradas. O
próprio encontro em si não poderia ter acontecido se vivêssemos em um
país sério.
Se respeitassem a liturgia dos respectivos cargos, o advogado Jobim não
poderia ter aceitado servir de intermediário de um encontro de Lula com
Gilmar Mendes; o ministro do Supremo deveria ter recusado o encontro em
tais circunstâncias e, sobretudo, o ex-presidente, se se desse ao
respeito, não poderia nem pensar em pressionar um ministro do Supremo
Tribunal Federal.
Pelos desmentidos desencontrados e por algumas coincidências do relato
de Gilmar Mendes com fatos da vida real, está mais do que claro que
houve o encontro e que o tema central foi mesmo o julgamento do
mensalão, uma atitude que poderia render a Lula um processo de
impeachment se ainda fosse Presidente da República, como bem lembrou
outro ministro do Supremo, Celso de Mello.
Esta seria, por sinal, a segunda vez em que o mensalão levaria Lula à
beira do impeachment, a primeira pelo próprio fato em si, que o levou a
pedir desculpas ao povo brasileiro e dizer-se traído, numa admissão
pública da gravidade do que ocorrera. Agora, na tentativa desesperada de adiar o julgamento do Supremo.
O advogado Nelson Jobim não conseguiu sair-se bem da missão de desmentir o indesmentível. Primeiro
disse pessoalmente a Jorge Bastos Moreno que a visita acontecera por
coincidência, pois Lula fora visitá-lo e lá por acaso estava Gilmar
Mendes, que de vez em quando aparece no escritório para tocar um
trabalho jurídico com Jobim.
Como Moreno de bobo não tem nada, registrou o desmentido como sendo uma
confirmação, pois não é possível que, sabendo três dias antes que Lula
lá estaria, não tivesse desmarcado qualquer outra reunião em seu
escritório. E mesmo que Gilmar Mendes aparecesse por lá sem avisar, caberia a Jobim evitar constrangimento aos dois.
A terceira versão de Jobim – antes dera outra à revista Veja, alegando
que não ouvira tudo o que foi conversado – foi, afinal, de que realmente
convidara Gilmar Mendes a se encontrar com o ex-presidente para uma
conversa em seu escritório, por iniciativa de Lula, mas negando que a
conversa tivesse girado sobre o mensalão, que teria entrado nela “de
passagem” por seu intermédio.
O esforço de Jobim para proteger o ex-presidente Lula é tamanho que ele não se incomoda de se colocar em má situação. [Por que será que um advogado com o currículo do Sr. Jobim -- não estou analisando o mérito desse CV -- dá a cara a tapa para proteger o NPA? A que Távola Redonda pertence esse cavaleiro togado, ou ele sempre foi um mosqueteiro?...]
Ora, se fosse mesmo verdadeira, essa versão colocaria Jobim não apenas
como intermediário, mas também como participante ativo da pressão sobre
um seu ex-colega de Supremo. Ao levantar o assunto mensalão, Jobim estaria sendo no mínimo inconveniente, para não dizer temerário.
O próprio ex-presidente, aliás, na nota oficial do Instituto Lula em que
se diz “indignado” e nega que tenha pressionado o ministro Gilmar
Mendes, fala do encontro como tendo sido ocasional: “No dia 26 de abril,
o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu
escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes”. Lula, como se vê, mantém a versão do encontro ocasional, quando Jobim já
evoluíra para admitir que convidara Mendes para o encontro a pedido
dele.
O ministro do Supremo Gilmar Mendes teria que ter uma imaginação
prodigiosa para inventar tantos diálogos e situações, e bastam duas ou
três dessas situações relatadas por ele para confirmar que tudo se
passou como diz. O ex-presidente Lula teria dito a Gilmar Mendes que pediria ao jurista
Celso Antonio Bandeira de Mello para conversar com o presidente do
Supremo, Ayres Britto, de quem é uma espécie de guru, responsável por
sua indicação ao STF por Lula.
O presidente do STF, embora não acredite na intenção maliciosa de Lula,
recordou que durante almoço no Palácio da Alvorada, a convite da
presidente Dilma Rousseff, Lula perguntou-lhe sobre Bandeira de Mello,
afirmando que “qualquer dia desses” os três tomariam um vinho juntos.
Lula ainda se referiu a José Dias Toffoli, afirmando que lhe dissera que ele “tem que participar do julgamento”. Ex-advogado
do PT, e tendo uma namorada que atuou em defesa de mensaleiros,
inclusive o ex-ministro José Dirceu, há expectativa de que Tofolli se
considere impedido de participar do julgamento do mensalão. O que Lula teria dito a ele fora antecipado pelo prefeito de São
Bernardo Luiz Marinho, um dos políticos mais próximos de Lula, que
definiu recentemente em declaração pública sobre a possibilidade de
Tofolli se sentir impedido: “Ele não tem esse direito”. Recentemente,
o ministro Dias Tofolli foi criticado ao visitar Lula no Hospital Sírio
e Libanês em São Paulo, com quem conversou longamente. Vê-se agora que
as críticas tinham razão de ser.
Por fim, o advogado Nelson Jobim, em uma das várias entrevistas que tem
concedido desde que o encontro foi revelado por Veja, disse que se
admirava muito de que só agora, passado um mês do encontro, o ministro
Gilmar Mendes se revele revoltado com o teor da conversa. Ou Jobim fez um comentário leviano, sem ter se inteirado das
informações, ou está tentando apenas confundir o cenário. O fato foi
revelado por Gilmar Mendes ao Procurador-Geral da República, Roberto
Gurgel; ao Advogado-Geral da União, Adams Silva e ao presidente do
Supremo, Ayres Britto, antes de sair publicado na Veja. Portanto, o ministro Gilmar Mendes apenas confirmou o que a reportagem
de Veja soube por outros caminhos em Brasília. Como dizia o ex-ministro
Golbery do Couto e Silva, segredo só guarda quem não tem. O melhor amigo
sempre tem um melhor amigo, e todas as histórias acabam circulando.
O próprio Lula relatou seu encontro a várias pessoas. Por fim, a nota
oficial do Instituto Lula tem pelo menos uma inverdade, quando afirma
que Lula nunca tentou interferir nas decisões dos ministros do Supremo
indicados por ele. Houve pelo menos uma ocasião em que ele procurou pessoalmente um
ministro, e foi rechaçado com elegância. Essa história é conhecida por
vários ministros do STF. [Acaba de ser divulgada a trilhonésima mentira do NPA -- se, a exemplo do "impostômetro", criassem o "mentirômetro do NPA", a máquina rapidinho iria bater pino.]
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