Já disse uma vez, neste blogue, que o dia em que o Brasil couber num divã vai ser uma farra para os analistas. Estamos passando, ultimamente, só para focar um exemplo, por um verdadeiro tsunami (já que estamos no governo Dilma, et pour cause!) de verdades as mais diversas, e de diversas capacidades: pela metade, em três quartos, e até verdades inteiras. E, juntas, anexas, umbilicais, as hipocrisias correspondentes.
Como somos um país festivo, temos hoje dois grandes shows no palco principal em Brasília, sem desmerecer em hipótese alguma os demais palcos espalhados Brasil afora. Lá no pretenso umbigo do país, temos o espetáculo da Comissão da Verdade, comandado pessoalmente por Dª Dilma Rousseff, e o da CPMI de Carlinhos Cachoeira, realizado pelos marionetes da base política do governo federal, com seus movimentos coordenados pela mesma senhora, que, aqui, ao contrário do outro espetáculo, não aparece ostensivamente.
Nesses dois shows principais ressaltam, de maneira impressionante, a enorme capacidade de interpretação, os recursos histriônicos e o inesgotável repertório de jogo duplo de Dª Dilma Rousseff. Em performances que chegam a ofuscar seu criador, mentor e tutor (Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata - NPA), nossa ex-guerrilheira vai às lágrimas ao discursar na instalação formal da chamada Comissão da Verdade -- algo realmente emocionante, p'ra quem é cego e surdo. Paralela e incansavelmente, à sorrelfa, à socapa, na surdina, a mesma "emotiva" senhora ordena a seus cupinchas e lacaios no Congresso Nacional que avacalhem com a investigação sobre o mar de imundície criado por Carlinhos Cachoeira, para evitar problemas diretos e indiretos p'ra seu governo.
Aliás, a fundamentação dessa tal Comissão da Verdade (CV) já é um expressivo mostruário do estoque de diferentes verdades disponíveis no país, umas reais e concretas, outras feitas com componentes em doses questionáveis. E há ainda as que não estão no mostruário. Quem lê, vê e ouve a argumentação sobre essa CV fica com a nítida impressão de que nosso período de ditadura militar, no tocante à guerrilha e ao embate esquerda x militares, foi um faroeste mais do que quadrado: de um lado, só mocinhos, do outro, só bandidos. Como assim, cara pálida?! Nem todos os militares foram bandidos (e os que foram, pau neles), nem todos os esquerdistas e guerrilheiros foram mocinhos e anjinhos (e, quem não foi, pau nele também, uai!).
A esdrúxula Lei de Anistia aprovada pelos três poderes da República, a meu ver, só gerou excrescências -- criou a figura sui generis do criminoso legalmente impune, e transformou a guerrilha na atividade empresarial mais bem sucedida deste país. Um bando de gente letrada, culta, com curso superior, que embarcou na esquerda conscientemente e partiu para o confronto sabendo o que fazia e o que enfrentaria, que cometeu crimes e delitos, de repente vende seus ideais na bacia das almas e recebe indenizações e mesadas vitalícias (aí estão os Ziraldos, os Jaguares, os Carlos Heitor Cony da vida p'ra provar isso) só porque foram "guerrilheiros" (agora, viraram mercenários)!! E, pelo noticiário de hoje, Dª Dilma também pleiteou e vai receber sua indenização. Não concordo absolutamente com o que os militares fizeram no país e na Operação Condor, mas se fosse militar e tivesse perdido alguém da família na guerrilha ficaria também revoltado com essa absurda diferença de tratamento post mortem, no contexto de um mesmo conflito.
Fico pensando: se estivéssemos ainda naquele delicioso tempo dos armazens com suas balanças tradicionais, o enorme estoque de pesos que seu dono teria que ter para pesar as verdades da Dª Dilma (a do ministro Fernando Pimentel, então!...), do Congresso Nacional, do STF e da Justiça em geral, da Infraero, da Anac, dos Ministérios, das agências reguladoras, ... Vixe Maria!
Essa sua verdade é bem oportuna e deveria gerar reflexões. Lembro-me do Jack Nickolson vociferar (Uma questão de Honra): "You can not handle the truth!). Assim é que a mentira alivia, a farsa enriquece e a verdade não desempenha o papel que deveria. Trata-se de mais uma amostra, essas por você aludidas, encruzilhadas retóricas. Vou acompanhar outros eventuais comentários para contar os palavrões dos que pregam uma transparência teórica e inacreditável.
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