quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um porta-voz sem voz

[O artigo traduzido a seguir, publicado no site do The New York Times/International Herald Tribune no dia 2 deste mês, e na versão impressa do International Herald Tribune do dia 4 de maio, trata de um caso de discriminação sexual dentro da equipe de Mitt Romney, virtual candidato republicano à Presidência dos EUA. Não dá p'ra entender como um candidato mórmon, de um partido superconservador como o republicano, contrata um assessor gay! O artigo permite vislumbrar o ambiente em que se desenvolve a campanha presidencial republicana nos EUA.]   

Era o momento máximo até então para a equipe de política externa de Mitt Romney: uma conference call em 26 de abril, acessada por dezenas de terminais de notícias ao redor do mundo para dissecar e denunciar o histórico do presidente Barack Obama na área de segurança nacional. Mas, Richard Grenelli, o estrategista político que ajudou a organizar essa conference e havia sido contratado especificamente para supervisionar tais comunicações, estava ostensivamente ausente, ou assim pensou todo mundo.

Constatou-se que ele estava em sua casa em Los Angeles, acompanhando tudo, mas em um silêncio de pedra e extremamente irritado. Uns poucos minutos antes, um assistente sênior de Romney lhe havia dado uma inesperada orientação, de acordo com várias pessoas envolvidas na conference. "Ric", disse-lhe Alex Wong, um assistente na área de estratégia, "a campanha solicitou que você não fale nessa conference".  Wong acrescentou, "é melhor permanecer discreto por enquanto". Para Grenelli, a mensagem era clara: ele havia ficado radioativo.

Foi o clímax de uma controvérsia inesperadamente confusa e pública sobre o papel e a reputação de Grenelli, um especialista em política externa que é gay e é conhecido por seu apoio a casamentos de mesmo sexo, por sua irascível relação com a mídia de notícias e por suas mensagens mordazes no Twitter.

A partir da contratação de Grenelli três semanas atrás, que provocou ruidoso protesto de alguns cristãos conservadores, ficou evidente que a indicação do ex-membro da administração Bush, possuidor de imaculadas credenciais republicanas, havia se enredado na implacável agitação da política de ano eleitoral. Isto levou-o a pedir demissão e constituiu-se no primeiro passo em falso em público do candidato republicano, desde que passou efetivamente a ter ao seu alcance a indicação do partido.

Por um lado, a curta e tempestuosa permanência de Grenelli como porta-voz de Romney para política externa é a história de como as tentativas de uma campanha para gerenciar sua relação com a ala mais conservadora do Partido Republicano deixaram um assessor sentir-se desagradavelmente marginalizado e relegado ao ostracismo. Mas, de acordo com entrevistas com mais de uma dezena de assistentes e conselheiros, isso retrata também como uma campanha de crescimento rápido, operando sob a luz cortante de uma eleição geral, falhou em identificar os riscos potenciais de uma nomeação de alto nível.

[...] [Enquanto a campanha procurava deixar transparecer que a opção sexual de Grenelli não importava] Formava-se, entre alguns cristãos conservadores, um protesto mais problemático e mais difícil de ignorar: Romney, que se opõe a casamentos de mesmo sexo, os havia traído contratando alguém que é gay e apoia ostensivamente esse tipo de união.

No dia seguinte à contratação de Grenelli, Bryan Fischer, um crítico de Romney na Associação da Família Americana, disse a cerca de 1.400 de seguidores no Twitter: "se [contratação de] pessoal significa [concepção] política, sua [de Romney] mensagem à comunidade pró-família é: danem-se". No dia seguinte, o conservador Daily Caller publicou uma coluna online que condensava a ira da direita cristã, ligando a contratação de Grenelli à indicação de juízes gays para a Suprema Corte de Nova Jersey.

À medida que se intensificavam as críticas dos conservadores, Grenelli pressionava os assessores sêniors de Romney para que permitissem que falasse sobre temas de segurança nacional, argumentando que a melhor maneira de aplacar a ira sobre sua nomeação era deixá-lo fazer seu trabalho. Mas, os conselheiros de Romney recuaram ante a ideia de que Grenelli assumisse um papel publicamente visível, dizendo que o melhor modo de superar a controvérsia era que ele assumisse uma posição discreta até que essa controvérsia desaparecesse. Uma grande preocupação: que jornalistas perguntassem a Grenelli sobre seu Twitter ou sua sexualidade, tornando ele, Grenelli, o foco das atenções e não a política externa de Romney. Grenelli transformou-se em um porta-voz sem voz.

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