[Traduzo a seguir reportagem de ontem do jornal El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
A segunda reforma financeira do governo em pouco mais de três meses terá um forte impacto na conta de resultados na maioria dos bancos e caixas [da Espanha]. A reforma exige que se provisione o crédito promotor teoricamente sadio, com coberturas que vão desde 7% para os empréstimos que financiam promoções terminadas, até 45% para os créditos promotores sem garantia hipotecária ou que tenham como garantia o solo, passando para 22% para as promoções em curso [crédito promotor, na Espanha, é o crédito concedido ao setor imobiliário no período de expansão da construção]. A essas cifras se somam os 7% que já se exigiam na reforma de fevereiro, que fracassou no seu objetivo de restabelecer a confiança internacional no setor financeiro espanhol.
As novas coberturas serão, portanto, de até 52% para parte do crédito que antes se considerava sadio. Com dados de fechamento do ano passado, as instituições com maior volume de crédito promotor teoricamente sadio em suas contas eram Bankia (com cerca de 19,5 bilhões de euros), La Caixa (com 13,65 bilhões) e o Banco Santander (com 12,8 bilhões).
A entidade [Bankia], nacionalizada recentemente e presidida desde esta semana por Jose Ignacio Goirigolzarri, já era a que possuía um maior volume de ativos podres em imóveis [investimentos que perderam grande parte de seu valor, real ou financeiro], mas era também a que possuía mais créditos considerados teoricamente sadios, que agora terá que provisionar. Esses novos requisitos obrigarão o Banco Financiero y de Ahorros - BFA [Banco Financeiro e de Poupanças, em tradução livre], matriz do Bankia, a solicitar mais ajuda pública para manter sua solvência. Além disso, no caso do crédito teoricamente sadio, o problema não está na matriz, que atuava mal como um banco, mas no próprio Bankia, que é cotado em Bolsa. Com o presidente anterior, os planos da instituição passavam por recapitalizar-se com a conversão de [participações] preferenciais em ações [participações preferenciais, na Espanha, são bônus de dívida de prazo perpétuo que não dão a seus proprietários direito de propriedade nem de recuperação do dinheiro investido. O portador do bônus somente recebe juros sempre e quando a entidade emissora receber benefícios (tiver receita). Se o portador do bônus quiser recuperar o investimento inicial, tem que vender o título a outro investidor interessado, em um mercado interno -- controlado pela própria sociedade emissora do bônus -- já que, como o prazo é perpétuo, a entidade não tem obrigação de reembolso.]
Esforço menor
Ainda que La Caixa e o Banco Santander sejam as duas instituições com mais crédito promotor teoricamente sadio, em proporção ao seu volume o esforço financeiro será muito menor que no caso BFA-Bankia.
Em proporção ao seu porte, tomando como referência o volume do investimento creditício na Espanha, as instituições com maior crédito promotor em situação normal são algumas das que já foram absorvidas ou nacionalizadas. Com os números do fechamento de 2011, nesse grupo se encontram Caixa Duero-España, Caixa 3, Banco CAM ou NCG Banco.
Entre os bancos, os que tinham no final do ano passado um maior volume de crédito teoricamente sadio em relação a seu investimento creditício total são, sem contar o Banco de Valência já sob intervenção, o Banco Popular e o Pastor, ambos em processo de fusão, uma operação que podem aproveitar para sanear em parte seus balanços.
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