Peter Kornbluh, diretor de documentação sobre o Brasil no National Security Archive (Arquivo Nacional de Segurança), uma organização sem fins lucrativos vinculada à Universidade George Washington, acredita que o Brasil deu um passo histórico com a criação da Comissão, após o qual será impossível retroceder. "Uma vez que a caixa de Pandora do passado for aberta, será muito difícil fechar a tampa novamente", diz, referindo-se aos segredos que podem ser revelados pela primeira vez, e que dariam início a um segundo debate no país, desta vez sobre justiça.
Kornbluh, um especialista em "abrir caixas de Pandora" usando a lei de acesso à informação americana, crê que as informações guardadas nos EUA podem ser valiosas principalmente diante da relutância das Forças Armadas brasileiras em abrir seus arquivos. Sob pressão para ajudar no trabalho de comissões da verdade na região, ele diz, o governo americano tem liberado evidências ainda que atestem suas "políticas externas desabonadoras, reprováveis e imorais do passado", afirma Kornbluh.
[Os principais trechos da entrevista de Peter Kornbluh à BBC Brasil podem ser acessados através do link fornecido na primeira linha desta postagem.]
Peter Kornbluh diz que Brasil deu passo histórico com criação de Comissão da Verdade - (Foto: BBC Brasil).
[Como era de se esperar, a criação da Comissão da Verdade incomodou e incomoda muito os militares, ainda que protegidos por uma questionabilíssima Lei de Anistia. Além do desconforto da possibilidade de ver revelados nomes de executantes e vítimas, e detalhes de torturas, certamente passa pela cabeça dos militares o temor de que essas revelações despertem um clamor popular irrefreável pela anulação ou reformulação radical da famigerada Lei de Anistia. Além das críticas habituais àquela Comissão, a turma da caserna já se mobiliza para se contrapor ao que for encontrado e denunciado pelo grupo oficial -- o primeiro movimento nesse sentido partiu dos oficiais reformados do Clube Naval do Rio de Janeiro, que anunciaram a criação de uma "comissão paralela" para rebater as eventuais acusações do grupo oficial.]
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