No fim da semana passada, o governo sírio de Bashar al-Assad cometeu outro massacre de civis, desta vez na cidade de Houla, deixando 108 mortos entre homens, mulheres e crianças. Na quarta-feira, observadores da ONU confirmaram a descoberta de 13 homens mortos perto da cidade de Deir al-Zour, no leste do país -- com as mãos atadas atrás das costas, as vítimas vendadas aparentemente foram executadas com tiros nas cabeças.
Já somam milhares as mortes de civis, decorrentes da implacável ação repressora do governo. A ONU tem sido repetidamente ridicularizada por Bashar al-Assad, e o mundo ocidental se perde num tiroteio verbal contra o governo sírio. Rússia e China se opõem a uma ação militar contra a Síria. França e EUA não descartam essa medida, se os massacres continuarem. Após a tragédia de Houla, mais de dez países ao redor do mundo expulsaram os embaixadores sírios como sinal de protesto.
No meio desse imbróglio todo, o Brasil insiste na tecla do "diálogo" com o governo sírio, apesar das reiteradas e trágicas demonstrações de absoluta surdez democrática de Bashar al-Assad -- por isso, não cogita de expulsar o embaixador sírio em Brasília e manterá nosso embaixador em Damasco. O raciocínio da nossa diplomacia é demasiadamente tortuoso, contorcionista e imbricado para ser entendido, em qualquer latitude do planeta -- inclusive aqui. Não dá nem para citar a atitude da Rússia e da China como "respaldo" da nossa, porque os interesses múltiplos desses países na Síria e na sua região são estratosfericamente diferentes e superiores aos do Brasil, no tempo e no espaço -- o que não significa, absolutamente, considerar que russos e chineses estão certos, nesse caso.
A mania itamaratiana de contemporizar em toda e qualquer situação, não importa a gravidade do momento, das circunstâncias e das implicações, já passou da esfera do razoável e descamba para o ridículo. Essa psicose da nossa diplomacia, um misto de masoquismo e de tendência suicida, recorrentemente nos tem deixado em situações constrangedoras em vários quadrantes do planeta. E depois nossos diplomatas se queixam que não nos deixam ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU ...
Reproduzo a seguir editorial de hoje do Globo, que mostra implacável e impiedosamente, comme il faut, o isolamento a que essa política de avestruz do Itamaraty nos tem levado.
Brasil se isola na questão síria
Editorial - O Globo, 31/5/12
No
momento em que os principais países recorrem às mais duras medidas para
repudiar o massacre sistemático do povo sírio por seu próprio governo, o
Brasil mais uma vez decide contemporizar. Segundo o Itamaraty, o
governo brasileiro está preocupado em não piorar ainda mais a situação
na Síria. “O diálogo precisa ser mantido”, sustentou o porta-voz da
chancelaria brasileira.
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