[Cada dia que passa é mais uma notícia de um vexame adicional a que o país é submetido, aqui e lá fora. E, invariavelmente, pelo menos um dos chamados "poderes" da República tem culpa no cartório -- e, não raro, mais de um deles nos empurra para a vergonha pública, como nos conta a reportagem de ontem, 28/9, do Globo, que reproduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
O que dizer de um país que busca um pouco mais de protagonismo no
cenário internacional e, ao mesmo tempo, negligencia os acordos por ele
negociados e assinados? É o que acontece com o Brasil, alvo de críticas,
constrangimentos e cobranças dos parceiros internacionais. Estima-se
que existem nada menos do que 237 tratados que ainda não estão valendo,
por não terem sido ratificados pelo Legislativo Brasileiro. Deste total,
180 ainda se encontram no Executivo, 55 tramitam na Câmara e 2 estão no
Senado.
Entre os casos mais gritantes, está o texto da Convenção sobre a
Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres, assinado em
23 de junho de 1979, na Alemanha, que só agora tramita no Senado, para
depois ser sancionado. Também está na Casa o memorando de entendimento,
assinado em 20 de julho de 2008, em Letícia, na Colômbia, entre os
governos brasileiro, colombiano e peruano, para combater atividades
ilícitas nos rios fronteiriços e comuns.
Na Câmara, destacam-se um acordo de extradição Brasil-China, celebrado
em novembro de 2004; a isenção de vistos para passaportes diplomáticos
com o Irã, assinada em 2009; o acordo de defesa da concorrência do
Mercosul, assinado em 2010; e o acordo da Unasul sobre democracia. Essa
situação fere a imagem do Brasil, que leva anos para ratificar um
acordo, enquanto, em boa parte dos países, o prazo não chega a seis
meses.
O processo de celebração de acordos internacionais no Brasil obedece às
seguintes etapas: negociação, assinatura, aprovação parlamentar e
ratificação. Após assinado, não há prazo legal para que o texto seja
enviado ao Legislativo. Na Câmara, já com o nome de projeto de decreto
legislativo, o acordo passa por várias comissões, além do plenário, para
depois seguir ao Senado.
Tratados podem ganhar urgência
Para o presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado,
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), há irresponsabilidade e leniência por parte
do governo e da Câmara dos Deputados. Ao Globo, ele ameaçou não permitir
mais a apreciação desses atos, enquanto não surgir uma forma de tornar
mais rápida a tramitação. Entre as propostas em estudo estão a supressão
da Câmara na votação desses tratados — incumbência que passaria a ser
apenas do Senado — e a classificação dessas matérias como urgentes pelo
Executivo.
"Esse procedimento de convivência com esses acordos bilaterais está no
limite do intolerável. Quem faz acordos não são governos, mas Estados,
que acertam e ajustam agendas e metas. Na prática, está faltando
responsabilidade e a participação do Congresso acaba se tornando
irrelevante. É uma ratificação de faz de conta. O papel do Congresso é
próximo do ridículo e o Poder Executivo faz de conta que nada está
acontecendo", disparou Ferraço.
Diferença em relação a parceiros
No Brasil, o Executivo, às vezes, demora anos para encaminhar os acordos
para o Legislativo, devido à burocracia e ao desinteresse existente nos
ministérios setoriais. Enquanto isso, em boa parte dos países
signatários, o processo leva até seis meses. Ferraço disse até que, se a
situação permanecer como está, o mais provável é que os tratados sejam
devolvidos. "Nossa comissão não é anexo do Itamaraty, nem do poder Executivo, muito
menos almoxarifado e tampouco cartório", afirmou o senador.
Prezado Vasco, no penúltimo parágrafo vc quis dizer 34 anos... Abs.
ResponderExcluirCaro Paulo, para sorte minha e dos leitores do blogue você está sempre atento ... Obrigado e um forte abraço.
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