A preparação e o financiamento do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016 sofrem profundos atrasos que já colocam em sério risco o evento. Obras e estádios incompletos, esportes sem um plano claro dos locais de disputa, falta de dinheiro, de patrocinadores e um déficit crônico de quartos de hotel são apenas alguns dos desafios que a cidade enfrenta.
As informações fazem parte de um relatório "estritamente confidencial" do Comitê Olímpico Internacional (COI), obtido com exclusividade pelo Estado. Faltando três anos para os Jogos, o raio X da entidade revela sem meias palavras uma cidade despreparada para o evento e com problemas financeiros.
COI aponta atrasos na construção da Vila Olímpica - (Foto: Luciola Vilela).
A avaliação, que se contrasta aos discursos de políticos e de Carlos
Arthur Nuzman, será usada como base dos debates que começam hoje no Rio,
na reunião promovida no Brasil entre o COI, governo e organizadores
locais. O informe técnico classifica os 44 capítulos da preparação em
três cores diferentes: verde, para as áreas que estão em dia; amarelo
para aquelas sob ameaça; e vermelho nos casos de atrasos que já
comprometem os Jogos. Apenas metade da preparação está em dia.
Se o COI tem adotado um tom mais diplomático para cobrar o Rio e não vem
apelando à críticas escancaradas, como a Fifa fez no caso da Copa do
Mundo, a realidade é que os documentos secretos mostram um cenário
dramático. Um dos pontos que preocupam o COI é a infraestrutura, capítulo que está
integralmente classificado de vermelho. No segmento de transporte, o COI
pede um "monitoramento muito cuidadoso" da Linha 4 do Metrô, das obras
entre a Barra e Zona Sul, a Transolimpica e a Transbrasil, todas
atrasadas.
A entidade também aponta para o risco de que não haja uma frota
suficiente de ônibus e pede que seja desenvolvido um plano alternativo
caso a Linha 4 falhe. Vários projetos foram adiados de maio para o fim
do ano, inclusive um estudo que determinaria a demanda por transporte na
cidade.
O COI ainda pede que projetos de infraestrutura de abastecimento de água
e eletricidade sejam "cuidadosamente monitorados", classificando esses
itens de amarelo. Outra obra que aparece com um alerta amarelo é a do
porto. Um atraso poderia acabar afetando os planos dos organizadores de
usarem navios como hotéis.
Hotel
De fato, a rede hoteleira é outra que corre o risco de gerar sérios
problemas e está classificada de vermelho pela avaliação. Até agora, o
número de quartos contratados é de apenas 19,2 mil. O COI estima que o
evento precisará de 45 mil. O informe também revela o adiamento dos contratos com navios que seriam
usados como hotéis, no porto do Rio. O prazo era que esses contratos
estivessem concluídos em março de 2013. Agora, ficarão para o final do
ano. Segundo o COI, houve um "interesse mais baixo de que se esperava
por parte de empresas de navio".
A situação do aeroporto do Rio também merece uma luz amarela, com o
plano operacional adiado de novembro de 2013 para março de 2014.
Mas são as instalações esportivas em total atraso que mais preocupam a
entidade. Segundo o COI, locais de competições ainda não estão 100%
confirmados. "O plano mestre de instalações esportivas precisa ser
congelado agora", alerta o COI, em uma referência às frequentes mudanças
de planos pelos organizadores.
"Ainda existem muitas e frequentes mudanças de locais ou incertezas
sobre a localização e especificações das instalações", criticam. Entre
as incertezas estão as instalações para os esportes aquáticos, corrida
de rua, o Maracanã, canoagem e outros. "Essas mudanças e incertezas têm
ou poderão ter impactos negativos nas operações", indicou o informe.
Segundo o COI, o Rio teria já de saber em abril a capacidade total de
todas as instalações. Mas isso foi adiado para novembro.
No caso do Maracanã, o COI alerta que processos legais podem ter um
impacto ainda nos planos de adequação do complexo e, na prática,
paralisar a preparação do estádio para 2016.
Uma crítica dura ainda é dirigida ao plano para Deodoro, com "atrasos
adicionais no processo de licitação". "Isso coloca em risco a capacidade
de ter esses locais prontos no prazo para os eventos-teste e, de uma
forma mais global, impacta na conclusão efetiva do desenvolvimento
inteiro da zona". O COI pede "urgência máxima" em Deodoro, no planejamento, licitações e
construção. Segundo o cronograma indicado no documento, o projeto de
Deodoro deveria estar pronto em maio de 2012. Mas o novo prazo é
novembro de 2013.
A entidade não deixa de criticar ainda a situação do estádio João
Havelange, atualmente embargado. "Um calendário integrado de construção
precisa ser urgentemente exigido", apontou o COI. "Isso teria de
garantir não apenas os trabalhos de correção do teto, mas outras
exigências para as instalações já existentes", indicou. O COI cobra o Rio que "demonstre com precisão" esse calendário para o
Estádio João Havelange e "de garantias de que prazos e cronogramas serão
respeitados sem adiamentos".
Doping
Um dos capítulos mais atrasados é o do controle de doping. No informe, o
COI alertava para o risco de que o Laboratório do Rio fosse
descredenciado pela WADA, que ocorreu dois dias depois da elaboração do
documento. Leis que deveriam ter sido aprovadas em junho de 2012 foram
adiadas para setembro de 2013.
O COI ainda exige que governo adote leis que reduzam o risco de que
recursos sejam acionados na Justiça por partes de empresas que saiam
perdedoras em licitações, o que evitaria novos atrasos. Outra exigência:
garantir que não haja falta de material, cimento e areia para obras.
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Segundo os noticiários nacional e internacional, eu vivo soterrado de opróbrio. Esse assunto é tão somente um dentre os inúmeros vexames que me pairam sobre a cabeça.
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