terça-feira, 10 de setembro de 2013

Para o Senado Federal hombridade e caráter se fatiam como mortadela

Em agosto deste ano, 172 deputados covardes, escondidos no anonimato do voto secreto, preservaram o mandato do deputado corrupto Natan Donadon condenado com sentença definitiva pelo STF - Supremo Tribunal Federal.  A Câmara, que já era e há muito é um lodaçal, virou um oceano de lama sem qualquer ilhota de dignidade por milimétrica que fosse.

Exatamente uma semana depois de mergulhar nessa imundície a Câmara, pressionada pela péssima repercussão de sua decisão, surpreendeu o país aprovando por unanimidade o fim do voto secreto em suas votações por 452 votos a zero.

Em cumprimento ao ritual do nosso Congresso, a PEC do voto secreto seguiu para o Senado Federal e ali surgiu em alta definição e escancarada a pouca vergonha que campeia na nossa chamada Câmara Alta. Começaram de imediato a pipocar reações contrárias ao voto aberto irrestrito. E começou a transparecer também que a Câmara havia feito apenas uma jogada de efeito para tapear a opinião pública -- tudo faz crer que houve um conchavo de bastidores entre o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), na base do "eu finjo que esfolo e você faz a plástica necessária e conveniente". Não há surpresa nem ineditismo algum no fato dos senadores aceitarem esse tipo de jogada pilantra -- quem convive diuturnamente no lixão da política lida com carniça com um pé nas costas.

A ideia do presidente do Senado e do Congresso, Renan, é de fatiar a PEC do voto, aprovando primeiro o fim do voto secreto apenas na cassação de mandatos e deixando o resto para uma discussão mais "detalhada".  “Abrir todas as votações fragiliza o Legislativo. O parlamentar pode ficar exposto ao governo de ocasião ou a autoridades”, argumentou o presidente do Senado. Mas, nessa posição velhaca Renan não é um biltre sozinho e isolado -- a oposição, com destaque para o PSDB, está também por trás dessa calhordice.

O líder do PSDB, senador Aloysio Nunes (SP), disse que é um “absurdo” a PEC aprovada na Câmara . Ele é a favor do voto aberto para a cassação de mandatos. "Da parte da oposição, é mais que tiro no pé: é tiro no ouvido. A Câmara aprovou voto aberto para escolha do Procurador-Geral da República e ministros do Supremo Tribunal Federal. Um tem atribuição de propor ação penal contra parlamentar federal, o outro, de julgá-lo. É colocar todos em situação de potencial suspeição. Chega a ser indecoroso",  afirmou.  O que esse tucano está fazendo fora do PT?! Quer dizer então que a condição sine qua non para ser senador é ser covarde e se esconder por trás de um voto secreto, é ser frouxo?!

A argumentação apresentada de que o juiz vetado hoje abertamente por um senador pode julgá-lo amanhã, e a naturalidade com que foi explicitada, mostram a cultura da marginalidade que grassa no Senado. Tudo cheira péssimo nessa alegação: - i) o senador já ingressa no Senado sabendo que tem rabo preso e é vulnerável à justiça, e não quer se expor; ou - ii) o senador não é um honesto convicto e só e corajoso p'ras negas dele, já conhece ou já leu e ouviu que o Senado é uma tremenda incubadora de maracutaias, sabe que sua carne é fraca, e não quer perder a boca nem ser apanhado; ou, finalmente - iii) o senador é simplesmente um borra-botas pusilânime, que tem medo de levar bronca de quem que seja.

O medo de "represálias" no caso de votar em aberto contra vetos do(a) Presidente da República também é típico de quem deve apanhar da mulher.

A suspeita da existência de conchavo entre Câmara e Senado nessa encenação do voto secreto ganha corpo com a reação de Henrique Alves à proposta de fatiamento da PEC de Renan: "Apesar de a decisão de Renan Calheiros esvaziar o texto aprovado pelos deputados federais, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), saiu em defesa da proposta de “fatiar” a PEC de Fleury. O deputado disse concordar inteiramente com a sugestão de promulgar apenas o trecho que determina a extinção das votações secretas para processo de perda de mandato.  “Concordo inteiramente. Acho que isso agilizaria o que é fundamental nesta hora e os outros artigos ficariam para posterior discussão. Da minha parte, parabenizaria essa solução política do Senado, que acho que teria o apoio de todos os deputados da Câmara”, observou Alves.

Fica acertado então que no convescote de aproveitadores chamado Senado Federal, não existem honra, hombridade, caráter, compromisso ético e compromisso cívico por inteiro, só fatiados -- e sua qualidade é péssima.




Um comentário:

  1. Não é impossível que nos livremos desses reles tipos e que os vejamos encaminhados diretamente à PAPUDA. Sem imunidades parlamentares, eles borram as calças. Basta votar bem melhor e aguardar o desenlace. Vamos lá, gente!

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