Há exatamente um ano, o governo federal anunciou um agressivo pacote de medidas para reduzir o preço da energia elétrica. A queda nas tarifas seria resultado da renovação antecipada das concessões que venceriam a partir de 2015. O anúncio provocou redução generalizada no valor de mercado das companhias do setor. Um ano depois, as empresas ainda estão distantes de recuperar as perdas.
Juntas, as 13 principais elétricas brasileiras têm valor de mercado de R$ 117,5 bilhões, 20% abaixo do total do fim de agosto de 2012, quando a expectativa com relação ao setor começou a sofrer ruptura. As estatais são as mais atingidas, com destaque para Eletrobras (-51%) e Cesp (-31%). Com valor de mercado 34% menor, a Cemig deixou de ser a companhia do setor elétrico mais valiosa na bolsa para ocupar a terceira posição. A Tractebel, por sua vez, não atingida pela renovação antecipada porque não tem concessões prestes a vencer, passou do segundo para o primeiro lugar, valendo hoje mais de R$ 24 bilhões em bolsa.
Gráfico: Valor Econômico
Antes e depois -- o que aconteceu com as empresas de energia elétrica um ano após o pacote do governo (clique na imagem para ampliá-la). - (Ilustração: Valor Econômico).
O Índice de Energia Elétrica (IEE), que mede o desempenho das companhias
do setor, fechou ontem em 27.175 pontos, 17,2% abaixo do fechamento de
um ano atrás. Nesse período, o Ibovespa caiu 5,4%.
As novas regras para o setor elétrico mudaram a visão de analistas e
gestores sobre investimentos nessas empresas. O segmento era considerado
uma espécie de porto seguro para o investidor, em razão da
previsibilidade de receitas e da perspectiva de distribuição de
dividendos.
"O governo tirou valor das empresas e realmente mudou o ambiente
regulatório, trouxe muitas incertezas. Passado um ano da medida
provisória, ainda há muitas pendências não resolvidas. As empresas têm
um recebível do governo e ainda não se sabe qual o montante", diz
Lilyanna Yang, analista do UBS, que ressalta que o retorno requerido
para se investir hoje no setor elétrico é maior. O investidor, afirma Lilyanna, quer ter visibilidade de lucros e
dividendos, mas hoje encontra um quadro com fluxos de caixa mais
voláteis e imprevisíveis.
Na visão da analista do UBS, praticamente todas as empresas foram
afetadas, mesmo que indiretamente, pelas medidas. Os bons fundamentos da
Cteep, por exemplo, considerada por Lilyana uma companhia eficiente,
com visão de longo prazo e comprometida a investir no Brasil, não a
protegeram. As ações da companhia têm baixa de 25% em cerca de 12 meses. Mas empresas com contratos de concessão de longo prazo, grande parte de
controle privado, sofreram menos, diz a analista, citando o caso da
Tractebel, cujas ações já subiram aproximadamente 18% desde o fim de
agosto de 2012.
Para o analista da consultoria Lopes Filho Alexandre Montes, as empresas
elétricas já estavam sofrendo antes mesmo das medidas do governo. Ele
assinala que o terceiro ciclo de revisão tarifária já havia derrubado a
rentabilidade do setor de distribuição elétrica, assim como a seca no
país e a própria adaptação ao padrão de contabilidade internacional
(IFRS). "Um verdadeiro furacão passou pelo setor nos últimos 18 meses", diz.
"Antes, toda vez que havia uma crise, o mercado corria para o setor
elétrico. Hoje isso não acontece mais, ele deixou de ser um porto
seguro. A rentabilidade é muito menor que um ano e meio atrás e isso
veio pra ficar".
"Houve também o efeito das manifestações, que abriram espaço para
decisões políticas em vez de econômicas em relação a tarifas", diz o
diretor de renda variável da Franklin Templeton, Frederico Sampaio. É emblemático o caso da
paranense Copel, que, atendendo a uma solicitação do governo do Paraná,
pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para que sua
tarifa fosse reajustada em 8,8%, muito menos que os 13,4% já autorizados
pela autarquia. "O mercado ficou receoso sobre o ambiente em que se
darão as revisões tarifárias", diz.
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