[Dona Dilma, a NPS (Nosso Pinóquio de Saias), deve estar cogitando dar a Edward Snowden a mais alta condecoração do país e uma carteirinha de membro cativo do PT, por ter-lhe dado de bandeja num ano pré-eleitoral essa história da espionagem da NSA. A NPS armou logo seu barraco, rodou sua baiana e cancelou a viagem -- enquanto isso, continua levando esporadas de Evo Morales e cutucões com ferrão da Argentina. Para quem faz jogo duplo e é subserviente em política externa, é muito mais fácil dar uma de rato que ruge com um grandalhão distante do que impor respeito a uma formiga vizinha pentelha e a outra vizinha que nos dá superavit com palmatória. O artigo traduzido abaixo foi publicado pela revista The Economist em 18/9. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Brasil - Estados Unidos: Mais tristeza do que raiva
Primeiro surgiu, no dia 1 de setembro, um relatório de que a Agência Nacional de Segurança [NSA, em inglês] esteve monitorando ligações telefônicas e emails da presidente brasileira Dilma Rousseff e de outras autoridades seniores do governo. Depois, veio a evidência de que a NSA teria espionado a Petrobras, a petroleira nacional brasileira. Uma Sra. Rousseff irritada exigiu explicações, um pedido de desculpas e garantias de que essas "práticas ilegais" seriam interrompidas, como uma condição para levar adiante uma visita de Estado longamente planejada a Washington no mês que vem. Embora Barack Obama dissesse que compreendia as preocupações levantadas pelo Brasil, aparentemente nenhum pesar ou arrependimento mais explícito surgiu na conversa telefônica de 20 minutos entre os dois presidentes no dia 16 de setembro. Os dois líderes anunciaram o "adiamento" da visita.
Mas, sem remarcação de data, isso soou mais como um cancelamento. Assim, o primeiro resultado internacional de uma sequência de revelações feitas por Edward Snowden, um ex-contratado da NSA hoje fugitivo, sobre a bisbilhotice em escala industrial dessa agência (no caso presente, divulgado por um programa de televisão brasileiro) foi uma deterioração adicional nas relações frequentemente complicadas entre os dois maiores países das Américas.
Poucos no Brasil se surpreenderam com a decisão da Sra. Rousseff. Nessas circunstâncias, "ser vista com um vestido de soirée com o presidente Obama" tinha o risco de aparentar "submissão e fraqueza", de acordo com Oliver Stuenkel, um especialista em relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, uma universidade. Dois aspectos ampliaram esse risco: a possibilidade de novas revelações relativas ao Brasil na valiosa coleção de documentos de Snowden, e uma eleição presidencial num momento em que a Sra. Rousseff, menos popular do que era, tentará um segundo mandato. Além disso, o Brasil não tinha grandes temas para negociar durante a visita e a presidente Rousseff receberá os aplausos de alguns na América Latina por enfrentar os Estados Unidos.
No curto prazo, o custo da discussão sobre espionagem parece ser maior para os EUA. O Brasil está analisando uma oferta da Boeing para o fornecimento de 36 caças a jato Super Hornet para a FAB. As autoridades podem agora preferir as ofertas concorrentes da França ou da Suécia. Depois, há o interesse de empresas energéticas americanas em quotar por uma fatia de um gigantesco campo de petróleo de águas profundas no mês que vem [aqui a revista se equivocou duplamente, pois o leilão de Libra já ocorreu e a Exxon Mobil decidiu não participar dele]. O órgão brasileiro regulador do setor disse que a integridade do leilão não foi comprometida pela espionagem contra a Petrobras, mas parlamentares nacionalistas do Congresso brasileiro podem não concordar com isso [aqui a revista se enganou novamente, pois nossos parlamentares só fizeram o teatrinho de sempre em relação a isso -- quanto à espionagem contra a Petrobras, ninguém sabe ao certo (ou sabe e não diz) a extensão disso. Cabe sempre a dúvida: e se a Exxon desistiu exatamente por causa do que soube (e repassou isso às "irmãs" inglesas BP e BG, que também ficaram de fora do leilão)?...]
As revelações [de Snowden] deflagraram também um debate no Brasil sobre a maneira como a Internet funciona. O que preocupa realmente o governo é que "as enormes vulnerabilidades de seus sistemas de proteção ficaram expostas", segundo Rubens Barbosa, um ex-embaixador brasileiro em Washington. O Brasil possui "uma das mais vulneráveis e desprotegidas infraestruturas de Internet do mundo", de acordo com um artigo recente do IPEA [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada], uma usina de ideias (think tank) ligada ao governo.
Autoridades falam agora da instalação de cabos de fibra óptica para conexão direta com a América Latina e a Europa, de modo que o tráfego internacional online do Brasil baipasse os EUA. Elas planejam atacar também a carência de pontos de intercâmbio de Internet [internet exchange points - IX ou IXP], o que facilita o grampeamento ou espionagem. Elas ordenaram aos Correios do país que lançassem um serviço de email codificado gratuito, para tentar competir com o Gmail e outros [só vendo p'ra crer].
Rousseff instou o Congresso a aprovar um regulamento para a Internet, já proposto há tempo. Esse documento enfrenta a resistência das empresas de telecom, porque estimula e reforça a neutralidade da rede, o que as impediria de cobrar mais por conteúdos premium como o vídeo online, por exemplo. Os que apoiam o regulamento argumentam que ele tornará mais fácil punir, senão evitar, a espionagem online. A presidente solicitou também que os dados eletrônicos brasileiros sejam armazenados no país e não no exterior.
Um risco para o Brasil dessa discussão sobre espionagem é que ela provoque a ocorrência de protecionismo: nos anos 1980, um governo militar barrou a importação de computadores numa tentativa fracassada de estimular uma indústria de computadores nacional. A diferença, de acordo com Matias Spektor, um professor brasileiro de relações internacionais no King's College em Londres, é que o regulamento proposto é objeto de um feroz debate democrático e de conflito de interesses. Um lobby de provedores da Internet, que inclui a Microsoft e o Google, diz que o regulamento aumentará ainda mais o alto custo do uso da Internet no Brasil [quando essa turma fica contra algo tendo a simpatizar, e muito, com esse algo].
Reservadamente, autoridades americanas dizem que apenas os inocentes se surpreenderam ao ouvir que a NSA monitora outros governos [afirmação nojenta, mas a pura verdade]. Alguns em Washington verão como uma reação desproporcional o cancelamento da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro desde 1995 [como já disse antes, também acho o cancelamento uma patriotada terceiromundista -- a NPS poderia ter feito como Putin, que se encontrou com Obama e transformou-o em um pigmeu. Só que a NPS não joga xadrez e entre ela e Putin há anos-luz de diferença, p'ra pior]. Isso pode confirmar sua opinião de que o Brasil é um eterno parceiro difícil.
Ironicamente, a Sra. Rousseff fez algum esforço para melhorar as relações com os EUA, prejudicadas pelos esforços de seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva [o NPA], de negociar com o Irã sobre o programa nuclear deste. Spektor acha que nenhum presidente do Brasil poderia ir adiante com a visita nas circunstâncias existentes. Entretanto, ele vê no imbróglio uma "inútil confirmação de receios muito arraigados de que os EUA estão determinados em impedir que o Brasil desponte".
Esses receios, que autoridades americanas dizem não ter fundamento, são muito mais intensos em Brasília do que no país como um todo. O nacionalismo aumentou visivelmente sob o governo esquerdista do Partido dos Trabalhadores, no poder desde 2002. Um resultado disso é que as relações do Brasil com os EUA são muito mais distantes do que as de muitos países emergentes tais como Índia, África do Sul ou Turquia. Isso é estranho, porque os dois países são parceiros importantes em comércio e investimentos.
O embaixador Barbosa insiste em afirmar que o imbróglio não impedirá que ambas as partes continuem com seus negócios mútuos como de costume. Mas, é improvável que a recém-chegada embaixadora americana em Brasília seja convidada no curto prazo a apresentar suas credenciais à presidente Rousseff. Conquanto justificado, o cancelamento da visita presidencial representa uma oportunidade perdida.
Há certamente boas lições a serem tiradas desse episódio. A maior delas é a pieguice de imaginar que os Estados Unidos não espionam os deuses e o mundo. E vão continuar a fazê-lo, garanto! É justamente por isso que as explicações do Obama têm que ser cuidadosamente pensadas antes de apresentadas. A única forma de evitar essas espionagens é através de investimentos que façam malograr as próximas tentativas. Deixo claro que esse tipo de atitude americana me causa asco, e muito! Por outro lado, vê-se o paradoxo do rigor contra a democracia americana (cheia de defeitos) e estabelece-se uma enorme leniência ou afrouxamento exemplar com uma ditadura óbvia como é a cubana. Estou falando dessa coisa dos médicos cubanos, e não estou pondo em dúvida a necessidade de médicos decentes para a população em geral. Mas resolver o problema servindo-se de um regime ditatorial (ou o Cubano não é?) me causa espécie.
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