[O imbróglio do propinoduto do metrô de São Paulo delatado pela Siemens, uma de suas participantes confessas, continua gerando ruído e dor de cabeça aqui e lá fora. No país, a Polícia Federal (PF) entrou na apuração, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) se diz "vítima" da negociata, pediu e teve negado acesso às informações coletadas pela PF, o lado político da história começou a efervescer e a gente espera apenas que essas picuínhas não perturbem a apuração das culpas, com a identificação e punição dos culpados (vale a pena ler o editorial "A quadrilha dos trilhos" do jornal Estadão do dia 7). Enquanto as coisas aqui patinam, por razões óbvias e corriqueiras em se tratando de denúncias de corrupção contra órgão(s) e autoridades de governo, a justiça alemã vai desempenhando como deve e sói acontecer naquelas bandas seu papel constitucional, e graças a ela a gente acaba sabendo detalhes da podridão daqui e dos nomes dos pilantras da negociata, o que pode levar anos para ocorrer com a nossa justiça nanosubsônica. A reportagem abaixo é do jornal Estadão de ontem.]
A Justiça alemã concluiu que a Siemens pagou pelo menos 8 milhões de
euros, o equivalente a R$ 24,4 milhões, a dois representantes de
funcionários públicos brasileiros, como parte de um amplo esquema de
corrupção em contratos públicos no Brasil. Os dados fazem parte da
investigação conduzida por promotores em Munique e que resultou na
condenação, em 2010, da empresa alemã ao pagamento de uma multa
bilionária. O caso brasileiro, segundo a Justiça alemã, ajudou a
comprovar o esquema internacional de corrupção da multinacional.
O Estado teve acesso a documentos que a Siemens
apresentou à Justiça no Brasil, e eles mostram a ação de dois
consultores para a manutenção do cartel e a fraude contra os cofres do
governo de São Paulo entre 2001 e 2002, durante o primeiro mandato de
Geraldo Alckmin (PSDB). Trata-se dos irmãos Arthur e Sérgio Teixeira -
este já morto. O Estado procurou Arthur. Em seu
escritório em São Paulo, uma secretária informou que ele estava
viajando. A Siemens reafirmou nesta terça-feira, 6, que colabora com as
investigações do caso.
Eles eram proprietários das empresas Procint e Constech. Em setembro de
2001, Everton Rheinheimer assumiu a direção da divisão de transportes da
Siemens. Na época, estava em andamento a licitação para a reforma dos
trens S2000, S2100 e S3000 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM). Em reunião na sede da Alstom com as demais empresas acusadas de
compor o cartel, Rheinheimer, desconfiando que queriam passar a Siemens
para trás, afirmou que a alemã não dividiria a licitação S3000. Disse,
então, que faria uma proposta competitiva para ganhar o contrato de R$
55 milhões (valor atualizado).
Dias antes da entrega para o governo das propostas para os projetos
S3000 e S2100, o executivo disse que foi procurado pelos consultores.
Queriam que ele se encontrasse com as outras empresas - o que ocorreu.
Só um representante de cada empresa - Siemens, Alstom, CAF, Bombardier,
Mitsui e Temoinsa - participou. Na reunião ficou acertado que a Siemens
venceria a licitação S3000. "As outras empresas competidoras
apresentariam preços superiores à proposta das Siemens e bastante
próximas do orçamento da CPTM, como propostas de cobertura", escreveu
Carlos Emmanuel Joppert Ragazzo, superintendente-geral do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, em
documento sobre a denúncia apresentada pela Siemens. Em troca, as demais
dividiriam a S2100 da CPTM. Arthur e Sérgio Teixeira são suspeitos de
serem a ligação entre as empresas do suposto cartel e os diretores do
Metrô e da CPTM. As empresas dos consultores foram apontadas em denúncia
apresentada por deputados do PT em 2009 ao Ministério Público Estadual
(MPE) como o elo entre o cartel e empresas offshore no Uruguai.
Os promotores desconfiam de que o pagamento de propinas a agentes
públicos era feito naquele país por meio de offshores: a Leraway e a
Gantown. Na investigação da Justiça alemã sobre a Siemens, a procuradora
alemã, Hildegard Baeumler-Hoesl, constatou que o dinheiro enviado ao
Brasil entrava no País por meio de contas abertas no Uruguai. Em
Montevidéu, consultorias recebiam o dinheiro da Siemens, antes de
transferir os recursos para as contas dos brasileiros. A prática,
segundo a investigação, segue um padrão mundial de pagamento de propina
pela Siemens. Uma consultoria emite notas por um suposto trabalho e a
Siemens paga. O problema é que esse trabalho não existia, e o dinheiro
dessas consultorias seguia para o bolso de agentes públicos ou lobistas.
O Tribunal de Munique não revelou os nomes dos brasileiros acusados. No
total, a Siemens pagou US$ 1,3 bilhão em subornos no mundo. O caso
envolveu mais de 300 agentes públicos e 4,2 mil transações suspeitas na
Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Grécia, Hungria, Indonésia,
Israel, Itália, Malásia, Nigéria, Noruega, Polônia, Rússia e Vietnã. A
Siemens pagou nos EUA multa de US$ 800 milhões e na Alemanha, de US$
533,6 milhões.
Veja também:
MP investiga se cartel resultou em enriquecimento de agentes públicos
Justiça foi usada para simular concorrência
'Se for confirmado cartel, Estado é vítima', diz Alckmin
PT do Congresso quer CPI para investigar cartel em SP
Amigo VASCO:
ResponderExcluirEssa historia (ou seria estória?) está mal contada. POR QUE uma empresa que participou de uma "licitação" e "ganhou", beneficiando também aqueles que com ela concorreram, vem agora (anos depois), anunciar que houve falcatras nesse episódio? Estranho.
Quem trabalhou em empresas de tecnologia sabe que existe, em muitas fornecedoras, o HOMEM DA MALA. Mas o objetivo normalmente é corromper o funcionário que faz parte do processo licitatório ou aquele que tem a competencia de decisão da licitação.
Dificilmente esse processo envolve (ou envolvia) as altas esferas da administração, principalmente governos (eu sei, agora é diferente, vide governo brasileiro).
Tive muitos contatos com fornecedores nacionais durante um periodo de minha vida professional.. Soube de muita coisa. Mas nosso processo de licitação tinha vários bloqueios contra os "homens das malas". Primeiro, não tinhamos NENHUMA COMISSÃO DE LICITAÇÃO. Para cada licitação, era escolhida uma comissão, que envolvia necessariamente membros da area juridical e da economico-financeira. As especificações dos produtos /serviços licitados eram as mais completes possíveis. E a competencia para assinatura de um contrato era sempre muito bem definida. Isso inibia a ação dos possíveis corruptores, pois não sabiam, a priori, com quem tratariam os detalhes.
Tem mais a comentar, mas vou ficar por aqui.
Abraços - LEVY