domingo, 4 de agosto de 2013

Manifestações recentes da Igreja Católica e do Judaísmo sobre o homossexualismo

Em sua recente visita ao Brasil para a JMJ (Jornada Mundial da Juventude), o Papa Francisco surpreendeu a todos -- dentro e fora da Igreja -- ao afirmar:
"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Essa foi, sem dúvida, uma afirmação impactante, mas é bom analisá-la friamente sobre o pano de fundo que cercou e ainda cerca a ascenção desse novo Papa.
Francisco foi antecedido por dois Papas, João Paulo II (durante 27 anos) e Bento XVI (8 anos), absolutamente coniventes e cúmplices por ação e/ou omissão com uma situação endêmica de pedofilia e de homossexualismo adulto envolvendo cardeais, bispos e padres praticamente em todos os canto do planeta. As quase quatro décadas de poder de seus dois antecessores são uma migalha na trajetória milenar da Igreja Católica Apostólica Romana, e as provas contundentes e irrefutáveis apontam para o Papa Francisco um pano de fundo de século(s) daquelas práticas criminosas.  Antes de sua eleição, vítimas de pedofilia na Igreja divulgaram uma lista negra de cardeais "papáveis".

Mal assumiu, o Papa Francisco se viu confrontado com um megaescândalo sobre a existência de um lobby gay no banco do Vaticano. A acusação é de que a pessoa escolhida por ele para liderar a reforma no Instituto para as Obras de Religião (IOR), a instituição financeira da Santa Sé, levou por anos uma vida dupla como diplomata no Uruguai. A revelação coube ao experiente jornalista da revista L'Espresso Sandro Magister. Os relatos sobre o monsenhor d. Battista Mario Salvatore Ricca surgem repletos de escândalos sexuais. Apesar de ser religioso e ocupar o cargo de núncio apostólico, teria oferecido trabalho e casa a um capitão da Guarda Suíça, com quem mantinha um caso. Com frequência seria visto em bares com ele e até chegou a ser espancado.
Diante desse quadro, não me espantaria que esse novo Papa, ao fazer sua afirmação sobre os gays, esteja preparando uma saída honrosa e "canônica" para os gays de batina de sua Igreja. A menos que a Igreja mude visceralmente sua concepção de sacerdócio, gay de batina definitivamente é inadmissível -- e, muito menos, acobertado pelo Vaticano.
Uma tônica do papado atual é a bandeira do ecumenismo, com a defesa do diálogo entre as diferentes religiões. No entanto, essa questão dos gays pode ser um impasse para esse diálogo, pelo menos no caso do judaísmo, como mostra a reportagem abaixo do jornal israelense Haaretz ("A Terra" ou "O País", em hebraico) publicada ontem. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Grande Rabino de Madri: gays são "pervertidos" que necessitam de reeducação -- Haaretz, 03/8/2013

O Grande Rabino, ou rabino principal, de Madri, Moshe Bendahan, disse que os gays são "pervertidos" [em inglês "deviants", que tem também a acepção de "anormais"] que devem ser reeducados, e chamou de "monstruosos" os casamentos de pessoas de mesmo sexo.

"Homossexualismo é um desvio de natureza", Bendahan é citado como tendo dito ao site de notícias online Religião Digital em uma entrevista publicada quarta-feira. "É uma tendência antinatural e um pecado. Permitir e concordar com o que é conhecido como "casamento gay" seria uma montruosidade".

Em alguns anos recentes, vários rabinos seniores no oeste da Europa tiveram problemas por causa de seus comentários sobre os gays. Em janeiro de 2012 o Grande Rabino de Amsterdã, Aryeh Ralbag, foi suspenso por um breve tempo pela direção da comunidade judia por ter coassinado uma declaração que descrevia a homossexualidade como uma inclinação da qual se pode ser "curado".

Gilles Bernheim, ex-Grande Rabino da França, criticou os efeitos sociais das uniões de mesmo sexo em um documento polêmico de 2012 e escreveu que "a visão bíblica de parceria romântica" aplica-se "exclusivamente entre homens e mulheres". Mas, ele condenou também "ataques físicos e verbais contra os gays com a mesma intensidade com que condeno os ataques antissemitas".

Na entrevista com a Religião Digital, Bendahan é também citado como tendo dito que "o planejamento de Deus não conhece outra parceria que não seja a de um homem e uma mulher. Os deveres pastorais com relação aos homossexuais estão focalizados em reeducá-los quanto às suas tendências, para fazê-los retornar à normalidade".

Se as técnicas para "curar" os gays de suas tendências sexuais falharem, disse ele, "não excomungamos os homossexuais de nossas comunidades mas continuamos a acreditar em sua conversão. A Bíblia é e tem sido sempre nosso protocolo, nosso ponto de referência".

 Vários rabinos seniores da Europa Ocidental tiveram problemas por seus comentários sobre os gays, incluindo o Grande Rabino de Amsterdã Aryeh Ralbag. - (Foto: Haaretz).

[O relato acima é decepcionantemente surpreendente sobre a posição de membros importantes do rabinato judeu em relação ao homossexualismo. Por mais incrível que pareça, o "kit cura gay" do "pastor" Marco Feliciano teria enorme chance de ser aprovado e adotado em Israel!]


Um comentário:

  1. A cada momento que líderes religiosos se aventuram a ditar regras sobre sexo, eles caem invariavelmente no ridículo. Isso porque partem de dois princípios absolutamente errôneos:1) Religiosos são castos (não na via láctea). 2) Sexo só serve para procriar (Mais errado ainda: sexo é lazer, é o verdadeiro esporte das multidões). Quanto ao casamento propriamente dito, há duas possibilidades: se for o sacramento da Igreja, será praticado como manda a nem tão “Santa Sé” (paciência). Se for contrato social, não é problema de pedófilos travestidos de urubu e acobertados por raposas de vermelho ou grená . Eis um problema para a sociedade laica definir e decidir. Portanto, religiosos devem se ater ao sagrado, deixando o profano por conta de quem é profano. Se sexo fosse sagrado, não teria a popularidade que tem. Será que é mais complicado do que isso?

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