domingo, 18 de agosto de 2013

Cirque du Soleil divulga foto do "homem dos tanques" e causa estupor em espectadores em Pequim

[O texto traduzido abaixo foi publicado em 16/8 no blogue "Big Browser" do jornal francês Le Monde. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

(SCMP Pictures/Fonte: Le Monde)

É a imagem mais emblemática do massacre da praça Tiananmen, e uma das imagens mais tabus da República Popular da China. "O homem dos tanques" foi imortalizado por um fotógrafo da AP [Associated Press] em 5 de junho de 1989, quando se esforçava em impedir simbolicamente o avanço de uma coluna de tanques em carga sobre os manifestantes. Essa imagem, desde então, está oficialmente proibida, apesar de alguns subterfúgios usados nas redes sociais chinesas.

A foto histórica do "homem dos tanques", feita por Jeff Widener (The Associated Press).

 Recurso adotado em uma das redes sociais chinesas para comemorar o recente aniversário das manifestações da praça Tiananmen e assinalar a participação do "homem dos tanques".

Foi uma empresa de diversões canadense, o mundialmente famoso "Cirque du Soleil", que violou a proibição ao projetar em telões gigantes a reprodução da foto [da AP, ver topo desta postagem] diante de 15.000 pessoas estupefactas, quando da abertura do espetáculo "Michael Jackson: A Turnê Mundial Imortal" em Pequim na última sexta-feira. Bem no meio do trecho "They Don't Care About Us" ["Eles não se importam conosco"] a imagem apareceu em diversos telões durante cerca de 4 segundos, no meio de outras imagens que ilustravam movimentos de protesto no mundo, provocando "um sobressalto de espanto no público" segundo nota postada no site shanghaiist.com por alguém que assistia ao espetáculo.

O espanto foi tal, que o episódio correu as mídias do mundo inteiro, dos EUA à Itália, passando pela Suiça e, claro, pela China. A CNN cita a nota, que foi apagada depois, que o diretor do That's Beijing, Stephen George, dedicou a esse pequeno evento: "O fato de que a imagem fosse divulgada em público, num cenário tão grande e diante de todo mundo -- e ainda mais em Pequim -- é em si mesmo bastante radical. Como todos os meus amigos, não espero ser de novo testemunha de uma cena como essa em Pequim mesmo que viva aqui ainda mais cinquenta anos".

Como essa imagem pôde passar pelas malhas da censura? O site Beijingcream.com conduziu a pesquisa e contatou por e-mail a responsável por comunicação do Michael Jackson World Tour, Laura Silverman, de quem recebeu a seguinte resposta: "O Cirque du Soleil respeitou integralmente as regras ditadas pelo ministério da Cultura chinês, o que implicava submeter-lhe todo o espetáculo antes da aprovação. O espetáculo apresentado na China é exatamente o mesmo que tem percorrido o mundo há dois anos".

Depois disso, a foto desapareceu do espetáculo. Mas não da Internet, onde tanto a foto quanto o vídeo do "homem dos tanques" estão sempre acessíveis:





Não foi a primeira vez que a censura chinesa teve dificuldades com artistas ocidentais, lembra o South China Morning Post. Alguns meses antes dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, a cantora islandesa Björk, que tem inúmeros fãs na China, deixou seus anfitriões desconcertados ao defender a independência do Tibete num show em Shanghai. Ela não mais se apresentou na China desde então.

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