Os Estados Unidos deixarão de pagar US$ 147 milhões anuais ao Brasil, a
partir de outubro, se a nova lei de subsídios agrícolas não for aprovada
até 30 de setembro.
O secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, fez a afirmação na
quarta-feira, em visita a Brasília. O pagamento se refere a uma disputa
pendente entre o Brasil e os EUA na OMC (Organização Mundial do
Comércio). Em 2009, o Brasil ganhou o direito de retaliar os americanos
em quase US$ 830 milhões por subsídios fornecidos por seu governo a
produtores de algodão.
Em 2010, foi assinado um acordo temporário que incluiu o pagamento pelos
EUA de US$ 147 milhões a um fundo de apoio a produtores brasileiros. A
expectativa era que a nova Lei Agrícola americana fosse aprovada no
Congresso desde 2012, o que ainda não ocorreu.
Se realmente os EUA deixarem de pagar o que foi combinado em 2010, as
adiadas retaliações a que o Brasil tem direito pela OMC poderiam ser
ativadas, com tarifas maiores a produtos como eletrônicos e aviões
produzidos nos EUA, ou suspender patentes farmacêuticas ou direitos
autorais -- o que afetaria a relação bilateral. No final de outubro,
deve acontecer a visita de Estado da presidente Dilma Rousseff aos EUA. [Pelo visto, nosso governo continua sendo um cão que ladra muito mas não morde quando se trata de defender nossos interesses. Em junho de 2010, o embaixador brasileiro na OMC Roberto Carvalho de Azevêdo (recentemente eleito como diretor-geral da Organização e que tomará posse em setembro vindouro) falando sobre o acordo do contencioso do algodão declarava em alto e bom som: "O Brasil não abre mão de aplicar as contramedidas em qualquer momento
até 2012. Ambos os países podem denunciar o acordo-quadro a qualquer
momento, caso não haja cumprimento. O que o Brasil se compromete é a não
retaliar enquanto acordo estiver valendo". Já estamos em agosto de 2013 e nada de retaliação.]
O chanceler brasileiro Antonio Patriota afirmou nesta quinta-feira (8)
que o governo brasileiro não exclui a possibilidade de uma retaliação
cruzada (de um setor para o outro) contra os Estados Unidos no caso do
algodão.
"Por exemplo, uma situação que envolve um produto como o algodão pode
ser objeto de retaliação autorizada no setor de propriedade intelectual
ou serviços". Segundo ele, esse tipo de retaliação foi criada pelos
Estados Unidos na OMC. "A decisão deve ser tomada nos próximos meses",
disse. [Ah, esse Itamaraty e seus patriotas! Quer dizer que uma retaliação programada para ser feita no ano passado ainda vai levar meses para ser decidida e equacionada?!]
O secretário de Agricultura disse que ele não tem autoridade de
continuar os pagamentos a partir de 1 de outubro porque o Congresso
americano não votou a lei de subsídios, nem o novo orçamento.
A última tentativa de votar a chamada lei agrícola americana, corrigindo
os subsídios, fracassou em junho último -- republicanos queriam cortes
na verba de US$ 80 bilhões do vale-refeição dado às pessoas abaixo da
linha de pobreza nos EUA, conhecido como "food stamps" e os democratas
não aceitaram. Parte dos subsídios ao algodão seria eliminada nos
projetos derrotados.
O secretário Vilsack, que se encontrou com o ministro da Agricultura
brasileiro, Antonio Andrade, e com o secretário-geral do Itamaraty,
Eduardo dos Santos, afirmou que as autoridades brasileiras "nos
recordaram que a paciência deles não é ilimitada e que as opções são
poucas", indicando que as retaliações podem vir logo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário