[A reportagem traduzida abaixo foi publicada em 11/8, no jornal inglês The Independent. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Vastas regiões da Amazônia estão crescendo mais lentamente do que o fizeram vários milhares de anos atrás porque lhes falta o efeito fertilizador provido pela "megafauna" característica da América do Sul -- os mamíferos de grande porte que se extinguiram logo depois da chegada do homem.
Um estudo de como os nutrientes do solo estão distribuídos dentro da bacia amazônica revelou que há escassez de minerais vitais como o fósforo, porque mamíferos grandes não mais vagueiam pela região para adubar o solo com seu estrume. Cientistas acreditam que a extinção de grandes herbívoros, tais como as preguiças de cinco toneladas e os gliptodontes semelhantes ao tatu, do tamanho de carros pequenos, gerou no solo um desequilíbrio sério de minerais que tem impacto ainda hoje.
"Continua produzindo um grande efeito. A Amazônia oriental, em particular, é limitada em fósforo, o que significa que se se adicionasse fósforo à região as árvores ali cresceriam mais rápido", disse Christopher Doughty da Universidade de Oxford, o autor principal do estudo. "Com animais grandes circulando há mais de 12.000 anos atrás, teria havido uma dispersão mais ampla de minerais tais como o fósforo e as árvores lá estariam crescendo mais rapidamente do que estão hoje", disse o Dr. Doughty.
Minerais são carregados continuamente dos altos Andes pelo rio Amazonas e seus tributários, mas os elementos tendem a ficar dentro do solo barrento das planícies alagadas em vez de serem dispersos de maneira mais ampla. Os cientistas disseram que esse não foi o caso por dezenas de milhares de anos anteriormente, quando geração após geração da megafauna se alimentava das plantas e árvores que cresciam nas planícies alagadas antes de vaguear por regiões mais elevadas, onde fertilizavam o solo com seu estrume e seus cadáveres.
O estudo, publicado na Nature Geoscience, calculou que 98% da dispersão de nutrientes foram perdidos desde a extinção da megafauna, que ocorreu por volta da mesma época em que o homem iniciou a colonização da América do Sul a partir do norte. [O estudo publicado na Nature Geoscience é o "The legacy of the Pleistocene megafauna extinctions on nutrient availability in Amazonia" ("O legado das extinções da megafauna do Pleistoceno sobre a disponibilidade de nutrientes na Amazônia"), de Cristopher Doughty, Adam Wolf e Yadvinder Lalhi.]
"Conquanto 12.000 anos possam ser uma escala de tempo além da compreensão da maioria das pessoas, através desse modelo mostramos que extinções ocorridas naquela época afetam ainda hoje a saúde do planeta", disse o Dr. Doughty. "Simplificando, quanto maior o animal maior é seu papel na distribuição de nutrientes que enriquecem o ambiente. A maioria dos animais de grande porte do planeta já foi extinta, seccionando-se assim assim as artérias que carreavam nutrientes para as áreas inférteis, bem além dos rios", disse ele.
O desflorestamento da Amazônia está prejudicando a dispersão ainda mais porque embora a atividade humana leve à crescente adição de fertilizantes à terra, esses fertilizantes tendem a ficar concentrados devido a práticas de cultivo tais como a de confinamento de gado.
A megafauna selvagem que vagava livremente atuava do mesmo modo como as artérias do corpo humano, distribuindo os nutrientes para cada vez mais longe da fonte, disseram os cientistas.
[Se você entrar com a palavra "amazon" no site da revista Nature Geoscience ficará surpreso com a quantidade de trabalhos sobre a Amazônia. Não estou bem certo se isso é para nos deixar contentes, ou preocupados.]
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