Desde que me entendo por gente, nunca ouvi falar em programa de desinvestimentos na Petrobras -- até pelo contrário, só ouvia falar em investimentos. Aí, de repente, depois que o PT assumiu o governo há uma década, a petroleira entrou num inferno astral. Loteada entre PT e PMDB (este último o segundo grande pilar dos governos petistas) e com os preços da gasolina e do diesel represados política e demagogicamente, somados à ingerência do governo na sua administração, a empresa viu sua situação econômico-financeira deteriorar-se rapidamente. Por conta disso, até março deste ano seus acionistas haviam perdido 21% do que haviam aplicado na empresa nos 12 meses anteriores. Nos últimos 4 anos, seus gastos superaram em US$ 54 bi sua geração de receita. Em 2012, a Petrobras teve seu maior deficit em 17 anos.
Nesse andar da carruagem, a empresa só não quebra porque é estatal e porque faria um estrago paquidérmico na imagem do país, mas se viu forçada a desovar ativos e lançou na praça seu feirão. Em março deste ano iniciou as tratativas para vender ativos na Argentina, na expextativa de arrecadar US$ 10 bi. Ontem, ela anunciou a venda de mais US$ 2,1 bi em quatro operações.
A primeira foi a venda de 100% das ações da petroquímica Innova,
controlada pela Petrobras, para a Videolar e seu acionista majoritário
por R$ 870 milhões (US$ 372 milhões). Os compradores vão assumir dívida
de R$ 23 milhões.
A companhia também vendeu participação de 35% no bloco BC-10, conhecido
como Parque das Conchas, para o grupo Sinochem por US$ 1,54 bilhão.
O bloco fica na bacia de Campos, a cerca de 100 km do litoral sul do
Espírito Santo. São sócios a Shell, operadora com 50% de participação, e
a ONGC, com 15%.
O terceiro negócio anunciado foi a assinatura de contratos de "farm-out"
-- venda total ou parcial dos direitos de concessão -- no valor de US$
185 milhões. São referentes à totalidade da participação da Petrobras em
três blocos localizados no Golfo do México, nos Estados Unidos (MC 613,
GB 244 e EW 910).
Por último, a empresa informou que assinou contrato de compra e venda de
20% do capital votante da CEP (Companhia Energética Potiguar), com seu
acionista controlador, a Global Participações em Energia S.A.
O negócio somou R$ 38 milhões (aproximadamente US$ 16 milhões) e pode
ser ajustado, de acordo com condições previstas no contrato.
O que chama a atenção é que, em sua esmagadora maioria ou praticamente em sua totalidade, os ativos vendidos ou a venda fazem parte do core business da Petrobras, o que faz desconfiar que a empresa teve/terá que se descartar deles unicamente para fazer caixa. Nos quatro ativos acima, talvez apenas o caso das térmicas da CEP fuja um pouco do foco principal da Petrobras, embora a empresa tenha já há algum tempo decidido tornar-se uma empresa energética lato sensu. Se o volume de gastos citado acima não se reduzir e os preços da gasolina e do diesel não voltarem a ser técnicos e se mantiverem políticos, novos ativos terão que ser vendidos. Numa década, o PT conseguiu desmantelar a principal estatal do país e avacalhar o que foi feito nos seus 50 anos anteriores de vida -- aliás, ele já fez o mesmo com a Eletrobras, outra joia da coroa estatal.
Enquanto isso, a Petrobras aguarda a avaliação do governo em relação ao seu pedido de aumento para a gasolina e o diesel. E temos ainda pelo menos 1,5 ano de governo Dilma pela frente ...
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