domingo, 11 de agosto de 2013

O momento brasileiro visto pela The Economist

[É sempre interessante saber como somos vistos pelos olhos estrangeiros, e seus erros e acertos nessa visão. Principalmente quando se trata de uma revista de prestígio como a The Economist, que por sinal não está isenta de certas tendenciosidades e preconceitos. O editorial traduzido abaixo foi publicado ontem, 9/8. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

A oposição do Brasil e seus objetivos

Consolo para uma presidente enfraquecida

Até um par de meses atrás as pesquisas indicavam que Dilma Rousseff era um dos líderes mais populares do mundo democrático, rumando para um segundo mandato numa eleição presidencial em outubro vindouro [aqui a revista comeu mosca, errando a data da eleição]. Aí então, de repente, o Brasil mergulhou em protestos. Eles perderam força -- mas a popularidade da Sra. Rousseff foi afetada. Confiança na presidência caiu de 63% no ano passado para apenas 42% em uma pesquisa publicada este mês pelo Ibope [a pesquisa Datafolha, que o editorial usa logo abaixo, deu uma queda muito maior que essa].

A pesquisa traz um raio de esperança para a Sra. Rousseff e seu Partido dos Trabalhadores (PT). Apesar dos problemas dela, a maioria de seus oponentes não conseguiu avançar. Os protestos foram em parte um grito de revolta contra toda a classe política. O apoio a Aécio Neves, o provável candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a oposição mais importante, teve apenas uma ligeira melhora de acordo com o Datafolha, outro órgão de pesquisa popular (ver gráfico). Aécio foi bem sucedido em dois mandatos como governador de Minas Gerais, o segundo estado mais populoso do Brasil, mas desde que passou a atuar no Senado em 2011 tem provocado pouco impacto no cenário nacional.
Decaindo, mas não eliminada - Intenção de votos para presidente - Candidatos selecionados, % de resposta - (Gráfico: Datafolha/Fonte: The Economist).

Aécio tem estado, recentemente, preocupado com disputas internas.  Líderes do partido estão tentando sacramentá-lo como seu candidato, mas ele enfrenta um desafio de José Serra, o candidato derrotado do PSDB em 2002 e 2010. Com 71 anos, Serra mantém acesa sua ambição apesar da relutância do partido em apoiá-lo. Ele quer uma primária do partido, sob pena de uma alegada ameaça de mudar de partido, o que enfraqueceria Neves.

Outra ameaça potencial ao PSDB é uma investigação sobre uma alegada corrupção no governo estadual de São Paulo, que o partido controla desde 1995. Reguladores antitruste [leia-se Cade] estão analisando alegações de que empresas construtoras e mantenedoras de linhas de metrô formaram um cartel e fraudaram o estado em centenas de milhões de reais. Promotores federais lançaram uma investigação paralela, para verificar se autoridades estaduais receberam propinas do esquema. Qualquer evidência de malfeito complicaria os esforços de Geraldo Alckmin, o governador cada vez mais impopular, para manter o governo no ano que vem, e poderia desfocar os esforços do partido da campanha nacional.

Outro concorrente que não está conseguindo deslanchar é Eduardo Campos, o governador de Pernambuco. Formalmente, Campos é um aliado de Rousseff mas estimulou falas e conversas sobre uma disputa presidencial. Entretanto, líderes do PT têm trabalhado no sentido de negar ao seu partido, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), de porte médio, os aliados de que necessita para uma campanha nacional.

A principal beneficiária  dos protestos é Marina Silva, ex-ministra do PT e ambientalista. O Ibope constatou que Rousseff ganharia dela apenas por uma pequena margem num segundo turno.  Marina está organizando um novo partido, o Rede Sustentabilidade, que ela apresenta como estando fora da política tradicional. Mas, isso mesmo limitará seu direito a tempo livre de rádio e televisão na campanha, já que dois terços desse tempo baseiam-se nos resultados de eleições passadas.

Além de uma economia em estado de estagnação, a maior ameaça a Dilma é que aliados assustados abandonem sua periclitante coalizão de 17 partidos. Ela se viu forçada a cogitar de fundos escassos para vários de seus projetos preferidos. O poder do cargo é agora sua maior vantagem. "A tarefa da presidente ficou muito mais difícil a partir dos protestos, mas ela permanece a favorita", diz Murillo de Aragão, um analista político em Brasília. Dilma pode ser grata ao fato de que as dificuldades de seus oponentes parecem ser ainda mais desanimadoras do que as suas próprias.


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