Trabalhando em parceria com o armênio Vahe Gurzadyan, da Universidade Estadual de Yerevan, ele há três anos analisa a série de dados do satélite WMAP. A sonda americana foi projetada para fazer um mapeamento universal da radiação cósmica de fundo -- um "eco" do Big Bang gerado quando o Universo tinha menos de 400 mil anos de existência, detectado pelo satélite na forma de micro-ondas. Hoje, o cosmo tem 13,8 bilhões de anos.
Penrose e Gurzadyan vêm dizendo, desde 2010, que conseguiram detectar pequenas flutuações na radiação cósmica de fundo, na forma de círculos concêntricos. Isso, segundo eles, seria resultado da colisão de buracos negros gigantes numa época que precedeu o Big Bang. Ou seja, seria implicação de que o Universo já existia, em outra forma, antes do período de expansão que conhecemos e observamos hoje.
A teoria do Universo cíclico (clique na imagem para ampliá-la) - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).
Os cosmólogos constataram, com alguma surpresa, que os círculos
apontados por Penrose e Gurzadyan estavam de fato lá, e haviam passado
despercebidos até então. Entretanto, realizando simulações de como seria
a radiação cósmica de fundo com base na cosmologia clássica -- para a
qual tudo começa no Big Bang --, constataram que os círculos também
apareciam.
Ou seja, o fenômeno era real, mas a parte que dizia respeito a outro
universo antes deste parecia ser apenas elucubração da dupla. Penrose e Gurzadyan agora voltam à carga, com novas evidências. Em uma
análise mais profunda dos círculos, publicada recentemente no "European
Physical Journal Plus", eles concluem que o padrão observado se encaixa
melhor na hipótese de um universo cíclico, com eventos que antecedem o
Big Bang [o artigo citado é " On CCC-predicted concentric low-variance circles in the CMB sky].
A dupla agora trabalha na análise de dados do satélite europeu Planck,
que faz basicamente a mesma coisa realizada anos atrás pelo WMAP, mas
com mais precisão. "Nosso trabalho está avançando", disse à Folha Gurzadian. "Contudo, pretendemos divulgar os resultados inicialmente para especialistas".
É pau, é pedra
Os dois não se incomodam com a baixa receptividade da comunidade
científica à ideia. "A hipótese da cosmologia cíclica é baseada numa
geometria não convencional, então não é estranho as ideias precisem de
mais tempo para serem mais bem acolhidas", diz Gurzadyan. Ele e Penrose continuarão buscando confirmação da hipótese no estudo da
radiação cósmica de fundo. Mais adiante, eles também esperam encontrar
corroboração em fontes de mais difícil acesso, como a detecção de ondas
gravitacionais emanadas do próprio Big Bang.
"Existe um certo consenso de que fases pré-Big Bang de fato deixariam
marcas na radiação de ondas gravitacionais de fundo", confirma Odylio
Aguiar, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
que lidera o projeto do detector de ondas gravitacionais Schenberg,
instalado na USP. Infelizmente, nem o Schenberg, nem seus equivalentes internacionais
conseguiram até agora detectar qualquer onda gravitacional, muito menos
as emanadas pelo Big Bang. Os grupos seguem em busca desse objetivo.
Enquanto essa nova fonte de dados não jorra, Gurzadyan aposta que uma
reinterpretação de antigas evidências à luz da teoria da cosmologia
cíclica possa dar novo significado a elas. Por ora, a despeito do
prestígio que Penrose empresta à ideia, a maioria dos cosmólogos ainda
se agarra à ideia de que tudo começou com o Big Bang.
Nenhum comentário:
Postar um comentário