[Faço mais uma postagem (ver, por exemplo, postagem recente) sobre os desmandos e burrices do PT no (des)governo do país com duas esperanças: a primeira, mas última que morre, é que os milhões de brasileiros que há uma década votam no PT e seus candidatos -- incluindo o blefe Dilma Rousseff -- façam um exame de consciência e despertem, a tempo de votar em gente melhor em 2014. A segunda esperança, que, reconheço, já nasce praticamente natimorta, é que os petistas -- com a doce Dona Dilma à frente (à frente não significa liderando, pois a cordial ex-guerrilheira não lidera ninguém, nem coisa alguma, pois não ouve ninguém e espezinha seus subordinados -- e isso não é comportamento de líder) -- reconheçam e corrijam pelo menos a metade maior das besteiras que teimosamente vêm repetindo, levando o país para um beco sem saída. O artigo abaixo é do economista Edward Amadeo e foi publicado no Globo de hoje.]
O grande engodo
Edward Amadeo -- O Globo, 25/7/2013 (pág. 17)
Em 1999, a despeito da perda de popularidade, Fernando Henrique Cardoso encaminhou as reformas para estabilizar a economia -- enfrentando feroz oposição do Partido dos Trabalhadores.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro Nacional ancorada na Lei da Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC -- a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC"incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT, que previa a criação do "mercado de massas"e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea. seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase do consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
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