quinta-feira, 25 de julho de 2013

A arte pouco conhecida (ou divulgada) do pintor brasileiro Almeida Júnior

José Ferraz de Almeida Júnior (nasceu em Itu em 8 de maio de 1850 e faleceu em Piracicaba no dia 13 de novembro de 1899), foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.

Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu apunhalado, vítima de um crime passional.

Almeida Júnior cresceu em sua cidade natal, Itu, como artista precoce. Seu primeiro incentivador foi o padre Miguel Correa Pacheco, quando o pintor ainda trabalhava como sineiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, para a qual produziu algumas obras de temática sacra. Uma coleta de fundos organizada pelo padre forneceu as condições para que o jovem artista, então com 19 anos de idade, pudesse embarcar para o Rio de Janeiro, a fim de completar seu estudo.

Em 1869, Almeida Júnior encontrava-se inscrito na Academia Imperial de Belas Artes. Foi aluno de Jules Le Chevrel, Victor Meirelles e, possivelmente, Pedro Américo. Diversas crônicas relatam que seu jeito simplório e linguajar matuto causavam espanto aos membros da Academia. Após concluir o curso, Almeida Júnior optou por não concorrer ao prêmio de viagem à Europa. Retornou a Itu e abriu ateliê nessa cidade, passando a trabalhar como retratista e professor de desenho.

Em 1876, durante uma viagem ao interior paulista, o Imperador D. Pedro II, impressionado com seu trabalho, ofereceu pessoalmente a Almeida Júnior o custeio de uma viagem a Europa, para aperfeiçoar seus estudos. No ano seguinte, um decreto de 23 de março da Mordomia da Casa Imperial abriu um crédito de 300 francos mensais para que o pintor fosse estudar em Roma ou Paris. Em 4 de novembro de 1876, Almeida Júnior embarca no navio Panamá rumo à França, fixando depois residência em Paris no bairro de Montmartre. No mês seguinte, matricula-se na École National Supérieure des Beaux-Arts. Nesta instituição, foi aluno de Alexandre Cabanel e de Lequien Fils, notabilizando-se, desde muito cedo, em desenho anatômico e de ornamentos.

Almeida Júnior participou de quatro edições do Salon de Paris, entre 1879 e 1882. É desse período que datam algumas de suas maiores obras-primas, como O Derrubador Brasileiro e Remorso de Judas (Salon de 1880), A Fuga para o Egito (Salon de 1881) e O Descanso do Modelo (Salon de 1882). Outras obras emblemáticas do período francês do pintor são Arredores de Paris e Arredores do Louvre, além de, possivelmente, um conjunto de dezesseis telas retratando o bairro de Montmartre, cuja localização é atualmente desconhecida.
Almeida Júnior permaneceu em Paris até 1882. Nesse ano, fez uma breve viagem à Itália, onde teve contato com os irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli.

De volta ao Brasil em 1882, Almeida Júnior realiza sua primeira mostra individual na Academia Imperial de Belas Artes, exibindo sua produção parisiense. No ano seguinte, abre seu ateliê na rua da Glória, em São Paulo, por meio do qual irá contribuir para a formação de novas gerações de pintores, dentre os quais, Pedro Alexandrino.

Em 1884, o pintor recebe o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, concedido pelo governo imperial. No ano seguinte, recusa o convite de Victor Meirelles para ocupar sua vaga de professor de pintura histórica da Academia, permanecendo em São Paulo. Entre 1887 e 1896, realiza outras três viagens à Europa, a última delas em companhia de seu discípulo, Pedro Alexandrino, então agraciado com uma bolsa de estudos do governo paulista.

No seu último período, Almeida Júnior irá progressivamente substituir os temas bíblicos e históricos pelas obras de temática regionalista, justamente as que lhe granjeariam no futuro sua posição de precursor do Realismo na história da arte brasileira. Em pinturas como Caipira Picando Fumo (1893), Amolação Interrompida (1894) e O Violeiro (1899), o artista revela seu desejo de aproximar-se do cotidiano do homem do interior, distanciando-se das fórmulas generalistas da pintura acadêmica e aproximando-se cada vez mais da abordagem pictórica naturalista. Não obstante sua nova orientação estilística, seu prestígio permanece inconteste na Academia, que expõe obras de sua fase regionalista (Leitura e Piquenique no Rio das Pedras, 1892) e lhe concede a medalha de ouro por A Partida da Monção (1894), exposta no Salão de 1898.

Almeida Júnior morreu precocemente, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899. Foi apunhalado em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura do Amaral Gurgel, com quem o pintor manteve um relacionamento secreto por vários anos.

[Clique nas imagens para ampliá-las.]

José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). - (Foto: Wikipédia).

Apóstolo São Paulo (1869). Óleo sobre tela, 97 x 77 cm. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, Itu (SP). - (Foto: Wikipédia).

 Estudo de nu masculino (1873). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).

Monge capuchinho (1874). Óleo sobre madeira, 58 x 47 cm. MASP, Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: Google).

Autorretrato (1878). Óleo sobre cartão, 41 x 32,5 cm. Pinacoteca Ruben Berta (Porto Alegre). - (Foto: Google).

O derrubador brasileiro (1879). Óleo sobre tela, 225 x 185 cm. Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). - (Foto: Google).

Remorso de Judas (1880). Óleo sobre tela, 209 x 163 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).

Ateliê em Paris (1880).  Óleo sobre tela, 53 x 46 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).


 Louvre (1880). Óleo sobre tela, 36 x 54 cm. Automóvel Clube, São Paulo (SP). (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).



 Perfil de mulher (1882). Óleo sobre madeira, 48 x 38 cm. Coleção Joyce Campos Kornbluh, São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).


Natureza morta (cerca de 1882). Óleo sobre tela sobre madeira, 21 x 28,5 cm.  Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

 Descanso do modelo (1882). Óleo sobre tela, 100 x 130 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).

 A noiva (1886). Óleo sobre tela, 64 x 50 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

 Retrato do General José Couto Magalhães (1888). Óleo sobre tela, 235,5 x 147,5 cm. Museu Paulista da Universidade4 de S. Paulo. - (Foto: Google).

 Caipiras negaceando (1888). Óleo sobre tela, 280 x 215 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).

 Negra (1891). Óleo sobre tela, 37 x 25 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).

Cena de família de Adolfo Augusto Neto (1891). Óleo sobre tela, 106 x 137 cm.  Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).


Leitura (1892). Óleo sobre tela, 95 x 141 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).


 Caipira picando fumo (1893). Óleo sobre tela, 202 x 141 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

Estudo sobre cabeça de caipira (1893). Óleo sobre tela, 58 x 47 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

 Pescando (1894). Óleo sobre tela, 64 x 85 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).


 Amolação interrompida (1894). Óleo sobre tela, 200 x 140 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

Apertando o lombilho (1895). Óleo sobre tela, 64 x 88 cm.  Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

Nhá Chica (1895). Óleo sobre tela, 109 x 72 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

Cozinha caipira (1895). Óleo sobre tela, 63 x 87 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

O modelo (1897). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Coleção particular. -  (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).

 Garoto com banana (1897). Óleo sobre tela, 59 x 44 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).

Retrato do Cardeal Arcoverde (entre 1890/1899). Óleo sobre tela. Museu de Arte Sacra de S. Paulo. - (Foto: Google).

O importuno (1898). Óleo sobre tela, 145 x 97 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

 Retrato de homem (1899). Óleo sobre madeira, 56 x 38 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).

 
O violeiro (1899). Óleo sobre tela, 141 x 172 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

 Paisagem do Sítio Rio das Pedras (1899). Óleo sobre tela, 57 x 35 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

Saudade (1899). Óleo sobre tela, 197 x 101 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).

Detalhe da pintura acima - (Foto: Google).

 Repouso (sem data). Óleo sobre tela, 85 x 115 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).

 O pintor Belmiro de Almeida (sem data). Óleo sobre madeira, 55 x 47 cm. MASP, Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).

 Mosqueteiro (sem data). Óleo sobre tela, 55 x 38 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).

Ana Cândida do Amaral Souza (mãe do pintor - sem data). Óleo sobre tela, 49,5 x 38 cm.  Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).


 Moça com livro (sem data). Óleo sobre tela, 50 x 61 cm. MASP - Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: MASP).

O poço (sem data). Aquarela sobre papel, 28 x 22 cm. - (Foto: Google).





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