quarta-feira, 31 de julho de 2013

As contas do Cristovam

[O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é o exemplo típico e acabado do político que adora falar e pregar muita coisa, mas se esfarela e se anula quando tem o poder na mão para concretizar pelo menos uma parcela do que defende na tribuna e/ou na mídia. Quando foi ministro da Educação (2003/2004) no primeiro mandato do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), Cristovam não fez absolutamente nada do que defendia e foi uma figura completamente nula num governo que, também, nunca foi grande coisa -- especialmente na área de educação, seara do senador. Com sua voz monocórdia e altamente dopante, Cristovam forma com seu colega de Senado Eduardo Suplicy (PT-SP) a dupla soporífera do Congresso Nacional. Quem tiver problema de insônia é só gravar e ouvir um discurso de qualquer dos dois -- quem conseguir gravar um debate entre eles terá a garantia de uma hibernação por meses. O artigo abaixo, de Cristovam Buarque, foi publicado no dia 27/7 pelo Globo e está disponível no portal do senador. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Mudar o rumo

Cristovam Buarque -- O Globo, 27/7/2013

Nada indica mais a pobreza da política brasileira do que a proposta de pacto para mudar algumas regras no sistema eleitoral, quando precisamos de união para uma mudança de rumo.
 Anos atrás fui à Irlanda investigar porque um dos países mais atrasados em educação havia se transformado em exemplo mundial nesta área. Quis visitar a cidade de Kork, onde, nos anos 70, as lideranças políticas do país haviam decidido uma união para priorizar a educação nos anos seguintes. O embaixador do Brasil, Stelio Amarante, disse que não havia tempo porque as estradas eram ruins. Perguntei como um país tão bom em educação tinha suas estradas ruins. Ele respondeu: "Por isso mesmo! Gastaram o dinheiro em educação e não em estradas. Agora o país vai modernizá-las".
Os líderes irlandeses olharam o futuro e fizeram as contas para definir prioridades. Nós estamos acostumados a olhar para o imediato e a não fazer as contas. Esta é uma das razões da insatisfação que leva às manifestações do povo, especialmente da juventude que está querendo reorientar os recursos para mudar o rumo do país.
 Há seis anos o Brasil se dedica à construção de estádios para a Copa do Mundo de 2014, sem olhar a educação e o ano 2030. O Distrito Federal não tem times que atraiam torcedores, mas fez estádio para 72 mil espectadores ao custo de R$ 1,6 bilhão.
Uma conta mostra que apenas com os recursos deste estádio seria possível financiar a formação de pelo menos 6.800 engenheiros de excelência, desde a primeira série do ensino fundamental, em superescolas com padrão internacional até a formatura em cursos similares ao do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), um número maior do que a soma de todos os engenheiros formados no Instituto em seus 64 anos.
Se considerarmos que cada um desses profissionais vai contribuir para o desenvolvimento do país e gerar uma renda igual ao salário deles, algo em torno de R$ 20 mil por mês, ao longo de 35 anos de trabalho o montante resultaria em cerca de R$ 63,6 bilhões, valor equivalente a 40 estádios similares ao novo Mané Garrincha.
Se considerarmos o custo dos 12 estádios da Copa, deixaremos de formar pelo menos cerca de 30.400 cientistas e tecnólogos da mais alta qualidade. Estes profissionais serviriam de base para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, desde que os líderes brasileiros olhassem para o futuro e fizessem as contas.

Neste caso, talvez no futuro, alguém pergunte: "Como é possível que um país com a excelente qualidade na educação, uma das melhores do mundo, não tenha na sua capital um estádio para 72 mil pessoas?". E alguém diria: "Por isso mesmo, preferiram formar 6.800 engenheiros de máxima qualidade. Agora vão fazer o estádio".

O Brasil tem muitos problemas. Um dos mais graves é não fazer contas, nem olhar o futuro. Felizmente, o povo e especialmente os jovens começaram a fazer as contas e a irem às ruas usando a guerrilha cibernética para forçar uma unidade brasileira pela mudança de rumo nas nossas prioridades.

[A argumentação do senador é um tanto bastante capenga, e não cai muito bem para quem fez (ou pretende fazer) da educação sua bandeira e já ocupou essa pasta no (des)governo do NPA. Achei a história da Irlanda meio da carochinha, mas deixêmo-la de lado. Vejamos o queijo suiço da ponderação do senador: - i) abominar estádios pura e simplesmente é burrice, país nenhum que se preza faz isso pois quem tem matéria cinzenta entre as orelhas sabe que esporte é parte da educação (e da saúde) de um povo -- se o Sr. Cristovam fosse um legislador e um homem público mais aplicado saberia que a Constituição Federal estabelece como competência da União, dos Estados e do Distrito Federal "legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto" (Art. 24, inciso IX -- o destaque é meu) -- ou seja, zelar pelo esporte é uma obrigação constitucional de governo; - ii) o preço abusivo e injustificável de um estádio não o torna automática e conceitualmente descartável e inútil -- não se trata de fazer estádio ou escolas, tem que fazer os dois, criteriosamente e sem bandalha; - iii) bizarramente, o Sr. Cristovam escolheu como exemplo de melhor utilização da dinheirama do estádio Mané Garrinha a formação de "engenheiros de excelência" -- putz, mas logo uma carreira universitária e de ponta?! Por que não professores, do primário à universidade, os multiplicadores por excelência?! E aqueles "engenheiros de excelência", chegariam até esse ponto estudando onde?! Seria aberta uma "avenida" só para eles, em detrimento de outras carreiras e profissões não menos importantes?!

Em matéria de educação, nossa sina se nos afigura melancólica, para dizer o mínimo: uma presidente e gestora incompetente (nossa doce Dona Dilma), que logo no início de seu mandato deixou claro que considera mais importante investir em secos & molhados do que em educação, um ministro da Educação medíocre (Aloizio Mercadante) e um ex-ministro dessa pasta e pretenso moralista dessa área que é de uma exuberante penúria de argumentos e conhecimentos .

Voltando ao esporte: se fosse mais observador e perspicaz, Dom Cristovam perceberia o uso estratégico, sistemático e coerente que os EUA fazem do esporte, independente de seu valor intrínseco para os americanos. As competições esportivas são uma das raríssimas formas de "soft power"  empregadas pelo Big Brother em sua política de hegemonia. E a China trilha o mesmo caminho (só que com critérios pouco ou nada ortodoxos).]
 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário