quarta-feira, 31 de julho de 2013
Quase 200 anos depois do "fico" somos governados pelo "desisto"
A firmeza de um governo resumida em datas e decisões colhidas ao acaso (atenção: a lista está longe de ser exaustiva):
Marcadores:
Brasil,
Cenário Nacional,
Cenas do quotidiano,
Comunicação Social,
Gestão,
História,
Política,
Psicologia
As contas do Cristovam
[O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é o exemplo típico e acabado do político que adora falar e pregar muita coisa, mas se esfarela e se anula quando tem o poder na mão para concretizar pelo menos uma parcela do que defende na tribuna e/ou na mídia. Quando foi ministro da Educação (2003/2004) no primeiro mandato do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula), Cristovam não fez absolutamente nada do que defendia e foi uma figura completamente nula num governo que, também, nunca foi grande coisa -- especialmente na área de educação, seara do senador. Com sua voz monocórdia e altamente dopante, Cristovam forma com seu colega de Senado Eduardo Suplicy (PT-SP) a dupla soporífera do Congresso Nacional. Quem tiver problema de insônia é só gravar e ouvir um discurso de qualquer dos dois -- quem conseguir gravar um debate entre eles terá a garantia de uma hibernação por meses. O artigo abaixo, de Cristovam Buarque, foi publicado no dia 27/7 pelo Globo e está disponível no portal do senador. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Mudar o rumo
Cristovam Buarque -- O Globo, 27/7/2013
Mudar o rumo
Cristovam Buarque -- O Globo, 27/7/2013
Nada
indica mais a pobreza da política brasileira do que a proposta de pacto
para mudar algumas regras no sistema eleitoral, quando precisamos de
união para uma mudança de rumo.
Anos
atrás fui à Irlanda investigar porque um dos países mais atrasados em
educação havia se transformado em exemplo mundial nesta área. Quis
visitar a cidade de Kork, onde, nos anos 70, as lideranças políticas do
país haviam decidido uma união para priorizar a educação nos anos
seguintes. O embaixador do Brasil, Stelio Amarante, disse que não havia
tempo porque as estradas eram ruins. Perguntei como um país tão bom em
educação tinha suas estradas ruins. Ele respondeu: "Por isso mesmo!
Gastaram o dinheiro em educação e não em estradas. Agora o país vai modernizá-las".
Os líderes irlandeses olharam o futuro e fizeram as contas para definir prioridades. Nós estamos acostumados a olhar para o imediato e a não fazer as contas. Esta é uma das razões da insatisfação que leva às manifestações do povo, especialmente da juventude que está querendo reorientar os recursos para mudar o rumo do país.
Há
seis anos o Brasil se dedica à construção de estádios para a Copa do
Mundo de 2014, sem olhar a educação e o ano 2030. O Distrito Federal não
tem times que atraiam torcedores, mas fez estádio para 72 mil
espectadores ao custo de R$ 1,6 bilhão.
Uma conta mostra
que apenas com os recursos deste estádio seria possível financiar a
formação de pelo menos 6.800 engenheiros de excelência, desde a primeira
série do ensino fundamental, em superescolas com padrão internacional
até a formatura em cursos similares ao do Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA), um número maior do que a soma de todos os engenheiros
formados no Instituto em seus 64 anos.
Se
considerarmos que cada um desses profissionais vai contribuir para o
desenvolvimento do país e gerar uma renda igual ao salário deles, algo
em torno de R$
20 mil por mês, ao longo de 35 anos de trabalho o montante resultaria
em cerca de R$ 63,6 bilhões, valor equivalente a 40 estádios similares
ao novo Mané Garrincha.
Se considerarmos o custo dos 12 estádios da Copa, deixaremos de formar pelo
menos cerca de 30.400 cientistas e tecnólogos da mais alta qualidade.
Estes profissionais serviriam de base para o desenvolvimento científico e
tecnológico do Brasil, desde que os líderes brasileiros olhassem para o futuro e fizessem as contas.
Neste caso, talvez no futuro, alguém pergunte: "Como é possível que um país com a excelente qualidade na educação, uma das melhores do mundo, não tenha na sua capital um estádio para 72 mil pessoas?". E alguém diria: "Por isso mesmo, preferiram formar 6.800 engenheiros de máxima qualidade. Agora vão fazer o estádio".
O Brasil tem muitos problemas. Um dos mais graves é não fazer contas, nem olhar o futuro. Felizmente, o povo e especialmente os jovens começaram a fazer as contas e a irem às ruas usando a guerrilha cibernética para forçar uma unidade brasileira pela mudança de rumo nas nossas prioridades.
[A argumentação do senador é um tanto bastante capenga, e não cai muito bem para quem fez (ou pretende fazer) da educação sua bandeira e já ocupou essa pasta no (des)governo do NPA. Achei a história da Irlanda meio da carochinha, mas deixêmo-la de lado. Vejamos o queijo suiço da ponderação do senador: - i) abominar estádios pura e simplesmente é burrice, país nenhum que se preza faz isso pois quem tem matéria cinzenta entre as orelhas sabe que esporte é parte da educação (e da saúde) de um povo -- se o Sr. Cristovam fosse um legislador e um homem público mais aplicado saberia que a Constituição Federal estabelece como competência da União, dos Estados e do Distrito Federal "legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto" (Art. 24, inciso IX -- o destaque é meu) -- ou seja, zelar pelo esporte é uma obrigação constitucional de governo; - ii) o preço abusivo e injustificável de um estádio não o torna automática e conceitualmente descartável e inútil -- não se trata de fazer estádio ou escolas, tem que fazer os dois, criteriosamente e sem bandalha; - iii) bizarramente, o Sr. Cristovam escolheu como exemplo de melhor utilização da dinheirama do estádio Mané Garrinha a formação de "engenheiros de excelência" -- putz, mas logo uma carreira universitária e de ponta?! Por que não professores, do primário à universidade, os multiplicadores por excelência?! E aqueles "engenheiros de excelência", chegariam até esse ponto estudando onde?! Seria aberta uma "avenida" só para eles, em detrimento de outras carreiras e profissões não menos importantes?!
Em matéria de educação, nossa sina se nos afigura melancólica, para dizer o mínimo: uma presidente e gestora incompetente (nossa doce Dona Dilma), que logo no início de seu mandato deixou claro que considera mais importante investir em secos & molhados do que em educação, um ministro da Educação medíocre (Aloizio Mercadante) e um ex-ministro dessa pasta e pretenso moralista dessa área que é de uma exuberante penúria de argumentos e conhecimentos .
Voltando ao esporte: se fosse mais observador e perspicaz, Dom Cristovam perceberia o uso estratégico, sistemático e coerente que os EUA fazem do esporte, independente de seu valor intrínseco para os americanos. As competições esportivas são uma das raríssimas formas de "soft power" empregadas pelo Big Brother em sua política de hegemonia. E a China trilha o mesmo caminho (só que com critérios pouco ou nada ortodoxos).]
Neste caso, talvez no futuro, alguém pergunte: "Como é possível que um país com a excelente qualidade na educação, uma das melhores do mundo, não tenha na sua capital um estádio para 72 mil pessoas?". E alguém diria: "Por isso mesmo, preferiram formar 6.800 engenheiros de máxima qualidade. Agora vão fazer o estádio".
O Brasil tem muitos problemas. Um dos mais graves é não fazer contas, nem olhar o futuro. Felizmente, o povo e especialmente os jovens começaram a fazer as contas e a irem às ruas usando a guerrilha cibernética para forçar uma unidade brasileira pela mudança de rumo nas nossas prioridades.
[A argumentação do senador é um tanto bastante capenga, e não cai muito bem para quem fez (ou pretende fazer) da educação sua bandeira e já ocupou essa pasta no (des)governo do NPA. Achei a história da Irlanda meio da carochinha, mas deixêmo-la de lado. Vejamos o queijo suiço da ponderação do senador: - i) abominar estádios pura e simplesmente é burrice, país nenhum que se preza faz isso pois quem tem matéria cinzenta entre as orelhas sabe que esporte é parte da educação (e da saúde) de um povo -- se o Sr. Cristovam fosse um legislador e um homem público mais aplicado saberia que a Constituição Federal estabelece como competência da União, dos Estados e do Distrito Federal "legislar concorrentemente sobre educação, cultura, ensino e desporto" (Art. 24, inciso IX -- o destaque é meu) -- ou seja, zelar pelo esporte é uma obrigação constitucional de governo; - ii) o preço abusivo e injustificável de um estádio não o torna automática e conceitualmente descartável e inútil -- não se trata de fazer estádio ou escolas, tem que fazer os dois, criteriosamente e sem bandalha; - iii) bizarramente, o Sr. Cristovam escolheu como exemplo de melhor utilização da dinheirama do estádio Mané Garrinha a formação de "engenheiros de excelência" -- putz, mas logo uma carreira universitária e de ponta?! Por que não professores, do primário à universidade, os multiplicadores por excelência?! E aqueles "engenheiros de excelência", chegariam até esse ponto estudando onde?! Seria aberta uma "avenida" só para eles, em detrimento de outras carreiras e profissões não menos importantes?!
Em matéria de educação, nossa sina se nos afigura melancólica, para dizer o mínimo: uma presidente e gestora incompetente (nossa doce Dona Dilma), que logo no início de seu mandato deixou claro que considera mais importante investir em secos & molhados do que em educação, um ministro da Educação medíocre (Aloizio Mercadante) e um ex-ministro dessa pasta e pretenso moralista dessa área que é de uma exuberante penúria de argumentos e conhecimentos .
Voltando ao esporte: se fosse mais observador e perspicaz, Dom Cristovam perceberia o uso estratégico, sistemático e coerente que os EUA fazem do esporte, independente de seu valor intrínseco para os americanos. As competições esportivas são uma das raríssimas formas de "soft power" empregadas pelo Big Brother em sua política de hegemonia. E a China trilha o mesmo caminho (só que com critérios pouco ou nada ortodoxos).]
Marcadores:
Cenário Nacional,
Cenas do quotidiano,
Educação,
Gestão,
Política Estratégica
O aquecimento global continua nos mandando avisos, também no setor energético
[Para quem as próximas gerações passarão a fatura do descaso com o aquecimento global? Vejam a reportagem de ontem no caderno "Amanhã", do Globo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Matriz de energia em pane
Manuela Andreoni -- O Globo, 30/7/2013
Há quem trate o aquecimento global como uma possibilidade longínqua, mas, nos Estados Unidos, o governo já vê consequências bem práticas do problema. Relatório publicado este mês pelo Departamento de Energia americano mostra que diversas usinas termelétricas, solares, hidrelétricas e nucleares, além de refinarias, linhas de transmissão e gasodutos já sofreram as consequências das mudanças globais. Os motivos são claros: aumento de temperatura, diminuição na disponibilidade de água e condições climáticas extremas, com tempestades, aumento do nível do mar e enchentes.
Chamado "Vulnerabilidades do setor elétrico a mudanças climáticas", o relatório dá vários exemplos dos desafios a serem enfrentados pelos EUA — e pelo mundo — para encontrar a matriz energética adequada para o futuro. Em 2010, por exemplo, a bacia do Rio Columbia, no estado de Washington, assistiu a uma diminuição significativa de seu nível de água, o que prejudicou a geração da usina hidroelétrica local. O resultado: uma perda de US$ 164 milhões em um ano.
Do outro lado do país, em Connecticut, a usina nuclear Millstone precisou desligar um reator por duas semanas porque a temperatura da água usada para resfriar o reator estava alta demais. A perda foi de 255 megawatts hora, ou milhões de dólares.
Segundo aponta o relatório, durante o século XX, os Estados Unidos viram um aumento de [cerca de] 0,8° C em sua temperatura. Julho de 2012 foi o mês mais quente do país desde o início da série histórica, em 1895.
Uma das maiores preocupações do departamento é a escassez de água, muito usada em diversos tipos de usina. As únicas fontes de energia que praticamente não usam o recurso são as eólicas e as fotovoltaicas modernas. As hidroelétricas são, obviamente, as mais afetadas. Outra preocupação é o grande número de usinas localizadas no litoral, o que as torna vulneráveis ao aumento do nível do mar e grandes tempestades.
Alarmante também é o fato de que, com temperaturas cada vez mais extremas, a demanda por energia crescerá, com o uso intenso de ar condicionado.
Mas há luz no fim do túnel. Um estudo citado pelo relatório americano mostrou que, se os Estados Unidos conseguissem que 80% de sua matriz dependesse de fontes de energia renovável (com cerca de metade vindo de solares e eólicas), o consumo de água no setor energético cairia 50%.
[O relatório do Departamento de Energia americano citado acima informa ainda que:
Matriz de energia em pane
Manuela Andreoni -- O Globo, 30/7/2013
Há quem trate o aquecimento global como uma possibilidade longínqua, mas, nos Estados Unidos, o governo já vê consequências bem práticas do problema. Relatório publicado este mês pelo Departamento de Energia americano mostra que diversas usinas termelétricas, solares, hidrelétricas e nucleares, além de refinarias, linhas de transmissão e gasodutos já sofreram as consequências das mudanças globais. Os motivos são claros: aumento de temperatura, diminuição na disponibilidade de água e condições climáticas extremas, com tempestades, aumento do nível do mar e enchentes.
Chamado "Vulnerabilidades do setor elétrico a mudanças climáticas", o relatório dá vários exemplos dos desafios a serem enfrentados pelos EUA — e pelo mundo — para encontrar a matriz energética adequada para o futuro. Em 2010, por exemplo, a bacia do Rio Columbia, no estado de Washington, assistiu a uma diminuição significativa de seu nível de água, o que prejudicou a geração da usina hidroelétrica local. O resultado: uma perda de US$ 164 milhões em um ano.
Do outro lado do país, em Connecticut, a usina nuclear Millstone precisou desligar um reator por duas semanas porque a temperatura da água usada para resfriar o reator estava alta demais. A perda foi de 255 megawatts hora, ou milhões de dólares.
Segundo aponta o relatório, durante o século XX, os Estados Unidos viram um aumento de [cerca de] 0,8° C em sua temperatura. Julho de 2012 foi o mês mais quente do país desde o início da série histórica, em 1895.
Uma das maiores preocupações do departamento é a escassez de água, muito usada em diversos tipos de usina. As únicas fontes de energia que praticamente não usam o recurso são as eólicas e as fotovoltaicas modernas. As hidroelétricas são, obviamente, as mais afetadas. Outra preocupação é o grande número de usinas localizadas no litoral, o que as torna vulneráveis ao aumento do nível do mar e grandes tempestades.
Alarmante também é o fato de que, com temperaturas cada vez mais extremas, a demanda por energia crescerá, com o uso intenso de ar condicionado.
Mas há luz no fim do túnel. Um estudo citado pelo relatório americano mostrou que, se os Estados Unidos conseguissem que 80% de sua matriz dependesse de fontes de energia renovável (com cerca de metade vindo de solares e eólicas), o consumo de água no setor energético cairia 50%.
Usinas de energia como a de Tucuruí, no Pará, são vulneráveis a flutuações climáticas
- (Foto:
Fabio Rossi /Fonte: O Globo).
[O relatório do Departamento de Energia americano citado acima informa ainda que:
- além de ter o mês mais quente do ano desde 1895, o ano de 2012 foi também o mais quente registrado nos EUA desde aquela data;
- 60% do atual parque de térmicas a carvão dos EUA estão localizados em áreas sob estresse hídrico;
- aumentam os riscos para infraestruturas energéticas ao longo das costas em decorrência de aumento do nível do mar, aumento de intensidade das tempestades, e surtos mais altos de tempestades e enchentes -- o que afeta potencialmente a produção, refino e distribuição de petróleo, a produção e distribuição de gás, assim como a produção e distribuição de energia elétrica;
- risco aumentado de interrupção e retardo da distribuição de combustível por ferrovias e barcaças durante períodos mais frequentes de secas e enchentes, que afetam níveis de água em rios e portos;
- elevação dos custos de ar-condicionado e dos riscos de blecautes totais ou parciais (abre o olho Dona Dilma!!) em algumas regiões, se a capacidade das usinas elétricas existentes não acompanhar a taxa de crescimento da demanda de pico, devido a temperaturas e ondas de calor crescentes. Um estudo do Laboratório Nacional de Argonne concluiu que um pico de demanda elétrica mais elevado em decorrência de aumentos de temperaturas relacionados com mudança climática exigirá um adicional de 34 GW de geração nova, por volta de 2050, apenas no oeste dos EUA, a um custo de US$ 45 bilhões para os consumidores. Isso equivale aproximadamente a mais de 100 usinas elétricas novas, e não inclui as usinas novas que serão necessárias para acomodar o crescimento populacional e outros fatores.
- Além de identificar as áreas críticas sob risco por causa de mudanças climáticas e condições climáticas extremas, o relatório explicita também as atividades já em andamento para enfrentar esses desafios e discute oportunidades potenciais para dotar o setor energético de uma capacidade maior de resistência e recuperação. Potencialidades futuras para os governos federal, estaduais e locais poderiam incluir políticas inovadoras que ampliassem o conjunto de tecnologias energéticas disponíveis para resistência e recuperação do ponto de vista climático, estimular sua utilização e distribuição, e aprimorar a coleta de dados e os modelos disponíveis para assim melhorar o nível de informação de pesquisadores e legisladores sobre as vulnerabilidades do setor energético e as oportunidades de resposta a isso. Isso melhoraria também o engajamento de acionistas e interessados do setor. Essas atividades aumentarão a capacidade de resistência e recuperação da infraestrutura energética americana pelo "endurecimento" das instalações e estruturas existentes, para que suportem melhor severas condições de secas, enchentes, tempestades ou incêndios florestais, e contribuirão para o desenvolvimento mais sofisticado de novas instalações.
Marcadores:
Cenário Internacional,
Energia,
Energia Nuclear,
Energias alternativas,
EUA,
Meio Ambiente,
Setor Elétrico
terça-feira, 30 de julho de 2013
Aperitivo para as eleições do ano que vem: tarifas elétricas podem subir 20% em 2014
[Aprendizado exige, no mínimo, humildade e autocrítica (recheadas de honestidade de princípios). Liderança é troca e aprendizado. Quem passa por qualquer posto de comando e não aprende nada e, além disso, não só desaprende como desconstrói o que existia e inibe criatividades, é um incompetente e um deficiente, lato sensu. É pernicioso à sociedade.
As linhas anteriores não são ainda e por enquanto o epitáfio da nossa doce e sempre sorridente Dona Dilma, mas já encabeçam seu currículo há uma década, pelo menos.
Formada em economia, nossa ex-guerrilheira tem pelo menos 5,5 anos de vivência direta na área elétrica: 3 como secretária estadual de Minas e Energia do Rio Grande do Sul (1999-2002) e 2,5 anos como ministra (01/01/2003 a 21/6/2005) do primeiro governo do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula). Desde que passou pelo MME, transformou o setor elétrico em seu feudo a ferro e fogo. Desde então, só comete sandices e irresponsabilidades, nessa área e em tudo o mais em que mete o bedelho. Quem tiver tempo e paciência e consultar o marcador "Setor Elétrico" do blogue encontrará inúmeras provas cabais e irrefutáveis de sua incompetência. É só consultar, por exemplo, as postagens de 28/12/2012, de 09/01/2013, de 16/1/2013, de 24/1/2013, de 25/1/2013, e por aí vai.
Nossa Dama de Ferrugem encasquetou que pode moldar seu mundo na base do decreto e da chibata, não importam os princípios da ética, da racionalidade e do bom senso. Decidiu baixar as tarifas de energia elétrica no peito e na raça, mostrando que não aprendeu nada nos 5,5 anos de energia elétrica. Mentiu para o país e lhe vendeu um falso Apolo, que já vem mostrando seus ares de Quasímodo. Quem for mais organizado que nossa supersimpática Dona Dilma já pode encaixar as notícias acima e abaixo no seu arquivo "Dicas para a Eleição Presidencial de 2014 - Setor Elétrico".]
Tarifas de energia elétrica podem subir 20% em 2014
A falta de recursos no caixa do Tesouro para pagar as empresas de energia que aceitaram renovar as concessões antecipadamente poderá significar um aumento da conta de luz do consumidor em 2014. A estimativa, segundo uma fonte do governo, é que será necessário um reajuste médio de cerca de 20% na tarifa de energia, quase o mesmo percentual da redução deste ano. A fonte revelou que o rombo é de quase R$ 7 bilhões. Se forem considerados os valores previstos para o próximo ano, o déficit deverá atingir R$ 18 bilhões.
Uma das propostas feitas pelo Tesouro à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para reduzir o rombo foi adiar a liquidação do mercado de energia, feita mensalmente. Mas, segundo a fonte, a proposta não foi aceita, porque poderia quebrar o mercado. Para fazer a liquidação na CCEE, são desembolsados entre R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões mensalmente pelo Tesouro.
O Tesouro não tem mais recursos suficientes de fundos setoriais. Até maio, o saldo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), utilizada para custear entre outras o uso das usinas termelétricas, era de apenas R$ 218,1 milhões.
O governo autorizou o uso da CDE, administrada pela Eletrobras para cobrir o custo adicional das distribuidoras com o acionamento das usinas térmicas emergenciais por causa da seca deste ano. Ela também compensa o impacto financeiro sobre as distribuidoras pela não adesão da Cemig (MG), Cesp (SP) e Copel (PR) à prorrogação dos contratos de concessão. Por causa disso, as empresas ficaram com menos contratos de compra de energia de longo prazo, que são mais baratos, e tiveram que adquirir a energia mais cara, no mercado a curto prazo.
Uma fonte do mercado disse que um problema adicional do Tesouro é que ele não tem condições legais para repassar novos recursos da União para as empresas. Segundo ela, será necessário encontrar uma saída jurídica, porque a legislação impede que no mesmo ano ele edite uma nova MP sobre o mesmo assunto.
As linhas anteriores não são ainda e por enquanto o epitáfio da nossa doce e sempre sorridente Dona Dilma, mas já encabeçam seu currículo há uma década, pelo menos.
Formada em economia, nossa ex-guerrilheira tem pelo menos 5,5 anos de vivência direta na área elétrica: 3 como secretária estadual de Minas e Energia do Rio Grande do Sul (1999-2002) e 2,5 anos como ministra (01/01/2003 a 21/6/2005) do primeiro governo do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula). Desde que passou pelo MME, transformou o setor elétrico em seu feudo a ferro e fogo. Desde então, só comete sandices e irresponsabilidades, nessa área e em tudo o mais em que mete o bedelho. Quem tiver tempo e paciência e consultar o marcador "Setor Elétrico" do blogue encontrará inúmeras provas cabais e irrefutáveis de sua incompetência. É só consultar, por exemplo, as postagens de 28/12/2012, de 09/01/2013, de 16/1/2013, de 24/1/2013, de 25/1/2013, e por aí vai.
Nossa Dama de Ferrugem encasquetou que pode moldar seu mundo na base do decreto e da chibata, não importam os princípios da ética, da racionalidade e do bom senso. Decidiu baixar as tarifas de energia elétrica no peito e na raça, mostrando que não aprendeu nada nos 5,5 anos de energia elétrica. Mentiu para o país e lhe vendeu um falso Apolo, que já vem mostrando seus ares de Quasímodo. Quem for mais organizado que nossa supersimpática Dona Dilma já pode encaixar as notícias acima e abaixo no seu arquivo "Dicas para a Eleição Presidencial de 2014 - Setor Elétrico".]
Tarifas de energia elétrica podem subir 20% em 2014
A falta de recursos no caixa do Tesouro para pagar as empresas de energia que aceitaram renovar as concessões antecipadamente poderá significar um aumento da conta de luz do consumidor em 2014. A estimativa, segundo uma fonte do governo, é que será necessário um reajuste médio de cerca de 20% na tarifa de energia, quase o mesmo percentual da redução deste ano. A fonte revelou que o rombo é de quase R$ 7 bilhões. Se forem considerados os valores previstos para o próximo ano, o déficit deverá atingir R$ 18 bilhões.
Uma das propostas feitas pelo Tesouro à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para reduzir o rombo foi adiar a liquidação do mercado de energia, feita mensalmente. Mas, segundo a fonte, a proposta não foi aceita, porque poderia quebrar o mercado. Para fazer a liquidação na CCEE, são desembolsados entre R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões mensalmente pelo Tesouro.
O Tesouro não tem mais recursos suficientes de fundos setoriais. Até maio, o saldo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), utilizada para custear entre outras o uso das usinas termelétricas, era de apenas R$ 218,1 milhões.
O governo autorizou o uso da CDE, administrada pela Eletrobras para cobrir o custo adicional das distribuidoras com o acionamento das usinas térmicas emergenciais por causa da seca deste ano. Ela também compensa o impacto financeiro sobre as distribuidoras pela não adesão da Cemig (MG), Cesp (SP) e Copel (PR) à prorrogação dos contratos de concessão. Por causa disso, as empresas ficaram com menos contratos de compra de energia de longo prazo, que são mais baratos, e tiveram que adquirir a energia mais cara, no mercado a curto prazo.
Uma fonte do mercado disse que um problema adicional do Tesouro é que ele não tem condições legais para repassar novos recursos da União para as empresas. Segundo ela, será necessário encontrar uma saída jurídica, porque a legislação impede que no mesmo ano ele edite uma nova MP sobre o mesmo assunto.
**************
Ver também:
segunda-feira, 29 de julho de 2013
IDH de municípios brasileiros melhora, mas educação continua destoando
Apesar do baixo desempenho em educação, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal brasileiro subiu 47,5% nas últimas duas décadas, saindo
da classificação "muito baixo" para o nível considerado "alto".
Essa é a uma das principais conclusões do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, pesquisa da ONU feita com a ajuda do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado à Presidência da República, e da Fundação João Pinheiro, do governo de Minas Gerais. O estudo foi divulgado hoje.
Veja qual foi o IDH cada cidade brasileira
Os dados foram calculados usando os Censos de 1991, 2000 e 2010 -- e não captam, portanto, o governo Dilma Rousseff.
Um número que exemplifica o novo cenário é a quantidade de municípios de IDHM "muito baixo". Em 1991, eram 85%. Hoje, são apenas 0,6%. Já a quantidade de municípios brasileiros com IDHM "muito alto" saltou de 0 em 1991, 133 em 2000 (2,4%) para 1.889 (33,9%) em 2010. Isso significa que um a cada três municípios do Brasil hoje tem IDHM "alto".
O IDHM é uma versão local do IDH, o índice social sintético usado pela ONU para avaliar o grau de desenvolvimento humano em países e considerado um contraponto a outras estatísticas -- como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo.
Tanto o IDH quanto o IDHM usam três dimensões (Longevidade, Renda e Educação) para criar um número que vai de 0 (pior) a 1 (melhor). No entanto, as variáveis globais e locais de cada categoria são diferentes, impedindo que eles sejam comparáveis.
Segundo os atuais critérios, o IDHM brasileiro em 1991 era de 0,493 (próximo do teto da classificação "muito baixo", que é 0,500).
Após quase dez anos, comandado no plano federal pelos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o índice subiu 24,1% e chegou a 0,612 -- ou "médio", segundo a escala estabelecida.
Na década seguinte, dominada pelos governos petistas de Lula, o número continuou crescendo, ainda que de maneira menos acelerada (18,7%), e alcançou em 2010 0,727, quebrando a barreira de 0,700 a partir da qual o IDHM é tido como "alto".
Dentre as três dimensões, a que tem o menor "hiato", ou seja, a mais próxima da nota máxima de 1, é longevidade (esperança de vida ao nascer). Seu índice é de 0,816. Em seguida está a renda (renda mensal per capita), com 0,739, seguida então da educação (0,637).
Mais de 30% das cidades brasileiras têm uma nota inferior a 0,500 ("muito baixo") no quesito educação.
No entanto, em termos de crescimento, a última é que tem o melhor desempenho (aumentou 128,3% nos últimos 20 anos). Em grande medida, esse aumento é explicado pelo baixo patamar do qual o número saiu: 0,279 em 1991.
A categoria é ainda a que passou pela principal mudança metodológica na publicação deste ano. Antes, ela era medida pela taxa bruta de frequência escolar. No entanto, os pesquisadores entenderam que o país já ultrapassou a fase que a mera frequência era o aspecto mais relevante da dimensão e passaram a contar a evolução dos alunos no ciclo escolar.
O índice da categoria agora é uma média da porcentagem de crianças de 0 a 6 anos na escola, da porcentagem das crianças de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental, da porcentagem de adolescentes de 15 a 17 anos com fundamental completo e da porcentagem de adultos entre 18 a 20 anos com médio completo.
Com a publicação do novo Atlas já sob o novo cálculo, os IDHMs anteriores ficam desconsiderados.
Melhores e Piores
O Atlas permite ranquear os municípios tanto em relação ao IDHM quanto às suas dimensões.
Após dez anos, as três primeiras posições da lista continuam inalteradas: em primeiro lugar está São Caetano do Sul (SP), com IDHM de 0,862. Em seguida vem Águas de São Pedro (SP), com 0,854. Depois aparece Florianópolis (SC), com 0,847 -- é a capital melhor colocada.
Já as três piores são Melgaço (PA), com IDHM de 0,418, seguida de Fernando Falcão (MA), com 0,443 e Atalaia do Norte (0,450) [Atalaia fica no Amazonas].
Dentre as Unidades da Federação, o Distrito Federal (0,824) é a primeira. Mas o caso do DF, por ter uma população pequena e com forte presença de funcionários públicos federais, é considerada uma exceção. O Estado com melhor IDHM é São Paulo (0,783), seguido por Santa Catarina (0,774).
Essa é a uma das principais conclusões do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, pesquisa da ONU feita com a ajuda do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), subordinado à Presidência da República, e da Fundação João Pinheiro, do governo de Minas Gerais. O estudo foi divulgado hoje.
Veja qual foi o IDH cada cidade brasileira
Os dados foram calculados usando os Censos de 1991, 2000 e 2010 -- e não captam, portanto, o governo Dilma Rousseff.
Um número que exemplifica o novo cenário é a quantidade de municípios de IDHM "muito baixo". Em 1991, eram 85%. Hoje, são apenas 0,6%. Já a quantidade de municípios brasileiros com IDHM "muito alto" saltou de 0 em 1991, 133 em 2000 (2,4%) para 1.889 (33,9%) em 2010. Isso significa que um a cada três municípios do Brasil hoje tem IDHM "alto".
O IDHM é uma versão local do IDH, o índice social sintético usado pela ONU para avaliar o grau de desenvolvimento humano em países e considerado um contraponto a outras estatísticas -- como o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo.
Tanto o IDH quanto o IDHM usam três dimensões (Longevidade, Renda e Educação) para criar um número que vai de 0 (pior) a 1 (melhor). No entanto, as variáveis globais e locais de cada categoria são diferentes, impedindo que eles sejam comparáveis.
Segundo os atuais critérios, o IDHM brasileiro em 1991 era de 0,493 (próximo do teto da classificação "muito baixo", que é 0,500).
Após quase dez anos, comandado no plano federal pelos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o índice subiu 24,1% e chegou a 0,612 -- ou "médio", segundo a escala estabelecida.
Na década seguinte, dominada pelos governos petistas de Lula, o número continuou crescendo, ainda que de maneira menos acelerada (18,7%), e alcançou em 2010 0,727, quebrando a barreira de 0,700 a partir da qual o IDHM é tido como "alto".
Dentre as três dimensões, a que tem o menor "hiato", ou seja, a mais próxima da nota máxima de 1, é longevidade (esperança de vida ao nascer). Seu índice é de 0,816. Em seguida está a renda (renda mensal per capita), com 0,739, seguida então da educação (0,637).
Mais de 30% das cidades brasileiras têm uma nota inferior a 0,500 ("muito baixo") no quesito educação.
No entanto, em termos de crescimento, a última é que tem o melhor desempenho (aumentou 128,3% nos últimos 20 anos). Em grande medida, esse aumento é explicado pelo baixo patamar do qual o número saiu: 0,279 em 1991.
A categoria é ainda a que passou pela principal mudança metodológica na publicação deste ano. Antes, ela era medida pela taxa bruta de frequência escolar. No entanto, os pesquisadores entenderam que o país já ultrapassou a fase que a mera frequência era o aspecto mais relevante da dimensão e passaram a contar a evolução dos alunos no ciclo escolar.
O índice da categoria agora é uma média da porcentagem de crianças de 0 a 6 anos na escola, da porcentagem das crianças de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental, da porcentagem de adolescentes de 15 a 17 anos com fundamental completo e da porcentagem de adultos entre 18 a 20 anos com médio completo.
Com a publicação do novo Atlas já sob o novo cálculo, os IDHMs anteriores ficam desconsiderados.
Melhores e Piores
O Atlas permite ranquear os municípios tanto em relação ao IDHM quanto às suas dimensões.
Após dez anos, as três primeiras posições da lista continuam inalteradas: em primeiro lugar está São Caetano do Sul (SP), com IDHM de 0,862. Em seguida vem Águas de São Pedro (SP), com 0,854. Depois aparece Florianópolis (SC), com 0,847 -- é a capital melhor colocada.
Já as três piores são Melgaço (PA), com IDHM de 0,418, seguida de Fernando Falcão (MA), com 0,443 e Atalaia do Norte (0,450) [Atalaia fica no Amazonas].
Dentre as Unidades da Federação, o Distrito Federal (0,824) é a primeira. Mas o caso do DF, por ter uma população pequena e com forte presença de funcionários públicos federais, é considerada uma exceção. O Estado com melhor IDHM é São Paulo (0,783), seguido por Santa Catarina (0,774).
IDHM - Melhores e piores cidades do Brasil (clique na imagem para ampliá-la). - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).
Causas
Alguns vetores ajudam a explicar a evolução do IDHM: a própria melhora
da educação, que tem efeitos dispersos, a queda do desemprego, o aumento
real do salário mínimo e o controle da inflação. Já os programas de
transferência de renda não tem tanto peso, disse Marcelo Neri,
presidente do Ipea. "O Bolsa Família é um coadjuvante", afirmou Neri. "A evolução é extraordinária. Mas os indicadores ainda são muito ruins".
Os dados podem ser acessados na íntegra no site do estudo.
Uma a cada três cidades brasileiras tem desenvolvimento alto (clique na imagem para ampliá-la). - (Ilustração: Editoria de Arte/Folhapress).
[Continuamos mal na educação, e isso não é obra do acaso. Nos dois mandatos do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) os ministros da Educação foram Cristovam Buarque (2003-2004), Tarso Genro (2004-2005) e Fernando Haddad (2005-2011) -- este último continuou por mais um ano no início do governo da doce e terna Dona Dilma. Haddad foi sucedido por Alozio Mercadante, que está no cargo desde janeiro de 2012. Com essa curriola, comandada de início por um apedeuta capadócio e depois por uma péssima gerente, que dá mais importância a trem-bala do que a educação de base e continuada, é impossível ter educação que se preze e se faça respeitar.
A Folha de S. Paulo informa hoje que o ministro da Educação disse nesta segunda-feira que as cidades com os piores Índices
Desenvolvimento Humano no Brasil merecem um "olhar generoso" porque
houve uma melhora, apesar da baixa qualidade. É a bilionésima vez que esse cidadão diz besteira e abusa do nosso aparelho auditivo e de nossa inteligência.]
O nepotismo irresponsável, escandaloso e abusado de Renan Calheiros
[Nossos políticos -- incluindo os presidentes das duas Casas (da Mãe Joana) do Congresso, parlamentares, ministros e a cumplicidade por ação ou omissão da nossa doce e sorridente Dona Dilma -- continuam agindo como dantes no quartel de Abrantes. Para eles, as manifestações nas ruas são recreativas e não precisam ser levadas a sério. No dia em que a casa acabar caindo sobre eles dirão que não foram avisados, não soou a sirene de alerta. Tomara que não haja sobreviventes. A reportagem abaixo (de Josie Jeronimo) é da revista Isto É de 26 deste mês de julho.]
PRIVILEGIADA
TUDO EM CASA
CANETA SELETIVA
Às vésperas de dar à luz o neto de Renan Calheiros, a veterinária Paula Meschesi foi nomeada para o Senado com salário de R$ 17 mil. Em 2011 e 2012, sua mãe e irmã também garantiram emprego na Casa.
O contracheque da veterinária Paula Meschesi mostra que no mês de junho seus rendimentos brutos chegaram a R$ 26,7 mil, somados o salário, a antecipação da gratificação natalina e o auxílio pré-escolar. Especialista em ciências biológicas, ela trabalha na secretaria de Educação à Distância do Senado como coordenadora de dois cursos online intitulados “Fundamentos da Administração Pública” e “Excelência no Atendimento”, que ensina alcançar a “eficácia no atendimento por telefone”.
O emprego de Paula é o cargo dos sonhos para muitos concurseiros que lotam as aulas de preparatórios para conseguir uma vaga no serviço público. Mas, ao contrário desses aspirantes ao funcionalismo, a veterinária conseguiu o salário base de R$ 17,1 mil sem passar por nenhum processo seletivo. Paula Meschesi foi nomeada no dia 21 de julho de 2006 por um daqueles famigerados atos secretos do ex-diretor do Senado, Agaciel Maia. Na época, grávida e casada com Rodolfo Calheiros, filho do atual presidente do Senado, Renan Calheiros, que naquele ano também presidia a Casa. Tudo leva a crer que a nomeação da nora de Renan foi feita às pressas, porque àquela altura a gravidez estava num estágio bastante avançado. Uma semana depois de efetivada no cargo, a veterinária pediu uma licença de 120 dias para dar à luz o neto de Renan, Renzo Calheiros.
PRIVILEGIADA
Mãe do neto de Renan, Paula está no Senado desde 2006.
Podem acusar Renan de tudo, menos de não ter sido generoso com a família
da mãe de seu neto. Em fevereiro de 2011, menos de cinco anos depois de
garantir emprego no Senado à sua nora, Renan nomeou a mãe dela, a bela
Mônica Meschesi, para dar expediente em seu gabinete. Na ocasião, Renan
não era mais presidente do Senado, e sim líder do PMDB na Casa. No ano
passado, de volta ao comando do Congresso, Renan fez mais. Articulou um
emprego para a tia do seu neto Renzo. Irmã de Paula, Eduarda Meschesi
entrou para o Senado pela porta da terceira-secretaria da Casa. Em
fevereiro desse ano, foi transferida para a quarta-secretaria. A jovem
funcionária tem regime especial de frequência e não é obrigada a
registrar presença nos pontos digitais espalhados pelas dependências do
Senado.
TUDO EM CASA
Mônica (à esq.) e Eduarda Meschesi trabalham, respectivamente,
na liderança do PMDB e na quarta-secretaria.
Atualmente, a mãe do neto de Renan encontra-se rompida com o filho do presidente do Senado, mas engana-se quem pensa que a família Meschesi esteja desamparada. Pelo contrário. Tanto a nora de Renan quanto sua mãe e irmã permanecem nos respectivos cargos. O salário de Mônica no mês passado foi de R$ 2 mil. Já o salário de Eduarda foi de R$ 1,6 mil e mais R$ 700 em auxílios. Em junho, os rendimentos das três integrantes da família Meschesi, somados, ultrapassaram a casa dos R$ 30 mil.
CANETA SELETIVA
Renan diz que só é responsável por uma
nomeação, a da avó de seu neto.
Procurado pela ISTOÉ, Renan, por meio de sua assessoria, se responsabilizou apenas pela nomeação da avó de seu neto. Já Paula Meschesi, alegou Renan, não foi nomeada por ele, mas pelo ex-senador Adelmir Santana. Ou seja, no mínimo, essa situação se enquadraria num caso clássico de nepotismo cruzado.
Clique na imagem para ampliá-la.
[Fotos do artigo: Divulgação; Adriano Machado/AG. Isto É.]
Marcadores:
Cenário Nacional,
Cenas do quotidiano,
Congresso Nacional,
Ética,
Política
sábado, 27 de julho de 2013
Fiat faz recall de 3.029 veículos por risco de rompimento de fecho do cinto dos bancos dianteiros
A Fiat comunicou hoje, através de anúncio, o recall dos modelos Palio Fire Economy duas e quatro portas e do Strada Fire 1.4 Flex e Strada Fire Estendida, fabricados entre fevereiro de 2012 e março de 2013,
equipados com airbag, que totalizam 3.029 veículos, Segundo a montadora
uma falha no processo de fabricação dos fechos dos cintos de segurança
dianteiros pode levar, em caso de acidente, ao rompimento do fecho,
intensificando o contato do passageiro e/ou do motorista com a bolsa
inflada do air bag, o que pode causar lesões. A Fiat afirma, no entanto,
informa que não tem conhecimento de nenhum acidente até o momento.
No caso do Palio estão incluído os veículos nos intervalos dos números de chassis que vão de 5822670 a 58847450, dos modelos Stradas, de 7499864 a 7546670
A partir de segunda-feira, em todo país, será possível fazer a substituição dos fechos de fixação dos cintos de segurança dianteiros dos assentos do motorista e do passageiro na rede concessionárias da marca. O tempo previsto para o reparo, segundo a montadora, é de uma hora.
Outras informações podem ser obtidas na central de relacionamento da empresa pelo 0800 707 1000 ou no site da montadora.
No caso do Palio estão incluído os veículos nos intervalos dos números de chassis que vão de 5822670 a 58847450, dos modelos Stradas, de 7499864 a 7546670
A partir de segunda-feira, em todo país, será possível fazer a substituição dos fechos de fixação dos cintos de segurança dianteiros dos assentos do motorista e do passageiro na rede concessionárias da marca. O tempo previsto para o reparo, segundo a montadora, é de uma hora.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Orientação da Apple sobre uso de carregadores oficiais após acidente fatal na China
[O texto abaixo foi publicado hoje no blogue Link do jornal Estado de S. Paulo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
A Apple incluiu uma página em seu site na China em que pede que os usuários utilizem carregadores oficiais da empresa nos seus aparelhos eletrônicos. O pedido publicado pela empresa foi feito dias depois de casos de consumidores que levaram choques elétricos ao utilizar carregadores falsos em seus iPhones. Uma pessoa morreu e outra está em coma depois de serem eletrocutadas.
“A Apple sempre está comprometida com a segurança do usuário, de modo que todos nossos produtos passam por testes e exames de segurança, além de serem projetados com os padrões de segurança governamentais em todo o mundo, incluindo os carregadores de energia USB para iPhone e iPad”, afirma a página criada pela empresa. “Ao carregar seu iPhone ou seu iPad, sugerimos que você utilize os carregadores com seus cabos correspondentes. Todos eles podem ser comprados individualmente na Apple e em lojas autorizadas”, acrescenta.
A fabricante californiana também publicou uma série de imagens em que os usuários podem checar se os adaptadores USB para iPhone ou iPad são produtos genuínos da Apple.
A empresa não fala dos perigos de usar alternativas aos seus carregadores.
Wu Jiantong, um homem de Pequim, está em estado de coma há duas semanas desde que tomou um choque ao atender uma ligação no seu iPhone enquanto o aparelho estava carregando. Depois do acidente, descobriu-se que a vítima tinha um carregador falso e que o equipamento poderia ter sido a causa da descarga elétrica.
A jovem chinesa de 23 anos que morreu no dia 11 após levar um choque também usava um carregador falso. Os familiares de Ma Ailun, da província de Xinjiang, afirmam que a descarga foi provocada por um iPhone.
Depois da notícia dos acidentes, a Apple divulgou uma mensagem aos usuários do país asiático. “Lamentamos muito por este incidente infeliz. Transmitimos nossas condolências à família”, declarou a empresa em comunicado enviado por sua filial na China. A empresa também abriu investigação sobre o acidente com a jovem chinesa em colaboração com as autoridades da China.
Em entrevista à TV estatal chinesa CCTV, o especialista em sistemas eletrônicos, Xiang Ligang, destacou que o uso de carregadores falsos podem ter sido a causa da descarga elétrica que matou a jovem. “Às vezes, os carregadores falsos economizam em qualidade. O protetor do circuito pode não ser bom, e pode levar ao envio de 220 volts de energia diretamente para a bateria do telefone”, disse.
Outra possibilidade, segundo o especialista, seria que o carregador tivesse sido projetado para outras regiões, como Hong Kong, Taiwan ou o Japão, onde os padrões elétricos são diferentes dos adotados na China.
[Na sua mensagem de alerta para os chineses, a Apple publica os rótulos dos plugues de seus carregadores originais de placa para iPad e iPhone (clique na imagem para ampliá-la)]:
A Apple incluiu uma página em seu site na China em que pede que os usuários utilizem carregadores oficiais da empresa nos seus aparelhos eletrônicos. O pedido publicado pela empresa foi feito dias depois de casos de consumidores que levaram choques elétricos ao utilizar carregadores falsos em seus iPhones. Uma pessoa morreu e outra está em coma depois de serem eletrocutadas.
“A Apple sempre está comprometida com a segurança do usuário, de modo que todos nossos produtos passam por testes e exames de segurança, além de serem projetados com os padrões de segurança governamentais em todo o mundo, incluindo os carregadores de energia USB para iPhone e iPad”, afirma a página criada pela empresa. “Ao carregar seu iPhone ou seu iPad, sugerimos que você utilize os carregadores com seus cabos correspondentes. Todos eles podem ser comprados individualmente na Apple e em lojas autorizadas”, acrescenta.
A fabricante californiana também publicou uma série de imagens em que os usuários podem checar se os adaptadores USB para iPhone ou iPad são produtos genuínos da Apple.
A empresa não fala dos perigos de usar alternativas aos seus carregadores.
Wu Jiantong, um homem de Pequim, está em estado de coma há duas semanas desde que tomou um choque ao atender uma ligação no seu iPhone enquanto o aparelho estava carregando. Depois do acidente, descobriu-se que a vítima tinha um carregador falso e que o equipamento poderia ter sido a causa da descarga elétrica.
A jovem chinesa de 23 anos que morreu no dia 11 após levar um choque também usava um carregador falso. Os familiares de Ma Ailun, da província de Xinjiang, afirmam que a descarga foi provocada por um iPhone.
Depois da notícia dos acidentes, a Apple divulgou uma mensagem aos usuários do país asiático. “Lamentamos muito por este incidente infeliz. Transmitimos nossas condolências à família”, declarou a empresa em comunicado enviado por sua filial na China. A empresa também abriu investigação sobre o acidente com a jovem chinesa em colaboração com as autoridades da China.
Em entrevista à TV estatal chinesa CCTV, o especialista em sistemas eletrônicos, Xiang Ligang, destacou que o uso de carregadores falsos podem ter sido a causa da descarga elétrica que matou a jovem. “Às vezes, os carregadores falsos economizam em qualidade. O protetor do circuito pode não ser bom, e pode levar ao envio de 220 volts de energia diretamente para a bateria do telefone”, disse.
Outra possibilidade, segundo o especialista, seria que o carregador tivesse sido projetado para outras regiões, como Hong Kong, Taiwan ou o Japão, onde os padrões elétricos são diferentes dos adotados na China.
[Na sua mensagem de alerta para os chineses, a Apple publica os rótulos dos plugues de seus carregadores originais de placa para iPad e iPhone (clique na imagem para ampliá-la)]:
Marcadores:
Cenário Internacional,
Ciência,
Defesa do consumidor,
Informática,
Internet,
Saúde,
Saúde Pública
Consequências do Sr. Mantega
[O texto abaixo é da autoria de Luiz Fernando de Paula e André de Melo Modenesi e foi publicado em 12/7 no jornal Valor Econômico. O título é alusivo ao artigo "The Economic Consequences of Mr
Churchill", em que John Maynard Keynes criticou o retorno do Reino Unido
ao padrão-ouro em 1925. Luiz Fernando de Paula é professor titular da Faculdade de
Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB). André de Melo
Modenesi é professor adjunto do Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro e diretor da AKB.]
Consequências do Sr. Mantega
Luiz Fernando de Paula e André de Melo Modenesi -- Valor Econômico, 12/7/2013
Recentemente, verificou-se importante mudança no mix de política econômica, materializada na redução histórica da taxa de juros e na desvalorização da taxa de câmbio. Entretanto, o baixo crescimento do PIB em 2011/12 (média de 1,8% a.a., contra 3,6% em 2001/10) e a perspectiva de um desempenho ruim em 2013 reforçam a necessidade de se aprofundar o debate sobre as causas da desaceleração econômica no Brasil. Para alguns analistas, tal desempenho decorre da adoção de políticas ditas keynesianas. Segundo esta visão, qualquer política ativista e expansionista é keynesiana. A nosso juízo, trata-se de visão reducionista e equivocada.
As políticas keynesianas supõem a inexistência de forças automáticas (a "mão invisível" de Smith) que conduzem a economia ao pleno emprego, ressaltando-se a importância da demanda agregada na determinação do nível de atividade econômica (produto e emprego). Em linhas gerais, tem-se como objetivo criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, buscando assegurar elevados níveis de emprego e de renda, bem como a estabilidade de preços - vital para o funcionamento de uma economia monetária que se baseia em uma teia de contratos definidos em termos nominais. Assim, pretende-se estimular os empresários a assumirem riscos adquirindo bens de capital - em busca de lucros compensadores - em detrimento do acúmulo de ativos líquidos. Ou seja, visa-se a estabilidade macroeconômica, algo mais amplo do que a mera estabilidade de preços. Em suma, o governo pode contribuir para reduzir os riscos macroeconômicos - e a incerteza - que permeiam a economia.
A coordenação das políticas macroeconômicas (fiscal, monetária, cambial e políticas de renda) é um elemento fundamental. A coordenação, contudo, é vista de forma diferente da concepção ortodoxa. Segundo a visão convencional, o objetivo primordial da política macroeconômica é a estabilidade de preços - por sua vez, considerada único objetivo a ser alcançado pela política monetária. Já a política fiscal deve ser subordinada à política monetária. Na perspectiva keynesiana, políticas econômicas específicas não devem ser formuladas de forma isolada das demais. Em particular, considera-se que a política fiscal - focada no investimento público, dado seu maior efeito multiplicador de renda e suas externalidades positivas - impacta a atividade econômica, funcionando como instrumento poderoso para estimular a demanda agregada.
A clara e inequívoca sinalização das intenções da política é essencial para estimular os agentes privados a atuarem na direção desejada pelas autoridades econômicas. Ao contrário do que comumente se pensa, Keynes e os economistas keynesianos defendem a transparência e não o segredo como uma condição para o sucesso da política econômica. Uma política sem credibilidade pode encontrar sérias dificuldades em lograr êxito em seus objetivos. Uma coordenação de políticas apropriada aos objetivos almejados, ainda que necessária, não é algo fácil de se alcançar.
Sustentamos que a desaceleração econômica recente no Brasil é, em boa medida, resultado de má coordenação de políticas econômicas e de uma estratégia confusa, que não foi devidamente sinalizada aos agentes econômicos. Utilizando o linguajar médico, alguns remédios, ainda que recomendados (como redução de juros), foram insuficientes para combater a doença; outros, entretanto, foram erroneamente prescritos. Assim, cabe entender por que as políticas anticíclicas foram bem-sucedidas para enfrentar o contágio da crise do Lehman Brothers, mas não evitaram o contágio da crise do euro.
O contágio da crise do Lehman Brothers sobre a economia brasileira, a partir de setembro de 2008, foi muito agudo e rápido: saída de capitais estrangeiros aplicados em bolsa; redução da oferta de crédito externo para bancos e firmas (inclusive exportadoras); aumento das remessas de lucros e dividendos por parte de subsidiárias de empresas multinacionais; retração do mercado de crédito doméstico; e empoçamento de liquidez no mercado interbancário. A vulnerabilidade da economia brasileira agravou-se em função do uso especulativo de derivativos cambiais por parte de algumas empresas exportadoras, que lucravam apostando na continuidade do processo de apreciação cambial.
O governo respondeu com uma grande variedade de instrumentos, incluindo: medidas de reforço à liquidez do setor bancário (redução do compulsório e criação de incentivos para os grandes bancos comprarem as carteiras de créditos de pequenos bancos); linha temporária de crédito às exportações; intervenções do Banco Central (BC) no mercado cambial (venda de US$ 23 bilhões no ultimo trimestre de 2008); estímulo à expansão do crédito por parte dos bancos públicos; redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para automóveis, eletrodomésticos e produtos de construção; aumento do período de concessão do seguro-desemprego; e criação de um programa de construção de moradia popular ("Minha Casa Minha Vida").
A nota destoante foi a manutenção da taxa de juros elevada pelo BC (gestão Henrique Meirelles) até o inicio de 2009, contrastando com a política fiscal anticíclica e a política creditícia dos bancos públicos. O gráfico 1 mostra a taxa de crescimento do crédito por controle de capital. Destaca-se o papel anticíclico dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e CEF) face à desaceleração dos bancos privados.
Entretanto, o crescimento econômico em 2011/12 desapontou, ficando
abaixo de 2% a.a. (média). O produto industrial caiu 0,4% a.a. (na média
do período). Ainda que todos os itens do gasto agregado tenham caído, o
mau desempenho da formação bruta de capital fixo foi o que mais
contribuiu para a desaceleração.
O fraco desempenho da economia brasileira resultou de um conjunto de fatores externos e domésticos. Embora a situação econômica da zona do euro agora não seja disruptiva, a ameaça de piora da crise afetou a economia brasileira - principalmente pelo canal do comércio exterior, por causa da redução do preço de algumas commodities e da queda geral da demanda externa por produtos manufaturados, semimanufaturado e básicos. Além disso, as expectativas empresariais deterioraram-se drasticamente, em função do risco de ocorrência de um "grande evento" (a derrocada do euro).
No lado doméstico, o produto industrial parou de crescer, em consequência, principalmente, do aumento do coeficiente de importações (valor das importações sobre o valor do produto doméstico do setor industrial), que passou de 17,0% no quarto trimestre de 2009 para mais de 22% no primeiro trimestre de 2012. O quantum da produção industrial estagnou-se, a partir de 2010, enquanto as vendas no comércio varejista continuaram aumentando, abrindo uma "boca de jacaré" entre essas duas tendências (gráfico 2). Ou seja, os estímulos dados à demanda vazaram para o exterior. Consequentemente, a utilização de capacidade instalada da indústria diminuiu, gerando capacidade ociosa, que contribuiu para a desaceleração dos investimentos em 2012- já afetados pela deterioração das expectativas empresariais em face da piora do cenário internacional.
O crescimento do consumo começou a declinar gradualmente, em função da
desaceleração da demanda e oferta de crédito bancário, dado o alto nível
de endividamento das famílias - que cresceu gradualmente, de 32,5% em
janeiro de 2009 para 43,8%, em agosto de 2012 - e o aumento da
inadimplência (de 4,5%, em dezembro de 2010 para 5,9%, em meados de
2012). O gráfico 1 mostra a desaceleração do crédito bancário a partir
de meados de 2011, puxada pelos bancos privados. O índice de liquidez
dos três maiores bancos privados (relação entre disponibilidades mais
títulos e total de ativo) cresceu de 11,6%, em junho de 2010, para
21,5%, em junho de 2012 - o que mostra a maior preferência pela liquidez
dos bancos privados em momento de maior incerteza.
As exportações declinaram 5,3% em 2012 (em relação a 2011), enquanto as importações diminuíram apenas 1,4%. Assim, o saldo comercial diminuiu 34,8%. De fato, tanto os termos de troca quanto a demanda mundial declinaram, como efeito da desaceleração econômica mundial: os principais parceiros comerciais do Brasil (Europa, China e Argentina) tiveram um crescimento declinante em 2012. As evidências empíricas de vários trabalhos acadêmicos, que procuraram estimar a função exportação para o Brasil, sugerem que o efeito preço (resultante do movimento da taxa de câmbio) é superado largamente pelo efeito renda mundial. Esse resultado ajuda a entender por que a desaceleração econômica mundial em 2012 anulou os efeitos positivos da desvalorização cambial sobre as exportações brasileiras.
Com relação às importações, deve-se considerar que anos seguidos de apreciação da taxa de câmbio (desde 2003) suscitaram um comportamento defensivo das empresas (substituindo bens de capital e insumos por produtos importados), que não se altera imediatamente ao sabor dos acontecimentos - principalmente, se considerarmos que uma desvalorização da ordem de 25% não é suficiente para compensar a forte apreciação cambial acumulada.
Finalmente, a dinâmica dos gastos públicos - incluindo os investimentos públicos - não foi capaz de compensar a desaceleração geral dos outros componentes da demanda. O gráfico 3 mostra a evolução do resultado primário (proporção do PIB) a partir do momento em que cada crise se iniciou. O "timing" e a intensidade da resposta de política fiscal nos dois momentos foram bem diferentes. De fato, a política fiscal anticíclica em 2011/12 foi muito limitada quando comparada ao período anterior. O superávit primário caiu imediatamente após o início da crise do Lehman Brothers. Durante a crise do euro, ocorreu o inverso, sendo que apenas no décimo mês após o início da crise verifica-se uma redução no superávit, de magnitude bem inferior à ocorrida na crise anterior.
Acrescente-se que a composição da expansão fiscal limitou seu efeito
anticíclico. Durante a crise do Lehman Brothers, o governo deu mais
ênfase às despesas - como o aumento do salário mínimo e transferências
sociais; aumento dos investimentos públicos e da Petrobras; e promoção
do programa "Minha Casa Minha Vida". Pelo lado das desonerações, algumas
ações pontuais e temporárias foram adotadas, tais como redução de
impostos para veículos, eletrodomésticos e insumos da construção civil e
para operações de crédito. Enquanto a resposta à crise do Lehman
Brothers envolveu um conjunto rápido de desonerações fiscais importantes
e de expansão de despesas, a resposta à crise do euro ocorreu apenas a
partir do segundo semestre de 2012, e enviesada na direção de
desonerações fiscais, muitas das quais sem efeito claro sobre a
atividade econômica. Os investimentos públicos representaram 1,1% do PIB
em 2012, valor equivalente ao de 2011 e menor do que o de 2010.
Considerando o impulso fiscal como um todo, é possível concluir que foi
muito menor, atrasado e com uma composição que resultou em impacto menor
sobre a atividade econômica em 2011/12 (em relação a 2009/10). De fato,
a literatura apresenta evidências empíricas de que os multiplicadores
fiscais de receita têm efeitos menores sobre a renda agregada do que os
multiplicadores das despesas.
O governo brasileiro apostou que a mudança no mix de política econômica (redução da Selic e desvalorização cambial) - a chamada "nova matriz econômica", segundo o ministro Mantega - somada às isenções fiscais seriam suficientes para impulsionar conjuntamente oferta e demanda agregada de bens, resultando em um crescimento econômico mais robusto. Quando ficou claro que não seria o caso (pelos motivos apontados), o governo procurou implementar medidas "ad hoc" para estimular o crescimento, como a extensão da desoneração de folhas de pagamento para mais setores. Tal ação, entretanto, não foi bem coordenada e careceu de consistência.
A adoção de uma política fiscal anticíclica em 2011/12 se justificava face ao baixo desempenho da economia, mas veio atrasada e privilegiando isenções fiscais, em vez de investimentos públicos. Para completar, não foi comunicada aos agentes de forma adequada: o governo prometeu que até o fim do ano cumpriria integralmente a meta de superávit primário, acabando por utilizar artifícios contábeis para alcançar a meta. Melhor seria se já em meados de 2012 revisse realisticamente a meta, quando estava claro que não iria conseguir cumpri-la, justificando tal mudança, como fez em 2009, em função da desaceleração em curso.
Concluindo, entendemos que não houve no governo atual a percepção de que
a economia brasileira passava a partir de meados de 2011 por momento
distinto do período de contágio da crise do Lehman Brothers. Assim,
subestimaram-se os desafios colocados pela conjuntura mais recente e,
consequentemente, utilizaram-se instrumentos incompletos ou mesmo
inadequados. Isso parece evidenciar uma situação marcada por
considerável descoordenação da política econômica, que está longe de
poder ser definida como uma política genuinamente keynesiana.
Consequências do Sr. Mantega
Luiz Fernando de Paula e André de Melo Modenesi -- Valor Econômico, 12/7/2013
Recentemente, verificou-se importante mudança no mix de política econômica, materializada na redução histórica da taxa de juros e na desvalorização da taxa de câmbio. Entretanto, o baixo crescimento do PIB em 2011/12 (média de 1,8% a.a., contra 3,6% em 2001/10) e a perspectiva de um desempenho ruim em 2013 reforçam a necessidade de se aprofundar o debate sobre as causas da desaceleração econômica no Brasil. Para alguns analistas, tal desempenho decorre da adoção de políticas ditas keynesianas. Segundo esta visão, qualquer política ativista e expansionista é keynesiana. A nosso juízo, trata-se de visão reducionista e equivocada.
As políticas keynesianas supõem a inexistência de forças automáticas (a "mão invisível" de Smith) que conduzem a economia ao pleno emprego, ressaltando-se a importância da demanda agregada na determinação do nível de atividade econômica (produto e emprego). Em linhas gerais, tem-se como objetivo criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, buscando assegurar elevados níveis de emprego e de renda, bem como a estabilidade de preços - vital para o funcionamento de uma economia monetária que se baseia em uma teia de contratos definidos em termos nominais. Assim, pretende-se estimular os empresários a assumirem riscos adquirindo bens de capital - em busca de lucros compensadores - em detrimento do acúmulo de ativos líquidos. Ou seja, visa-se a estabilidade macroeconômica, algo mais amplo do que a mera estabilidade de preços. Em suma, o governo pode contribuir para reduzir os riscos macroeconômicos - e a incerteza - que permeiam a economia.
A coordenação das políticas macroeconômicas (fiscal, monetária, cambial e políticas de renda) é um elemento fundamental. A coordenação, contudo, é vista de forma diferente da concepção ortodoxa. Segundo a visão convencional, o objetivo primordial da política macroeconômica é a estabilidade de preços - por sua vez, considerada único objetivo a ser alcançado pela política monetária. Já a política fiscal deve ser subordinada à política monetária. Na perspectiva keynesiana, políticas econômicas específicas não devem ser formuladas de forma isolada das demais. Em particular, considera-se que a política fiscal - focada no investimento público, dado seu maior efeito multiplicador de renda e suas externalidades positivas - impacta a atividade econômica, funcionando como instrumento poderoso para estimular a demanda agregada.
A clara e inequívoca sinalização das intenções da política é essencial para estimular os agentes privados a atuarem na direção desejada pelas autoridades econômicas. Ao contrário do que comumente se pensa, Keynes e os economistas keynesianos defendem a transparência e não o segredo como uma condição para o sucesso da política econômica. Uma política sem credibilidade pode encontrar sérias dificuldades em lograr êxito em seus objetivos. Uma coordenação de políticas apropriada aos objetivos almejados, ainda que necessária, não é algo fácil de se alcançar.
Sustentamos que a desaceleração econômica recente no Brasil é, em boa medida, resultado de má coordenação de políticas econômicas e de uma estratégia confusa, que não foi devidamente sinalizada aos agentes econômicos. Utilizando o linguajar médico, alguns remédios, ainda que recomendados (como redução de juros), foram insuficientes para combater a doença; outros, entretanto, foram erroneamente prescritos. Assim, cabe entender por que as políticas anticíclicas foram bem-sucedidas para enfrentar o contágio da crise do Lehman Brothers, mas não evitaram o contágio da crise do euro.
O contágio da crise do Lehman Brothers sobre a economia brasileira, a partir de setembro de 2008, foi muito agudo e rápido: saída de capitais estrangeiros aplicados em bolsa; redução da oferta de crédito externo para bancos e firmas (inclusive exportadoras); aumento das remessas de lucros e dividendos por parte de subsidiárias de empresas multinacionais; retração do mercado de crédito doméstico; e empoçamento de liquidez no mercado interbancário. A vulnerabilidade da economia brasileira agravou-se em função do uso especulativo de derivativos cambiais por parte de algumas empresas exportadoras, que lucravam apostando na continuidade do processo de apreciação cambial.
O governo respondeu com uma grande variedade de instrumentos, incluindo: medidas de reforço à liquidez do setor bancário (redução do compulsório e criação de incentivos para os grandes bancos comprarem as carteiras de créditos de pequenos bancos); linha temporária de crédito às exportações; intervenções do Banco Central (BC) no mercado cambial (venda de US$ 23 bilhões no ultimo trimestre de 2008); estímulo à expansão do crédito por parte dos bancos públicos; redução do imposto sobre produtos industrializados (IPI) para automóveis, eletrodomésticos e produtos de construção; aumento do período de concessão do seguro-desemprego; e criação de um programa de construção de moradia popular ("Minha Casa Minha Vida").
A nota destoante foi a manutenção da taxa de juros elevada pelo BC (gestão Henrique Meirelles) até o inicio de 2009, contrastando com a política fiscal anticíclica e a política creditícia dos bancos públicos. O gráfico 1 mostra a taxa de crescimento do crédito por controle de capital. Destaca-se o papel anticíclico dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e CEF) face à desaceleração dos bancos privados.
O governo agiu de forma rápida e coordenada e também sinalizou
claramente o objetivo de adotar uma política anticíclica. Contribuiu,
assim, para evitar uma deterioração mais drástica das expectativas,
logrando êxito na recuperação econômica, a partir de meados de 2009. Em
particular, o crescimento da formação bruta de capital fixo e do consumo
contribuiu para a rápida recuperação. Em resposta à retomada do
crescimento, à restauração da confiança dos agentes e à ampliação do
nível de utilização da capacidade instalada da indústria, o investimento
cresceu de 17,0% do PIB (primeiro trimestre de 2009) para 20,5%, no
terceiro trimestre de 2010. As exportações, por sua vez, foram
favorecidas pela forte melhora dos termos de troca, devida
principalmente à retomada da economia chinesa - com crescimento de 9,2%,
em 2009 - e à recuperação mundial, em 2010.
Cabe destacar que as ações do governo foram favorecidas por decisões tomadas no período anterior: a combinação de redução da dívida externa pública com a politica de acumulação de reservas internacionais resultou em um saldo líquido credor do governo em moeda estrangeira. Assim, a forte desvalorização cambial que se seguiu ao contágio (43%, de setembro a dezembro de 2008) favoreceu, pela primeira vez, as finanças públicas, facilitando o uso de uma política fiscal anticíclica. Por outro lado, as medidas de estímulo ao consumo foram beneficiadas pelo ainda moderado nível de endividamento das famílias - a razão endividamento sobre renda acumulada nos últimos 12 meses estava em 38%, em outubro de 2008.
O governo Dilma Rousseff foi marcado, nos seus dois primeiros anos (2011/12), pela gradual piora no cenário internacional, devida à crise do euro, à fraca recuperação americana e à desaceleração dos países emergentes - a taxa de crescimento médio da economia mundial caiu de 5,1% em 2010 para 3,8% em 2011 e 3,3% em 2012. Do ponto de vista da condução da política econômica, destacam-se mudanças no mix e nos instrumentos de política, com uso de medidas macroprudenciais monetárias e cambiais, forte redução da taxa Selic (de 12,5%, em julho de 2011, para 7,5%, em agosto de 2012) e - após a adoção de uma série de medidas regulatórias sobre os fluxos de capitais, inclusive sobre o mercado de derivativos - uma desvalorização cambial de 25% (entre agosto de 2011 e maio de 2012).
Graças ao bom desempenho fiscal no primeiro semestre de 2011, o Ministério da Fazenda pôde adotar medidas fiscais para estimular o setor industrial, combalido pela forte apreciação do câmbio e pela acirrada competição no mercado externo. O principal instrumento foi a isenção fiscal, incluindo a redução do IPI sobre bens de capital e a desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra, permitindo a mudança na cobrança da contribuição previdenciária, de 20% sobre o salário por taxas de 1% (ou 2%) sobre os lucros das firmas. No segundo trimestre de 2012, foram adotadas medidas adicionais no âmbito do Plano Brasil Maior, tais como: ampliação da desoneração da folha de pagamento para outros setores; redução do IPI de alguns bens duráveis (automóveis, geladeiras etc.); postergação do recolhimento do PIS/Cofins; e redução da alíquota de IOF sobre operações de crédito a pessoas físicas.
Cabe destacar que as ações do governo foram favorecidas por decisões tomadas no período anterior: a combinação de redução da dívida externa pública com a politica de acumulação de reservas internacionais resultou em um saldo líquido credor do governo em moeda estrangeira. Assim, a forte desvalorização cambial que se seguiu ao contágio (43%, de setembro a dezembro de 2008) favoreceu, pela primeira vez, as finanças públicas, facilitando o uso de uma política fiscal anticíclica. Por outro lado, as medidas de estímulo ao consumo foram beneficiadas pelo ainda moderado nível de endividamento das famílias - a razão endividamento sobre renda acumulada nos últimos 12 meses estava em 38%, em outubro de 2008.
O governo Dilma Rousseff foi marcado, nos seus dois primeiros anos (2011/12), pela gradual piora no cenário internacional, devida à crise do euro, à fraca recuperação americana e à desaceleração dos países emergentes - a taxa de crescimento médio da economia mundial caiu de 5,1% em 2010 para 3,8% em 2011 e 3,3% em 2012. Do ponto de vista da condução da política econômica, destacam-se mudanças no mix e nos instrumentos de política, com uso de medidas macroprudenciais monetárias e cambiais, forte redução da taxa Selic (de 12,5%, em julho de 2011, para 7,5%, em agosto de 2012) e - após a adoção de uma série de medidas regulatórias sobre os fluxos de capitais, inclusive sobre o mercado de derivativos - uma desvalorização cambial de 25% (entre agosto de 2011 e maio de 2012).
Graças ao bom desempenho fiscal no primeiro semestre de 2011, o Ministério da Fazenda pôde adotar medidas fiscais para estimular o setor industrial, combalido pela forte apreciação do câmbio e pela acirrada competição no mercado externo. O principal instrumento foi a isenção fiscal, incluindo a redução do IPI sobre bens de capital e a desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra, permitindo a mudança na cobrança da contribuição previdenciária, de 20% sobre o salário por taxas de 1% (ou 2%) sobre os lucros das firmas. No segundo trimestre de 2012, foram adotadas medidas adicionais no âmbito do Plano Brasil Maior, tais como: ampliação da desoneração da folha de pagamento para outros setores; redução do IPI de alguns bens duráveis (automóveis, geladeiras etc.); postergação do recolhimento do PIS/Cofins; e redução da alíquota de IOF sobre operações de crédito a pessoas físicas.
O fraco desempenho da economia brasileira resultou de um conjunto de fatores externos e domésticos. Embora a situação econômica da zona do euro agora não seja disruptiva, a ameaça de piora da crise afetou a economia brasileira - principalmente pelo canal do comércio exterior, por causa da redução do preço de algumas commodities e da queda geral da demanda externa por produtos manufaturados, semimanufaturado e básicos. Além disso, as expectativas empresariais deterioraram-se drasticamente, em função do risco de ocorrência de um "grande evento" (a derrocada do euro).
No lado doméstico, o produto industrial parou de crescer, em consequência, principalmente, do aumento do coeficiente de importações (valor das importações sobre o valor do produto doméstico do setor industrial), que passou de 17,0% no quarto trimestre de 2009 para mais de 22% no primeiro trimestre de 2012. O quantum da produção industrial estagnou-se, a partir de 2010, enquanto as vendas no comércio varejista continuaram aumentando, abrindo uma "boca de jacaré" entre essas duas tendências (gráfico 2). Ou seja, os estímulos dados à demanda vazaram para o exterior. Consequentemente, a utilização de capacidade instalada da indústria diminuiu, gerando capacidade ociosa, que contribuiu para a desaceleração dos investimentos em 2012- já afetados pela deterioração das expectativas empresariais em face da piora do cenário internacional.
As exportações declinaram 5,3% em 2012 (em relação a 2011), enquanto as importações diminuíram apenas 1,4%. Assim, o saldo comercial diminuiu 34,8%. De fato, tanto os termos de troca quanto a demanda mundial declinaram, como efeito da desaceleração econômica mundial: os principais parceiros comerciais do Brasil (Europa, China e Argentina) tiveram um crescimento declinante em 2012. As evidências empíricas de vários trabalhos acadêmicos, que procuraram estimar a função exportação para o Brasil, sugerem que o efeito preço (resultante do movimento da taxa de câmbio) é superado largamente pelo efeito renda mundial. Esse resultado ajuda a entender por que a desaceleração econômica mundial em 2012 anulou os efeitos positivos da desvalorização cambial sobre as exportações brasileiras.
Com relação às importações, deve-se considerar que anos seguidos de apreciação da taxa de câmbio (desde 2003) suscitaram um comportamento defensivo das empresas (substituindo bens de capital e insumos por produtos importados), que não se altera imediatamente ao sabor dos acontecimentos - principalmente, se considerarmos que uma desvalorização da ordem de 25% não é suficiente para compensar a forte apreciação cambial acumulada.
Finalmente, a dinâmica dos gastos públicos - incluindo os investimentos públicos - não foi capaz de compensar a desaceleração geral dos outros componentes da demanda. O gráfico 3 mostra a evolução do resultado primário (proporção do PIB) a partir do momento em que cada crise se iniciou. O "timing" e a intensidade da resposta de política fiscal nos dois momentos foram bem diferentes. De fato, a política fiscal anticíclica em 2011/12 foi muito limitada quando comparada ao período anterior. O superávit primário caiu imediatamente após o início da crise do Lehman Brothers. Durante a crise do euro, ocorreu o inverso, sendo que apenas no décimo mês após o início da crise verifica-se uma redução no superávit, de magnitude bem inferior à ocorrida na crise anterior.
O governo brasileiro apostou que a mudança no mix de política econômica (redução da Selic e desvalorização cambial) - a chamada "nova matriz econômica", segundo o ministro Mantega - somada às isenções fiscais seriam suficientes para impulsionar conjuntamente oferta e demanda agregada de bens, resultando em um crescimento econômico mais robusto. Quando ficou claro que não seria o caso (pelos motivos apontados), o governo procurou implementar medidas "ad hoc" para estimular o crescimento, como a extensão da desoneração de folhas de pagamento para mais setores. Tal ação, entretanto, não foi bem coordenada e careceu de consistência.
A adoção de uma política fiscal anticíclica em 2011/12 se justificava face ao baixo desempenho da economia, mas veio atrasada e privilegiando isenções fiscais, em vez de investimentos públicos. Para completar, não foi comunicada aos agentes de forma adequada: o governo prometeu que até o fim do ano cumpriria integralmente a meta de superávit primário, acabando por utilizar artifícios contábeis para alcançar a meta. Melhor seria se já em meados de 2012 revisse realisticamente a meta, quando estava claro que não iria conseguir cumpri-la, justificando tal mudança, como fez em 2009, em função da desaceleração em curso.
Marcadores:
Cenário Nacional,
Economia,
Gestão,
Política Estratégica,
Política Financeira,
Política Fiscal
Agora é sério: Deus desiste de vez de ser brasileiro por causa de Dilma, Cabral e Paes
Até a paciência divina tem limite. Bem que Deus fez um esforço celestial para aguentar as sandices do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) nos seus 8 anos de governo e suas investidas contra princípios que a Ele são caros: moralidade, ética, amor ao próximo, educação, saúde, segurança, bons exemplos.
(Charge de Millôr Fernandes)
Mas, aí vieram Dilma Rousseff, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, e a coisa extrapolou. A corrupção rola solta e descontrolada, a saúde e a educação viraram piada, a segurança e o amor ao próximo foram regidos a cassetete -- a palmatória da dupla PT-PMDB -- e enfim, o golpe mortal: a esculhambação da desorganização da acolhida ao Papa Francisco.
Neste último e derradeiro (para a paciência divina) show de incompetência, os três governantes (sim, Dilma também, porque o Papa é Chefe de Estado e o governo federal tem que zelar por ele em nosso território) cometeram outro sacrilégio inadmissível, que foi desrespeitar solenemente os desígnios de um de seus apóstolos e santos preferidos, São Pedro. Como é que não respeitaram a programação de chuvas do meteorologista absoluto do Universo para o inverno carioca, coisa absolutamente corriqueira e conhecida, e programaram uma missa campal para 2 milhões de fiéis em terreno de terra e alagadiço?! Cadê o amor e o respeito ao próximo?!
Isso só veio juntar-se à irritação divina contra nossa doce, mas ignorante ex-guerrilheira, que já havia também desrespeitado pública e solenemente São Pedro ao decretar a redução das contas de luz sem -- novamente -- consultar a programação celestial de chuvas em nossos reservatórios hidroelétricos. De gota d'água em gota d'água a paciência divina foi (voltou) para o espaço.
Consumou-se o pior dos mundos: Deus invalida sua cidadania brasileira, o Papa é argentino, a presidente é a petista e incompetente Dama de Ferrugem, o governador é o peemedebista Sérgio Delta Cabral e o prefeito é o também peemedebista Dudu Lamaçal Paes.
&&&&&&&&&&
PS - Corre pela rádio corredor que, se o Papa Francisco falhar em sua missão precípua determinada por Ele de acabar com o clima de Sodoma e Gomorra na Igreja Católica (a pedofilia e o homoseexualismo adulto de cardeais, bispos e padres) e os escândalos financeiros do Banco do Vaticano, a cidadania italiana de Deus também irá p'ro ralo e o papado corre o risco de não poder mais ostentar qualquer nacionalidade terrena. É ver para crer.
Marcadores:
Brasil,
Cenário Internacional,
Gestão,
Igreja Católica,
Política Estratégica
quinta-feira, 25 de julho de 2013
O jeito PT de administrar o país -- O grande engodo
[Faço mais uma postagem (ver, por exemplo, postagem recente) sobre os desmandos e burrices do PT no (des)governo do país com duas esperanças: a primeira, mas última que morre, é que os milhões de brasileiros que há uma década votam no PT e seus candidatos -- incluindo o blefe Dilma Rousseff -- façam um exame de consciência e despertem, a tempo de votar em gente melhor em 2014. A segunda esperança, que, reconheço, já nasce praticamente natimorta, é que os petistas -- com a doce Dona Dilma à frente (à frente não significa liderando, pois a cordial ex-guerrilheira não lidera ninguém, nem coisa alguma, pois não ouve ninguém e espezinha seus subordinados -- e isso não é comportamento de líder) -- reconheçam e corrijam pelo menos a metade maior das besteiras que teimosamente vêm repetindo, levando o país para um beco sem saída. O artigo abaixo é do economista Edward Amadeo e foi publicado no Globo de hoje.]
O grande engodo
Edward Amadeo -- O Globo, 25/7/2013 (pág. 17)
Em 1999, a despeito da perda de popularidade, Fernando Henrique Cardoso encaminhou as reformas para estabilizar a economia -- enfrentando feroz oposição do Partido dos Trabalhadores.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro Nacional ancorada na Lei da Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC -- a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC"incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT, que previa a criação do "mercado de massas"e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea. seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase do consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
O grande engodo
Edward Amadeo -- O Globo, 25/7/2013 (pág. 17)
Em 1999, a despeito da perda de popularidade, Fernando Henrique Cardoso encaminhou as reformas para estabilizar a economia -- enfrentando feroz oposição do Partido dos Trabalhadores.
Três anos depois os bancos públicos estavam capitalizados, as dívidas estaduais sanadas, a credibilidade do Tesouro Nacional ancorada na Lei da Responsabilidade Fiscal, o sistema previdenciário equilibrado, as agências regulatórias instaladas, o mercado de capitais renovado e o sistema financeiro sólido. Esta a herança de FHC -- a maldita!
Em continuação, a "agenda FHC"incluiria redobrar o foco na educação, fomentar a poupança, fazer a reforma trabalhista, aplainar a estrutura tributária, promover a integração à economia global, investir na infraestrutura e modernizar a administração pública.
Essa não era a agenda do PT, que previa a criação do "mercado de massas"e a redução da "vulnerabilidade externa" valorizando o salário mínimo, reduzindo os juros, ampliando o crédito, depreciando o Real e fazendo políticas setoriais.
É importante enfatizar as diferenças para que não se pense que a situação atual é obra do acaso ou da conjuntura internacional.
No início do governo Lula, a agenda do PT ficou em segundo plano. A inflação chegou a 3% em 2006 e ele foi reeleito.
Porém, desde a crise de 2008 o governo adotou fórmula do PT que costuma produzir euforia momentânea. seguida de longa depressão. Porque incorre no erro de manipular os preços como se a economia não tivesse leis de funcionamento. Ou como se a inflação não acomodasse as inconsistências da política econômica.
A inconsistência da política do PT está na ênfase do consumo e no desprezo pela eficiência.
Com o boom das commodities recebemos um bônus do exterior. Esse bônus foi dirigido ao consumo via aumento do salário mínimo, uma infinidade de bolsas, incentivos tributários e do incentivo ao crédito. A desoneração da folha não passou de um subsídio ao emprego, quando a nossa carência era de investimentos. A atração de investimentos privados para a infraestrutura se choca com a ideologia ou os interesses do PT.
A dívida pública cresceu com as inúmeras capitalizações do BNDES, que subsidiou os oligopólios e não conseguiu aumentar o investimento. O BB e a CEF solaparam os concorrentes privados e os consumidores agora estão atolados em dívidas. A Petrobras subsidiou a gasolina e o TCU agora diz que ela está em condições precárias. O Tesouro distribuiu isenções a torto e a direito, e a situação fiscal começa a ser um risco.
Resultado, o emprego e o consumo dispararam, o investimento e a produtividade ficaram para trás. Não contente, o Banco Central cortou juros e o governo incentivou a depreciação cambial. Astros alinhados para a volta da inflação. Esse foi o grande engodo a que fomos submetidos.
A "maldição das commodities" se repetiu. Diante da molezinha da renda vinda de fora, os líderes populistas distribuem benesses, cooptam empresários, expandem o crédito para as massas e usam a apreciação cambial para controlar a inflação.
Esse modelo se esgotou e o governo e o governo não tem mais munição. O ajuste daqui para frente produzirá queda do salário, elevação dos juros e depreciação do Real.
Esse ajuste não resultará de uma opção conservadora de quem estiver no Palácio do Planalto, mas sim uma consequência inevitável da política econômica do PT. Caberá a ele ou a ela administrar essa bendita herança.
A arte pouco conhecida (ou divulgada) do pintor brasileiro Almeida Júnior
José Ferraz de Almeida Júnior (nasceu em Itu em 8 de maio de 1850 e faleceu em Piracicaba no dia 13 de novembro de 1899), foi um pintor e desenhista brasileiro da segunda metade do século XIX. É frequentemente aclamado pela historiografia como precursor da abordagem de temática regionalista, introduzindo assuntos até então inéditos na produção acadêmica brasileira: o amplo destaque conferido a personagens simples e anônimos e a fidedignidade com que retratou a cultura caipira, suprimindo a monumentalidade em voga no ensino artístico oficial em favor de um naturalismo.
Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu apunhalado, vítima de um crime passional.
Almeida Júnior cresceu em sua cidade natal, Itu, como artista precoce. Seu primeiro incentivador foi o padre Miguel Correa Pacheco, quando o pintor ainda trabalhava como sineiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, para a qual produziu algumas obras de temática sacra. Uma coleta de fundos organizada pelo padre forneceu as condições para que o jovem artista, então com 19 anos de idade, pudesse embarcar para o Rio de Janeiro, a fim de completar seu estudo.
Em 1869, Almeida Júnior encontrava-se inscrito na Academia Imperial de Belas Artes. Foi aluno de Jules Le Chevrel, Victor Meirelles e, possivelmente, Pedro Américo. Diversas crônicas relatam que seu jeito simplório e linguajar matuto causavam espanto aos membros da Academia. Após concluir o curso, Almeida Júnior optou por não concorrer ao prêmio de viagem à Europa. Retornou a Itu e abriu ateliê nessa cidade, passando a trabalhar como retratista e professor de desenho.
Em 1876, durante uma viagem ao interior paulista, o Imperador D. Pedro II, impressionado com seu trabalho, ofereceu pessoalmente a Almeida Júnior o custeio de uma viagem a Europa, para aperfeiçoar seus estudos. No ano seguinte, um decreto de 23 de março da Mordomia da Casa Imperial abriu um crédito de 300 francos mensais para que o pintor fosse estudar em Roma ou Paris. Em 4 de novembro de 1876, Almeida Júnior embarca no navio Panamá rumo à França, fixando depois residência em Paris no bairro de Montmartre. No mês seguinte, matricula-se na École National Supérieure des Beaux-Arts. Nesta instituição, foi aluno de Alexandre Cabanel e de Lequien Fils, notabilizando-se, desde muito cedo, em desenho anatômico e de ornamentos.
Almeida Júnior participou de quatro edições do Salon de Paris, entre 1879 e 1882. É desse período que datam algumas de suas maiores obras-primas, como O Derrubador Brasileiro e Remorso de Judas (Salon de 1880), A Fuga para o Egito (Salon de 1881) e O Descanso do Modelo (Salon de 1882). Outras obras emblemáticas do período francês do pintor são Arredores de Paris e Arredores do Louvre, além de, possivelmente, um conjunto de dezesseis telas retratando o bairro de Montmartre, cuja localização é atualmente desconhecida.
Almeida Júnior permaneceu em Paris até 1882. Nesse ano, fez uma breve viagem à Itália, onde teve contato com os irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli.
De volta ao Brasil em 1882, Almeida Júnior realiza sua primeira mostra individual na Academia Imperial de Belas Artes, exibindo sua produção parisiense. No ano seguinte, abre seu ateliê na rua da Glória, em São Paulo, por meio do qual irá contribuir para a formação de novas gerações de pintores, dentre os quais, Pedro Alexandrino.
Em 1884, o pintor recebe o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, concedido pelo governo imperial. No ano seguinte, recusa o convite de Victor Meirelles para ocupar sua vaga de professor de pintura histórica da Academia, permanecendo em São Paulo. Entre 1887 e 1896, realiza outras três viagens à Europa, a última delas em companhia de seu discípulo, Pedro Alexandrino, então agraciado com uma bolsa de estudos do governo paulista.
No seu último período, Almeida Júnior irá progressivamente substituir os temas bíblicos e históricos pelas obras de temática regionalista, justamente as que lhe granjeariam no futuro sua posição de precursor do Realismo na história da arte brasileira. Em pinturas como Caipira Picando Fumo (1893), Amolação Interrompida (1894) e O Violeiro (1899), o artista revela seu desejo de aproximar-se do cotidiano do homem do interior, distanciando-se das fórmulas generalistas da pintura acadêmica e aproximando-se cada vez mais da abordagem pictórica naturalista. Não obstante sua nova orientação estilística, seu prestígio permanece inconteste na Academia, que expõe obras de sua fase regionalista (Leitura e Piquenique no Rio das Pedras, 1892) e lhe concede a medalha de ouro por A Partida da Monção (1894), exposta no Salão de 1898.
Almeida Júnior morreu precocemente, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899. Foi apunhalado em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura do Amaral Gurgel, com quem o pintor manteve um relacionamento secreto por vários anos.
[Clique nas imagens para ampliá-las.]
Foi certamente o pintor que melhor assimilou o legado do Realismo de Gustave Courbet e de Jean-François Millet, articulando-os ao compromisso da ideologia dos salons parisienses e estabelecendo uma ponte entre o verismo intimista e a rigidez formal do academicismo, característica essa que o tornou bastante célebre ainda em vida. De forma semelhante, sua biografia é até hoje objeto de estudo, sendo de especial interesse as histórias e lendas relativas às circunstâncias que levaram ao seu assassinato: Almeida Júnior morreu apunhalado, vítima de um crime passional.
Almeida Júnior cresceu em sua cidade natal, Itu, como artista precoce. Seu primeiro incentivador foi o padre Miguel Correa Pacheco, quando o pintor ainda trabalhava como sineiro na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, para a qual produziu algumas obras de temática sacra. Uma coleta de fundos organizada pelo padre forneceu as condições para que o jovem artista, então com 19 anos de idade, pudesse embarcar para o Rio de Janeiro, a fim de completar seu estudo.
Em 1869, Almeida Júnior encontrava-se inscrito na Academia Imperial de Belas Artes. Foi aluno de Jules Le Chevrel, Victor Meirelles e, possivelmente, Pedro Américo. Diversas crônicas relatam que seu jeito simplório e linguajar matuto causavam espanto aos membros da Academia. Após concluir o curso, Almeida Júnior optou por não concorrer ao prêmio de viagem à Europa. Retornou a Itu e abriu ateliê nessa cidade, passando a trabalhar como retratista e professor de desenho.
Em 1876, durante uma viagem ao interior paulista, o Imperador D. Pedro II, impressionado com seu trabalho, ofereceu pessoalmente a Almeida Júnior o custeio de uma viagem a Europa, para aperfeiçoar seus estudos. No ano seguinte, um decreto de 23 de março da Mordomia da Casa Imperial abriu um crédito de 300 francos mensais para que o pintor fosse estudar em Roma ou Paris. Em 4 de novembro de 1876, Almeida Júnior embarca no navio Panamá rumo à França, fixando depois residência em Paris no bairro de Montmartre. No mês seguinte, matricula-se na École National Supérieure des Beaux-Arts. Nesta instituição, foi aluno de Alexandre Cabanel e de Lequien Fils, notabilizando-se, desde muito cedo, em desenho anatômico e de ornamentos.
Almeida Júnior participou de quatro edições do Salon de Paris, entre 1879 e 1882. É desse período que datam algumas de suas maiores obras-primas, como O Derrubador Brasileiro e Remorso de Judas (Salon de 1880), A Fuga para o Egito (Salon de 1881) e O Descanso do Modelo (Salon de 1882). Outras obras emblemáticas do período francês do pintor são Arredores de Paris e Arredores do Louvre, além de, possivelmente, um conjunto de dezesseis telas retratando o bairro de Montmartre, cuja localização é atualmente desconhecida.
Almeida Júnior permaneceu em Paris até 1882. Nesse ano, fez uma breve viagem à Itália, onde teve contato com os irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli.
De volta ao Brasil em 1882, Almeida Júnior realiza sua primeira mostra individual na Academia Imperial de Belas Artes, exibindo sua produção parisiense. No ano seguinte, abre seu ateliê na rua da Glória, em São Paulo, por meio do qual irá contribuir para a formação de novas gerações de pintores, dentre os quais, Pedro Alexandrino.
Em 1884, o pintor recebe o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa, concedido pelo governo imperial. No ano seguinte, recusa o convite de Victor Meirelles para ocupar sua vaga de professor de pintura histórica da Academia, permanecendo em São Paulo. Entre 1887 e 1896, realiza outras três viagens à Europa, a última delas em companhia de seu discípulo, Pedro Alexandrino, então agraciado com uma bolsa de estudos do governo paulista.
No seu último período, Almeida Júnior irá progressivamente substituir os temas bíblicos e históricos pelas obras de temática regionalista, justamente as que lhe granjeariam no futuro sua posição de precursor do Realismo na história da arte brasileira. Em pinturas como Caipira Picando Fumo (1893), Amolação Interrompida (1894) e O Violeiro (1899), o artista revela seu desejo de aproximar-se do cotidiano do homem do interior, distanciando-se das fórmulas generalistas da pintura acadêmica e aproximando-se cada vez mais da abordagem pictórica naturalista. Não obstante sua nova orientação estilística, seu prestígio permanece inconteste na Academia, que expõe obras de sua fase regionalista (Leitura e Piquenique no Rio das Pedras, 1892) e lhe concede a medalha de ouro por A Partida da Monção (1894), exposta no Salão de 1898.
Almeida Júnior morreu precocemente, aos 49 anos, em 13 de novembro de 1899. Foi apunhalado em frente ao Hotel Central de Piracicaba, hoje já demolido, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura do Amaral Gurgel, com quem o pintor manteve um relacionamento secreto por vários anos.
[Clique nas imagens para ampliá-las.]
José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). - (Foto: Wikipédia).
Apóstolo São Paulo (1869). Óleo sobre tela, 97 x 77 cm. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária, Itu (SP). - (Foto: Wikipédia).
Estudo de nu masculino (1873). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Estudo de nu masculino (1873). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Monge capuchinho (1874). Óleo sobre madeira, 58 x 47 cm. MASP, Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: Google).
Autorretrato (1878). Óleo sobre cartão, 41 x 32,5 cm. Pinacoteca Ruben Berta (Porto Alegre). - (Foto: Google).
O derrubador brasileiro (1879). Óleo sobre tela, 225 x 185 cm. Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). - (Foto: Google).
Remorso de Judas (1880). Óleo sobre tela, 209 x 163 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).
Ateliê em Paris (1880). Óleo sobre tela, 53 x 46 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Louvre (1880). Óleo sobre tela, 36 x 54 cm. Automóvel Clube, São Paulo (SP). (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Perfil de mulher (1882). Óleo sobre madeira, 48 x 38 cm. Coleção Joyce Campos Kornbluh, São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Natureza morta (cerca de 1882). Óleo sobre tela sobre madeira, 21 x 28,5 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
O derrubador brasileiro (1879). Óleo sobre tela, 225 x 185 cm. Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro). - (Foto: Google).
Remorso de Judas (1880). Óleo sobre tela, 209 x 163 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).
Ateliê em Paris (1880). Óleo sobre tela, 53 x 46 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Louvre (1880). Óleo sobre tela, 36 x 54 cm. Automóvel Clube, São Paulo (SP). (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Perfil de mulher (1882). Óleo sobre madeira, 48 x 38 cm. Coleção Joyce Campos Kornbluh, São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Natureza morta (cerca de 1882). Óleo sobre tela sobre madeira, 21 x 28,5 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Descanso do modelo (1882). Óleo sobre tela, 100 x 130 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).
A noiva (1886). Óleo sobre tela, 64 x 50 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
A noiva (1886). Óleo sobre tela, 64 x 50 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Retrato do General José Couto Magalhães (1888). Óleo sobre tela, 235,5 x 147,5 cm. Museu Paulista da Universidade4 de S. Paulo. - (Foto: Google).
Caipiras negaceando (1888). Óleo sobre tela, 280 x 215 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).
Negra (1891). Óleo sobre tela, 37 x 25 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Cena de família de Adolfo Augusto Neto (1891). Óleo sobre tela, 106 x 137 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Caipiras negaceando (1888). Óleo sobre tela, 280 x 215 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. - (Foto: Google).
Negra (1891). Óleo sobre tela, 37 x 25 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Cena de família de Adolfo Augusto Neto (1891). Óleo sobre tela, 106 x 137 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Leitura (1892). Óleo sobre tela, 95 x 141 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Caipira picando fumo (1893). Óleo sobre tela, 202 x 141 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Estudo sobre cabeça de caipira (1893). Óleo sobre tela, 58 x 47 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Pescando (1894). Óleo sobre tela, 64 x 85 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Amolação interrompida (1894). Óleo sobre tela, 200 x 140 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Apertando o lombilho (1895). Óleo sobre tela, 64 x 88 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Nhá Chica (1895). Óleo sobre tela, 109 x 72 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Cozinha caipira (1895). Óleo sobre tela, 63 x 87 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
O modelo (1897). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Garoto com banana (1897). Óleo sobre tela, 59 x 44 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Estudo sobre cabeça de caipira (1893). Óleo sobre tela, 58 x 47 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Pescando (1894). Óleo sobre tela, 64 x 85 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Amolação interrompida (1894). Óleo sobre tela, 200 x 140 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Apertando o lombilho (1895). Óleo sobre tela, 64 x 88 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
Nhá Chica (1895). Óleo sobre tela, 109 x 72 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Cozinha caipira (1895). Óleo sobre tela, 63 x 87 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
O modelo (1897). Óleo sobre tela, 80 x 65 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Garoto com banana (1897). Óleo sobre tela, 59 x 44 cm. - (Foto: Isabella Matheus/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Retrato do Cardeal Arcoverde (entre 1890/1899). Óleo sobre tela. Museu de Arte Sacra de S. Paulo. - (Foto: Google).
O importuno (1898). Óleo sobre tela, 145 x 97 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Retrato de homem (1899). Óleo sobre madeira, 56 x 38 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú de Artes Visuais).
O violeiro (1899). Óleo sobre tela, 141 x 172 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Paisagem do Sítio Rio das Pedras (1899). Óleo sobre tela, 57 x 35 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Saudade (1899). Óleo sobre tela, 197 x 101 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Detalhe da pintura acima - (Foto: Google).
Repouso (sem data). Óleo sobre tela, 85 x 115 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
O pintor Belmiro de Almeida (sem data). Óleo sobre madeira, 55 x 47 cm. MASP, Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Mosqueteiro (sem data). Óleo sobre tela, 55 x 38 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Ana Cândida do Amaral Souza (mãe do pintor - sem data). Óleo sobre tela, 49,5 x 38 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Moça com livro (sem data). Óleo sobre tela, 50 x 61 cm. MASP - Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: MASP).
O poço (sem data). Aquarela sobre papel, 28 x 22 cm. - (Foto: Google).
Paisagem do Sítio Rio das Pedras (1899). Óleo sobre tela, 57 x 35 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Saudade (1899). Óleo sobre tela, 197 x 101 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Detalhe da pintura acima - (Foto: Google).
Repouso (sem data). Óleo sobre tela, 85 x 115 cm. Coleção particular. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
O pintor Belmiro de Almeida (sem data). Óleo sobre madeira, 55 x 47 cm. MASP, Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: Romulo Fialdini/Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais).
Mosqueteiro (sem data). Óleo sobre tela, 55 x 38 cm. Pinacoteca do Estado de S. Paulo. - (Foto: Google).
Ana Cândida do Amaral Souza (mãe do pintor - sem data). Óleo sobre tela, 49,5 x 38 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo. - (Foto: Google).
Moça com livro (sem data). Óleo sobre tela, 50 x 61 cm. MASP - Museu de Arte de São Paulo. - (Foto: MASP).
O poço (sem data). Aquarela sobre papel, 28 x 22 cm. - (Foto: Google).
Assinar:
Postagens (Atom)