[Reproduzo abaixo trecho da coluna de Elio Gaspari publicada ontem no Globo e na Folha de S. Paulo. Vê-se, mais uma vez, que a moralidade administrativa da nossa doce e terna ex-guerrilheira é pura e simplesmente uma jogada de fachada, p'ra inglês ver. A maracutaia desta vez é na ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar, mas está longe de ser o único caso (ver postagem anterior). Dona Dilma saiu ao "pai", o NPA.]
A PORTA GIRATÓRIA DA ANS E DAS OPERADORAS
Elio Gaspari - A Folha de S. Paulo, 26/5/2013
Durante o tucanato o comissariado petista deitou e rolou denunciando a
promiscuidade da banca com o Banco Central, tanto pela nomeação de
banqueiros para sua diretoria como pela porta giratória. Eles iam da
banca para o BC e do BC para a banca. Jogo jogado. Seria o caso de se
começar a discutir a promiscuidade que o petismo patrocina na Agência
Nacional de Saúde Suplementar, que fiscaliza e fixa normas para o
funcionamento dos planos privados. Trata-se de um mercado que move R$ 93
bilhões, afeta a saúde física de 48 milhões de pessoas e está infestado
por tamboretes e maus serviços. No ano passado, as operadoras
reconquistaram o primeiro lugar no ranking de reclamações da clientela.
Oito em dez fregueses queixavam-se delas. De cada dois processos abertos
na ANS, um tramita há mais de cinco anos.
Mauricio Ceschin, que presidiu a ANS de 2009 a 2012, vinha do grupo
Qualicorp, que doou R$ 1 milhão para a campanha da doutora Dilma.
Leandro Tavares, cuja recondução para uma diretoria está sendo discutida
no Senado, veio da operadora Amil. Um diretor que veio dos quadros da Amil a ela retornou. Outra, saiu da
Amil, passou pela agência e hoje está na Unimed. Um quadro da Hapvida
que litigava contra a ANS se tornou seu diretor-adjunto.
Semelhante situação poderia refletir um clima de harmonia entre o poder
público e a iniciativa privada. Contudo, até hoje a ANS e o Ministério
da Saúde não conseguiram criar mecanismos eficazes para cobrar dos
planos privados as multas impostas às operadoras nem pelos serviços
prestados pelo SUS aos seus clientes.
Esse é um problema antigo, mas a repórter Cassia Almeida expôs novos
números. Entre 2005 e 2010, aumentou em 60% o número de internações de
clientes de operadoras privadas em hospitais do SUS. (Entre 2006 e 2012,
as doações políticas das operadoras cresceram 37,2%, para R$ 8,6
milhões.) Em 2012, as internações foram 276.850, a um custo de R$ 537
milhões. Se essas pessoas não tivessem planos privados também seriam
internadas, porque esse é seu direito. O problema é que elas pagaram aos
planos e os planos nada pagaram à Viúva. O doutor Ceschin chegou a
dizer que, "se o ressarcimento chegar a R$ 100 milhões, não tem
relevância na solução dos problemas da saúde pública." Quando o
governador Geraldo Alckmin queria sublocar leitos públicos para os
planos de saúde, prometia arrecadar, só em São Paulo, R$ 468 milhões.
O comissariado não executa as cobranças nem discute a mudança das leis
que inibem o ressarcimento. Patrocina a pior das privatarias. Fiscaliza
mal planos financeiramente inviáveis que se estabelecem na esperança de
mandar seus clientes para o SUS sempre que o tratamento for caro. Assim,
quanto mais a Viúva investe para melhorar a saúde pública, mais os
espertalhões que vendem planos a R$ 160 mensais fazem o melhor negócio
do mundo: embolsam por um serviço que não prestam e jamais pensaram em
prestar.
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