Uma substituição desastrosa
Elio Gaspari (*) - O Globo, 15/5/2013
Se a doutora Dilma quis assustar o empresariado e abalar a confiança na política econômica do seu governo, fez um gol de placa. Perdeu o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, sem anunciar o nome de seu substituto e, no vácuo, surgiu no noticiário o nome do companheiro Arno Augustin, atual secretário do Tesouro.
Barbosa é um professor discreto, que voltará para a universidade. Não é petista nem foi banqueiro. Até onde a vista alcança, dificilmente será qualquer das duas coisas. Augustin é economista, quadro da facção Democracia Socialista do PT, experimentado desde a época em que dirigiu a secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, nos anos 90. Atualmente, acumula a função no Tesouro com uma posição de destaque no comissariado de articulação da campanha pela reeleição da doutora. Mesmo que ele fosse Lord Keynes, essa dupla militancia assustaria tanto o mercado como a galera. Quando Tesouro e campanha andam juntas, acaba-se em confusão.
A saída de Nelson Barbosa é uma má notícia em si. A simples possibilidade da promoção de Augustin dobra o prejuízo. O desfalque do secretário executivo sem o anúncio imediato do nome de quem iria para seu lugar é produto do deixa-comigo-porque-eu posso. Os palácios sempre acham que podem muito e o do Planalto pensa que pode tudo. Havendo um problema, faz-se uma nomeação, um decreto ou uma Medida Provisória, pois manda quem pode e obedece quem tem juízo. Falta aos governantes a humildade do general Goes Monteiro. condestável do Estado Novo, ele ensinou: "Na vida eu gostaria de ser metade do que o cadete pensa que é".
A doutora Dilma, com a certeza de suas convicções, tomou rumo diverso. Sua equipe de coordenação política serve, quando muito, para organizar eventos. Sua ação econômica depende da vontade da doutora, traduzida nas homílias do ministro Guido Mantega.
Durante a digestão da Medida Provisória dos Portos, o governo fez de conta que havia uma questão técnica quando, na realidade, havia uma disputa de grupos de interesses. A cada três meses os sábios oferecem novos mimos aos empresários interessados em concessões de serviços públicos, mal sabendo que o instinto animal dessa espécie vê em cada concessão um sinal de fraqueza e vai à luta para conseguir mais.
Quem julga a doutora pela sua cenografia e pelo hermetismo de suas falas é capaz de acreditar que ela substituiu um governante falastrão. Seria a gerentona no lugar de um palanqueiro. Há alguns meses, contudo, Dilma Rousseff gerencia a imagem de gerentona de Dilma Rousseff. E se Lula tiver sido um astuto gerente fingindo-se de palanqueiro?
(*) Elio Gaspari é jornalista
[A preocupação de Elio Gaspari com Arno Augustin é legítima, por mais de uma razão: - i) é bastante estranho, como comenta Gaspari, o secretário do Tesouro acumular esta função com a de coordenador da campanha de reeleição da doce Dona Dilma -- depois, vão alegar que não tinham intenção ou ideia de que isso poderia gerar malfeito; - ii) em pouco mais de dois anos de governo, Arno ganhou forte projeção e uma imagem controversa no empresariado, devido a seu estilo intervencionista, e no mercado financeiro, após as maquiagens contábeis realizadas para fechar as contas de 2012 [ver postagem anterior sobre essas maquiagens]. A relação difícil com o setor privado leva colegas a fazerem galhofa com a posição do secretário no ano que vem: "Ele só não será tesoureiro da campanha, ou não arrecadaríamos nenhum tostão".
Estamos presenciando mais uma ascensão meteórica de alguém cujo maior mérito é ter carteirinha do PT e ser cupincha da nossa supersimpática ex-guerrilheira.]
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