[Em abril de 2013 o gasto líquido por brasileiros com viagens internacionais alcançou US$1,5 bilhão,
elevação de 22,5% em comparação ao resultado de abril de 2012. O saldo
decorreu da expansão de 4,6% nos gastos de viajantes estrangeiros ao
Brasil e de 17% nos gastos de turistas brasileiros em viagens ao
exterior. De acordo com a autoridade monetária, em 2012 o brasileiro deixou US$ 20,4 bilhões fora do país. É o maior gasto em
viagens internacionais da história. Todo mundo se pergunta -- até o governo, hipocritamente -- por que isso está acontecendo? As razões são várias, todas facilmente identificáveis. Algumas delas estão denunciadas no artigo de hoje do economista Edmar Bacha no Globo, que reproduzo abaixo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
Por que os brasileiros gastam tanto no exterior?
Edmar Bacha - O Globo, 27/5/2013
Deu nos jornais que o
déficit das transações correntes do Brasil com o resto do mundo atingiu
níveis recordes no mês passado. Entre as razões para esse déficit,
sobressaem os gastos de turistas brasileiros no exterior. Segundo
pesquisa do governo americano, os turistas brasileiros estão entre os
que mais gastam em compras nos Estados Unidos, só perdendo para os
japoneses e os britânicos. A situação parece preocupar o governo
brasileiro que, segundo os jornais, estuda aumentar os impostos e adotar
outras medidas para restringir os gastos dos brasileiros no exterior.
Antes de o governo
adotar mais medidas protecionistas, talvez seja bom se perguntar por que
é mesmo que, em vez de desfrutarem mais das belezas desse país tropical
bonito por natureza, os brasileiros preferem gastar dólares em
navios-cruzeiros ou em compras nos shoppings de Miami? A resposta parece
óbvia, se considerarmos que os turistas brasileiros não parecem estar
atrás de bens culturais inexistentes no País. Numa enquete do governo
americano, 95% dos turistas brasileiros dizem que vão lá para comprar. O que os brasileiros
compram nessas viagens aos Estados Unidos está em geral disponível no
Brasil. Só que custa até o dobro ou o triplo do preço, e a qualidade é
com frequência inferior. Por isso, vale a pena
pagar o custo da passagem aérea internacional, mesmo porque ela também é
bem mais barata por quilômetro voado do que a nacional.
A resposta à pergunta
por que os brasileiros gastam tanto no exterior é que o Brasil se tornou
um país caro. Quem pode, gasta lá fora - os ricos sempre puderam e
sempre o fizeram; agora a classe média ascendente vai atrás e por isso
cresce o déficit nas transações correntes. Quem fica por aqui são os
pobres, para quem estão reservados os produtos mais caros, a não ser
quando descolam um contrabando paraguaio de qualidade duvidosa no
comércio informal.
Por que o Brasil se
tornou tão caro? Por muitas razões, mas uma das principais delas é o
protecionismo - os altos impostos sobre bens e serviços importados, as
taxas alfandegárias e os custos portuários, as regras de conteúdo
nacional, os padrões diferentes de nossas tomadas elétricas e bens
duráveis de consumo, e por aí a lista vai. Tudo isso faz com que os bens
e serviços vendidos no país, tanto importados como nacionais, sejam
caros.
Se o problema é o
protecionismo, não é com mais protecionismo que o governo devia tentar
resolvê-lo. É verdade que mais impostos e restrições às compras externas
podem tirar a classe média de Miami. Mas isso somente faria agravar o
apartheid social brasileiro, contra o qual a ascensão dessa classe média
é o melhor antídoto. Que tal pensar em como produzir bens e serviços
melhores e mais baratos para todos os brasileiros?
[O autor só contou da missa um pedaço. Antes de gastar lá fora, é preciso primeiro chegar lá fora. Pesa também, e muito, nessa mania do brasileiro de ir para o exterior o absurdo preço das passagens aéreas dos voos domésticos no Brasil. Fiz uma pesquisa rápida, na Internet, nos sites das três principais empresas aéreas do país: TAM, Gol e Azul. Pela Azul, Rio-Salvador fica por R$ 692,94. Pela TAM, Rio-Santiago fica por R$ 680,89; Rio-Fortaleza, R$ 707,14; Rio-João Pessoa, R$ 726,52; Rio-Buenos Aires, R$ 801,07. Pela Gol, encontrei a viagem Rio-Buenos Aires variando de R$ 389 a R$ 519, dependendo de uma série de opções. Com esses preços, e com o Real valendo 2,53 pesos argentinos e 237,5 pesos chilenos, é burrice querer ser patriota e deixar de viajar pelo menos para a Argentina e o Chile. Se se estender a pesquisa para voos mais longos, o raciocínio não muda muito.
Por que nossos voos domésticos são tão escandalosamente caros? A desculpa do combustível caro é biombo das empresas aéreas, ele é importante mas não é o único nem o principal vilão. O fato de termos um duopólio -- TAM e Gol -- é inegavelmente um parâmetro decisivo nessa história. A Azul, por exemplo, que é unicamente doméstica, desde o início de sua operação em dezembro de 2008 é obrigada a fazer a maioria de seus voos que nascem no Rio com escala em Campinas, o que onera sua operação e é um transtorno para seus passageiros, por pressão do duopólio e aquiescência suspeita do governo via Infraero. Essa mesma pressão obrigou a empresa a fazer de Campinas seu centro de operações, e não Rio ou S. Paulo. -- Abrindo um parênteses: falar do nosso setor aéreo nos traz imediatamente a imagem da Varig. Alguém precisa ainda contar em detalhes os bastidores da destruição da nossa empresa emblemática, e o papel nela desempenhado por TAM, José Dirceu, NPA e Dona Dilma. Antes de mergulhar nisso, é bom tomar vacina antitetânica.
Some-se a isso os impostos sobre as passagens, os hotéis e serviços nacionais caríssimos, as distâncias continentais, e o governo fazendo jogo duplo -- ganancioso na tributação e "estranhamente" protetor do duopólio e, principalmente, da TAM -- e mais as razões apontadas por Bacha, chegar-se-á facilmente aos quase R$ 21 bi gastos pelos brasileiros lá fora. Elementar, meu caro Watson.]
Seu imbecil, não é a Infraero que determina qual companhia aérea voa pra determinado aeroporto, e sim a ANAC. E mais, a Infraero não administra mais os maiores aeroportos do país, a exemplo de Galeão; Guarulhos; Campinas; Brasília e Confins.
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