[O texto traduzido abaixo é da autoria de Moisés Naím e foi publicado no dia 4 de maio na coluna El Observador Global do jornal espanhol El País. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade. Trata-se de mais um libelo contra a política externa rasteira e chinfrim praticada pelo Brasil na América Latina nos dois governos do NPA, e mantida pela nossa doce e terna Dona Dilma. Esta não é a primeira vez que levamos uma carraspana de alguém de idioma espanhol por causa de nossa polítina externa: o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda já chamou o Brasil de "anão diplomático".]
O preço pago pelos governos que violam as regras básicas da democracia vem caindo. Agora está demasiado barato e é preciso aumentá-lo urgentemente. É preciso haver mais riscos e mais custos para aqueles que atentam contra a liberdade.
O surpreendente é que, ao mesmo tempo em que a impunidade dos autocratas parece reinar, ainda há governos disfarçados de democratas que temem que o mundo descubra o que realmente ocorre entre seus bastidores. Há regimes autoritários que fazem esforços surpreendentes para manter a reputação, a "marca" da democracia. E organizam manobras arriscadas e caras para obter o "selo de qualidade" conferido pelo fato de ser "eleito pelo povo". Por que Vladimir Putin, por exemplo, monta uma encenação tão complicada de eleições, rotação de cargos com Dmitri Medvédev e todo tipo de gestos para se passar por um dirigente democrático? Poderia simplesmente declarar-se chefe de Estado, e continuar governando da maneira tão autoritária como a que vem adotando há mais de uma década. E o mesmo ocorre em muitos outros países. Do Marrocos à Argentina, do Irã ao Equador, de Angola à Venezuela muitos governos se tornaram prestidigitadores políticos habilidosos, que com uma mão distraem o mundo com eleições e outros rituais democráticos e com a outra fazem todo tipo de mutretas para concentrar poder, reprimir os opositores e silenciar seus críticos.
É claro que ainda restam alguns que são mais sinceros em seu autoritarismo: Coreia do Norte, Bielorrússia, Cuba, etc. Mas, são cada vez menos: o número de países não democráticos caiu de 69 em 1973 para 47 atualmente.
Assim, a boa notícia é que existe a oportunidade de pressionar os dirigentes pseudodemocráticos que solapam as liberdades em seus países; essa oportunidade está à mão para os governos e líderes de outras nações que queira aproveitá-la. A má notícia é que, ultimamente, muito poucos o fazem.
Um dos exemplos mais ilustrativos disso é o que ocorre na América Latina. Durante as cruentas ditaduras sofridas por muitos países latino-americanos nas décadas de setenta e oitenta, a Venezuela era a democracia que acolhia e protegia os líderes políticos perseguidos pelos regimes militares. Hoje em dia, muitos desses antigos refugiados voltaram aos seus países e ocupam altos cargos no governo, no parlamento ou em partidos políticos. Seu silêncio frente ao que ocorre na Venezuela é ensurdecedor.
A cruel indiferença do Brasil é talvez a que mais se destaca. Não se trata de que esse país se transforme no policial da democracia na região, ou de que intervenha arbitrariamente nos assuntos internos de seus vizinhos. Se trata de que, de vez em quando ... diga algo. Se trata de que sua política internacional reflita os valores de uma das maiores e mais vibrantes democracias do planeta. De que expresse publicamente sua opinião um país respeitado e influente. Um país cujos líderes atuais têm a autoridade moral de quem sofreu na própria carne as consequências de se opor a um regime que recorria à repressão e ao castigo como práticas habituais.
Os democratas do mundo, mas especialmente os da América Latina, observaram com surpresa e tristeza o estrondoso silêncio que Lula da Silva manteve durante seus oito anos como presidente frente às claras violações dos direitos humanos em Cuba, ou frente às violações mais dissimuladas da democracia perpetradas por Hugo Chávez na Venezuela, Rafael Correa no Equador ou Daniel Ortega na Nicarágua [o autor foi muito bonzinho em chamar de "dissimuladas" as violações de Chávez & curriola latino-americana]. Nem uma única palavra. Nunca uma observação crítica ...
A esperança era de que Dilma Rousseff fosse diferente. Mas, até agora não tem sido. O Brasil reconheceu imediatamente Nicolás Maduro como presidente, ainda que sabendo de que havia razões para duvidar de seu triunfo. Essas mesmas dúvidas fizeram com que o próprio Brasil estivesse entre os países que, dias depois, pressionasse a Venezuela para que os votos fossem auditados. Maduro aceitou uma nova recontagem. Mas as autoridades eleitorais a estão fazendo de uma maneira suspeitosamente inadequada. Um governo que está seguro de que ganhou não deve ter medo de contar os votos de maneira aberta e rigorosa. E um governo democrático não deve impedir que os deputados da oposição usem da palavra na Assembleia Nacional. E muito menos tolerar que os próprios deputados governistas os silenciem agredindo-os fisicamente, de maneira a mandá-los para o hospital.
Por favor, diga-nos presidente Dilma Rousseff: o que a Sra. pensa de tudo isso?
[O autor do artigo vai criar raízes de esperar pela resposta da nossa ex-guerrilheira. Nossa supersimpática e sempre sorridente Dona Dilma não tem o menor cacoete de estadista, também na política externa. Basta ver que manteve integralmente a estupidez, inventada pelo NPA, de ter duas cabeças respondendo pelas nossas relações exteriores: Antonio Patriota e Marco Aurélio Garcia. O primeiro tem personalidade, competência e autoridade diretamente proporcionais à sua mais que modesta estatura física, e a espinha dorsal cheia de dobradiças. O segundo, o Garcia, é um pretenso e verborrágico "intelectual" de esquerda, a quem cabe "coordenar" nossa política externa com a esquerda caviar e a esquerda jiló espalhadas mundo afora, mas com ênfase na ênfase na América Latina. Nossa posição em relação à Venezuela tem, na origem, as 10 impressões digitais dos membros inferiores de Marco Aurélio Garcia -- a elas somaram-se mais 20, até agora.]
Essa postagem deveria ser leitura obrigatória para todos que ainda acreditam que a verdade deva prevalecer. E, falando em América do Sul, comento a "ascensão" do Paraguai à condição de narco-estado. Se as fronteiras brasileiras continuarem no atual abandono ou em vigilância ineficiente, o crime organizado tomará proporções nunca vistas. Colômbia, Bolívia e Paraguai estão de olho na nossa conhecida leniência e postura banana com criminosos.
ResponderExcluir