terça-feira, 21 de maio de 2013

Empresários britânicos: "temos que ficar na UE, ou corremos o risco de perder até £ 92 bilhões por ano"

[Em janeiro deste ano, o primeiro-ministro britânico David Cameron com a típica empáfia inglesa prometeu, se reeleito em 2015, convocar um plebiscito em 2017 sobre a permanência ou não do RU (Reino Unido) na UE (União Europeia). Tanto quando lançada, como agora, essa posição de Cameron foi sempre considerada uma jogada de efeito para o grande público e para uma ala de seu partido, face à sua queda de popularidade, mesclada com um tanto de chantagem para amealhar da UE vantagens adicionais às que o RU já tem na UE. As reiteradas ameaças de Cameron de retirar-se da União conseguiram irritar sobremaneira a Comissão Econômica Europeia, que já classifica abertamente essa atitude britânica como uma chantagem contra a UE.

De janeiro para cá, a economia britânica tem tido um desempenho ruim -- o que lança sérias dúvidas sobre a conveniência da saída do RU da UE -- mas o lado político da questão começou a sair do controle de Cameron, com a rebeldia da ala dos euro-céticos de seu partido (incluindo dois ministros do governo) quanto à permanência do RU na UE  e a favor da antecipação do plebiscito a esse respeito. A mesma bandeira foi cooptada pelo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, em inglês), que vem crescendo no cenário britânico. Agora, os empresários que têm negócios no RU resolveram alertar para os sérios riscos econômico-financeiros de uma saída britânica da UE, conforme reportagem de ontem do jornal The Independent que traduzo a seguir. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]

Alguns dos mais bem sucedidos e eminentes líderes empresariais do RU acusaram os euro-céticos do Parlamento de colocar "política antes da economia" e de abandonar os interesses nacionais, em seus apelos para que o RU deixe a UE.

Em uma carta enviada ao The Independent, esse grupo de empresários emitiu uma resposta incisiva aos políticos que argumentaram que os interesses do RU estariam melhor atendidos com o país fora da UE. O grupo solicita também que David Cameron "fortaleça e aprofunde" o mercado único europeu para impulsionar a economia do RU em £ 110 bilhões [cerca de R$ 342 bilhões]. A carta, que é assinada por figuras sêniors do setor, incluindo o atual e o próximo presidente da Confederação da Indústria Britânica, assim como os presidentes da BT [gigante multinacional inglês do setor de telecomunicações], Deloitte, Lloyds e Centrica [utility multinacional britânica da área de energia elétrica e gás], é a primeira resposta coordenada da comunidade empresarial à crescente retórica política antieuropeia.

Ela reflete a crescente preocupação na City no sentido de que o sentimento antieuropeu não está sendo efetivamente contra-atacado pelos principais líderes políticos, após as eleições distritais do mês passado.

Dois ministros do governo Cameron já declararam publicamente que votariam a fator da saída do RU da UE, caso o plebiscito fosse realizado agora, embora reservadamente alguns membros sêniors do partido Conservador acreditem que Cameron jamais conseguirá negociar um novo acordo de adesão do RU à UE que os euro-céticos estejam dispostos a assinar.

Mas, na sua carta, os empresários escrevem que em termos unicamente econômicos deixar a UE será profundamente danoso ao RU. "A justificativa econômica para permanecer na UE é esmagadora", dizem eles. "Para o RU, a permanência como membro da UE é estimada valer entre £ 31 bi e £ 92 bi [entre cerca de R$ 96 bi e R$ 286 bi, respectivamente] por ano em ganhos de receita, ou entre £ 1.200 [ca. R$ 3.730,00] a £ 3.500 [ca. R$ 10.900,00] para cada família. "O que deveríamos estar fazendo agora era estar lutando com afinco para gerar uma Europa mais competitiva, para combater o espírito crítico daqueles que advogam nossa saída da UE. Deveríamos pressionar para fortalecer e aprofundar o Mercado Único para a inclusão de tecnologias digitais, energia, transportes e telecom, o que pode aumentar o PIB britânico em £ 110 bilhões [cerca de R$ 342 bilhões].

Referindo-se aos temores de que a legislação bancária europeia esteja afetando negativamente a City of London, os 19 líderes empresariais dizem que a reação correta é lutar pelos interesses do RU dentro da UE -- em vez de tentar fazê-lo isolado dela. "A City of London é o centro financeiro global da Europa", dizem eles. "Algumas das ideias da UE, como por exemplo a de impor um limite nos bônus dos banqueiros, põem essa posição [da City] em risco. Assim sendo, o governo precisa trabalhar intensamente para proteger esse status da City. Mas, há também uma enorme oportunidade para promover os mercados de capital de Londres como meio para ajudar a resolver os problemas do sistema bancário europeu. Devemos promover a causa da permanência como membro da UE, assim como defender nossa posição". E concluem: "Os benefícios de ser um membro superam esmagadoramente os custos disso, e sugerir algo distinto disso é preterir a economia pela política".

Alguns homens de negócios expressam reservadamente a preocupação de que, caso o RU deixe a UE e imponha restrições a operários estrangeiros, outros países europeus retaliariam e fariam com que ficasse mais difícil para os britânicos trabalhar na UE.

Além dos cidadãos britânicos, isso pode afetar também os banqueiros de todo o mundo que são atraídos para Londres como centro financeiro europeu. Caso os banqueiros que atuam em Londres necessitem de vistos de trabalho separados para operar em outros lugares da Europa, argumentam os signatários da carta, isso pode forçar muitas multinacionais grandes a transferir sua sede para fora do RU. "Não acredito que várias pessoas tenham realmente medido as consequências de nossa saída da UE", disse um desses signatários.

Nesse meio tempo, o ex-ministro das Relações Exteriores, Lord Howe, disse que Cameron havia aberto uma "caixa de Pandora" [o recipiente da mitologia grega que continha todos os males do mundo], ao prometer renegociar a participação do RU como membro da UE e submetê-la a um plebiscito em 2017. Lord Howe disse que a liderança dos Conservadores estava "fugindo apavorada" de seus membros sem posição oficial no governo, e havia permitido que o euro-ceticismo "contaminasse a própria alma do partido". Ele escreveu no The Observer: "Lamentavelmente, ao deixar claro em janeiro que se opõe aos termos vigentes da vinculação do RU à UE o primeiro-ministro abriu uma caixa de Pandora política, e parece estar perdendo controle de seu partido nesse processo".

Porém, o ministro da Saúde Jeremy insistiu em que o partido Conservador estava "absolutamente unido" quanto ao tema da Europa, e que as opiniões de Lord Howe não "correspondiam à realidade" da situação. "Se você olhar para a essência do tema, o partido Conservador está absolutamente unido", ele disse à BBC. "É claro que temos um debate. O patriotismo corre profundo nas veias de todos os conservadores, e quando há um tema envolvendo soberania isso é algo que debatemos ferozmente".

Mas o ex-ministro do Trabalho, Lord Mandelson atacou o UKIP, que ele descreveu como o "Partido do Isolamento do Reino Unido" [também UKIP, em inglês], e a "ala provisória" do partido conservador por forçarem Cameron a fazer sua promessa de realizar um referendo. "Eles estão dizendo: façam o que queremos, nos dêem o que demandamos ou destruiremos completamente suas casas", disse ele. "Na minha opinião, é hora do primeiro-ministro dizer chega, vocês têm que ir embora, saiam dos meus domínios, vou liderar este partido e governar este país da maneira que atende seu verdadeiro interesse econômico".


Nenhum comentário:

Postar um comentário