[Reproduzo a seguir mais um excelente artigo de Guilherme Fiuza -- o de agora foi publicado hoje no Globo e reproduzido no site 247.]
O segundo grande (as)salto
Guilherme Fiuza
No programa partidário do PT na TV,
Lula e Dilma comemoraram uma década no poder. Criador e criatura fizeram
uma espécie de dueto, alternando frases estimulantes sobre seus feitos
nos três mandatos consecutivos e sobre o que ainda vem por aí. "A
questão básica agora é a qualidade", anunciou Dilma. Os brasileiros
certamente acordaram eufóricos no dia seguinte. Depois de dez anos de
governo, o PT tem a bondade de oferecer qualidade ao país. Agora ninguém
segura. Nessa escalada virtuosa, depois da qualidade o governo popular
talvez ofereça felicidade. E depois - suprema ousadia - honestidade.
Houve inclusive um ligeiro
mal-entendido em torno da mensagem petista na TV. O partido prometeu ao
povo, daqui para frente, "o segundo grande salto brasileiro". Como a
mensagem é um tanto enigmática, algumas pessoas entenderam que o PT
estaria anunciando o "segundo grande assalto brasileiro" - dando a
entender que os autores do primeiro assalto não serão mesmo presos, e
portanto estariam aptos a repetir o golpe.
Mas essa é uma conclusão precipitada.
Todos sabem que o PT não depende dos réus do mensalão para reeditar a
trampolinagem. Nesse quesito, o que não falta ao partido é peça de
reposição.
Especialistas estão tentando decifrar o
que afinal o partido quis dizer com esse tal "segundo grande salto".
Alguns acreditam que seja uma referência cifrada aos sapatos que
Rosemary usava em Roma, onde os contribuintes brasileiros bancaram sua
recreação na elegante embaixada brasileira. A despachante de estimação
de Lula e Dilma, especializada em tráfico de influência junto às
agências reguladoras, não foi convidada pelos padrinhos para a
comemoração dos dez anos no poder - uma indelicadeza, considerando seus
vastos serviços prestados ao governo popular. Se bem que Dilma escalou o
ministro mais importante do governo, Gilberto Carvalho (da
Secretaria-Geral da Presidência) para embaralhar as investigações contra
Rosemary, o que já é um presentão.
O salto alto de Rose é, sem dúvida, um
símbolo do poder petista. E o "segundo grande salto" talvez seja um
recado tranquilizador aos companheiros de que os negócios subterrâneos
prosseguirão normalmente, mesmo sem a rainha de Roma.
Outra leitura possível - ainda na
simbologia do poder feminino valorizado na era Dilma - é que o segundo
grande salto seja a volta de Erenice ao Olimpo petista. A
ex-ministra-chefe da Casa Civil, preparada por Dilma para ser seu braço
direito no governo e derrubada pela imprensa burguesa (só porque montou
um bazar de influências no palácio), ressuscitou em grande forma. Muito
bem relacionada, ela hoje opera para Dilma discretamente, na área dos
grandes negócios privados que dependem de um sorriso governamental. No
setor de energia, que a presidente desmonta aos poucos com suas tarifas
de mentira, Erenice reina. Para quem até outro dia era investigada pela
Polícia Federal, é praticamente um salto ornamental.
Se o segundo grande salto do PT no
Planalto não for nenhum desses, pode ter alguma coisa a ver com os
preços. O já famoso salto do tomate, no qual a inflação dos companheiros
saiu finalmente do armário, foi só o começo. Apesar dos truques e
esparadrapos ilusionistas, o dragão voltou com força de mil Erenices
depois de dez anos de gastança pública dos progressistas. O ministro
Mantega apareceu no programa petista para prometer que continuará sendo
"implacável" no setor dos preços, o que praticamente garante o segundo
grande salto - restando apenas esperar para ver quem substituirá o
tomate como figura símbolo. Os saudosistas preferem o chuchu, primeira
grande estrela da disparada da inflação nos anos 70.
Não deixou de ser comovente, no show
televisivo do PT, a euforia daquele pessoal que está há uma década
defendendo com unhas e dentes seus cargos no primeiro escalão. Lá estava
Fernando Pimentel, o ministro vegetativo do Desenvolvimento, que não
largou o osso depois da descoberta de suas consultorias invisíveis e
milionárias. A política é uma mãe. Ser presidente da República, por
exemplo, é uma excelente opção para os sem vocação, esses que ficariam
vagando pelo mercado de trabalho sem possibilidades de ascensão,
ganhando mal e levando bronca do chefe. Uma pessoa assim virar
presidente e passar a mandar em todo mundo, com murro na mesa e tudo que
tem direito, é o autêntico milagre brasileiro. Mais gostoso que isso,
só anunciar ao país a triunfal chegada da "qualidade" - com
teleprompter, claro, para não arriscar demais.
E a qualidade está chegando aí, para
todo mundo ver, com a criação do 39º ministério do governo popular. Mais
cargos, mais verbas, mais alegria - e mais qualidade de vida para o
Brasil, o país de todos os que assinaram as fichas de filiação certas.
Que venham os próximos dez anos, porque ainda há muito para depenar.
Gostei da verdade do artigo. Vou comentar o que posso, concentrando a atenção no leviatã chamado inflação. Tomate, cebola, feijão banana... etc, é fácil achar um vilão sazonal qualquer, sem falar do vilão plantonista chamado São Pedro, o arruinador de países ingênuos. A pergunta retórica é: um estado absolutamente perdulário controla a inflação com o que? Resposta: Com um marionete ufanista, que se tem como grande economista.
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