É difícil avaliar na sua completa dramaticidade a extensão da tragédia que se abateu sobre a Região Serrana do Estado do Rio, mais particularmente sobre Friburgo, Petrópolis, Teresópolis e pequenas cidades circunvizinhas -- sem falar nas suas zonas rurais. É emocionante ver o contagiante movimento de solidariedade da sociedade nessas horas, se organizando e improvisando por conta própria porque também nessa hora o poder público desaparece. É pena que só o emocional prevaleça, e o racional fique bloqueado -- não se tem notícia de nenhuma ação legal pública contra a omissão e a negligência das autoridades!
Duro e revoltante é constatar novamente a omissão e a irresponsabilidade das autoridades públicas, especialmente as estaduais e as municipais, e ouvir outra vez suas sandices -- sobre a responsabilidade federal nessa tragédia ver postagem anterior. O Sr. Sérgio Cabral, p'ra não perder o cacoete, disse que o problema se deve à ocupação irregular das encostas, como se encostas fossem terra de ninguém, livres de qualquer legislação e de qualquer cuidado prévio. O governador não aprendeu absolutamente nada com as tragédias ambientais de mesma natureza das de agora, de Angra dos Reis e da Ilha Grande de exatamente há um ano atrás. É enorme a chance de que também na Região Serrana não se faça agora nada p'ra valer em termos corretivos e preventivos, expondo-a a novos riscos se chuvas torrenciais ocorrerem no início do ano que vem.
Surge a notícia incrível de que em Areal ninguém morreu, simplesmente porque a prefeitura local, de posse do mesmíssimo alerta meteorológico que as outras prefeituras receberam (mas nada fizeram com ele), botou um carro com alto-falante circulando por toda a cidade, avisando a população e instando-a a deixar suas casas por um lugar mais seguro. Por que as demais cidades não fizeram o mesmo?! A Austrália passa por uma inundação gigantesca (a área alagada é superior à dos Estados de S. Paulo e Rio), mas só teve 25 ou 27 mortos, fruto de um rigoroso sistema de alerta e treinamento -- pode-se alegar que as condições topográficas e a densidade demográfica da região atingida (a região australiana alagada é plana) são bem distintas da nossa Região Serrana, mas isso não tira o mérito dos australianos e da lição que nos dão.
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