sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Itamaraty insiste em lesar o país no Tratado de Itaipu

A coluna Panorama Político de hoje do Globo nos informa que Antonio Patriota, nosso atual chanceler, pediu ontem ao ministro de Relações Institucionais pressa na votação, pelo Senado, de lei que muda a remuneração do Paraguai pela energia produzida pela Usina Binacional de Itaipu. Já fiz duas postagens sobre esse malfadado assunto, uma em março e a outra em junho do ano passado.

Trata-se de um crime de lesa-pátria, arquitetado e implementado no Itamaraty por Samuel Pinheiro Guimarães (na época Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores - MRE, nesta semana eleito capo político do Mercosul), tendo como executor seu fiel escudeiro o embaixador Ênio Cordeiro (sintomaticamente premiado com a nossa embaixada na Argentina), evidentemente com o beneplácito do chanceler Celso Amorim e de Lula, o Nosso Pinóquio Acrobata. Disso resultou uma Nota Conjunta, ou algo equivalente, datada de 25/7/09 em que o Brasil reconhece o "direito" do Paraguai a uma remuneração maior pela energia produzida em Itaipu.

Se o Senado avalizar essa aberração da nossa diplomacia, o Brasil e os consumidores brasileiros passarão a pagar aos paraguaios o triplo do que hoje  lhes pagamos pela mesma energia, sem mais nem menos, sem qualquer argumento defensável, seja ele político, técnico ou financeiro. Seremos mais uma vez vítimas da política de subserviência implantada pelo Itamaraty em relação aos nossos vizinhos, especialmente os fronteiriços (que são 10 ...) -- nossos diplomatas instalaram uma dobradiça em nossa espinha dorsal, e a mantêm permanentemente azeitada sob a diretriz de jamais "contrariar" esses vizinhos. Tudo o que o Paraguai reclama com relação a Itaipu, e não faz outra a não ser reclamar, é pura e simplesmente chantagem. O Tratado de Itaipu e o contrato financeiro a ele vinculado (para quem não sabe, a Usina de Itaipu foi inteiramente financiada pelo Brasil, via Eletrobrás) são peças irretocáveis sob qualquer ângulo, que serão agora violentadas por obra e graça do Itamaraty, exatamente o órgão ao qual compete sua defesa e sua preservação.

Por força das funções que ocupava na Eletrobrás participei de duas reuniões sobre esse assunto com aqueles dois diplomatas (Samuel e Ênio), no lado brasileiro de Itaipu, com a participação do então ministro de Minas e Energia e ex-presidente da Eletrobrás Silas Rondeau e da diretoria da Eletrobrás da época. Fui testemunha da argumentação capciosa e de absoluta má-fé engendrada pela nossa diplomacia para atender à chantagem paraguaia, assim como fui testemunha da passividade e da subserviência do ministro Silas frente à pressão do Itamaraty. Desde então a diretoria da Eletrobrás vê-se manietada e impossibilitada de defender seus interesses (que são os nossos, como consumidores) nessa negociata que fere nossa inteligência e nosso orgulho de país que queira ter um mínimo de auto-estima. Se pautar seu exercício no cargo por essa atitude com relação a Itaipu, nosso atual chanceler vai nos levar a crer que seu sobrenome "Patriota" é pura gozação.

2 comentários:

  1. Amigo VASCO:

    Tenho certeza de que você viveu esses momentos,com a preocupação sempre ligada na HEGEMONIA do Brasil.
    Acho que se nós soubessemos o que aconteceria nos anos medianos aos 60, teria ficado mais barato construir a ITAIPÚ sozinhos, e vender a energia elétrica, ainda na frequencia de 50 Hz,
    do que termos assumidos os paraguaios como parceiros.
    Teria sido mais barato para nós ter efetuado a conversão de frequencia de 50 Hz para 60 Hz, e termos todas os geradores de Itaipu trabalhando nessa frequencia, do que ter cedido à eles, construindo geradores em 50 Hz.
    Mas, o que fazer? Eram ditadores conversando, cada um de um lado.
    Você, seguramente, pode ter mais detalhes desse período de nossa história.

    Sergio LEVY

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  2. Caro Levy,

    Por coincidência, participei ativamente do processo de conversão para 60 Hz da frequência no Estado do Rio, sob a coordenação do Almirante Magaldi, um trabalho muito bem planejado e executado. Pesou na escolha da frequência no Brasil o fato de ela ser de 60 Hz nos EUA, o maior fabricante de equipamentos elétricos no mundo na época -- além, é claro, de outras dependências e subordinações aos americanos, mais fortes e explícitas na época.

    O Brasil tem fronteiras físicas com 10 dos 12 países sul-americanos (só Chile e Equador não fazem fronteira conosco), o que o torna o país integrador por excelência da região (também na energia elétrica). Desses 10 países, metade tem frequência de 50 Hz (Argentina, Bolívia, Guiana Francesa, Paraguai e Peru), o que dificulta e encarece a integração elétrica com vizinhos importantes. Itaipu como obra é um modelo, mas a história por trás de sua concepção não é das mais agradáveis de se ler, nem está disponível ao grande público.

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