[Em março de 2011 fiz uma postagem sobre ser o gato doméstico o principal inimigo dos pássaros. Ontem, o Globo deu números impressionantes sobre a ação predatória dos gatos nos EUA e no mundo, conforme texto a seguir.]
Levados a praticamente todas as regiões do planeta pelo homem, o gato
conquistou uma legião de adoradores e presas. O felino está entre as cem
espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras
contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos,
aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a
Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto
sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista
“Nature Communications”, dedicou-se a este levantamento. E mostra que os
bichanos matam anualmente entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e
entre 6,9 bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados Unidos.
Segundo a estimativa, cada gato americano mata 1.443 bichos por ano — ou
3,95 por dia. O número de aves predadas foi considerado o mais
preocupante. Seria quatro vezes maior do que os registrados até hoje.
Aves nativas do país, como o pisco-de-peito-vermelho, estão entre as
mais ameaçadas pela fome felina. Na área continental dos EUA, há mais
animais mortos pelos felinos do que por atropelamento, colisões com
prédios ou envenenamento.
"Os gatos são as maiores ameaças à fauna americana", revela Pete Marra,
pesquisador do Instituto Smithsonian de Conservação e Biologia (SCBI) e
coautor do estudo, que contou com a colaboração do Serviço de Pesca e
Fauna dos EUA. "Esperamos que a grande faixa de mortalidade indicada
por nosso levantamento convença os donos de gatos a mantê-los dentro de
casa e alimentados".
Gatos selvagens matam três vezes mais
Além dos pássaros, a dieta dos bichanos abrange de ratos a coelhos,
passando por esquilos. Os gatos ferais — que vivem soltos na natureza e
dificilmente se adaptariam ao contato com humanos — são os que mais
dependem da caça. Eles predariam até três vezes mais animais do que os
gatos com dono. Marra, porém, ressalta que a mortalidade provocada por felinos urbanos também é digna de apreensão. "Este levantamento deve servir de alerta para políticos, autoridades
ligadas à preservação de animais e a cientistas para o grande perigo
causado por estes felinos", enfatiza.
Em regiões da Califórnia e do Canadá, por exemplo, gatos não podem viver
fora de casa. No Brasil, porém, nenhuma política semelhante chama a
atenção, mesmo com o crescimento anual de 8% da população de felinos. O
país tem um bichano para cada nove pessoas. Ironicamente, as medidas restritivas são maiores contra o arquirrival
dos felinos. Florianópolis chegou a aprovar um programa estipulando que
cada cachorro deveria ser cadastrado na prefeitura e paramentado com um
chip. Aqueles que não estivessem com o equipamento poderiam ser
sacrificados. A lei não pegou.
Bióloga do Instituto Hórus, especializada em conservação ambiental e no
estudo de espécies invasoras, Michele Dechoum condena o descaso
brasileiro com a matança promovida pelos bichanos. Para ela, a prioridade seria adotar medidas de controle do acesso a
felinos em áreas de conservação ambiental e nas zonas de amortecimento —
a faixa de aproximadamente dez quilômetros ao redor desses ecossistemas
protegidos. "Tem gente que não dá comida e acha que o gato se vira, que é
independente", lembra. "Quando falamos de manejo de fauna invasora, o
principal obstáculo é a oposição da opinião pública. Não vou condenar o
animal, mas é importante conscientizar o dono sobre o impacto que o
bicho pode provocar.
Como a diversidade de espécies é maior aqui do que nos EUA, estima-se
que os felinos brasileiros teriam à sua disposição uma variedade de
presas ainda mais relevante. "É difícil dizer se os gatos brasileiros predam os mesmos animais, e em
uma quantidade maior, do que os americanos", lamenta Michele.
O Reino Unido recomenta uma medida simples que reduziria o sucesso das
emboscadas felinas — e, assim, o impacto dos bichanos à biodiversidade.
De acordo com a Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade contra
Animais, uma coleira com um sino é suficiente para os gatos matarem 41%
menos aves e 34% menos mamíferos do que os felinos sem o artefato.
Vasco:
ResponderExcluirVc se lembra da praça da República?
Cotias e caxinguelês são colocados lá(pela Prefeitura) e em pouco tempo desaparecem ao passo que a quantidade de gatos aumenta...
Forte abraço
Ednardo
Caro Ednardo,
ResponderExcluirLembro-me bem. Recentemente, a Cora Rónai moveu mundos e fundos em sua coluna no Globo para "proteger" esses gatos do Campo de Santana. Fico sempre com a impressão de que ela anda com excesso de tempo ocioso, e aí resolve inventar passatempos ridículos.
Grande abraço,
Vasco