Lamentavelmente, o site da revista Exame não divulgou os critérios utilizados pela consultora alemã Jacdec (sigla inglesa para Jet Aircraft Crash Data Evaluation Center -- Centro de Avaliação de Dados de Desastres de Aeronaves a Jato) para a elaboração do seu ranking de segurança, o que não permite ao leitor entender o que está na raiz dessa lista e acaba dando à notícia ares de sensacionalismo barato. Diz a Jacdec que seu ranking está "baseado em nossos cálculos anuais de segurança, que incluem todos os acidentes com perda de aeronave e incidentes sérios nos últimos 30 anos em relação à receita passageiros por quilômetros ("revenue passenger kilometers", RPK) ocorrida no mesmo período. Levamos também em conta os padrões internacionais de referência em segurança, tais como a Auditoria IOSA (IATA Operational Safety Audit = Auditoria de Segurança Operacional da IATA, a Agência Internacional de Transportes Aéreos) e o fator país do USOAP (Universal Safety Oversight Audit Programme = Programa Universal de Auditoria de Supervisão de Segurança, da ICAO - Organização Internacional de Aviação Civil). Além disso, incluímos um fator de ponderação do tempo, que aumenta o efeito de acidentes recentes e reduz o impacto de de acidentes no passado. Todos os dados de cálculo terminam depois de um período de 30 anos. Mortes são contadas apenas quando relativas a passageiros a bordo de um voo comercial, não sendo computados acidentes em terra ou mortes de terceiros em outra aeronave. Todos os acidentes que preenchiam os critérios citados acima foram incluídos em nossos cálculos, independentemente de suas causas ou responsabilidades". O destaque em negrito é meu, porque explica a razão pela qual o acidente da GOL pesou contra ela, mesmo tendo sido provocado por outra aeronave -- explica, mas não justifica.]
As companhias aéreas brasileiras GOL e TAM estão entre as mais inseguras do mundo, segundo pesquisa divulgada pela consultoria alemã Jacdec, especializada em aviação. A pesquisa analisou 60 empresas de todo o mundo.
O ranking considera o número de acidentes em que as empresas se envolveram desde 1983, o número de mortos, o pior acidente da empresa neste período e há quanto tempo a companhia não registra nenhuma perda de aeronave.
A GOL foi considerada a 57ª empresa mais segura, entre as 60 avaliadas, com um índice de 0,931. Já a TAM ficou em 59º lugar, com índice de 1,077. Para se ter uma ideia, a empresa mais segura do mundo, segundo a Jacdec, é a finlandesa Finnair, com índice de 0,005 e nenhum acidente registrado nos últimos 30 anos.
Procuradas por EXAME.com, GOL e TAM afirmaram que não se manifestariam, e que apenas a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) iria se posicionar. Em nota à imprensa, a Abear afirmou que o ranking da Jacdec “de maneira alguma reflete a situação atual de segurança das companhias aéreas".
“Esta entidade faz um levantamento do histórico de acidentes, considerando também o número de fatalidades envolvidas, e este índice realmente não avalia o nível atual de segurança de uma empresa aérea. O padrão utilizado não traduz a situação de segurança ou insegurança de uma empresa”, afirmou Ronaldo Jenkins, diretor de Segurança e Operações de Voos da Abear, na nota. [Na nota, a Abear diz também que "Ambas as empresas citadas, além de seu histórico de 2007 até hoje sem acidentes, passaram recentemente por Auditoria de Segurança Operacional da IATA (Associação Internacional das Empresas Aéreas) e obtiveram o certificado IOSA, em sua plenitude. O IOSA é o sistema independente de avaliação mais completo e aceito internacionalmente em segurança operacional, destinado a avaliar os sistemas de gestão e controles operacionais de companhias aéreas". A Jacdec diz que levou isso em conta.]
Segundo o estudo, a TAM (fundada em 1976) registrou seis grandes acidentes aéreos desde 1983, com um total de 336 mortes (o último deles no dia 17 de julho de 2007, quando 187 morreram no voo 3054, que fazia a rota Porto Alegre-São Paulo). No caso da Gol (fundada em 2001), a consultoria considera um acidente no mesmo período, com 154 mortes (no dia 29 de setembro de 2006, no voo 1907, que fazia a rota Manaus-Brasília e caiu na Amazônia).
No total de acidentes desde 1983, as recordistas são Aeroflot-Russian Airlines e American Airlines (10), seguidas de US Airlines e Koren Air (9) e Air France (7). No número de mortes no período, apenas China Airlines (755), Korean Air (687) e American Airlines (587) superam a TAM.
RankingVeja abaixo a lista completa das companhias aéreas pesquisadas, seus países e pontuações:
1. Finnair (Finlândia) - 0,005
2. Air New Zealand (Nova Zelândia) - 0,007
3. Cathay Pacific (Hong Kong) - 0,007
4. Emirates (Emirados Árabes Unidos) - 0,008
5. Etihad Airways (Emirados Árabes Unidos) - 0,008
6. Eva Air (Taiwan) - 0,009
7. TAP (Portugal) - 0,009
8. Hainan Airlines (China) - 0,010
9. Virgin Australia (Austrália) - 0,010
10. British Airways (Reino Unido) - 0,011
11. Lufthansa (Alemanha) - 0,011
12. All Nipon Airlways (Japão) - 0,012
13. Qantas (Austrália) - 0,012
14. JetBlue Airways (Estados Unidos) - 0,013
15. Virgin Atlantic (Reino Unido) - 0,015
46. Asiana (Coreia do Sul) - 0,188
47. Japan Airlines (Japão) - 0,201
48. China Southern Airlines (China) - 0,204
49. Iberia (Espanha) - 0,222
50. SAS (Suécia) - 0,278
51. SkyWest Airlines (Estados Unidos) - 0,282
52. South African Airways (África do Sul) - 0,287
53. Thai Airways (Tailândia) - 0,316
54. Turkish Airlines (Turquia) - 0,524
55. Saudia (Arábia Saudita) - 0,544
56. Korean Air (Coreia do Sul) - 0,642
57. GOL Transportes Aéreos (Brasil) - 0,790
58. Air India (Índia) - 0,931
59. TAM (Brasil) - 1,077
60. China Airlines (Taiwan) - 1,171
[Alguns dados adicionais sobre ranking internacional no setor aéreo em termos de segurança: | |||||||||||
Gerenciamento de Riscos (clique na imagem para ampliá-la) - Taxa de acidentes e LEI [Lack of Effective Implementation = Falta de Implementação Efetiva (em termos de medidas de segurança)], em %. Última atualização: Janeiro/2010. Coordenadas do gráfico: Taxa de Acidentes (Por Milhão), na ordenada e LEI % na abscissa. Siglas do gráfico: EUR/NAT = Europa e Atlântico Norte; - SAM = América do Sul; - MID = Oriente Médio; - NACC = Américas do Norte e Central, e Caribe; - APAC = Ásia e Pacífico; - WORLD = Mundo; - ESAF = Áfricas Oriental e Austral; - WACAF = Áfricas Ocidental e Central.
O nível de implementação de medidas de segurança do Brasil em relação à média global pode também ser visto no site da ICAO -- nosso país sai bem na foto.
Mapa mundial da Jacdec (clique na imagem para ampliá-la) -- Universal Safety Oversight Audit Programme = Programa Universal de
Auditoria de Supervisão de Segurança, da ICAO - Organização
Internacional de Aviação Civil. Legendas do mapa: USOAP rating = avaliação do USOAP; * = mostra o desvio em relação à média global de desempenho. A média atual de graduação baseada na Abordagem Sistêmica Abrangente do USOAP é 47.
O mapa mundial mostra, como dito acima, o desvio em relação à média global atual, que é 47. A avaliação para cada país é calculada como mostrado na tabela abaixo (clique na imagem para ampliá-la):
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A Bégica atinge 9 pontos acima da média e o Congo (- 34). As somas de todos os países são acumuladas, e mostradas no mapa acima. Os resultados do USOAP para cada país membro são apresentados em uma tabela de status -- para maiores detalhes ver o site da ICAO. A tabela mostra os oito elementos críticos, o nível de implementação (1 = não implementado, 10 = completamente implementado) e a média mundial. Para calcular um valor USOAP, checa-se quão frequentemente o nível de implementação está acima da média mundial -- eis dois exemplos (clique nas imagens para ampliá-las): Congo -- De acordo com a tabela acima, o nível de implementação está nitidamente abaixo da média mundial, isto é, o resultado USOAP será = 0 e, portanto, todas as empresas aéreas do Congo receberão o valor 0 = "objeções inaceitáveis". Bélgica -- A implementação de elementos críticos está acima da média mundial (6) -- ver tabela abaixo. Todas as empresas aéreas da Bélgica receberão o valor USOAP 6 = "pequenas objeções". Tabela de avaliação do USOAP: | |||||||||||
Veja aqui a comparação entre o Brasil e os EUA -- por ela se vê que, pelos critérios do USOAP, perdemos para os americanos nos itens "operações", "airworthiness (?)", e "aeroportos" e, surpreendentemente, somos melhores que eles em legislação, investigação de acidentes e serviços de navegação aérea. Vivendo e aprendendo ...] | |||||||||||
Amigo Vasco,
ResponderExcluirO problema é que não está somente nas únicas 2 empresas aéreas brasileiras a insegurança. Depois dos dois grandes acidentes da Gol e da TAM, quando se descobriu falhas no sistema de controle de vôo em terra, tais como radares obsoletos com duplicidade de informação de um mesmo vôo, buraco negro aqui e acolá, falta de preparo dos controladores de võo que apenas falam um inglês macarrônico, quando muito, etc .... Alguma coisa foi feita ? Que eu saiba nada foi feito. Que saudade me dá do tempos passados da VARIG, CRUZEIRO DO SUL, VASP, TRANSBRASIL, RIO SUL ... Não cheguei a pegar o tempo da PANAIR, mas creio que nós regredimos e muito ..... Pior que vou ter que viajar no final do mês ... Que Deus me ajude ! Abs