["Delenda Carthago" (mais exatamente: "Ceterum censeo Carthaginem esse delendam" -- "Aliás, sou de opinião que Cartago deve ser destruída") é uma expressão famosa com a qual, segundo diversos historiadores antigos, Marco Pórcio Catão (Marcus Porcius Cato - 234-149 a.C.) encerrava todas as suas intervenções no Senado romano, dada a preocupação pela crescente prosperidade de Cartago após a Segunda Guerra Púnica. A expressão passou a caracterizar uma ideia fixa, a ser perseguida até ser concretizada. Agora, no Brasil, uma figura de muito menos estofo que Catão deflagrou o "Delenda Eletrobras". Vejamos a reportagem de hoje do jornal O Globo. O que estiver entre colchetes e em itálico é de minha responsabilidade.]
A Eletrobras, holding do setor elétrico, pode desaparecer, assim como
todas as suas subsidiárias — Chesf, Eletronorte, Furnas, Eletrosul,
Eletronuclear e CGTE —, responsáveis por 35,5% da geração energética do
país. Para fazer frente à forte redução em suas receitas, de cerca de
70%, devido à renovação dos contratos de concessão com base na MP 579,
começa a ganhar força, dentro do Ministério de Minas e Energia, a ideia
de se avaliar os rumos que o grupo terá que tomar.
Uma fonte do setor afirmou ao GLOBO que uma possibilidade é a criação de
três holdings para a área elétrica: uma de geração, outra de
transmissão e uma terceira de distribuição. Cada uma delas absorveria os
ativos das atuais subsidiárias da Eletrobras — os ativos de geração de
Furnas, por exemplo, iriam para a holding de geração, e assim
sucessivamente
Perdas de R$ 8,7 bilhões
Segundo a Eletrobras, a holding está estudando medidas para reduzir seus
custos, que serão comunicadas ao mercado até o fim do primeiro
trimestre. A empresa informou ainda que a queda de receita é estimada em
R$ 8,7 bilhões anuais, “que serão compensados com a entrada em operação
dos novos investimentos, como as usinas do (rio) Madeira, e com as
medidas de redução de custo”.
[Não é por mera coincidência que a perda anual do Grupo (ou Sistema) Eletrobras é praticamente idêntica ao desembolso anual do Tesouro Nacional (R$ 8,5 bi) para garantir a redução tarifária.]
A discussão da criação das holdings não está na pauta da reunião do
Conselho de Administração que acontece hoje. Para o encontro do
conselho, está prevista a avaliação de propostas de redução de custos
para as empresas enquadrarem seu caixa à nova realidade financeira,
devido à redução da receita.
Por enquanto, fontes descartam a possibilidade de a Eletrobras vender,
por exemplo, suas participações acionárias em seis distribuidoras,
principalmente no Norte e no Nordeste. A Eletrobras assumiu ao longo dos
últimos anos o controle dessas distribuidoras, que enfrentavam sérios
problemas financeiros e de gestão.
[Fico imaginando a cara dos petistas do Sistema Eletrobras ao acordarem hoje com essa notícia, e perceberem que elegeram um governo que ameaça deixá-los à beira da estrada. Nas viagens oficiais que fiz com Dilma ao exterior -- e foram pelo menos quatro -- semprei observei sua pinimba contra a Eletrobras, contraposta a uma admiração extrema nunca disfarçada pela Petrobras. Confirmando a péssima executiva e gestora que é, e sempre foi (vide PAC e as trapalhadas do setor elétrico, só para ficar com dois exemplos), nossa supersimpática ex-guerrilheira consegue ser ao mesmo tempo intervencionista e estatizante ao extremo e infernizar a vida das duas principais estatais, até mesmo de sua adorada Petrobras.
A desgraça da Eletrobras, além da má vontade da afável Dona Dilma contra ela, é que sua matéria prima (a energia elétrica) não é interruptível nem estocável, ao contrário do petróleo e seus derivados. No governo FHC os petroleiros fizeram greve por 33 dias e o país não parou -- se um grevista insano desligar Itaipu por 5 minutos, o país desaba. Além disso, a Petrobras tem uma componente internacional fortíssima em que independe do estoque de bílis de Dona Dilma e/ou da incompetência petista -- mas no front interno, está comendo o pão que o diabo amassou. A Eletrobras engatinha na área internacional e engatinha errado, mantendo a visão e a imagem de uma estatal e assim, além de feudo do PMDB e cabide de emprego de políticos, vira massa fácil de manobras e chantagens de nossos amáveis vizinhos.
Estamos todos pagando por ter eleito um blefe. Nossa sempre sorridente Dona Dilma não se elegeu por nenhum mérito próprio, porque efetivamente não o tem -- se alguém examinar atentamente seu currículo à frente do PAC e do MME verá que ela é uma gestora medíocre. Sua eleição deveu-se a três fatores básicos: - i) a inegável capacidade do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) de eleger postes e miragens, o que tem sido um desastre para o país (vide Dilma e Fernando Haddad); - ii) um adversário ridículo e patético chamado José Serra; - iii) um eleitorado absolutamente alienado.
Alguém no passado remoto disse "Fiat lux" -- agora, uma ex-guerrilheira diz "Delenda lux".]
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