quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Justiça holandesa condena Shell por contaminar o delta do Níger

[As empresas de petróleo continuam fazendo enormes estragos ambientais mundo afora. Só para citar poucos exemplos: o vazamento do petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989; - o gigantesco derrame de óleo em poço da BP no Golfo do México em 2010; - vazamento de óleo na Bacia de Santos pela Petrobras no início de fevereiro de 2012; - vazamento de óleo na Bacia de Campos pela Chevron em novembro de 2011; - poluição da Baía da Guanabara pela Petrobras via Refinaria Duque de Caxias (Reduc) em agosto de 2011 (parece que a Reduc continua sendo um foco de poluição na região). O jornal espanhol El País noticia hoje (e traduzo abaixo) que a justiça holandesa condenou a Shell pela poluição do delta do rio Níger -- esta poluição foi assunto de postagem minha em agosto de 2011.]

A multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell foi condenada pela justiça holandesa por poluir o delta do rio Níger. É a primeira vez que a empresa é obrigada pela justiça nacional a indenizar as vítimas de um derramamento ocorrido em outro país. Segundo os juízes de Amsterdã, a Shell não fez o suficiente para evitar as sabotagens de alguns oleodutos que cruzam algumas localidades nigerianas. Em uma delas, Ikot Ada Udo, "a tubulação podia ser aberta com uma chave inglesa", diz a sentença.  O autor da ação, um camponês local, será indenizado porque perdeu seu meio de subsistência. Não se conhece ainda o montante da indenização. O tribunal absolveu a Shell de quatro outras demandas similares, tendo em vista que efetivamente controlou os vazamentos de óleo.  [Enquanto não se souber o valor da indenização -- e, provavelmente, mesmo depois que ele for anunciado -- isso para a Shell não é nada. Para se ter uma ideia da importância do rio Níger, basta saber que ele é o terceiro mais longo rio da África e o principal da África Ocidental, com 4.180 km de extensão e uma bacia hidrográfica de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados. O Níger cruza cinco países: Guiné, Mali, Níger, Benim e Nigéria.]

Os outros quatro demandantes, camponeses e pescadores nigerianos, acionaram a justiça holandesa com a ajuda da Millieudefensie, o ramo nigeriano da ONG Amigos da Terra. Durante a audiência no tribunal, em outubro de 2012, argumentaram que os vazamentos de óleo ocorridos entre 2004 e 2007 "destruíram a mata e mataram os peixes". Originários das províncias de Goi, Oruma e Ikot Ada Udo, ficaram também sem moradia porque o mau cheiro impossibilita uma vida normal na região.

Durante os quatro anos de duração do processo, a Shell argumentou que sua sede em Haia não tinha controle efetivo sobre os desastres provocados pela subsidiária da Nigéria [espero que o jornal não tenha feito confusão entre Níger e Nigéria, dois países distintos e fronteiriços].  Ela contestou também a competência de tribunais holandeses em pronunciar-se sobre suposto delito ambiental ocorrido fora das fronteiras da Holanda. Os juízes desconheceram essas duas alegações e deram sequência ao processo.

Para a Millieudefensie, a poluição do delta do Níger é uma catástrofe silenciosa. Em vez de um derramamento espetacular, como o do petroleiro Exxon Valdez no Alasca ou da plataforma da BP no Golfo do México, o rio africano tem recebido milhões de litros de óleo desde 1950 [o PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, estima que a despoluição completa do Níger levará de 25 a 30 anos -- ver postagem indicada no início deste texto]. A maior parte dos vazamentos se deve à precariedade dos dutos e à pouca vigilância que se faz deles. "Isso permite supor que pode haver, ou ser provocado um rompimento", asseguram seus porta-vozes.  A Shell insiste em que o problema decorre de sabotagem e refinação ilegal, o que lhe custa cerca de 150.000 barris por dia.

[Se houvesse lógica na Justiça e na legislação nossas, e a decisão da justiça holandesa virasse paradigma, a Petrobras deveria ficar de molho para eventuais danos que fizesse no exterior. Mas, ainda teremos muita poluição pela frente até que isso aconteça.]


Um camponês nigeriano mostra os efeitos do derramamento perto de Goi, em uma imagem de arquivo. - (Foto: Marten Van Dijl/EFE).

 Uma imagem da poluição na região denominada Ogonilandia, no sul da Nigéria (Foto: AP/Sunday Alamba).

 Outra imagem na Ogonilandia (Foto: AFP).


Animais pastando em uma ilha do rio Níger, como pode ser visto de uma ponte na capital do Níger, Niamey - (Foto: Wikipedia).


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