quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Governo quer usar BNDES na compra de siderúrgica problemática

[Quem se der ao simples trabalho de digitar "CSA" no link de busca do site do Globo, por exemplo, encontrará notícias tais como:
  1. Ministério Público investiga aval à operação de alto-forno da CSA 
  2. Prefeitura do Rio ordena interdição da CSA por falta de licença   
  3. Oferta de aquisição da CSA derruba ações da CSN 
  4. Siderúrgica CSA é multada em R$10,5 mi por problemas ambientais   
  5. Moradores denunciam nova chuva de prata nos arredores da CSA 
  6. CSA vira elefante branco, está à venda e pode fechar alto-forno   
  7. Pressionada, ThyssenKrupp estaria disposta a vender CSA por menos de 5 bilhões de euros 
Vou parar por aqui, porque todos nós temos mais o que fazer. Pois bem, é exatamente essa siderúrgica que o governo quer ajudar a CSN a comprar com dinheiro do BNDES, sob a alegação de criação de uma "forte usina nacional". Vamos à notícia do Globo de hoje.]

Com o objetivo de criar um grande grupo siderúrgico nacional, o BNDES recebeu aval do governo federal e deu início às negociações para entrar numa operação que vai permitir à CSN comprar a parte da alemã ThyssenKrupp na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), localizada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. A confirmação é de fontes do alto escalão do Executivo, que destacam que as discussões estão apenas começando. Reportagem do jornal “Valor Econômico” desta terça-feira informa que o aporte do banco federal deverá chegar a R$ 4 bilhões. Técnicos das áreas envolvidas afirmam que o valor será menor, sem adiantarem a cifra.

A ideia do governo ao apoiar o negócio é ficar com o controle da CSA, hoje dos alemães, pois outras empresas brasileiras importantes do setor já estão nas mãos de estrangeiros. A antiga CST e a Acesita estão em poder da anglo-indiana ArcelorMittal, e a Usiminas, desde o ano passado, é comandada por argentinos e japoneses. Nos dois casos, a CSN tentou comprar os ativos, mas não conseguiu.  Assim, ao apoiar a CSN na disputa pela CSA, o governo seguiria na estratégia de ajudar na criação de grandes grupos nacionais. Operações semelhantes já foram feitas pelo BNDES no setor de frigoríficos, por exemplo. As negociações, no entanto, estão sendo feitas de forma reservada pelo governo, porque as empresas têm ações na bolsa e a divulgação de que o BNDES vai entrar no negócio pode inflar o valor dos papéis, o que forçará o banco a elevar o valor dos aportes.

Em maio do ano passado, a Thyssen comunicou oficialmente a intenção de vender sua fatia na CSA, projeto que acumulou problemas para a gigante alemã. A siderúrgica de Santa Cruz recebeu multas por questões ambientais e, ainda, foi alvo de investigação por trazer trabalhadores chineses para trabalhos simples de construção civil.

CSA é opção ao Porto do Açu
A preferência do governo federal pela CSN na disputa pela siderúrgica, controlada pela ThyssenKrupp, contudo, está incomodando o grupo Techint, um dos interessados na compra da siderúrgica. Segundo fontes, o grupo ítalo-argentino estaria negociando uma oferta que não inclui qualquer aporte ou financiamento oficial. As propostas terão de ser oficialmente apresentadas em 15 de fevereiro.

Para a CSN, a compra da CSA atenderia sua intenção de expandir a produção de aço, uma vez que a usina de Volta Redonda está operando perto da capacidade máxima (cerca de 5,5 milhões de toneladas anuais), sem a necessidade de iniciar um projeto do zero. Além disso, como a venda da CSA está sendo feita em paralelo à venda da unidade da Thyssen no Alabama, nos EUA, a operação ampliaria a atuação da CSN no exterior, uma ambição antiga de Benjamin Steinbruch. Hoje, a empresa está presente nos EUA e em Portugal.

A pressão de Dilma para que o BNDES ajude a CSN incomoda os italianos porque o grupo, que está no Brasil desde 1947, tem forte presença no país, por meio da Techint Engenharia e Construção, da Tenaris Confab (fabricante de tubos) e, desde novembro de 2011, da Ternium, o braço siderúrgico da organização, que comprou parte das ações da Usiminas. A Ternium também desenvolve um projeto siderúrgico no Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. A possível compra da CSA pelo grupo Techint seria uma alternativa ao projeto no Açu, na avaliação de analistas, uma vez que o projeto está enfrentando dificuldades no processo de licenciamento.

"Tanto a CSA como o projeto no Açu é de produção de placas de aço, que são importantes para a Ternium abastecer suas laminadoras no exterior. Acredito que a CSA seria um caminho alternativo para a empresa, caso o projeto do Açu não saia do papel", afirma Rafael Weber, analista de siderurgia da Geração Futuro.

Na proposta que vem sendo negociada entre CSN e BNDES, a empresa criaria uma holding, sob a qual estariam a própria CSN e a CSA. Segundo uma fonte, isso acabaria beneficiando a CSN, pois o prejuízo apurado pela CSA “anularia” parte do lucro da CSN, reduzindo os impostos devidos ao governo.  A notícia do possível negócio envolvendo BNDES na venda da CSA impulsionou os papéis ordinários (ONs, com voto) da CSN, que avançaram 2,27%, cotados a R$ 11,28 na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em Frankfurt, as ações do grupo alemão ThyssenKrupp avançaram 2,68%, para 17,97 euros, no dia de ontem.

As ambições da CSN para comprar a CSA esbarram nos interesses da Vale, que detém 26,8% da siderúrgica. A mineradora tem contrato de exclusividade de fornecimento de minério para a CSA e não vê com bons olhos a entrada da CSN. A empresa também produz o minério e poderia pressionar por uma alteração no contrato para aproveitar a produção de suas minas. Procurados, BNDES, CSN e Ternium não se manifestaram.


Nenhum comentário:

Postar um comentário