quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A polêmica na França em torno da pílula anticoncepcional de terceira geração

[O artigo traduzido abaixo foi publicado no dia 02 deste mês de janeiro pelo site francês L' Internaute.]

Cresceu de intensidade na quarta-feira, dia 2 de janeiro, o debate em torno da pílula anticoncepcional de terceira geração, usada em excesso na França segundo a ANSM (sigla em francês para Agência Nacional de Segurança de Medicamentos e de Produtos para a Saúde) que, em decorrência de uma reclamação, iniciou entendimentos com os profissionais que a prescrevem para tentar limitar o uso desse contraceptivo.

Ao mesmo tempo em que essa pílula é prescrita a quase a metade das mulheres que tomam pílula na França, o diretor-geral da ANSM, o oncologista Dominique Maraninchi, subiu o tom da discussão a partir daquele dia ao anunciar à AFP [Agência France-Presse] que considerava a possibilidade de restringir sua prescrição a certos especialistas, por causa do aumento no risco de um acidente tromboembólico para suas usuárias.

Acordos foram feitos com os profissionais de saúde que hoje prescrevem essa pílula (clínicos gerais, ginecologistas, parteiras, enfermeiras e profissionais de planejamento familiar), antes da realização de uma reunião formal com a ANSM e da adoção de medidas concretas nos próximos dias. "Esperamos uma diminuição expressiva do consumo dessas pílulas", insistiu o Dr. Maraninchi, repetindo que sua prescrição deveria ser "reservada a circunstâncias muito particulares" e jamais como primeira alternativa. Ele acrescentou que a ANSM poderia ir "ainda mais além" e deixou no ar a ameaça de retirada de mercado das pílulas de terceira e quarta gerações, se seu consumo não baixar de maneira suficientemente rápida.

O debate sobre o tema foi relançado pela apresentação, em meados de dezembro, da primeira reclamação formal na França contra esse contraceptivo, formulada por uma jovem vitimada por um acidente vascular cerebral (AVC) atribuído por ela ao uso de uma pílula de terceira geração. Segundo seus advogados, sua reclamação teria sido seguida por dezenas de outras em janeiro deste ano.

Cerca de 13.500 reclamações foram também apresentadas nos EUA contra a pílula Yaz, de quarta geração, produzida pela Bayer.

As pílulas de terceira geração (existentes desde os anos 90) e as de quarta geração, mais recentes e menos utilizadas, são atualmente receitadas a um universo de 1,5 milhão a 2 milhões de mulheres na França. A ANSM deseja que as mulheres retornem ao uso das pílulas de segunda geração, que apresentam duas vezes menos riscos de trombose venosa (flebite e embolia pulmonar) do que as de terceira geração.

Risco de demonização

Para atingir esse objetivo, a ANSM emitiu vários alertas públicos nos últimos meses antes de enviar, recentemente, uma carta a 80.000 profissionais para que reduzam suas prescrições de pílulas de terceira geração.

Mas, a incriminação dessas pílulas, que não serão mais reembolsadas pelo serviço de seguridade social a partir de setembro próximo, pode prejudicar a mensagem que se quer transmitir, segundo alguns profissionais.  "O que nos preocupa é que se está jogando a culpa sobre todas as pílulas. (...) É preciso evitar a demonização da pílula", enfatiza Véronique Séhier, membro do birô nacional de Planejamento Familiar.

"Ao se insistir no fantasma dos acidentes tromboembólicos se está enveredando no caminho da eliminação da contracepção", lamenta por seu lado a Dra. Brigitte Letombe, ex-presidente da Federação nacional de colégios de ginecologistas. Segundo ela, os riscos de trombose arterial (enfarte do miocárdio ou AVC) são os mesmos para todas as pílulas estroprogestativas [= anticoncepcionais] e dependem de fatores de risco associados como o fumo, o sobrepeso e a diabete.

Quanto ao risco de trombose venosa, ele é ampliado para todas as pílulas, com um aumento para as pílulas de terceira geração "quando se trata de uma portadora de mutações genéticas". Mas, este último risco permanece, em todas as hipóteses, inferior ao que uma gravidez representa, como a ANSM reconheceu em setembro passado.

[No site da Anvisa não encontrei nenhuma referência às pílulas anticoncepcionais mencionadas no artigo acima.]

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