sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Gênios da pintura barroca

[Para esta postagem usei a edição em português do livro "Barroco", de Hermann Bauer/Andreas Prater (Editor: Ingo F. Walther), da editora Taschen (Alemanha), 2007. Bauer doutorou-se em 1955 com uma tese sobre Rocaille; foi professor de História da Arte na Universidade de Salzburg (1969-1973) e na Universidade de Munique (1973-1994) e publicou diversos trabalhos sobre arte europeia nos séculos 16 e 17. -- Prater doutorou-se em 1974 pela Universidade de Salzburg com uma tese sobre a Capella Medicea, de Miguel Ângelo, e em 1984 foi nomeado leitor na Universidade de Munique com uma tese sobre Caravaggio. Desde 1994, é professor de História da Arte na Universidade de Freiburg (Alemanha).]

A época do Barroco, entre o Absolutismo e o Iluminismo, é reconhecida como sendo o último estilo integralmente europeu. Considerado durante muito tempo como uma mera excrescência excêntrica do Renascimento, o Barroco proporciona uma complexa e dinâmica diversidade de formas e de expressões em profundo contraste com a moderação controlada do Neoclassicismo. Os prazeres mundanos e a sensualidade, a espiritualidade religiosa e o ascetismo severo, uma vasta diversidade formal e uma ordem estrita e rigorosa caminhavam de mãos dadas. Ao mesmo tempo, a teatralidade e os cenários de sabor cênico fizeram a sua incursão no mundo da arte com o advento do ilusionismo.

O fausto, a pompa e o cerimonial cortês não eram apenas uma expressão de exuberância barroca, mas também um artifício artístico na representação de cenas de multidão. Em Roma, Caravaggio [Michelangelo Merisi da Caravaggio] conseguiu realizar uma ruptura decisiva graças à utilização dramática do chiaroscuro [claro-escuro], enquanto em Bolonha foi Carracci [Annibale Carracci] que instituiu o estilo de pintura barroca. A arte francesa era dominada pelas paisagens heróicas de Poussin, as peças noturnas de La Tour e pelo tratamento lírico da luz de Claude Lorrain. Na Espanha, vamos encontrar as tonalidades quentes de Murillo, a devoção contemplativa de Ribera e Zurbarán e os retratos da corte vigorosamente expressivos de Velásquez, enquanto a contribuição da Alemanha para a pintura barroca atingia o seu ápice com as delicadas paisagens de Adam Elsheimer.

Não houve nenhum outro período na história da arte europeia que se tenha revelado de tão difícil precisão em termos de definição acadêmica e erudita, de identificação de fenômenos característicos, de determinação da amplitude temporal e de exploração dos antecedentes espirituais e intelectuais. Desde que os estudiosos começaram a se interessar pela época barroca há um século, o seu estudo tem sido marcado por contradições e controvérsias, num grau apenas igualado pelo Maneirismo, uma expressão que foi, ela própria, cunhada numa fase bastante tardia de investigação acadêmica com o propósito de classificar a transição entre o Renascimento e o Barroco.

Na época, o termo "barroco", tal como o conhecemos, não era usado. É apenas nas oficinas e nos estúdios que vamos encontrar a palavra "barroco" para definir as linhas arqueadas do mobiliário e a dissolução dos contornos firmes na pintura. Na literatura burlesca e satírica da Itália, encontramos a palavra "barocco"empregada a partir de cerca de 1570 para significar uma ideia bizarra ou espirituosa. Foram os críticos de arte racionalistas de meados do século 18 que começaram a empregar o termo para descrever um estilo que consideravam um travesti, uma imitação burlesca, vistosa, bizarra e completamente destituída de gosto de todos os preceitos da arte.  Por volta de finais do século 18 e princípios do século 19, a expressão já havia entrado no uso comum num sentido pejorativo, pelo que sua conversão de insulto polêmico em epípeto estilístico consagrado se tornou praticamente inevitável, seguindo o mesmo padrão de idade respeitável que levou a que o Gótico, para mencionar apenas mais outro exemplo idêntico, também se convertesse num termo consagrado e neutro. De fato, foram os artistas vanguardistas do século 19 que acabaram por impor uma atitude mais positiva face ao que até então fora considerado o "estilo da decadência". As obras de Diego Velásquez (1599-1660), Rubens (1577-1640), Rembrandt (1606-1669) e Frans Hals (1591-1656) possuíam virtudes pictóricas específicas que despertaram um entusiástico interesse nos impressionistas.

[Apresento a segui algumas reproduções dos pintores mais expressivos do barroco, em sua esmagadora maioria retiradas do livro. É só clicar em cada imagem para ampliá-la.]

O sepultamento [de Jesus] - Caravaggio (óleo sobre tela) - Altar da Chiesa Nuova (Roma), talvez a obra mais monumental do pintor. O embalsamento e sepultamento do cadáver são na realidade secundários em relação à desolação de Maria, que é o ponto central da cena - (Foto: Google).

A ceia em Emaús - Caravaggio -Óleo sobre tela, National Gallery, Londres - (Foto: Google).

Pietà - Annibale Carracci - Óleo sobre tela, Museu Nacional Capodimonte, Nápoles - (Foto: Google).

Triunfo de Baco e Ariadne (detalhe de pintura de teto) - Annibale Carracci - Roma, Palácio Farnese - Procissão do noivado de Baco - (Foto: Google).

O Massacre dos Inocentes - Guido Reni - Óleo sobre tela, Pinacoteca Nazionale, Bolonha - (Foto: Googlr).

O retorno do filho pródigo - Giovanni Francesco Barbieri ("Il Guercino" - "O Vesgo") - Óleo sobre tela, Kunsthistorisches Museum, Viena - (Foto: Google).

O dinheiro do tributo - Mattia Preti - Óleo sobre tela, Pinacoteca di Brera, Milão - (Foto: Google).

Saturno conquistado por Amor, Vênus e Esperança - Simon Vouet (pintor francês - 1590/1649) - Óleo sobre tela, Musée du Berry, Bourges - (Foto: Google).

São José carpinteiro - Georges de La Tour (pintor francês, 1593-1652) - Museu do Louvre - (Foto: Google).

São Sebastião assistido por Santa Irene - Georges de La Tour - Óleo sobre tela, Staatliche Museen zu Berlin - Preussischer Kulturbesitz, Gemäldegalerie - Berlim - (Foto: Google).

O concerto - Valentin de Boulogne (considerado o maior dos caravaggistas franceses) - Óleo sobre tela, Museu do Louvre - (Foto: Google).

Retrato de Luis XIV de França - Hyacinthe Rigaud (pintor francês de origem catalã, 1659-1743) - Óleo sobre tela, Museu do Louvre - (Foto: Google).

A glorificação da cruz - Adam Elsheimer (pintor alemão, 1578-1610) - Óleo sobre cobre, Städelsches Kunstinstitut - Frankfurt - (Foto: Google).

Natureza morta - Georg Flegel (pintor alemão, 1566-1638) - Óleo sobre cobre, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek, Munique - (Foto: Google).

São Cristóvão - Jusepe de Ribera (pintor espanhol, 1591-1652) - Óleo sobre tela, Museu do Prado, Madri - (Foto: Google).

Santa Margarida - Francisco de Zurbarán (pintor espanhol, 1598-1664) - Óleo sobre tela, National Gallery, Londres - (Foto: Google).

O pequeno vendedor de frutas - Bartolomé Esteban Murillo (pintor espanhol, 1617-1682) - Óleo sobre tela, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek, Munique - (Foto: Google).

As meninas (as damas de honra) - Diego Velázquez (pintor espanhol, 1599-1660) - Óleo sobre tela, Museu do Prado, Madri - A obra-prima de Velázquez. No lado esquerdo do quadro, atrás da dama de honra, está o próprio pintor. Por cima da cabeça da infanta, vê-se o casal governante refletido no espelho - (Foto: Google).

Papa Inocente X - Diego Velázquez - Óleo sobre tela, Galeria Doria Pamphili, Roma - (Foto: Google).

Rubens com a sua primeira mulher, Isabella Brant, no caramanchão de madressilva - Peter Paul Rubens (pintor flamengo, 1577-1640) - Óleo sobre tela, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek, Munique - (Foto: Google).

 Autorretrato - Peter Paul Rubens - Óleo sobre tela (1623), National Gallery of Australia, Canberra - (Foto: Google).

O duo - Hendrick Terbruggen (pintor holandês, 1588-1629) - Óleo sobre tela, Museu do Louvre - (Foto: Google).

O sátiro e a família do agricultor - Jacob Jordaens (pintor flamengo, 1593-1687) - Óleo sobre tela, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek, Munique - (Foto: Google).

 Susanna e os anciãos - Anthony van Dyck (o mais importante pintor flamengo depois de Rubens, 1599-1641) - Óleo sobre tela, Bayerische Staatsgemäldesammlungen, Alte Pinakothek, Munique - (Foto: Google).

 A ronda da noite - Rembrandt Harmensz Van Rijn (pintor holandês, 1606-1669) - Provavelmente a mais famosa e a mais controversa pintura de Rembrandt - Óleo sobre tela, Rijksmuseum, Amsterdã - (Foto: Google).

A aula de anatomia - Rembrandt - Outra tela famosa do pintor (1632) - Óleo sobre tela, Mauritshuis, Haia, Holanda - (Foto: Google).

 A cozinheira - Jan Vermeer (pintor holandês, 1632-1675) - Óleo sobre tela, Rijksmuseum, Amsterdã - (Foto: Google).

Alegoria da pintura (o estúdio do artista) - Jan Vermeer - O artista está pintando a coroa de louros usada pelo modelo, que é uma mulher que tem uma trombeta e um livro nas mãos, que a identificam como Fama, a incarnação alegórica da fama - Kunsthistorisches Museum, Viena - (Foto: Google). 

Natureza morta - Willem Kalf (pintor holandês, 1619-1693) - Óleo sobre tela, Museu Hermitage, São Petersburgo - (Foto: Google).


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