quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
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Pesquisadores brasileiros lançam gel dental com flúor adequado às crianças
Os dentistas enfrentam um dilema para recomendar um gel dental com a concentração ideal de flúor para crianças entre 11 meses e 7 anos –
quando o esmalte dos dentes está em formação. Isso porque os géis dentais convencionais possuem uma concentração de
mil a 1,1 mil partes por milhão (ppm) de flúor que, se ingerido em
excesso por crianças dessa faixa etária, pode causar um problema
caracterizado por pequenas manchas esbranquiçadas – e até mesmo
amarronzadas – nos dentes: a fluorose dentária. Já os géis dentais sem ou com 500 a 750 ppp de flúor em suas formulações
– que justamente poderiam evitar esse problema –, não são tão
eficientes contra as cáries.
“As crianças pequenas, ao escovarem os dentes com um gel convencional, engolem uma grande quantidade do flúor presente na composição do produto, o que pode causar a fluorose dentária”, explicou o cirurgião dentista Fabiano Vieira Vilhena. “Por outro lado, elas não devem usar um gel dental com baixa concentração de flúor porque correm o risco de desenvolver cáries”, disse à Agência FAPESP.
Na tentativa de encontrar uma solução para atacar esses dois problemas, Vilhena começou a desenvolver durante estudo de doutorado, realizado com Bolsa da FAPESP, um gel dental acidulado com a composição de flúor mais adequada para crianças e com maior proteção contra cáries. Após passar por testes clínicos e aprimoramentos ao longo de mais de cinco anos, o produto será lançado durante o 1º Congresso Interdisciplinar da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), que ocorre entre os dias 31 de janeiro e 3 de fevereiro, em São Paulo. “Encontramos a fórmula perfeita para maximizar o efeito anticárie e, ao mesmo tempo, minimizar os riscos da ingestão de flúor pelas crianças. Já temos pedidos da ordem de meio milhão de unidades do produto até fevereiro”, contou Vilhena.
pH reduzido
Desenvolvido em conjunto com a professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), campus de Bauru, e orientadora de Vilhena, o produto, batizado de “Novo gel dental do Escovinha sabor bubble gum”, tem 550 ppm de flúor em sua composição.
A principal diferença dele em relação aos géis dentais com baixa concentração do composto encontrados no mercado, no entanto, está no índice de acidez (pH). Enquanto os géis dentais com baixa concentração de flúor convencionais têm pH neutro – em torno de 7 –, o novo produto tem pH reduzido, de 4,5. Uma diferença que, segundo Vilhena, é a responsável pelo produto conferir maior proteção contra as cáries dentárias, com menor quantidade de flúor. “Muitos estudos já haviam comprovado que uma formulação de 550 ppm de flúor em pH neutro tem efeito cariogênico [anticárie] limitado. Porém, até então não tinham sido realizados estudos com a mesma formulação em pH reduzido, de até 4,5, por exemplo, que é o máximo permitido para géis dentais”, explicou.
O pH reduzido do gel dental promove uma reação química instantânea na boca na qual o esmalte do dente libera na saliva um composto fixado nele, chamado hidróxiapatita, formado por cálcio e fosfato. Com isso, o esmalte dos dentes fica mais fraco por alguns segundos. O flúor presente no dentifrício, contudo, sequestra rapidamente esses dois minerais da saliva e se gruda juntamente com eles no esmalte dos dentes, onde formam um novo composto, chamado hidróxiapatita fluoretada. “O composto, formado por cálcio, fosfato e flúor, é muito mais resistente contra o ataque ácido das bactérias causadoras de cáries”, avaliou Vilhena.
Comprovação clínica
Para testar e comprovar a eficácia da fórmula do produto, Vilhena realizou no período de 2006 a 2008 um estudo clínico com a participação inicial de mais de mil crianças de 4 anos ou mais em São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde a concentração de flúor na água que abastece o município situa-se entre 0,6 a 0,8 ppm. Publicados em 2009 e 2010 na revista Caries Research, os resultados do estudo demonstraram que a fórmula do produto tem efeito anticárie similar a de um gel dental convencional, com concentração de 1,1 mil ppm de flúor [para artigo em 2010, ver aqui; para 2009, ver aqui]. Além disso, o estudo clínico também indicou que o produto é capaz de remineralizar mais lesões com manchas brancas nos dentes – que sinalizam um processo inicial de formação de cárie – do que um gel dental convencional.
As constatações animadoras dos testes clínicos fizeram Vilhena continuar a pesquisar o gel dental por meio da empresa Oralls, instalada atualmente no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Em 2009, a empresa obteve apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, para realizar novos estudos clínicos de eficácia do gel dental com crianças entre 2 e 4 anos em Bauru, onde a concentração de flúor na água é equivalente à de São José dos Campos, e João Pessoa (PB), onde há menos de 0,2 ppm de flúor disponível na água.
A pesquisa revelou que as crianças que escovaram os dentes com o novo produto por seis meses apresentaram três vezes mais flúor nos reservatórios bucais (como a bochecha e os dentes) do que as que usaram creme dental convencional durante o mesmo período. E que o flúor presente no biofilme dentário do primeiro grupo de crianças é capaz de regular o desenvolvimento bacteriano. “Quando um processo de cárie começa a se instalar, o flúor disponível nos reservatórios da boca é liberado para tentar conter o avanço do ataque das bactérias”, explica Vilhena. “Os testes clínicos demonstraram que o gel dental acidulado com pH reduzido foi capaz de disponibilizar mais flúor nos reservatórios bucais para regredir as cáries do que um creme dental convencional”, comparou.
Para todas as idades
Segundo Vilhena, o gel dental acidulado é mais indicado para crianças na faixa etária de 11 meses até 9 anos, para que obtenham os benefícios de prevenção contra cáries e fluorose. Mas também pode ser usada por pessoas de todas as idades. A fórmula do produto resultou no depósito de uma patente no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para a USP, onde a pesquisa foi realizada. Para comercializá-lo, a Oralls celebrou um contrato de licenciamento com a Agência USP de Inovação. O produto será comercializado em supermercados e drogarias do país.
Os artigos Low-fluoride acidic dentifrice: a randomized clinical trial in a fluoridated area (doi:10.1159/000320364) e The effect of different fluoride concentrations and pH of dentifrices on plaque and nail fluoride levels in young children (doi:10.1159/000211717), de Vilhena e outros, podem ser lido por assinantes da Caries Research em http://content.karger.com/ProdukteDB/produkte.asp?typ=pdf&doi=320364 e http://content.karger.com/ProdukteDB/produkte.asp?typ=pdf&doi=211717.
“As crianças pequenas, ao escovarem os dentes com um gel convencional, engolem uma grande quantidade do flúor presente na composição do produto, o que pode causar a fluorose dentária”, explicou o cirurgião dentista Fabiano Vieira Vilhena. “Por outro lado, elas não devem usar um gel dental com baixa concentração de flúor porque correm o risco de desenvolver cáries”, disse à Agência FAPESP.
Na tentativa de encontrar uma solução para atacar esses dois problemas, Vilhena começou a desenvolver durante estudo de doutorado, realizado com Bolsa da FAPESP, um gel dental acidulado com a composição de flúor mais adequada para crianças e com maior proteção contra cáries. Após passar por testes clínicos e aprimoramentos ao longo de mais de cinco anos, o produto será lançado durante o 1º Congresso Interdisciplinar da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), que ocorre entre os dias 31 de janeiro e 3 de fevereiro, em São Paulo. “Encontramos a fórmula perfeita para maximizar o efeito anticárie e, ao mesmo tempo, minimizar os riscos da ingestão de flúor pelas crianças. Já temos pedidos da ordem de meio milhão de unidades do produto até fevereiro”, contou Vilhena.
pH reduzido
Desenvolvido em conjunto com a professora Marília Afonso Rabelo Buzalaf, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), campus de Bauru, e orientadora de Vilhena, o produto, batizado de “Novo gel dental do Escovinha sabor bubble gum”, tem 550 ppm de flúor em sua composição.
A principal diferença dele em relação aos géis dentais com baixa concentração do composto encontrados no mercado, no entanto, está no índice de acidez (pH). Enquanto os géis dentais com baixa concentração de flúor convencionais têm pH neutro – em torno de 7 –, o novo produto tem pH reduzido, de 4,5. Uma diferença que, segundo Vilhena, é a responsável pelo produto conferir maior proteção contra as cáries dentárias, com menor quantidade de flúor. “Muitos estudos já haviam comprovado que uma formulação de 550 ppm de flúor em pH neutro tem efeito cariogênico [anticárie] limitado. Porém, até então não tinham sido realizados estudos com a mesma formulação em pH reduzido, de até 4,5, por exemplo, que é o máximo permitido para géis dentais”, explicou.
O pH reduzido do gel dental promove uma reação química instantânea na boca na qual o esmalte do dente libera na saliva um composto fixado nele, chamado hidróxiapatita, formado por cálcio e fosfato. Com isso, o esmalte dos dentes fica mais fraco por alguns segundos. O flúor presente no dentifrício, contudo, sequestra rapidamente esses dois minerais da saliva e se gruda juntamente com eles no esmalte dos dentes, onde formam um novo composto, chamado hidróxiapatita fluoretada. “O composto, formado por cálcio, fosfato e flúor, é muito mais resistente contra o ataque ácido das bactérias causadoras de cáries”, avaliou Vilhena.
Comprovação clínica
Para testar e comprovar a eficácia da fórmula do produto, Vilhena realizou no período de 2006 a 2008 um estudo clínico com a participação inicial de mais de mil crianças de 4 anos ou mais em São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde a concentração de flúor na água que abastece o município situa-se entre 0,6 a 0,8 ppm. Publicados em 2009 e 2010 na revista Caries Research, os resultados do estudo demonstraram que a fórmula do produto tem efeito anticárie similar a de um gel dental convencional, com concentração de 1,1 mil ppm de flúor [para artigo em 2010, ver aqui; para 2009, ver aqui]. Além disso, o estudo clínico também indicou que o produto é capaz de remineralizar mais lesões com manchas brancas nos dentes – que sinalizam um processo inicial de formação de cárie – do que um gel dental convencional.
As constatações animadoras dos testes clínicos fizeram Vilhena continuar a pesquisar o gel dental por meio da empresa Oralls, instalada atualmente no Parque Tecnológico de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Em 2009, a empresa obteve apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da FAPESP, para realizar novos estudos clínicos de eficácia do gel dental com crianças entre 2 e 4 anos em Bauru, onde a concentração de flúor na água é equivalente à de São José dos Campos, e João Pessoa (PB), onde há menos de 0,2 ppm de flúor disponível na água.
A pesquisa revelou que as crianças que escovaram os dentes com o novo produto por seis meses apresentaram três vezes mais flúor nos reservatórios bucais (como a bochecha e os dentes) do que as que usaram creme dental convencional durante o mesmo período. E que o flúor presente no biofilme dentário do primeiro grupo de crianças é capaz de regular o desenvolvimento bacteriano. “Quando um processo de cárie começa a se instalar, o flúor disponível nos reservatórios da boca é liberado para tentar conter o avanço do ataque das bactérias”, explica Vilhena. “Os testes clínicos demonstraram que o gel dental acidulado com pH reduzido foi capaz de disponibilizar mais flúor nos reservatórios bucais para regredir as cáries do que um creme dental convencional”, comparou.
Para todas as idades
Segundo Vilhena, o gel dental acidulado é mais indicado para crianças na faixa etária de 11 meses até 9 anos, para que obtenham os benefícios de prevenção contra cáries e fluorose. Mas também pode ser usada por pessoas de todas as idades. A fórmula do produto resultou no depósito de uma patente no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) para a USP, onde a pesquisa foi realizada. Para comercializá-lo, a Oralls celebrou um contrato de licenciamento com a Agência USP de Inovação. O produto será comercializado em supermercados e drogarias do país.
Os artigos Low-fluoride acidic dentifrice: a randomized clinical trial in a fluoridated area (doi:10.1159/000320364) e The effect of different fluoride concentrations and pH of dentifrices on plaque and nail fluoride levels in young children (doi:10.1159/000211717), de Vilhena e outros, podem ser lido por assinantes da Caries Research em http://content.karger.com/ProdukteDB/produkte.asp?typ=pdf&doi=320364 e http://content.karger.com/ProdukteDB/produkte.asp?typ=pdf&doi=211717.
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
O grande predador mimado
[Em março de 2011 fiz uma postagem sobre ser o gato doméstico o principal inimigo dos pássaros. Ontem, o Globo deu números impressionantes sobre a ação predatória dos gatos nos EUA e no mundo, conforme texto a seguir.]
Levados a praticamente todas as regiões do planeta pelo homem, o gato conquistou uma legião de adoradores e presas. O felino está entre as cem espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos, aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista “Nature Communications”, dedicou-se a este levantamento. E mostra que os bichanos matam anualmente entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e entre 6,9 bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados Unidos.
Segundo a estimativa, cada gato americano mata 1.443 bichos por ano — ou 3,95 por dia. O número de aves predadas foi considerado o mais preocupante. Seria quatro vezes maior do que os registrados até hoje. Aves nativas do país, como o pisco-de-peito-vermelho, estão entre as mais ameaçadas pela fome felina. Na área continental dos EUA, há mais animais mortos pelos felinos do que por atropelamento, colisões com prédios ou envenenamento.
"Os gatos são as maiores ameaças à fauna americana", revela Pete Marra, pesquisador do Instituto Smithsonian de Conservação e Biologia (SCBI) e coautor do estudo, que contou com a colaboração do Serviço de Pesca e Fauna dos EUA. "Esperamos que a grande faixa de mortalidade indicada por nosso levantamento convença os donos de gatos a mantê-los dentro de casa e alimentados".
Gatos selvagens matam três vezes mais
Além dos pássaros, a dieta dos bichanos abrange de ratos a coelhos, passando por esquilos. Os gatos ferais — que vivem soltos na natureza e dificilmente se adaptariam ao contato com humanos — são os que mais dependem da caça. Eles predariam até três vezes mais animais do que os gatos com dono. Marra, porém, ressalta que a mortalidade provocada por felinos urbanos também é digna de apreensão. "Este levantamento deve servir de alerta para políticos, autoridades ligadas à preservação de animais e a cientistas para o grande perigo causado por estes felinos", enfatiza.
Em regiões da Califórnia e do Canadá, por exemplo, gatos não podem viver fora de casa. No Brasil, porém, nenhuma política semelhante chama a atenção, mesmo com o crescimento anual de 8% da população de felinos. O país tem um bichano para cada nove pessoas. Ironicamente, as medidas restritivas são maiores contra o arquirrival dos felinos. Florianópolis chegou a aprovar um programa estipulando que cada cachorro deveria ser cadastrado na prefeitura e paramentado com um chip. Aqueles que não estivessem com o equipamento poderiam ser sacrificados. A lei não pegou.
Bióloga do Instituto Hórus, especializada em conservação ambiental e no estudo de espécies invasoras, Michele Dechoum condena o descaso brasileiro com a matança promovida pelos bichanos. Para ela, a prioridade seria adotar medidas de controle do acesso a felinos em áreas de conservação ambiental e nas zonas de amortecimento — a faixa de aproximadamente dez quilômetros ao redor desses ecossistemas protegidos. "Tem gente que não dá comida e acha que o gato se vira, que é independente", lembra. "Quando falamos de manejo de fauna invasora, o principal obstáculo é a oposição da opinião pública. Não vou condenar o animal, mas é importante conscientizar o dono sobre o impacto que o bicho pode provocar.
Como a diversidade de espécies é maior aqui do que nos EUA, estima-se que os felinos brasileiros teriam à sua disposição uma variedade de presas ainda mais relevante. "É difícil dizer se os gatos brasileiros predam os mesmos animais, e em uma quantidade maior, do que os americanos", lamenta Michele.
O Reino Unido recomenta uma medida simples que reduziria o sucesso das emboscadas felinas — e, assim, o impacto dos bichanos à biodiversidade. De acordo com a Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade contra Animais, uma coleira com um sino é suficiente para os gatos matarem 41% menos aves e 34% menos mamíferos do que os felinos sem o artefato.
[Espero e torço para que minha vizinha do lado e Cora Rónai tenham lido essa reportagem do Globo. A primeira, porque inferniza a minha vida com seus cinco ou seis gatos e gatas. A segunda, porque tem uma paixão doentia e insuportável por gatos. O gato é um intruso e um bicho superchato, porque não vive recluso como o cachorro e circula livremente. E gata no cio é um inferno!
Levados a praticamente todas as regiões do planeta pelo homem, o gato conquistou uma legião de adoradores e presas. O felino está entre as cem espécies invasoras que causam maior estrago no mundo. Suas garras contribuíram, mesmo que indiretamente, para a extinção de 33 mamíferos, aves e répteis em ilhas oceânicas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Em áreas continentais, porém, seu impacto sempre foi negligenciado. Um estudo, publicado esta semana pela revista “Nature Communications”, dedicou-se a este levantamento. E mostra que os bichanos matam anualmente entre 1,4 bilhão e 3,7 bilhões de pássaros e entre 6,9 bilhões e 20,7 bilhões de mamíferos apenas nos Estados Unidos.
Segundo a estimativa, cada gato americano mata 1.443 bichos por ano — ou 3,95 por dia. O número de aves predadas foi considerado o mais preocupante. Seria quatro vezes maior do que os registrados até hoje. Aves nativas do país, como o pisco-de-peito-vermelho, estão entre as mais ameaçadas pela fome felina. Na área continental dos EUA, há mais animais mortos pelos felinos do que por atropelamento, colisões com prédios ou envenenamento.
"Os gatos são as maiores ameaças à fauna americana", revela Pete Marra, pesquisador do Instituto Smithsonian de Conservação e Biologia (SCBI) e coautor do estudo, que contou com a colaboração do Serviço de Pesca e Fauna dos EUA. "Esperamos que a grande faixa de mortalidade indicada por nosso levantamento convença os donos de gatos a mantê-los dentro de casa e alimentados".
Gatos selvagens matam três vezes mais
Além dos pássaros, a dieta dos bichanos abrange de ratos a coelhos, passando por esquilos. Os gatos ferais — que vivem soltos na natureza e dificilmente se adaptariam ao contato com humanos — são os que mais dependem da caça. Eles predariam até três vezes mais animais do que os gatos com dono. Marra, porém, ressalta que a mortalidade provocada por felinos urbanos também é digna de apreensão. "Este levantamento deve servir de alerta para políticos, autoridades ligadas à preservação de animais e a cientistas para o grande perigo causado por estes felinos", enfatiza.
Em regiões da Califórnia e do Canadá, por exemplo, gatos não podem viver fora de casa. No Brasil, porém, nenhuma política semelhante chama a atenção, mesmo com o crescimento anual de 8% da população de felinos. O país tem um bichano para cada nove pessoas. Ironicamente, as medidas restritivas são maiores contra o arquirrival dos felinos. Florianópolis chegou a aprovar um programa estipulando que cada cachorro deveria ser cadastrado na prefeitura e paramentado com um chip. Aqueles que não estivessem com o equipamento poderiam ser sacrificados. A lei não pegou.
Bióloga do Instituto Hórus, especializada em conservação ambiental e no estudo de espécies invasoras, Michele Dechoum condena o descaso brasileiro com a matança promovida pelos bichanos. Para ela, a prioridade seria adotar medidas de controle do acesso a felinos em áreas de conservação ambiental e nas zonas de amortecimento — a faixa de aproximadamente dez quilômetros ao redor desses ecossistemas protegidos. "Tem gente que não dá comida e acha que o gato se vira, que é independente", lembra. "Quando falamos de manejo de fauna invasora, o principal obstáculo é a oposição da opinião pública. Não vou condenar o animal, mas é importante conscientizar o dono sobre o impacto que o bicho pode provocar.
Como a diversidade de espécies é maior aqui do que nos EUA, estima-se que os felinos brasileiros teriam à sua disposição uma variedade de presas ainda mais relevante. "É difícil dizer se os gatos brasileiros predam os mesmos animais, e em uma quantidade maior, do que os americanos", lamenta Michele.
O Reino Unido recomenta uma medida simples que reduziria o sucesso das emboscadas felinas — e, assim, o impacto dos bichanos à biodiversidade. De acordo com a Sociedade Real para a Prevenção de Crueldade contra Animais, uma coleira com um sino é suficiente para os gatos matarem 41% menos aves e 34% menos mamíferos do que os felinos sem o artefato.
[Espero e torço para que minha vizinha do lado e Cora Rónai tenham lido essa reportagem do Globo. A primeira, porque inferniza a minha vida com seus cinco ou seis gatos e gatas. A segunda, porque tem uma paixão doentia e insuportável por gatos. O gato é um intruso e um bicho superchato, porque não vive recluso como o cachorro e circula livremente. E gata no cio é um inferno!
Os gatos são uma peste, no mundo inteiro. A prefeitura de Roma quer tirar gatos de algumas ruínas históricas, que estão sendo danificadas por eles, mas estão enfrentando um ferrenha oposição de pessoas e entidades amantes desses animais para mim insuportáveis. Minha sugestão é que o Código Penal brasileiro inclua entre as punições previstas em lei -- a começar pelos réus do mensalão -- um mês de solitária ao lado de um bando de gatas no cio. O grau de reincidência dessa marginália cairia p'ra zero.]
Um gato doméstico carregando sua vítima - (Foto: The New York Times).
Gato na Piazza Argentina, em Roma - (Foto: The New York Times).
Justiça holandesa condena Shell por contaminar o delta do Níger
[As empresas de petróleo continuam fazendo enormes estragos ambientais mundo afora. Só para citar poucos exemplos: o vazamento do petroleiro Exxon Valdez no Alasca em 1989; - o gigantesco derrame de óleo em poço da BP no Golfo do México em 2010; - vazamento de óleo na Bacia de Santos pela Petrobras no início de fevereiro de 2012; - vazamento de óleo na Bacia de Campos pela Chevron em novembro de 2011; - poluição da Baía da Guanabara pela Petrobras via Refinaria Duque de Caxias (Reduc) em agosto de 2011 (parece que a Reduc continua sendo um foco de poluição na região). O jornal espanhol El País noticia hoje (e traduzo abaixo) que a justiça holandesa condenou a Shell pela poluição do delta do rio Níger -- esta poluição foi assunto de postagem minha em agosto de 2011.]
A multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell foi condenada pela justiça holandesa por poluir o delta do rio Níger. É a primeira vez que a empresa é obrigada pela justiça nacional a indenizar as vítimas de um derramamento ocorrido em outro país. Segundo os juízes de Amsterdã, a Shell não fez o suficiente para evitar as sabotagens de alguns oleodutos que cruzam algumas localidades nigerianas. Em uma delas, Ikot Ada Udo, "a tubulação podia ser aberta com uma chave inglesa", diz a sentença. O autor da ação, um camponês local, será indenizado porque perdeu seu meio de subsistência. Não se conhece ainda o montante da indenização. O tribunal absolveu a Shell de quatro outras demandas similares, tendo em vista que efetivamente controlou os vazamentos de óleo. [Enquanto não se souber o valor da indenização -- e, provavelmente, mesmo depois que ele for anunciado -- isso para a Shell não é nada. Para se ter uma ideia da importância do rio Níger, basta saber que ele é o terceiro mais longo rio da África e o principal da África Ocidental, com 4.180 km de extensão e uma bacia hidrográfica de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados. O Níger cruza cinco países: Guiné, Mali, Níger, Benim e Nigéria.]
Os outros quatro demandantes, camponeses e pescadores nigerianos, acionaram a justiça holandesa com a ajuda da Millieudefensie, o ramo nigeriano da ONG Amigos da Terra. Durante a audiência no tribunal, em outubro de 2012, argumentaram que os vazamentos de óleo ocorridos entre 2004 e 2007 "destruíram a mata e mataram os peixes". Originários das províncias de Goi, Oruma e Ikot Ada Udo, ficaram também sem moradia porque o mau cheiro impossibilita uma vida normal na região.
Durante os quatro anos de duração do processo, a Shell argumentou que sua sede em Haia não tinha controle efetivo sobre os desastres provocados pela subsidiária da Nigéria [espero que o jornal não tenha feito confusão entre Níger e Nigéria, dois países distintos e fronteiriços]. Ela contestou também a competência de tribunais holandeses em pronunciar-se sobre suposto delito ambiental ocorrido fora das fronteiras da Holanda. Os juízes desconheceram essas duas alegações e deram sequência ao processo.
Para a Millieudefensie, a poluição do delta do Níger é uma catástrofe silenciosa. Em vez de um derramamento espetacular, como o do petroleiro Exxon Valdez no Alasca ou da plataforma da BP no Golfo do México, o rio africano tem recebido milhões de litros de óleo desde 1950 [o PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, estima que a despoluição completa do Níger levará de 25 a 30 anos -- ver postagem indicada no início deste texto]. A maior parte dos vazamentos se deve à precariedade dos dutos e à pouca vigilância que se faz deles. "Isso permite supor que pode haver, ou ser provocado um rompimento", asseguram seus porta-vozes. A Shell insiste em que o problema decorre de sabotagem e refinação ilegal, o que lhe custa cerca de 150.000 barris por dia.
[Se houvesse lógica na Justiça e na legislação nossas, e a decisão da justiça holandesa virasse paradigma, a Petrobras deveria ficar de molho para eventuais danos que fizesse no exterior. Mas, ainda teremos muita poluição pela frente até que isso aconteça.]
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A multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell foi condenada pela justiça holandesa por poluir o delta do rio Níger. É a primeira vez que a empresa é obrigada pela justiça nacional a indenizar as vítimas de um derramamento ocorrido em outro país. Segundo os juízes de Amsterdã, a Shell não fez o suficiente para evitar as sabotagens de alguns oleodutos que cruzam algumas localidades nigerianas. Em uma delas, Ikot Ada Udo, "a tubulação podia ser aberta com uma chave inglesa", diz a sentença. O autor da ação, um camponês local, será indenizado porque perdeu seu meio de subsistência. Não se conhece ainda o montante da indenização. O tribunal absolveu a Shell de quatro outras demandas similares, tendo em vista que efetivamente controlou os vazamentos de óleo. [Enquanto não se souber o valor da indenização -- e, provavelmente, mesmo depois que ele for anunciado -- isso para a Shell não é nada. Para se ter uma ideia da importância do rio Níger, basta saber que ele é o terceiro mais longo rio da África e o principal da África Ocidental, com 4.180 km de extensão e uma bacia hidrográfica de mais de 2 milhões de quilômetros quadrados. O Níger cruza cinco países: Guiné, Mali, Níger, Benim e Nigéria.]
Os outros quatro demandantes, camponeses e pescadores nigerianos, acionaram a justiça holandesa com a ajuda da Millieudefensie, o ramo nigeriano da ONG Amigos da Terra. Durante a audiência no tribunal, em outubro de 2012, argumentaram que os vazamentos de óleo ocorridos entre 2004 e 2007 "destruíram a mata e mataram os peixes". Originários das províncias de Goi, Oruma e Ikot Ada Udo, ficaram também sem moradia porque o mau cheiro impossibilita uma vida normal na região.
Durante os quatro anos de duração do processo, a Shell argumentou que sua sede em Haia não tinha controle efetivo sobre os desastres provocados pela subsidiária da Nigéria [espero que o jornal não tenha feito confusão entre Níger e Nigéria, dois países distintos e fronteiriços]. Ela contestou também a competência de tribunais holandeses em pronunciar-se sobre suposto delito ambiental ocorrido fora das fronteiras da Holanda. Os juízes desconheceram essas duas alegações e deram sequência ao processo.
Para a Millieudefensie, a poluição do delta do Níger é uma catástrofe silenciosa. Em vez de um derramamento espetacular, como o do petroleiro Exxon Valdez no Alasca ou da plataforma da BP no Golfo do México, o rio africano tem recebido milhões de litros de óleo desde 1950 [o PNUMA, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, estima que a despoluição completa do Níger levará de 25 a 30 anos -- ver postagem indicada no início deste texto]. A maior parte dos vazamentos se deve à precariedade dos dutos e à pouca vigilância que se faz deles. "Isso permite supor que pode haver, ou ser provocado um rompimento", asseguram seus porta-vozes. A Shell insiste em que o problema decorre de sabotagem e refinação ilegal, o que lhe custa cerca de 150.000 barris por dia.
[Se houvesse lógica na Justiça e na legislação nossas, e a decisão da justiça holandesa virasse paradigma, a Petrobras deveria ficar de molho para eventuais danos que fizesse no exterior. Mas, ainda teremos muita poluição pela frente até que isso aconteça.]
Um camponês nigeriano mostra os efeitos do derramamento perto de Goi, em uma imagem de arquivo. - (Foto: Marten Van Dijl/EFE).
Uma imagem da poluição na região denominada Ogonilandia, no sul da Nigéria (Foto: AP/Sunday Alamba).
Outra imagem na Ogonilandia (Foto: AFP).
Nesta foto, de março de 2011, o óleo aparece como uma mancha na superfície de um rio, perto de uma refinaria ilegal em Ogonilandia.
Animais pastando em uma ilha do rio Níger, como pode ser visto de uma ponte na capital do Níger, Niamey - (Foto: Wikipedia).
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Governo quer usar BNDES na compra de siderúrgica problemática
[Quem se der ao simples trabalho de digitar "CSA" no link de busca do site do Globo, por exemplo, encontrará notícias tais como:
Com o objetivo de criar um grande grupo siderúrgico nacional, o BNDES recebeu aval do governo federal e deu início às negociações para entrar numa operação que vai permitir à CSN comprar a parte da alemã ThyssenKrupp na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), localizada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. A confirmação é de fontes do alto escalão do Executivo, que destacam que as discussões estão apenas começando. Reportagem do jornal “Valor Econômico” desta terça-feira informa que o aporte do banco federal deverá chegar a R$ 4 bilhões. Técnicos das áreas envolvidas afirmam que o valor será menor, sem adiantarem a cifra.
A ideia do governo ao apoiar o negócio é ficar com o controle da CSA, hoje dos alemães, pois outras empresas brasileiras importantes do setor já estão nas mãos de estrangeiros. A antiga CST e a Acesita estão em poder da anglo-indiana ArcelorMittal, e a Usiminas, desde o ano passado, é comandada por argentinos e japoneses. Nos dois casos, a CSN tentou comprar os ativos, mas não conseguiu. Assim, ao apoiar a CSN na disputa pela CSA, o governo seguiria na estratégia de ajudar na criação de grandes grupos nacionais. Operações semelhantes já foram feitas pelo BNDES no setor de frigoríficos, por exemplo. As negociações, no entanto, estão sendo feitas de forma reservada pelo governo, porque as empresas têm ações na bolsa e a divulgação de que o BNDES vai entrar no negócio pode inflar o valor dos papéis, o que forçará o banco a elevar o valor dos aportes.
Em maio do ano passado, a Thyssen comunicou oficialmente a intenção de vender sua fatia na CSA, projeto que acumulou problemas para a gigante alemã. A siderúrgica de Santa Cruz recebeu multas por questões ambientais e, ainda, foi alvo de investigação por trazer trabalhadores chineses para trabalhos simples de construção civil.
CSA é opção ao Porto do Açu
- Ministério Público investiga aval à operação de alto-forno da CSA
- Prefeitura do Rio ordena interdição da CSA por falta de licença
- Oferta de aquisição da CSA derruba ações da CSN
- Siderúrgica CSA é multada em R$10,5 mi por problemas ambientais
- Moradores denunciam nova chuva de prata nos arredores da CSA
- CSA vira elefante branco, está à venda e pode fechar alto-forno
- Pressionada, ThyssenKrupp estaria disposta a vender CSA por menos de 5 bilhões de euros
Com o objetivo de criar um grande grupo siderúrgico nacional, o BNDES recebeu aval do governo federal e deu início às negociações para entrar numa operação que vai permitir à CSN comprar a parte da alemã ThyssenKrupp na Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), localizada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. A confirmação é de fontes do alto escalão do Executivo, que destacam que as discussões estão apenas começando. Reportagem do jornal “Valor Econômico” desta terça-feira informa que o aporte do banco federal deverá chegar a R$ 4 bilhões. Técnicos das áreas envolvidas afirmam que o valor será menor, sem adiantarem a cifra.
A ideia do governo ao apoiar o negócio é ficar com o controle da CSA, hoje dos alemães, pois outras empresas brasileiras importantes do setor já estão nas mãos de estrangeiros. A antiga CST e a Acesita estão em poder da anglo-indiana ArcelorMittal, e a Usiminas, desde o ano passado, é comandada por argentinos e japoneses. Nos dois casos, a CSN tentou comprar os ativos, mas não conseguiu. Assim, ao apoiar a CSN na disputa pela CSA, o governo seguiria na estratégia de ajudar na criação de grandes grupos nacionais. Operações semelhantes já foram feitas pelo BNDES no setor de frigoríficos, por exemplo. As negociações, no entanto, estão sendo feitas de forma reservada pelo governo, porque as empresas têm ações na bolsa e a divulgação de que o BNDES vai entrar no negócio pode inflar o valor dos papéis, o que forçará o banco a elevar o valor dos aportes.
Em maio do ano passado, a Thyssen comunicou oficialmente a intenção de vender sua fatia na CSA, projeto que acumulou problemas para a gigante alemã. A siderúrgica de Santa Cruz recebeu multas por questões ambientais e, ainda, foi alvo de investigação por trazer trabalhadores chineses para trabalhos simples de construção civil.
CSA é opção ao Porto do Açu
A preferência do governo federal pela CSN na disputa pela siderúrgica,
controlada pela ThyssenKrupp, contudo, está incomodando o grupo Techint,
um dos interessados na compra da siderúrgica. Segundo fontes, o grupo
ítalo-argentino estaria negociando uma oferta que não inclui qualquer
aporte ou financiamento oficial. As propostas terão de ser oficialmente
apresentadas em 15 de fevereiro.
Para a CSN, a compra da CSA atenderia sua intenção de expandir a
produção de aço, uma vez que a usina de Volta Redonda está operando
perto da capacidade máxima (cerca de 5,5 milhões de toneladas anuais),
sem a necessidade de iniciar um projeto do zero. Além disso, como a
venda da CSA está sendo feita em paralelo à venda da unidade da Thyssen
no Alabama, nos EUA, a operação ampliaria a atuação da CSN no exterior,
uma ambição antiga de Benjamin Steinbruch. Hoje, a empresa está presente
nos EUA e em Portugal.
A pressão de Dilma para que o BNDES ajude a CSN incomoda os italianos porque o grupo, que está no Brasil desde 1947, tem forte presença no país, por meio da Techint Engenharia e Construção, da Tenaris Confab (fabricante de tubos) e, desde novembro de 2011, da Ternium, o braço siderúrgico da organização, que comprou parte das ações da Usiminas. A Ternium também desenvolve um projeto siderúrgico no Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. A possível compra da CSA pelo grupo Techint seria uma alternativa ao projeto no Açu, na avaliação de analistas, uma vez que o projeto está enfrentando dificuldades no processo de licenciamento.
A pressão de Dilma para que o BNDES ajude a CSN incomoda os italianos porque o grupo, que está no Brasil desde 1947, tem forte presença no país, por meio da Techint Engenharia e Construção, da Tenaris Confab (fabricante de tubos) e, desde novembro de 2011, da Ternium, o braço siderúrgico da organização, que comprou parte das ações da Usiminas. A Ternium também desenvolve um projeto siderúrgico no Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. A possível compra da CSA pelo grupo Techint seria uma alternativa ao projeto no Açu, na avaliação de analistas, uma vez que o projeto está enfrentando dificuldades no processo de licenciamento.
"Tanto a CSA como o projeto no Açu é de produção de placas de aço, que
são importantes para a Ternium abastecer suas laminadoras no exterior.
Acredito que a CSA seria um caminho alternativo para a empresa, caso o
projeto do Açu não saia do papel", afirma Rafael Weber, analista de
siderurgia da Geração Futuro.
Na proposta que vem sendo negociada entre CSN e BNDES, a empresa criaria uma holding, sob a qual estariam a própria CSN e a CSA. Segundo uma fonte, isso acabaria beneficiando a CSN, pois o prejuízo apurado pela CSA “anularia” parte do lucro da CSN, reduzindo os impostos devidos ao governo. A notícia do possível negócio envolvendo BNDES na venda da CSA impulsionou os papéis ordinários (ONs, com voto) da CSN, que avançaram 2,27%, cotados a R$ 11,28 na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em Frankfurt, as ações do grupo alemão ThyssenKrupp avançaram 2,68%, para 17,97 euros, no dia de ontem.
As ambições da CSN para comprar a CSA esbarram nos interesses da Vale, que detém 26,8% da siderúrgica. A mineradora tem contrato de exclusividade de fornecimento de minério para a CSA e não vê com bons olhos a entrada da CSN. A empresa também produz o minério e poderia pressionar por uma alteração no contrato para aproveitar a produção de suas minas. Procurados, BNDES, CSN e Ternium não se manifestaram.
Na proposta que vem sendo negociada entre CSN e BNDES, a empresa criaria uma holding, sob a qual estariam a própria CSN e a CSA. Segundo uma fonte, isso acabaria beneficiando a CSN, pois o prejuízo apurado pela CSA “anularia” parte do lucro da CSN, reduzindo os impostos devidos ao governo. A notícia do possível negócio envolvendo BNDES na venda da CSA impulsionou os papéis ordinários (ONs, com voto) da CSN, que avançaram 2,27%, cotados a R$ 11,28 na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em Frankfurt, as ações do grupo alemão ThyssenKrupp avançaram 2,68%, para 17,97 euros, no dia de ontem.
As ambições da CSN para comprar a CSA esbarram nos interesses da Vale, que detém 26,8% da siderúrgica. A mineradora tem contrato de exclusividade de fornecimento de minério para a CSA e não vê com bons olhos a entrada da CSN. A empresa também produz o minério e poderia pressionar por uma alteração no contrato para aproveitar a produção de suas minas. Procurados, BNDES, CSN e Ternium não se manifestaram.
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Empresas de sete países buscam informação sobre o trem-bala brasileiro
[Volta às manchetes a novela do trem-bala, a obsessão da nossa supersimpática presidente -- o país se compromete a gastar bilhões de reais numa empreitada da qual não precisa e cuja prioridade é da ex-guerrilheira e não dele.]
Empresas de pelo menos sete países participaram nesta terça-feira da reunião de esclarecimentos a potenciais interessados no projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas, realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na BM&FBovespa. Entre os presentes estavam representantes ligados a empresas de Coreia do Sul, Espanha, Alemanha, Itália, Japão, Canadá e França, que circulavam pelos corredores da bolsa paulista em pequenos grupos.
Após a apresentação do projeto do TAV, os representantes da ANTT responderam questões dos interessados. Entre as empresas que fizeram questionamentos estavam Ferrovia Dello Stato, da Itália; Talgo, da Espanha; Bombardier, do Canadá; e a Mitsui, do Japão.
Empresas de pelo menos sete países participaram nesta terça-feira da reunião de esclarecimentos a potenciais interessados no projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas, realizada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) na BM&FBovespa. Entre os presentes estavam representantes ligados a empresas de Coreia do Sul, Espanha, Alemanha, Itália, Japão, Canadá e França, que circulavam pelos corredores da bolsa paulista em pequenos grupos.
Após a apresentação do projeto do TAV, os representantes da ANTT responderam questões dos interessados. Entre as empresas que fizeram questionamentos estavam Ferrovia Dello Stato, da Itália; Talgo, da Espanha; Bombardier, do Canadá; e a Mitsui, do Japão.
As dúvidas tiveram teor técnico e abordaram também o financiamento. A
Bombardier questionou, por exemplo, se há faixas de rádio concorrentes
com a que será utilizada pelo sistema de comunicação do TAV. A ANTT
respondeu que irá estudar o tema na confecção do projeto executivo. Já o
representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) confirmou que o a instituição dará financiamento a todos os
equipamentos e serviços para instalação do projeto.
A segunda reunião para esclarecimentos está programada para 19 de março, também na BM&FBovespa. As reuniões fazem parte da fase de esclarecimentos sobre as regras e procedimentos do projeto. Os interessados no TAV poderão ainda se manifestar via formulário eletrônico até 16 de abril. A entrega das propostas das empresas interessadas está prevista para 13 de agosto e o leilão para 19 de setembro. Já a homologação do resultado, de acordo com o edital, deve ocorrer em 20 de novembro e a assinatura do contrato em 27 de fevereiro de 2014.
A segunda reunião para esclarecimentos está programada para 19 de março, também na BM&FBovespa. As reuniões fazem parte da fase de esclarecimentos sobre as regras e procedimentos do projeto. Os interessados no TAV poderão ainda se manifestar via formulário eletrônico até 16 de abril. A entrega das propostas das empresas interessadas está prevista para 13 de agosto e o leilão para 19 de setembro. Já a homologação do resultado, de acordo com o edital, deve ocorrer em 20 de novembro e a assinatura do contrato em 27 de fevereiro de 2014.
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Eletrobras deve R$ 250 milhões à Impsa
Uma das empresas mais atuantes do mercado eólico brasileiro, a argentina
Impsa aguarda há um ano e meio o pagamento pela Eletrobras da energia
fornecida por dez parques eólicos localizados em Santa Catarina, num
total de 222 megawatts (MW) de capacidade instalada. Segundo cálculos da
companhia, o valor devido pela estatal brasileira já soma R$ 250
milhões, o equivalente a quase 20% dos R$ 1,3 bilhão investidos na
construção das usinas, que entraram em operação em junho de 2011. Os
parques pertencem à Energimp, sociedade formada pela Impsa (55%) e o
FI-FGTS (45%).
Localizados nas regiões de Bom Jardim e Água Doce, na serra catarinense, os parques fazem parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), considerada a primeira fase do setor eólico brasileiro. Os projetos contemplados no programa, que inclui também térmicas a biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), são remunerados pela Eletrobras, gestora da conta Proinfa, abastecida por meio de um encargo pago pelos consumidores brasileiros. O Valor apurou que até o momento a Eletrobras não assinou o aditivo do contrato de compra de energia dos parques da Impsa. Há, pelo menos, três explicações. A primeira é que, no entendimento da estatal, não existiria regulamentação para a operação dos projetos. A segunda é que a estatal estaria insegura em fazer os repasses, por considerar frágil o licenciamento ambiental das usinas. E a terceira, segundo uma fonte a par do processo, seria a "morosidade" da Eletrobras. Procurada, a estatal não se pronunciou.
A lei que criou o Proinfa (10.438/2002) determinava que os projetos deveriam entrar em operação até o fim de 2006. Esse prazo foi prorrogado para dezembro de 2010 e novamente adiado para o fim de 2011. Com a mudança nos prazos, seria necessário um decreto presidencial que regulamentasse a mudança dos cronogramas. Em seguida, a Casa Civil entendeu que o decreto não era preciso e que bastaria a aprovação de uma regulamentação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A agência regulamentou a situação dos parques da Impsa no início de 2012. Segundo informações da Superintendência de Regulação dos Serviços de Geração da Aneel, não há qualquer pendência hoje relativa à operação de usinas eólicas do Proinfa que entraram em operação após dezembro de 2010. [Eis aí um belo exemplo da aberração que é a burocracia brasileira -- enquanto o processo ficava nesse pingue-pongue e os burocratas brincavam de administrar, a Impsa ficava a ver navios -- e continua assim até hoje.]
Localizados nas regiões de Bom Jardim e Água Doce, na serra catarinense, os parques fazem parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), considerada a primeira fase do setor eólico brasileiro. Os projetos contemplados no programa, que inclui também térmicas a biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), são remunerados pela Eletrobras, gestora da conta Proinfa, abastecida por meio de um encargo pago pelos consumidores brasileiros. O Valor apurou que até o momento a Eletrobras não assinou o aditivo do contrato de compra de energia dos parques da Impsa. Há, pelo menos, três explicações. A primeira é que, no entendimento da estatal, não existiria regulamentação para a operação dos projetos. A segunda é que a estatal estaria insegura em fazer os repasses, por considerar frágil o licenciamento ambiental das usinas. E a terceira, segundo uma fonte a par do processo, seria a "morosidade" da Eletrobras. Procurada, a estatal não se pronunciou.
A lei que criou o Proinfa (10.438/2002) determinava que os projetos deveriam entrar em operação até o fim de 2006. Esse prazo foi prorrogado para dezembro de 2010 e novamente adiado para o fim de 2011. Com a mudança nos prazos, seria necessário um decreto presidencial que regulamentasse a mudança dos cronogramas. Em seguida, a Casa Civil entendeu que o decreto não era preciso e que bastaria a aprovação de uma regulamentação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A agência regulamentou a situação dos parques da Impsa no início de 2012. Segundo informações da Superintendência de Regulação dos Serviços de Geração da Aneel, não há qualquer pendência hoje relativa à operação de usinas eólicas do Proinfa que entraram em operação após dezembro de 2010. [Eis aí um belo exemplo da aberração que é a burocracia brasileira -- enquanto o processo ficava nesse pingue-pongue e os burocratas brincavam de administrar, a Impsa ficava a ver navios -- e continua assim até hoje.]
Segundo o vice-presidente executivo da Impsa, Jose Luis Menghini, a
companhia está à disposição para atender qualquer questionamento da
Eletrobras. "Decidimos nossos investimentos sonhando com uma paisagem
razoavelmente estável, onde as regras do jogo são respeitadas. É óbvio
que, quando isto não acontece, afeta um pouco o nosso interesse
investidor", afirmou.
Menghini, no entanto, disse que o impasse não influencia o atual plano de investimentos da empresa para o Brasil, que responde por mais de 65% do faturamento global da Impsa, cuja previsão para 2013 é de R$ 3,6 bilhões. Além de geradora, a Impsa é fornecedora de equipamentos para eólicas e hidrelétricas. Seus principais investimentos são a ampliação de uma fábrica de equipamentos eólicos em Pernambuco e a construção de uma nova unidade no Rio Grande do Sul e de outra fábrica voltada para equipamentos para grandes hidrelétricas, também em Pernambuco. A Impsa também possui 1 mil MW de capacidade instalada entre projetos em operação (40%), em implantação (30%) e em início de construção (30%). O Valor apurou que o complexo eólico de Alegria, no Rio Grande do Norte, que entrou em operação em março de 2011, também não recebeu o pagamento pela Eletrobras.
[O histórico do governo petista -- NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) + Dilma -- também na área de energia eólica é péssimo. Além dos calotes citados acima, de responsabilidade direta da Eletrobras, há ainda a inacreditável história dos 32 parques eólicos (entre os 71 leiloados em 2009) parados por falta de linhas de transmissão. A (ir)responsável por essas linhas é a Chesf, "controlada" pela Eletrobras, que nada fez e ficou por isso mesmo. Nesse imbróglio eólico estatal há nitidamente três culpados inequívocos: Eletrobras - Chesf - Aneel. A Eletrobras porque, além de inadimplente nos contratos, não controla de fato sua subsidiária Chesf (o sistema Eletrobras é uma síntese do saco de gatos que é a base política do governo petista: a holding Eletrobras é, de longa data, feudo do PMDB (leia-se José Sarney) e a Chesf será feudo do PSB enquanto o governador de Pernambuco (estado-sede da Chesf) for Eduardo Campos (que indicou o atual presidente dessa estatal, no cargo desde 2011). Então, nem que a vaca tussa a Eletrobras conseguirá de fato enquadrar a Chesf.
Menghini, no entanto, disse que o impasse não influencia o atual plano de investimentos da empresa para o Brasil, que responde por mais de 65% do faturamento global da Impsa, cuja previsão para 2013 é de R$ 3,6 bilhões. Além de geradora, a Impsa é fornecedora de equipamentos para eólicas e hidrelétricas. Seus principais investimentos são a ampliação de uma fábrica de equipamentos eólicos em Pernambuco e a construção de uma nova unidade no Rio Grande do Sul e de outra fábrica voltada para equipamentos para grandes hidrelétricas, também em Pernambuco. A Impsa também possui 1 mil MW de capacidade instalada entre projetos em operação (40%), em implantação (30%) e em início de construção (30%). O Valor apurou que o complexo eólico de Alegria, no Rio Grande do Norte, que entrou em operação em março de 2011, também não recebeu o pagamento pela Eletrobras.
[O histórico do governo petista -- NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula) + Dilma -- também na área de energia eólica é péssimo. Além dos calotes citados acima, de responsabilidade direta da Eletrobras, há ainda a inacreditável história dos 32 parques eólicos (entre os 71 leiloados em 2009) parados por falta de linhas de transmissão. A (ir)responsável por essas linhas é a Chesf, "controlada" pela Eletrobras, que nada fez e ficou por isso mesmo. Nesse imbróglio eólico estatal há nitidamente três culpados inequívocos: Eletrobras - Chesf - Aneel. A Eletrobras porque, além de inadimplente nos contratos, não controla de fato sua subsidiária Chesf (o sistema Eletrobras é uma síntese do saco de gatos que é a base política do governo petista: a holding Eletrobras é, de longa data, feudo do PMDB (leia-se José Sarney) e a Chesf será feudo do PSB enquanto o governador de Pernambuco (estado-sede da Chesf) for Eduardo Campos (que indicou o atual presidente dessa estatal, no cargo desde 2011). Então, nem que a vaca tussa a Eletrobras conseguirá de fato enquadrar a Chesf.
A Chesf entra naquele trio de culpados por razões óbvias: é incompetente e ineficiente, não cumpre seus compromissos. Se fosse empresa privada, seria declarada inidônea e não poderia prestar serviços ao governo. Mas, como o critério de gestão é baseado em politicalha, danem-se o país e os consumidores. Só na Bahia, são 14 parques de quase 300 MW no total, que custaram R$ 1,2 bi e nada geram desde julho de 2012.
A Aneel é a chamada incompetência transparente, cristalina e inequívoca. No jogo político que campeia solto no setor elétrico estatal, a agência se comporta como cego em tiroteio. É um órgão eunuco e inútil.]
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Vitória da Islândia contra Reino Unido e Holanda em tribunal pode criar jurisprudência no caso de quebra de bancos europeus
Quem tem de pagar os créditos podres do crash da banca? Ao contrário da Espanha e da Irlanda, a Islândia decidiu que os contribuintes não deveriam custear os desmandos de um setor que havia crescido de forma anormal. Ou que, pelo menos, não deviam compensar os britânicos e holandeses que perderam suas economias em bancos islandeses. Os cidadãos islandeses disseram "não" em duas ocasiões, através de referendos específicos. Agora, cinco anos depois do colapso de seu sistema bancário, um tribunal de Luxemburgo acaba de dar razão a Reykjavik quanto à maneira como lidou com a quebra do Icesave.
O Tribunal da Associação Europeia de Livre Comércio (AELC) considera que a Islândia não violou a lei, quando se negou a devolver a 300.000 poupadores estrangeiros o dinheiro depositado em algumas entidades que ofereciam juros que então pareciam irrecusáveis. "É uma vitória para a democracia. Passa-se a mensagem de que os bancos não podem ficar com os benefícios e, quando as coisas vão mal, passar a fatura para os contribuintes", resume o economista islandês Magnus Skúlasson. [Para entender melhor o imbróglio, é preciso saber que a AELC (EFTA, em inglês) -- que surgiu originalmente como uma oposição à Comunidade Econômica Europeia (CEE) -- tem hoje como membros apenas Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suiça. Ou seja, a decisão do tribunal da AELC criou um problema jurídico-financeiro adicional para a zona do euro.]
O tribunal, no qual estão representados a Noruega e o Liechtenstein, acrescenta um detalhe muito interessante: a Islândia não está obrigada a pagar, já que "o fundo de garantia de depósitos foi incapaz de honrar suas obrigações no caso de uma crise sistêmica". Abre-se assim a porta para que, em outras condições limites, os Estados não devolvam o dinheiro de seus poupadores estrangeiros.
Um porta-voz da União Europeia se apressou ontem em se manifestar, afirmando que Bruxelas se atém ao fato de que as obrigações dos fundos de garantia de depósitos se mantêm "vigentes também na ocorrência de uma crise sistêmica". Apesar disso, a Comissão Europeia afirma que precisa de tempo para estudar a decisão judicial. "A sentença é boa também para a Holanda e o Reino Unido. Se tivessem ganho a ação, isso levaria à conclusão de que o Estado nação é responsável por todos os depósitos bancários, algo que nenhum país quer", comenta Jon Danielsson, da London School of Economics.
Após a bancarrota, os governos de Londres e Amsterdã recorreram a seus cofres para compensar os clientes do banco islandês [ou seja, todos os contribuintes britânicos e holandeses contribuíram, sem serem consultados, para beneficiar os contribuintes que tinham contas no banco islandês falido -- essa é tipicamente uma solução que, se tomada alhures, seria cinicamente chamada pelos europeus de "terceiromundista". O nome disso é roubo.]. Pouco depois, deram início ao processo legal que se encerrou no dia 27 passado já que a sentença -- que Reykjavik considera uma "satisfação suficientemente grande e importante" -- não admite recurso.
O paradoxo do caso é que, apesar do apoio dos tribunais, a Islândia acabou pagando grande parte do dinheiro que lhe era reclamado. Reykjavik já reembolsou cerca de 3,3 bilhões de euros, cerca da metade do total desembolsado em Icesave, a marca com a qual operava fora da ilha o banco Landsbanki, uma das três entidades financeiras que quebraram em 2008 e levaram o país inteiro à bancarrota. A quantidade já paga vale mais de 90% do mínimo garantido que o Estado estava obrigado a pagar. [Pelo jeito, a Islândia contentou-se em ficar com a vitória moral e legal, danem-se os contribuintes islandeses ... Uma vitoriazinha de Pirro.]
Por um lado, Londres se queixa distante de seu objetivo de conseguir a devolução de todoo dinheiro investido -- o que corresponderia a que cada islandês pagasse 12.500 euros, mais os juros correspondentes. Mas, por outro lado, o governo [britânico] já anunciou que continuará pagando o mínimo garantido. Assim, apesar da sentença, os contribuintes de uma forma ou de outra acabarão pagando uma parte dos excessos cometidos por seus banqueiros. [Lá, como aqui, os banqueiros muitíssimo raramente pagam por suas pilantragens.]
O Tribunal da Associação Europeia de Livre Comércio (AELC) considera que a Islândia não violou a lei, quando se negou a devolver a 300.000 poupadores estrangeiros o dinheiro depositado em algumas entidades que ofereciam juros que então pareciam irrecusáveis. "É uma vitória para a democracia. Passa-se a mensagem de que os bancos não podem ficar com os benefícios e, quando as coisas vão mal, passar a fatura para os contribuintes", resume o economista islandês Magnus Skúlasson. [Para entender melhor o imbróglio, é preciso saber que a AELC (EFTA, em inglês) -- que surgiu originalmente como uma oposição à Comunidade Econômica Europeia (CEE) -- tem hoje como membros apenas Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suiça. Ou seja, a decisão do tribunal da AELC criou um problema jurídico-financeiro adicional para a zona do euro.]
O tribunal, no qual estão representados a Noruega e o Liechtenstein, acrescenta um detalhe muito interessante: a Islândia não está obrigada a pagar, já que "o fundo de garantia de depósitos foi incapaz de honrar suas obrigações no caso de uma crise sistêmica". Abre-se assim a porta para que, em outras condições limites, os Estados não devolvam o dinheiro de seus poupadores estrangeiros.
Um porta-voz da União Europeia se apressou ontem em se manifestar, afirmando que Bruxelas se atém ao fato de que as obrigações dos fundos de garantia de depósitos se mantêm "vigentes também na ocorrência de uma crise sistêmica". Apesar disso, a Comissão Europeia afirma que precisa de tempo para estudar a decisão judicial. "A sentença é boa também para a Holanda e o Reino Unido. Se tivessem ganho a ação, isso levaria à conclusão de que o Estado nação é responsável por todos os depósitos bancários, algo que nenhum país quer", comenta Jon Danielsson, da London School of Economics.
Após a bancarrota, os governos de Londres e Amsterdã recorreram a seus cofres para compensar os clientes do banco islandês [ou seja, todos os contribuintes britânicos e holandeses contribuíram, sem serem consultados, para beneficiar os contribuintes que tinham contas no banco islandês falido -- essa é tipicamente uma solução que, se tomada alhures, seria cinicamente chamada pelos europeus de "terceiromundista". O nome disso é roubo.]. Pouco depois, deram início ao processo legal que se encerrou no dia 27 passado já que a sentença -- que Reykjavik considera uma "satisfação suficientemente grande e importante" -- não admite recurso.
O paradoxo do caso é que, apesar do apoio dos tribunais, a Islândia acabou pagando grande parte do dinheiro que lhe era reclamado. Reykjavik já reembolsou cerca de 3,3 bilhões de euros, cerca da metade do total desembolsado em Icesave, a marca com a qual operava fora da ilha o banco Landsbanki, uma das três entidades financeiras que quebraram em 2008 e levaram o país inteiro à bancarrota. A quantidade já paga vale mais de 90% do mínimo garantido que o Estado estava obrigado a pagar. [Pelo jeito, a Islândia contentou-se em ficar com a vitória moral e legal, danem-se os contribuintes islandeses ... Uma vitoriazinha de Pirro.]
Por um lado, Londres se queixa distante de seu objetivo de conseguir a devolução de todoo dinheiro investido -- o que corresponderia a que cada islandês pagasse 12.500 euros, mais os juros correspondentes. Mas, por outro lado, o governo [britânico] já anunciou que continuará pagando o mínimo garantido. Assim, apesar da sentença, os contribuintes de uma forma ou de outra acabarão pagando uma parte dos excessos cometidos por seus banqueiros. [Lá, como aqui, os banqueiros muitíssimo raramente pagam por suas pilantragens.]
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O jeito petista de administrar a Petrobras (IV)
[A verdade é inexorável, resiste a manipulações e mais cedo ou mais tarde aparece inequívoca e se manifesta em toda sua magnitude, nem que tenhamos que esperar por sua construção em etapas. Esse é o caso da gestão da Petrobras na década petista -- em 80% deste período ela esteve sob o domínio do NPA (Nosso Pinóquio Acrobata, Lula). Na década petista, sua presidência foi exercida durante 7 anos por Sergio Gabrielli (2005-2012), petista de carteirinha e escolha pessoal do NPA -- antes de assumir a presidência da empresa, Gabrielli foi seu diretor financeiro de 2003 a 2005. Resumindo: a situação crítica vivida pela Petrobras, mostrada abaixo em pinceladas, tem dois responsáveis claros e irrefutáveis: NPA e Gabrielli. Nossa afável presidente tem inegavelmente sua parcela de culpa, quando mais não seja por ter mantido Gabrielli ainda um ano no cargo.]
Gastos da Petrobras superaram em US$ 54 bi sua geração de receitas nos últimos 4 anos
Planos audaciosos de investimento, projetos com custos subestimados e
falta de reajuste nos preços de combustíveis minaram o caixa da
Petrobras. Com isso, a companhia tem gasto sistematicamente bem mais do
que consegue gerar de receitas o que, segundo analistas, põe em dúvida a
sustentabilidade de suas contas a longo prazo. Entre 2009 e 2012, o
rombo no caixa da estatal pode ter acumulado US$ 54 bilhões, pelas
projeções mais recentes, uma média de US$ 13,5 bilhões por ano de
déficit. Especialistas acreditam que, se continuar nessa trajetória, a
empresa precisará fazer nova capitalização — em 2010, a Petrobras fez um
aumento recorde de capital de R$ 120,2 bilhões o equivalente a US$ 69,9
bilhões na ocasião.
Com o caixa enfraquecido, a companhia está chegando no limite de sua capacidade de endividamento, já que os investimentos não estão dando resultados, alertam os especialistas. Até setembro, as dívidas somam R$ 133,9 bilhões, valor que é 2,5 vezes a sua geração de caixa. "Hoje, a Petrobras está gerando cerca de US$ 30 bilhões e gastando US$ 42 bilhões (projeção para o resultado fechado de 2012). Vai ter que se escolher entre reajustar os preços dos combustíveis ou aumentar seu endividamento. Ou desacelerar o plano de investimentos", afirmou Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do Credit Suisse First Boston.
Com o caixa enfraquecido, a companhia está chegando no limite de sua capacidade de endividamento, já que os investimentos não estão dando resultados, alertam os especialistas. Até setembro, as dívidas somam R$ 133,9 bilhões, valor que é 2,5 vezes a sua geração de caixa. "Hoje, a Petrobras está gerando cerca de US$ 30 bilhões e gastando US$ 42 bilhões (projeção para o resultado fechado de 2012). Vai ter que se escolher entre reajustar os preços dos combustíveis ou aumentar seu endividamento. Ou desacelerar o plano de investimentos", afirmou Emerson Leite, chefe da área de análise de ações do Credit Suisse First Boston.
Por e-mail, a Petrobras afirma que investir mais do que a capacidade de
geração de caixa faz sentido em períodos nos quais grandes oportunidades
justificam esses investimentos, como o pré-sal. Além disso, segundo a
empresa, esses investimentos são viabilizados pela captação de recursos
externos. Especialistas afirmam, porém, que esse descasamento tem ocorrido de
forma sistemática e que a empresa está colhendo, hoje, o resultado de
erros de gestão no passado. "O desalinhamento entre caixa e investimentos é normal por curtos
períodos. É um ciclo que tem um fim. A questão na Petrobras é que esses
investimentos ainda não deram retorno, pois houve queda na produção", diz Luiz Francisco Caetano, da corretora Planner.
Defasagem gera perdas de R$ 20,9 bilhões
A queda na produção, num momento em que o consumo de combustíveis
cresceu no país, provocou um forte aumento nas importações de gasolina e
diesel. O caixa da empresa ainda é afetado pela diferença entre o preço
dos combustíveis (gasolina e diesel) no mercado doméstico e
internacional. Segundo cálculos feitos por Caetano, a Petrobras deixou
de arrecadar R$ 20,9 bilhões entre janeiro e setembro de 2012. "Esse valor representa 35% da geração de caixa estimada para 2012 e 16%
de sua dívida líquida (no terceiro trimestre). As preocupações com o
endividamento seriam apagadas se os preços tivessem alinhados com o
cenário internacional. A companhia vai encerrar o ano de 2012 no limite
de seu endividamento".
Caetano lembra que a relação entre dívida e patrimônio líquido da
empresa hoje é de 28%. Se esta relação superar 35%, a empresa pode
perder a chancela de investment grade. Para Leite, do Credit
Suisse, com a estatal chegando ao seu limite de endividamento, ela
poderá ser levada a fazer uma nova capitalização em breve. No segundo trimestre do ano passado, a empresa registrou prejuízo de R$
1,3 bilhão, o primeiro resultado negativo desde 1999. Analistas avaliam
que a empresa adotou metas de investimento muito elevados a partir de
2009. O Plano de Negócios 2009/13 previa investimentos de US$ 174,4
bilhões, valor 55% maior em relação que os US$ 112,4 bilhões entre 2008 e
2012.
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o problema não foi fixar metas ambiciosas, mas sim a gestão dessas metas. Para ele, a estatal perdeu sua capacidade de gerar mais caixa com as falhas na gestão, principalmente na área de exploração, desviando-se do foco, que é a produção, e com o subsídio dado aos combustíveis: "Não dá para se enrolar na bandeira do Brasil. Subsidiar gasolina é típico de países perdulários e menos desenvolvidos. A Petrobras está subsidiando a gasolina, deixando de investir onde precisa.
A empresa foi capturada por fortes grupos de interesses, e o resultado disso vem sendo expresso por números dramáticos sobre a situação financeira da estatal. No balanço que deu da situação da estatal, em meados de 2012, Graça Foster, entre outras questões, se referiu a metas irrealistas e atrasos em projetos. Entre o irrealismo, incluam-se estimativas de custo. Todas estouradas, é claro. Alguns números são emblemáticos. Reportagem do GLOBO de domingo, por exemplo, informa que, de 2009 a 2012, os gastos da empresa superaram em US$ 54 bilhões a geração de caixa, numa média de US$ 13,5 bilhões por ano.
O caminho tomado até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados, investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos estratégicos — dos quais dependem a produção, em queda — e uma longa e desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de importação, mantida por Brasília. A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
No segundo trimestre do ano passado, a empresa teve o primeiro prejuízo desde 1999 (R$ 1,3 bilhão). Consequência inevitável tem sido a redução de seu valor de mercado: ontem, a petroleira de capital misto Ecopetrol, da Colômbia, ultrapassou a Petrobras neste quesito. Não se perde 45% do valor, em três anos, impunemente. Graça parece fazer o possível para resgatar a estatal. Mas há dúvidas se ela terá dinheiro para ser a operadora monopolista no pré-sal e dona cativa de 30% dos consórcios, impostos pelo modelo de exploração por partilha. Nenhuma companhia resiste à mistura de gestão com política. Nem a PDVSA.
Para David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o problema não foi fixar metas ambiciosas, mas sim a gestão dessas metas. Para ele, a estatal perdeu sua capacidade de gerar mais caixa com as falhas na gestão, principalmente na área de exploração, desviando-se do foco, que é a produção, e com o subsídio dado aos combustíveis: "Não dá para se enrolar na bandeira do Brasil. Subsidiar gasolina é típico de países perdulários e menos desenvolvidos. A Petrobras está subsidiando a gasolina, deixando de investir onde precisa.
Aparelhamento desmontou a Petrobras
Editorial de hoje (29/1) do Globo
Algum tempo depois de assumir a presidência da Petrobras, no início de 2012, Graça Foster, técnica de carreira da estatal, deu um sincero balanço do estado deplorável em que se encontrava a maior empresa brasileira — e, em alguma medida, ainda se encontra. Foi tão sincero que a engenheira química enfrentou resmungos de alas do PT.
Lembre-se que não foi difícil relacionar o conteúdo da prestação de
contas feita por Graça — imprescindível, pela crucial necessidade de
transparência na gestão de empresas públicas, ainda mais em uma de
capital aberto — com a gestão ruinosa do antecessor, José Sérgio
Gabrielli, economista, sindicalista filiado ao PT. Se entre os símbolos
do aparelhamento executado em boa parte da máquina pública federal, na
Era Lula, o Incra e o Ministério do Desenvolvimento Agrário representam a
participação de “organizações sociais” no governo, a Petrobras foi
ícone da ação de sindicatos companheiros no universo das estatais.
A empresa foi capturada por fortes grupos de interesses, e o resultado disso vem sendo expresso por números dramáticos sobre a situação financeira da estatal. No balanço que deu da situação da estatal, em meados de 2012, Graça Foster, entre outras questões, se referiu a metas irrealistas e atrasos em projetos. Entre o irrealismo, incluam-se estimativas de custo. Todas estouradas, é claro. Alguns números são emblemáticos. Reportagem do GLOBO de domingo, por exemplo, informa que, de 2009 a 2012, os gastos da empresa superaram em US$ 54 bilhões a geração de caixa, numa média de US$ 13,5 bilhões por ano.
O caminho tomado até chegar a este ponto foi pavimentado por projetos com custos subestimados, investimentos de necessidade discutível, falta de manutenção em equipamentos estratégicos — dos quais dependem a produção, em queda — e uma longa e desastrosa defasagem entre o preço interno de combustíveis e o custo de importação, mantida por Brasília. A estatal se tornou também um instrumento a serviço de interesses políticos e, assim, deixou de ser conduzida com base em boas práticas gerenciais. Daí o projeto de uma refinaria no Maranhão e uma outra em Pernambuco, esta em sociedade com a Venezuela de Hugo Chávez, sem que sequer um centavo de dólar o regime bolivariano tenha destinado ao empreendimento até agora.
No segundo trimestre do ano passado, a empresa teve o primeiro prejuízo desde 1999 (R$ 1,3 bilhão). Consequência inevitável tem sido a redução de seu valor de mercado: ontem, a petroleira de capital misto Ecopetrol, da Colômbia, ultrapassou a Petrobras neste quesito. Não se perde 45% do valor, em três anos, impunemente. Graça parece fazer o possível para resgatar a estatal. Mas há dúvidas se ela terá dinheiro para ser a operadora monopolista no pré-sal e dona cativa de 30% dos consórcios, impostos pelo modelo de exploração por partilha. Nenhuma companhia resiste à mistura de gestão com política. Nem a PDVSA.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
A caçada ao Outubro Vermelho: caçadores de vírus tentam desativar bomba-relógio diplomática
[Traduzo a seguir reportagem de Benjamin Bidder, Matthias Schepp e Hilmar Schmundt publicada no dia 25 na versão inglesa da Spiegel Online.]
O vírus Outubro Vermelho: "Nunca tínhamos visto antes um ataque feito com tal precisão cirúrgica". - (Foto: Kaspersky Lab - clique na imagem para ampliá-la).
Por cinco anos até agora, o vírus Outubro Vermelho entrou em uma nova classe de espionagem, roubando de diplomatas ao redor do mundo, sem ser detetado, emails e outros documentos confidenciais criptografados. Embora possa estar agora em hibernação, ele é projetado para atacar novamente a qualquer momento.
Os caçadores de vírus têm seu quartel-general em um edifício de escritórios comum no nordeste de Moscou. Vitaly Kamlyuk, um bielorrusso de 28 anos, senta-se frente a um gigantesco monitor na parede que mosta o mapa do mundo e conversa com duas pessoas, uma delas uma cientista da área de computação. Os três caçadores de vírus, parte de uma unidade especial da Kaspersky, uma empresa de computação russa, estão à caça do "Outubro Vermelho", apelido que deram a um programa de espionagem recentemente descoberto -- se inspiraram no submarino praticamente sem ruídos do romance de mesmo nome de Tom Clancy.
Esse vírus já infestou pelo menos 350 ministérios de governos, embaixadas e instalações de pesquisas ao redor do mundo, principalmente nas antigas repúblicas soviéticas. Os hackers aparentemente tinham "um particular interesse em informações geopoliticamente relevantes", diz o analista de vírus Kamlyuk. A embaixada russa nos EUA estava aparentemente entre os alvos. Dezenas de milhares de documentos, provavelmente incluindo relatórios confidenciais diridos ao Ministério do Exterior em Moscou, teriam caído nas mãos dos espiões cibernéticos. É possível que vários terabites de dados foram roubados, cujos conteúdos poderiam ser tão explosivos quanto os dos documentos vazados pelo WikiLeaks.
O submarino digital operou oculto por cinco anos, pescando informações confidenciais, e é provável que os dados roubados não tenham sido ainda detetados pelas vítimas. "Nunca tínhamos visto antes um ataque feito com tal precisão cirúrgica", diz Kamlyuk, que agora está pressionando seus colegas para acelerarem seus esforços. Desde que a Kaspersky veio a público com a descoberta da rede espiã, os servidores de controle dos hackers têm sido gradualmente retirados de operação. "O inimigo está destruindo as evidências", diz Kamlyuk.
Aprofundando a trama
O Outubro Vermelho faz parte de uma nova geração de programas de espionagem que são caros e complexos, e ainda assim dificilmente garantem ou prometem qualquer ganho financeiro. São arquitetados para roubar informação política e não dados bancários. Acredita-se que agências de inteligência governamentais estejam por trás desses programas. O cofundador da Kaspersky, Eugene Kaspersky, um graduado da universidade interna da KGB, está se especializando cada vez mais nessa nova geração de cavalos de Troia governamentais. Sua empresa analisou em 2010 o Stuxnet, um vírus que provocou um estrago no programa nuclear iraniano. No ano passado, os russos da Kaspersky decifraram o "Flame" e o "Gauss", dois vírus destrutivos que atuavam principalmente no Oriente Médio. Especula-se que, assim como com o Stuxnet, os EUA e Israel estão por trás desses programas.
O Outubro Vermelho, entretanto, tem uma "caligrafia" diferente. Gíria russa continua aparecendo em seu código, incluindo palavras como "zakladka" (bug) e "proga" (programa). Sergei Niktin, da empresa de segurança Group-IB sediada em Moscou, acredita que muitos autores trabalharam nesse programa e que eles não tiveram contato entre si. O estilo de programação dos módulos individuais é inconsistente, variando do sofisticado ao "rústico". Ele acredita que o programa foi comissionado por "um serviço de inteligência que contratou os programadores através doas fóruns subterrâneos da comunidade de hackers russa".
Há muitos guerreiros cibernéticos querendo vender seus serviços, principalmente na Rússia. Embora o país permita muitas oportunidades de bom treinamento técnico, o pagamento oferecido é frequentemente miserável nos institutos de pesquisa governamentais, levando alguns especialistas a buscar outras fontes de renda. O Ministério do Interior da Rússia estima que o país seja responsável por cerca de 30% dos envolvidos no cibercrime global. Por outro lado, os desenvolvedores e operadores do Outubro Vermelho podem estar em qualquer outro país. As suspeitas recaíram primeiro sobre a China, porque não foram encontradas vítimas lá. Além disso, hackers chineses haviam utilizado anteriormente algumas rotinas de invasão do programa para espionar os ativistas tibetanos. Mas, isso pode ser uma pista falsa, exposta deliberadamente.
Arrastão direcionado
Está claro, entretanto, que o Outubro Vermelho foi inserido de modo direcionado nos computadores de uns poucos destinatários selecionados, de modo a atrair pouca atenção, usando um método denominado "spear phishing" [alusão a "spear fishing", pesca com hastes ponteagudas atiradas ou mantidas na mão - em computação, um ataque para captura de informações altamente focado]. A mensagem na qual o programa se escondia era feita sob medida para os destinatários. Em um caso, por exemplo, um destinatário recebeu um email falso tendo como assunto as palavras "carro diplomático à venda".
O programa não gasta muito esforço tentando inflitrar-se nos computadores desejados -- sua engenhosidade reside na chamada "exfiltration" [do verbo "exfiltrate" -- o oposto de "infiltrate" --, que significa escapar furtivamente ou retirar furtivamente pessoal militar de uma área sob controle inimigo], ou seja a remoção discreta das "pilhagens" feitas. "O Outubro Vermelho é fantástico", vibra Costin Raiu, mal disfarçando sua admiração. "Os hackers escreveram cerca de 1.000 módulos para roubar dados". Raiu, nos meados dos seus 30 anos, chefia, a partir de seu escritório em Bucareste (Romênia) a equipe de pesquisas da Kaspersky, com 34 empregados espalhados pelo mundo.
Um informante passou-lhe um vírus em outubro de 2012. O arquivo parecia trivial. Raiu decidiu examinar o invasor. Quando ele intencionalmente invadiu computadores especiais do laboratório, o vírus começou a agir. O software ativou-se sozinho, mapeou toda a rede a partir de seu interior, estabeleceu um diretório de todos os dispositivos conectados e então armazenou e criptografou a informação. O organizado invasor atribuiu também um número a cada computador vitimado.
Depois que sua investigação está concluída, o programa faz contato com um conjunto de computadores de controle na Internet. Dependendo do hardware descoberto pelo vírus, este baixa as ferramentas de invasão aplicáveis: "pescar" senhas, endereços, calendários, textos, tabelas e listas de ligações telefônicas. Um módulo é usado para ler informações armazenadas em iPhones, enquanto outro copia o conteúdo de pen drives, mesmo quando os usuários acreditam ter deletado esses conteúdos.
Separando as camadas
O vírus busca também especificamente por documentos confidenciais que tenham sido criptografados por um software chamado "Acid Criptofiler", que é utilizado pela União Europeia e pela OTAN. Para decodificar esses arquivos, ele grava as entradas feitas via teclado com o emprego de um denominado "keylogger" (registrador de teclado, em tradução livre). Ele então comprime os dados e os transmite em pequenos pacotes organizados para uma seleção de cerca de 60 servidores de comando, alguns deles localizados na Alemanha. Esses servidores, por sua vez, se comunicam com "naves-mães", um sistema de computadores de repasse (proxies) que repassam os dados para os "criminosos" escondidos. "A coisa toda é estruturada como as camadas de uma cebola", diz Raiu.
Raiu montou uma armadilha para determinar quem era o alvo do ataque. Alguns dos endereços contatados pelo vírus não responderam. Raiu simplesmente registrou esses endereços desatualizados em seu nome e desviou o trânsito de dados para seu laboratório. Esse método é denominado "sinkhole" (ralo, buraco de escoamento), porque permite ao usuário examinar em profundidade um sistema de túneis escondido. Em poucas semanas, ele havia coletado 55.000 pedidos de informações de computadores contaminados pelo vírus. "Conseguimos acessar apenas 6 dos 60 servidores de comando", diz Raiu. "Em outras palavras, pudemos ver apenas 10% da rede". É possível que o número de computadores contaminados seja muito maior.
Raiu tem observado agora que os servidores de comando vêm sendo gradativamente desligados. Mas, isso significa apenas que o Outubro Vermelho está hibernando. "Tomadas" secretas, deixadas na retaguarda, podem ser ativadas a qualquer momento apesar do vírus ter sido supostamente deletado, alerta Igor Kotenko, um professor de Tecnologia da Informação na Universidade de São Petersburgo.
Proteção contra vírus
A indústria de proteção contra vírus ficou agora com cara de trouxa. Como pode um vírus ter ficado cinco anos sem ser detetado? Andreas Marx, diretor-gerente da AV-Test na cidade de Magdeburg, no leste da Alemanha, explica o problema: "O Outubro Vermelho invadiu apenas computadores individuais, de uma maneira muito direcionada, ao passo que os softwares antivírus geralmente são focados contra vírus largamente disseminados". Segundo ele, a quantidade de "malware" está crescendo enormemente -- "somente neste ano estima-se que estão sendo acrescentados 50 milhões de variantes". Isso significa duas por segundo. Marx aconselha os usuários a também usarem um sistema de proteção do tipo cebola, consistindo de atualizações automáticas de todos os programas, das proteções contra vírus, de firewalls e de uma "lista branca" de computadores confiáveis.
"Programas antivírus podem levar as pessoas a acreditar que estão seguras, quando na realidade não estão", diz Fred Cohen, um consultor de segurança da área de editorial do Journal in Computer Virology. "Muitos usuários baixam todos os tipos de coisas, porque pensam que estão protegidos". Cohen é um dos pioneiros na comunidade de computação. Foi ele que cunhou o termo "computer virus", depois de ter liberado "germes" computacionais numa experiência de teste na Universidade do Sul da Califórnia -- isso foi em 1983. Trinta anos de experiência ensinaram a Cohen que, para cada escudo de proteção digital, há um vírus que pode contorná-lo e evitá-lo. Essa é a razão, diz ele, pela qual ele coloca entre suas orelhas a maior parte de sua confiança nos programas de proteção contra vírus, que se resume a: ceticismo e cautela.
Esse vírus já infestou pelo menos 350 ministérios de governos, embaixadas e instalações de pesquisas ao redor do mundo, principalmente nas antigas repúblicas soviéticas. Os hackers aparentemente tinham "um particular interesse em informações geopoliticamente relevantes", diz o analista de vírus Kamlyuk. A embaixada russa nos EUA estava aparentemente entre os alvos. Dezenas de milhares de documentos, provavelmente incluindo relatórios confidenciais diridos ao Ministério do Exterior em Moscou, teriam caído nas mãos dos espiões cibernéticos. É possível que vários terabites de dados foram roubados, cujos conteúdos poderiam ser tão explosivos quanto os dos documentos vazados pelo WikiLeaks.
O submarino digital operou oculto por cinco anos, pescando informações confidenciais, e é provável que os dados roubados não tenham sido ainda detetados pelas vítimas. "Nunca tínhamos visto antes um ataque feito com tal precisão cirúrgica", diz Kamlyuk, que agora está pressionando seus colegas para acelerarem seus esforços. Desde que a Kaspersky veio a público com a descoberta da rede espiã, os servidores de controle dos hackers têm sido gradualmente retirados de operação. "O inimigo está destruindo as evidências", diz Kamlyuk.
Aprofundando a trama
O Outubro Vermelho faz parte de uma nova geração de programas de espionagem que são caros e complexos, e ainda assim dificilmente garantem ou prometem qualquer ganho financeiro. São arquitetados para roubar informação política e não dados bancários. Acredita-se que agências de inteligência governamentais estejam por trás desses programas. O cofundador da Kaspersky, Eugene Kaspersky, um graduado da universidade interna da KGB, está se especializando cada vez mais nessa nova geração de cavalos de Troia governamentais. Sua empresa analisou em 2010 o Stuxnet, um vírus que provocou um estrago no programa nuclear iraniano. No ano passado, os russos da Kaspersky decifraram o "Flame" e o "Gauss", dois vírus destrutivos que atuavam principalmente no Oriente Médio. Especula-se que, assim como com o Stuxnet, os EUA e Israel estão por trás desses programas.
O Outubro Vermelho, entretanto, tem uma "caligrafia" diferente. Gíria russa continua aparecendo em seu código, incluindo palavras como "zakladka" (bug) e "proga" (programa). Sergei Niktin, da empresa de segurança Group-IB sediada em Moscou, acredita que muitos autores trabalharam nesse programa e que eles não tiveram contato entre si. O estilo de programação dos módulos individuais é inconsistente, variando do sofisticado ao "rústico". Ele acredita que o programa foi comissionado por "um serviço de inteligência que contratou os programadores através doas fóruns subterrâneos da comunidade de hackers russa".
Há muitos guerreiros cibernéticos querendo vender seus serviços, principalmente na Rússia. Embora o país permita muitas oportunidades de bom treinamento técnico, o pagamento oferecido é frequentemente miserável nos institutos de pesquisa governamentais, levando alguns especialistas a buscar outras fontes de renda. O Ministério do Interior da Rússia estima que o país seja responsável por cerca de 30% dos envolvidos no cibercrime global. Por outro lado, os desenvolvedores e operadores do Outubro Vermelho podem estar em qualquer outro país. As suspeitas recaíram primeiro sobre a China, porque não foram encontradas vítimas lá. Além disso, hackers chineses haviam utilizado anteriormente algumas rotinas de invasão do programa para espionar os ativistas tibetanos. Mas, isso pode ser uma pista falsa, exposta deliberadamente.
Arrastão direcionado
Está claro, entretanto, que o Outubro Vermelho foi inserido de modo direcionado nos computadores de uns poucos destinatários selecionados, de modo a atrair pouca atenção, usando um método denominado "spear phishing" [alusão a "spear fishing", pesca com hastes ponteagudas atiradas ou mantidas na mão - em computação, um ataque para captura de informações altamente focado]. A mensagem na qual o programa se escondia era feita sob medida para os destinatários. Em um caso, por exemplo, um destinatário recebeu um email falso tendo como assunto as palavras "carro diplomático à venda".
O programa não gasta muito esforço tentando inflitrar-se nos computadores desejados -- sua engenhosidade reside na chamada "exfiltration" [do verbo "exfiltrate" -- o oposto de "infiltrate" --, que significa escapar furtivamente ou retirar furtivamente pessoal militar de uma área sob controle inimigo], ou seja a remoção discreta das "pilhagens" feitas. "O Outubro Vermelho é fantástico", vibra Costin Raiu, mal disfarçando sua admiração. "Os hackers escreveram cerca de 1.000 módulos para roubar dados". Raiu, nos meados dos seus 30 anos, chefia, a partir de seu escritório em Bucareste (Romênia) a equipe de pesquisas da Kaspersky, com 34 empregados espalhados pelo mundo.
Um informante passou-lhe um vírus em outubro de 2012. O arquivo parecia trivial. Raiu decidiu examinar o invasor. Quando ele intencionalmente invadiu computadores especiais do laboratório, o vírus começou a agir. O software ativou-se sozinho, mapeou toda a rede a partir de seu interior, estabeleceu um diretório de todos os dispositivos conectados e então armazenou e criptografou a informação. O organizado invasor atribuiu também um número a cada computador vitimado.
Depois que sua investigação está concluída, o programa faz contato com um conjunto de computadores de controle na Internet. Dependendo do hardware descoberto pelo vírus, este baixa as ferramentas de invasão aplicáveis: "pescar" senhas, endereços, calendários, textos, tabelas e listas de ligações telefônicas. Um módulo é usado para ler informações armazenadas em iPhones, enquanto outro copia o conteúdo de pen drives, mesmo quando os usuários acreditam ter deletado esses conteúdos.
Separando as camadas
O vírus busca também especificamente por documentos confidenciais que tenham sido criptografados por um software chamado "Acid Criptofiler", que é utilizado pela União Europeia e pela OTAN. Para decodificar esses arquivos, ele grava as entradas feitas via teclado com o emprego de um denominado "keylogger" (registrador de teclado, em tradução livre). Ele então comprime os dados e os transmite em pequenos pacotes organizados para uma seleção de cerca de 60 servidores de comando, alguns deles localizados na Alemanha. Esses servidores, por sua vez, se comunicam com "naves-mães", um sistema de computadores de repasse (proxies) que repassam os dados para os "criminosos" escondidos. "A coisa toda é estruturada como as camadas de uma cebola", diz Raiu.
Raiu montou uma armadilha para determinar quem era o alvo do ataque. Alguns dos endereços contatados pelo vírus não responderam. Raiu simplesmente registrou esses endereços desatualizados em seu nome e desviou o trânsito de dados para seu laboratório. Esse método é denominado "sinkhole" (ralo, buraco de escoamento), porque permite ao usuário examinar em profundidade um sistema de túneis escondido. Em poucas semanas, ele havia coletado 55.000 pedidos de informações de computadores contaminados pelo vírus. "Conseguimos acessar apenas 6 dos 60 servidores de comando", diz Raiu. "Em outras palavras, pudemos ver apenas 10% da rede". É possível que o número de computadores contaminados seja muito maior.
Raiu tem observado agora que os servidores de comando vêm sendo gradativamente desligados. Mas, isso significa apenas que o Outubro Vermelho está hibernando. "Tomadas" secretas, deixadas na retaguarda, podem ser ativadas a qualquer momento apesar do vírus ter sido supostamente deletado, alerta Igor Kotenko, um professor de Tecnologia da Informação na Universidade de São Petersburgo.
Proteção contra vírus
A indústria de proteção contra vírus ficou agora com cara de trouxa. Como pode um vírus ter ficado cinco anos sem ser detetado? Andreas Marx, diretor-gerente da AV-Test na cidade de Magdeburg, no leste da Alemanha, explica o problema: "O Outubro Vermelho invadiu apenas computadores individuais, de uma maneira muito direcionada, ao passo que os softwares antivírus geralmente são focados contra vírus largamente disseminados". Segundo ele, a quantidade de "malware" está crescendo enormemente -- "somente neste ano estima-se que estão sendo acrescentados 50 milhões de variantes". Isso significa duas por segundo. Marx aconselha os usuários a também usarem um sistema de proteção do tipo cebola, consistindo de atualizações automáticas de todos os programas, das proteções contra vírus, de firewalls e de uma "lista branca" de computadores confiáveis.
"Programas antivírus podem levar as pessoas a acreditar que estão seguras, quando na realidade não estão", diz Fred Cohen, um consultor de segurança da área de editorial do Journal in Computer Virology. "Muitos usuários baixam todos os tipos de coisas, porque pensam que estão protegidos". Cohen é um dos pioneiros na comunidade de computação. Foi ele que cunhou o termo "computer virus", depois de ter liberado "germes" computacionais numa experiência de teste na Universidade do Sul da Califórnia -- isso foi em 1983. Trinta anos de experiência ensinaram a Cohen que, para cada escudo de proteção digital, há um vírus que pode contorná-lo e evitá-lo. Essa é a razão, diz ele, pela qual ele coloca entre suas orelhas a maior parte de sua confiança nos programas de proteção contra vírus, que se resume a: ceticismo e cautela.
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domingo, 27 de janeiro de 2013
A tragédia de Santa Maria e a ameaça de novas impunidades
É muito difícil escrever qualquer coisa sobre a terrível tragédia do incêndio na boate de Santa Maria ainda sob o impacto da notícia, e ainda sem se saber o número final de vítimas e os detalhes escabrosos, mas indispensáveis, que levaram a mais uma catástrofe no país. Desde o fatídico 17 de dezembro de 1961, data do terrível incêndio do circo em Niterói (*), há pouco mais de 51 anos portanto, temos sido traumatizados por ocorrências desse gênero, todas elas com um apavorante, angustiante e revoltante traço em comum: a negligência, a incúria, o desleixo e a irresponsabilidade de pessoas e instituições, e a inaceitável, inexplicável e repulsiva incapacidade e/ou omissão da Justiça em punir os culpados.
Do terror do circo de Niterói até a tragédia de Santa Maria observa-se a mesma criminosa omissão, a mesma absurda irresponsabilidade e a recorrentemente idêntica e chocante insensibilidade de pessoas e instituições legalmente constituídas e responsáveis pela concessão do alvará de funcionamento de locais destinados a abrigar dezenas ou milhares de pessoas. As mesmíssimas imputações se aplicam àqueles que projetam, constroem e operam tais locais em condições sabida e visivelmente inseguras. E não se pode deixar de registrar também, infelizmente, a impressionante e inexplicável letargia da sociedade organizada, que não pressiona ninguém sistemática e permanentemente para que não só os responsáveis sejam exemplarmente punidos mas também para que providências efetivas sejam tomadas para que essas tragédias não se repitam de maneira alguma. É muito estranha, para dizer o mínimo, a omissão de todos nós quanto à segurança dos lugares frequentados por nós mesmos ou por nossos familiares!
No caso do circo, quem inspecionou (se é que o fez) suas instalações e liberou seu funcionamento não deu a mínima importância ao material altamente inflamável de sua "lona", às suas instalações pouco ou nada corretas, e à inexistência de rota de fuga em caso de necessidade. No caso da boate de Santa Maria, autoridades municipais e os bombeiros liberaram um ambiente fechado para 2.000 pessoas com farta utilização de material altamente inflamável, sem saída(s) de emergência, sem sinalização para rotas de escapes e com pessoal de segurança técnica e psicologicamente despreparado para qualquer ocorrência de tumulto e muito menos para um incêndio. Os proprietários da boate colocaram em atividade um local sabidamente inseguro e, mesmo assim, não se preocuparam em fiscalizar o tipo de espetáculo que poderia ser feito ali com segurança. E, para acréscimo à lista de insanidades, ainda houve um músico imbecil e irresponsável que resolveu fazer pirotecnia num local como aquele. E, agora, surge a informação de que a boate estava com sua licença de funcionamento vencida!!
No caso do circo, escolheram um doente mental para bode expiatório sem provas conclusivas e ninguém mais foi punido -- os responsáveis pelo Gran Circus Norte-Americano (que de americano não tinha nada) já no ano seguinte seguiram montando seus espetáculos Brasil afora. E até hoje não se sabe exatamente o número exato de vítimas, mas há consenso de que foram mais de 500.
No intervalo de 51 anos entre o dezembro de 1961 de Niterói e o 27 de janeiro de Santa Maria houve incríveis e impressionantes mudanças tecnológicas, inclusive e especialmente no campo do entretenimento. Mas, lamentável e impressionantemente, praticamente nada mudou na irrresponsabilidade, na falta de responsabilização e na inexistência de punição de culpados diretos e indiretos, sejam eles autoridades, instituições, pessoas físicas e empresas públicas e/ou privadas. O caso de Santa Maria é profundamente lamentável pela desgraça com que abateu centenas de pessoas e famílias, e dói infinitamente mais porque poderia ter sido evitado.
Em respeito aos que morreram e para evitar que outros venham a morrer em circunstâncias semelhante e pelas mesmas abomináveis razões, clama-se por uma punição exemplar de todos os culpados e por uma revisão e atualização completas de todas as normas, regulamentos, leis e procedimentos relativos ao projeto, construção, operação e fiscalização (prévia e periódica) de qualquer ambiente fechado destinado a acolher qualquer número de pessoas. Não é admissível que venhamos a chorar novamente, não importa em que futuro, por tragédias como essa de Santa Maria e inúmeras outras a ela semelhantes.
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(*) "O Espetáculo Mais Triste da Terra (O Incêndio do Gran Circo Norte-Americano) - Mauro Ventura - Companhia das Letras, 2011.
Do terror do circo de Niterói até a tragédia de Santa Maria observa-se a mesma criminosa omissão, a mesma absurda irresponsabilidade e a recorrentemente idêntica e chocante insensibilidade de pessoas e instituições legalmente constituídas e responsáveis pela concessão do alvará de funcionamento de locais destinados a abrigar dezenas ou milhares de pessoas. As mesmíssimas imputações se aplicam àqueles que projetam, constroem e operam tais locais em condições sabida e visivelmente inseguras. E não se pode deixar de registrar também, infelizmente, a impressionante e inexplicável letargia da sociedade organizada, que não pressiona ninguém sistemática e permanentemente para que não só os responsáveis sejam exemplarmente punidos mas também para que providências efetivas sejam tomadas para que essas tragédias não se repitam de maneira alguma. É muito estranha, para dizer o mínimo, a omissão de todos nós quanto à segurança dos lugares frequentados por nós mesmos ou por nossos familiares!
No caso do circo, quem inspecionou (se é que o fez) suas instalações e liberou seu funcionamento não deu a mínima importância ao material altamente inflamável de sua "lona", às suas instalações pouco ou nada corretas, e à inexistência de rota de fuga em caso de necessidade. No caso da boate de Santa Maria, autoridades municipais e os bombeiros liberaram um ambiente fechado para 2.000 pessoas com farta utilização de material altamente inflamável, sem saída(s) de emergência, sem sinalização para rotas de escapes e com pessoal de segurança técnica e psicologicamente despreparado para qualquer ocorrência de tumulto e muito menos para um incêndio. Os proprietários da boate colocaram em atividade um local sabidamente inseguro e, mesmo assim, não se preocuparam em fiscalizar o tipo de espetáculo que poderia ser feito ali com segurança. E, para acréscimo à lista de insanidades, ainda houve um músico imbecil e irresponsável que resolveu fazer pirotecnia num local como aquele. E, agora, surge a informação de que a boate estava com sua licença de funcionamento vencida!!
No caso do circo, escolheram um doente mental para bode expiatório sem provas conclusivas e ninguém mais foi punido -- os responsáveis pelo Gran Circus Norte-Americano (que de americano não tinha nada) já no ano seguinte seguiram montando seus espetáculos Brasil afora. E até hoje não se sabe exatamente o número exato de vítimas, mas há consenso de que foram mais de 500.
No intervalo de 51 anos entre o dezembro de 1961 de Niterói e o 27 de janeiro de Santa Maria houve incríveis e impressionantes mudanças tecnológicas, inclusive e especialmente no campo do entretenimento. Mas, lamentável e impressionantemente, praticamente nada mudou na irrresponsabilidade, na falta de responsabilização e na inexistência de punição de culpados diretos e indiretos, sejam eles autoridades, instituições, pessoas físicas e empresas públicas e/ou privadas. O caso de Santa Maria é profundamente lamentável pela desgraça com que abateu centenas de pessoas e famílias, e dói infinitamente mais porque poderia ter sido evitado.
Em respeito aos que morreram e para evitar que outros venham a morrer em circunstâncias semelhante e pelas mesmas abomináveis razões, clama-se por uma punição exemplar de todos os culpados e por uma revisão e atualização completas de todas as normas, regulamentos, leis e procedimentos relativos ao projeto, construção, operação e fiscalização (prévia e periódica) de qualquer ambiente fechado destinado a acolher qualquer número de pessoas. Não é admissível que venhamos a chorar novamente, não importa em que futuro, por tragédias como essa de Santa Maria e inúmeras outras a ela semelhantes.
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(*) "O Espetáculo Mais Triste da Terra (O Incêndio do Gran Circo Norte-Americano) - Mauro Ventura - Companhia das Letras, 2011.
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Economia do Reino Unido se contrai e aumenta dúvidas sobre a cartada de Cameron
"Se deixarmos a União Europeia não haverá retorno". O tom foi sem apelo, a ameaça sem ambiguidade. O discurso do premiê britânico David Cameron na quarta-feira 23 gerou perturbação no seio de uma União Europeia (UE) enfraquecida pela crise: tudo dependerá do referendo que ele se comprometeu a organizar daqui ao final de 2017, cedendo aos euro-céticos de seu partido conservador.
Até a opinião pública pende para uma "Brexit" [corruptela para "Britain's exit" = saída do Reino Unido (RU)] da UE: se o referendo fosse feito hoje, 40% das pessoas pesquisadas votariam a favor da saída e 37% concordariam em ficar, com 23% de indecisos. O banco americano Morgan Stanley, em uma nota intitulada "From Grexit to Brexit" ("Da saída grega para a saída britânica") publicada em dezembro passado, fez a aposta de que o Reino Unido saíria da UE neste ano de 2013.
Se, por um lado, Cameron tenta tranquilizar seus parceiros aborrecidos com sua declaração -- tendo à frente François Hollande, que declarou que "a Europa deve manter-se como está" -- ele não transige de sua intenção de ver reformulada uma Europa "superada pela competição mundial e negligenciada pelos investidores" [os políticos ingleses são bons de retórica e oratória -- se nelas há sempre conteúdo é outra história. Ver postagem anterior sobre a posição de Cameron].
No momento em que se anuncia que a economia britânica sofreu uma contração de 0,3% no último trimestre de 2012, deixando aberta a possibilidade de uma terceira recessão desde o início da crise, não há certeza de que Londres terá muita vantagem em se retirar do mercado único [ver: UK official data confirm fourth quarter economic contraction].
"Incerteza prejudicial"
O desejo de Cameron de tornar a Europa "mais competitiva, mais aberta e mais fexível" e não uma "fonte de custos para o mundo dos negócios" não é no entanto surpreendente para um conservador cujo partido é inteiramente devotado à causa das empresas do país -- que se beneficiam alegremente de uma política fiscal muito favorável: para o período compreendido entre 2010 e 2014, o governo baixou de 28% para 21% o imposto de renda das empresas.
Entretanto, inúmeros são os empresários que se mostram publicamente inquietos nessas últimas semanas com a possibilidade da saída do Reino Unido da UE. "As empresas não querem que se coloque em risco o importante por razões secundárias -- não com 50% de nossas exportações direcionadas à Europa" [os franceses usam a expressão "jeter le bébé avex l'eau du bain", que significa "por em risco o bebê, preocupando-se com o que fazer com a água suja do banho"], alertou John Cridland, diretor-geral da confederação patronal CBI [Confederation of British Industry] ao formular seus votos para 2013. [A CBI se apresenta como "a principal organização de lobby das empresas do Reino Unido em nível nacional e internacional", e a frase lapidar de John Cridland no site oficial da CBI é "We listen, we lobby, we get results" -- assim como nos EUA, o lobby é uma atividade legal no RU]. Grandes figuras dos meios de negócios como Richard Branson, fundador do grupo Virgin, estão igualmente inquietas com um processo de renegociação que "resultaria em criar uma incerteza prejudicial para as empresas britânicas", afirmou ele em uma carta publicada no início de janeiro pelo jornal Financial Times.
Para as empresas estrangeiras, o mesmo problema: "Por que implantar sua indústria no RU, se você não sabe -- e ninguém está em condições de lhe dizer -- quais serão os termos de nosso comércio no futuro?", se pergunta Lord Heseltine, um ex-ministro de Margaret Thatcher. "A UE é, destacadamente, a principal parceira comercial de Londres", enfatiza Stéphane Deo, economista-chefe para Europa do UBS [instituição financeira suiça] em Londres. "Se ele [RU] se retirar dela, se verá obrigado a negociar um acordo comercial a exemplo de outros países não-membros, como a Suiça". Enfim, para ter acesso ao mercado europeu Londres teria que pagar direitos alfandegários que, dependendendo do produto, variariam de 55% a 200% segundo a revista The Economist.
"Uma pistola contra a cabeça"
O clima de incerteza seria tal, que empresas e investidores estrangeiros abandonariam o RU, estimam por seu lado os liberais, acenando com a perda de três milhões de empregos no país. Os primeiros a sair seriam sem dúvida os bancos estrangeiros da City, principal centro financeiro da Europa e plataforma privilegiada para as transações em euro. Ora, o setor financeiro representa 9,6% do PIB britânico segundo o relatório anual da associação professional TheCityUK [voltada, entre outros objetivos, a criar condições para que os negócios britânicos tenham êxito em mercados globais -- segundo ela, a indústria de serviços financeiros e de professionais correlatos gera mais de 2 milhões de empregos no RU].
Para Stéphane Deo, "o problema na realidade são a regulamentação financeira e as negociações que se iniciam sobre a união bancária. Há um risco para Londres de que o acordo se faça em detrimento da City. Por exemplo, o presidente (governor) atual do Banco da Inglaterra será substituído por Mark Carney, o presidente (governor) do banco central canadense -- um especialista em regulamentação bancária -- o que demonstra que o RU precisa ter um grande negociador para esse tema", explica ele.
David Cameron pode, todavia, se gabar de após seu discurso haver recebido o apoio de uma cinquentena de dirigentes empresariais de alto escalão em uma carta ao jornal The Times. Entre os signatários -- um terço dos quais é de financiadores do partido conservador -- estão o diretor da Bolsa de Londres, o francês Xavier Rolet, os presidentes dos conselhos das marcas de luxo Burberry e Rolls-Royce, John Peace e Simon Robertson, e ainda o dirigente da gigante das bebidas alcoólicas Diageo. Todos avaliaram que "David Cameron tinha razão".
Cameron, aliás, repete a quem quer entendê-lo que se trata de um debate aberto há muito tempo no país e que "o mundo dos negócios sabe do que se trata". Seu antecessor, o trabalhista Tony Blair, ironiza: "Isso me faz lembrar uma comédia de Mel Brooks, "O xerife está preso". O xerife bota sua pistola contra a própria cabeça e diz: "se não fizerem o que digo, darei um tiro na cabeça".
Até a opinião pública pende para uma "Brexit" [corruptela para "Britain's exit" = saída do Reino Unido (RU)] da UE: se o referendo fosse feito hoje, 40% das pessoas pesquisadas votariam a favor da saída e 37% concordariam em ficar, com 23% de indecisos. O banco americano Morgan Stanley, em uma nota intitulada "From Grexit to Brexit" ("Da saída grega para a saída britânica") publicada em dezembro passado, fez a aposta de que o Reino Unido saíria da UE neste ano de 2013.
Se, por um lado, Cameron tenta tranquilizar seus parceiros aborrecidos com sua declaração -- tendo à frente François Hollande, que declarou que "a Europa deve manter-se como está" -- ele não transige de sua intenção de ver reformulada uma Europa "superada pela competição mundial e negligenciada pelos investidores" [os políticos ingleses são bons de retórica e oratória -- se nelas há sempre conteúdo é outra história. Ver postagem anterior sobre a posição de Cameron].
No momento em que se anuncia que a economia britânica sofreu uma contração de 0,3% no último trimestre de 2012, deixando aberta a possibilidade de uma terceira recessão desde o início da crise, não há certeza de que Londres terá muita vantagem em se retirar do mercado único [ver: UK official data confirm fourth quarter economic contraction].
"Incerteza prejudicial"
O desejo de Cameron de tornar a Europa "mais competitiva, mais aberta e mais fexível" e não uma "fonte de custos para o mundo dos negócios" não é no entanto surpreendente para um conservador cujo partido é inteiramente devotado à causa das empresas do país -- que se beneficiam alegremente de uma política fiscal muito favorável: para o período compreendido entre 2010 e 2014, o governo baixou de 28% para 21% o imposto de renda das empresas.
Entretanto, inúmeros são os empresários que se mostram publicamente inquietos nessas últimas semanas com a possibilidade da saída do Reino Unido da UE. "As empresas não querem que se coloque em risco o importante por razões secundárias -- não com 50% de nossas exportações direcionadas à Europa" [os franceses usam a expressão "jeter le bébé avex l'eau du bain", que significa "por em risco o bebê, preocupando-se com o que fazer com a água suja do banho"], alertou John Cridland, diretor-geral da confederação patronal CBI [Confederation of British Industry] ao formular seus votos para 2013. [A CBI se apresenta como "a principal organização de lobby das empresas do Reino Unido em nível nacional e internacional", e a frase lapidar de John Cridland no site oficial da CBI é "We listen, we lobby, we get results" -- assim como nos EUA, o lobby é uma atividade legal no RU]. Grandes figuras dos meios de negócios como Richard Branson, fundador do grupo Virgin, estão igualmente inquietas com um processo de renegociação que "resultaria em criar uma incerteza prejudicial para as empresas britânicas", afirmou ele em uma carta publicada no início de janeiro pelo jornal Financial Times.
Para as empresas estrangeiras, o mesmo problema: "Por que implantar sua indústria no RU, se você não sabe -- e ninguém está em condições de lhe dizer -- quais serão os termos de nosso comércio no futuro?", se pergunta Lord Heseltine, um ex-ministro de Margaret Thatcher. "A UE é, destacadamente, a principal parceira comercial de Londres", enfatiza Stéphane Deo, economista-chefe para Europa do UBS [instituição financeira suiça] em Londres. "Se ele [RU] se retirar dela, se verá obrigado a negociar um acordo comercial a exemplo de outros países não-membros, como a Suiça". Enfim, para ter acesso ao mercado europeu Londres teria que pagar direitos alfandegários que, dependendendo do produto, variariam de 55% a 200% segundo a revista The Economist.
"Uma pistola contra a cabeça"
O clima de incerteza seria tal, que empresas e investidores estrangeiros abandonariam o RU, estimam por seu lado os liberais, acenando com a perda de três milhões de empregos no país. Os primeiros a sair seriam sem dúvida os bancos estrangeiros da City, principal centro financeiro da Europa e plataforma privilegiada para as transações em euro. Ora, o setor financeiro representa 9,6% do PIB britânico segundo o relatório anual da associação professional TheCityUK [voltada, entre outros objetivos, a criar condições para que os negócios britânicos tenham êxito em mercados globais -- segundo ela, a indústria de serviços financeiros e de professionais correlatos gera mais de 2 milhões de empregos no RU].
Para Stéphane Deo, "o problema na realidade são a regulamentação financeira e as negociações que se iniciam sobre a união bancária. Há um risco para Londres de que o acordo se faça em detrimento da City. Por exemplo, o presidente (governor) atual do Banco da Inglaterra será substituído por Mark Carney, o presidente (governor) do banco central canadense -- um especialista em regulamentação bancária -- o que demonstra que o RU precisa ter um grande negociador para esse tema", explica ele.
David Cameron pode, todavia, se gabar de após seu discurso haver recebido o apoio de uma cinquentena de dirigentes empresariais de alto escalão em uma carta ao jornal The Times. Entre os signatários -- um terço dos quais é de financiadores do partido conservador -- estão o diretor da Bolsa de Londres, o francês Xavier Rolet, os presidentes dos conselhos das marcas de luxo Burberry e Rolls-Royce, John Peace e Simon Robertson, e ainda o dirigente da gigante das bebidas alcoólicas Diageo. Todos avaliaram que "David Cameron tinha razão".
Cameron, aliás, repete a quem quer entendê-lo que se trata de um debate aberto há muito tempo no país e que "o mundo dos negócios sabe do que se trata". Seu antecessor, o trabalhista Tony Blair, ironiza: "Isso me faz lembrar uma comédia de Mel Brooks, "O xerife está preso". O xerife bota sua pistola contra a própria cabeça e diz: "se não fizerem o que digo, darei um tiro na cabeça".
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