Apesar de não existirem mais instâncias legais para recursos no Chile, os opositores ao projeto da represa HidroAysén, do qual participa a empresa espanhola Endesa com 51% do capital, em parceria com a chilena Colbún (49%), se mostram otimistas. "Na maioria das vezes as decisões da Suprema Corte se dão por unanimidade, e isto não ocorreu. No entanto, é justo reconhecer que não ganhamos. Mas vamos seguir lutando. Em 2007 ninguém conhecia esse assunto da represa. Agora, as pesquisas de opinião mostram que 70% da população são contra ela", frisa Hernán Sandoval, presidente da Corporação Chile Ambiente, uma das mais de 60 ONGs que se opuseram ao projeto.
O senador da província de Aysén, Antonio Horvath, do partido Renovação Nacional, que faz parte da coalizão do governo, se opõe ao projeto e acredita que ainda há muitas lutas pela frente. "Têm ocorrido várias irregularidades. Um dos juízes da Suprema Corte que se pronunciou a favor do complexo hidroelétrico possui ações da Endesa. É preciso revisar essa situação". O juiz citado, Pedro Pierry, afirma que suas ações da Endesa (109.840) fazem parte de seu fundo de pensão há 30 anos e, por isso, não vê que isso o inabilite a decidir como magistrado. [...] "Eu tampouco gosto de represas e de torres de alta tensão, mas o juiz não está encarregado disso, o juiz tem que ver a lei. As políticas públicas são ditadas pelo Governo, e as leis as faz o Congresso. Os juízes aplicam a lei, e o que fizemos foi aplicar a lei de acordo com os fatos", disse ele.
O complexo de HidroAysén compreende 5 usinas, com potência total de 2.750 MW. Os opositores ao projeto tentarão impedir nos tribunais a construção de umas 3.800 torres de alta tensão que ligarão as 5 usinas a Santiago de Chile. "Essas torres terão de 60 a 70 m de altura, e ao redor de cada uma se cortarão uns 70 m de vegetação ao longo de 2.200 km. Serão afetados uns 15.000 hectares ... Serão destruídos bosques milenares, em uma região em que a altura média das árvores é de 40 m. E haverá um impacto paisagístico impressionante, porque as torres sobressairão sobre o bosque", assinala Hernán Sandoval.
O vice-presidente da HidroAysén assegura, no entanto, que se instalará corrente contínua "apenas ao longo de 800 km, dos quais 162 km serão submarinos". - "Se cortarmos vegetação nativa, temos que reflorestar a mesma quantidade em uma zona equivalente ou superior em áreas vizinhas. Aprovar a construção das usinas nos tomou quase três anos. Esperamos que as linhas nos custem bastante menos tempo", disse ele. O senador Horvath, no entanto, acredita que ainda restam muitas opções aos opositores do projeto. "Isso apenas começou", conclui.
Confluência dos rios Baker e Chacabuco, onde a HidroAysén pretende construir uma de suas usinas - (Foto: Jorge Uzón/AP).
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